VERSO 27
naiṣā parāvara-matir bhavato nanu syāj
jantor yathātma-suhṛdo jagatas tathāpi
saṁsevayā surataror iva te prasādaḥ
sevānurūpam udayo na parāvaratvam
na — não; eṣā — isso; para-avara — do superior ou do inferior; matiḥ — tal discriminação; bhavataḥ — de Vossa Onipotência; nanu — na verdade; syāt — pode haver; jantoḥ — das entidades vivas comuns; yathā — como; ātma-suhṛdaḥ — de alguém que é o amigo; jagataḥ — de todo o mundo material; tathāpi — mas mesmo assim (existe semelhante demonstração de intimidade ou diferença); saṁsevayā — de acordo com o grau de serviço prestado pelo devoto; surataroḥ iva — como acontece com a árvore-dos-desejos existente em Vaikuṇṭhaloka (que oferece frutos de acordo com os desejos do devoto); te — Vossa; prasādaḥ — bênção; sevā-anurūpam — de acordo com a categoria de serviço que alguém presta ao Senhor; udayaḥ — manifestação; na — não; para-avaratvam — discriminação devida a níveis superior ou inferior.
Diferentemente da entidade viva comum, meu Senhor, não discriminais entre amigo ou inimigo, favorável ou desfavorável, porque não há conceito de superior e inferior para Vós. Entretanto, ofereceis Vossas bênçãos de acordo com o nível do serviço de alguém, exatamente como uma árvore-dos-desejos concede frutos segundo os desejos de alguém e não faz distinção entre superior e inferior.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (4.11), o Senhor diz explicitamente que ye yathā māṁ prapadyante tāṁs tathaiva bhajāmy aham: “À medida que alguém se rende a Mim, Eu o recompenso de acordo.” Como afirma Śrī Caitanya Mahāprabhu, jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’: todo ser vivo é servo eterno de Kṛṣṇa. De acordo com o serviço que a entidade viva executa, ela automaticamente recebe as bênçãos de Kṛṣṇa, que não faz distinções, pensando: “Eis uma pessoa em relação íntima coMigo, e ali está alguém de quem não gosto.” Kṛṣṇa aconselha todos a se renderem a Ele (sarva-dharmān parityajya mām ekaṁ śaraṇaṁ vraja). A relação que alguém estabelece com o Senhor Supremo vinga em proporção com a sua rendição e com o serviço que presta ao Senhor. Assim, no mundo inteiro, as posições superior ou inferior das entidades vivas são escolhidas por elas próprias. Se alguém tem propensões a determinar que o Senhor lhe dê algo, receberá bênçãos de acordo com o seu desejo. Se alguém quer ser elevado aos sistemas planetários superiores, aos planetas celestiais, pode ser promovido ao lugar que deseja, mas, se prefere ser um porco ou leitão na Terra, o Senhor satisfará também esse desejo. Portanto, a posição de todos é determinada pelos seus desejos; o Senhor não é responsável pelos graus superior ou inferior de nossa existência. Continuando este ponto, o próprio Senhor o explica de maneira definitiva na Bhagavad-gītā (9.25):
yānti deva-vratā devān
pitṝn yānti pitṛ-vratāḥ
bhūtāni yānti bhūtejyā
yānti mad-yājino ’pi mām
Alguns querem elevar-se aos planetas celestiais, outros querem ser promovidos a Pitṛloka, e há os que preferem permanecer na Terra, mas, se alguém está interessado em retornar ao lar, em retornar ao Supremo, pode também ser admitido no reino de Deus. De acordo com os pedidos de um devoto em particular, ele recebe o resultado que lhe é concedido pela graça do Senhor. O Senhor não discrimina, pensando: “Eis uma pessoa favorável a Mim, e ali está alguém que é desfavorável.” Ao contrário, Ele satisfaz os desejos de todos. Portanto, os śāstras prescrevem:
akāmaḥ sarva-kāmo vā
mokṣa-kāma udāra-dhīḥ
tīvreṇa bhakti-yogena
yajeta puruṣaṁ param
“Quer alguém não tenha desejos [a condição dos devotos], quer deseje todos os resultados fruitivos, quer busque a liberação, ele deve envidar todos os esforços para adorar a Suprema Personalidade de Deus e obter a completa perfeição, que culmina na consciência de Kṛṣṇa.” (Śrīmad-Bhāgavatam 2.3.10) De acordo com a posição de alguém, quer ele seja um devoto, um karmī ou um jñānī, tudo o que desejar, poderá obter, caso se ocupe plenamente a serviço do Senhor.