VERSO 2
śrī-gajendra uvāca
oṁ namo bhagavate tasmai
yata etac cid-ātmakam
puruṣāyādi-bījāya
pareśāyābhidhīmahi
śrī-gajendraḥ uvāca — Gajendra, o rei dos elefantes, disse; om — ó meu Senhor; namaḥ — ofereço-Vos minhas respeitosas reverências; bhagavate — à Suprema Personalidade de Deus; tasmai — a Ele; yataḥ — de quem; etat — este corpo e a manifestação material; cit-ātmakam — estão se movendo devido à consciência (a alma espiritual); puruṣāya — à Pessoa Suprema; ādi-bījāya — que é a origem ou causa fundamental de tudo; para-īśāya — que é supremo, transcendental e adorável para pessoas sublimes, tais como Brahmā e Śiva; abhidhīmahi — que eu medite nEle.
Gajendra, o rei dos elefantes, disse: Ofereço minhas respeitosas reverências à Pessoa Suprema, Vāsudeva [oṁ namo bhagavate vāsudevāya]. É por causa dEle que este corpo material age devido à presença do espírito, e, portanto, Ele é a causa fundamental que serve de sustentáculo para todas as pessoas. Ele é adorável para pessoas exímias, tais como Brahmā e Śiva, e Ele está no coração de todo ser vivo. Que eu medite nEle.
SIGNIFICADO—Neste verso, as palavras etac cid-ātmakam são muito importantes. O corpo material decerto consiste somente em elementos materiais, mas, quando alguém desperta para a compreensão da consciência de Kṛṣṇa, seu corpo deixa de ser material e se torna espiritual. O corpo material se destina à obtenção do gozo dos sentidos, ao passo que o corpo espiritual se ocupa no transcendental serviço amoroso ao Senhor. Portanto, o devoto que se ocupa em servir ao Senhor Supremo e em pensar constantemente nEle jamais deve ser considerado possuidor de um corpo material. Portanto, prescreve-se que guruṣu nara-matiḥ: todos devem descontinuar o pensamento de que o mestre espiritual é um ser humano comum e que tem um corpo material. Arcye viṣṇau śilā-dhīḥ: sabe-se que a Deidade no templo é feita de pedra, mas pensar que a Deidade é meramente uma pedra é uma ofensa. Do mesmo modo, pensar que o corpo do mestre espiritual consiste em ingredientes materiais é algo ofensivo. Os ateístas consideram que os devotos cometem a tolice de adorar uma estátua de pedra como Deus e um homem comum como guru. Entretanto, o fato é que, pela graça da onipotência de Kṛṣṇa, a aparente estátua de pedra, a Deidade, é exatamente a Suprema Personalidade de Deus, e o corpo do mestre espiritual é diretamente espiritual. Deve-se entender que o devoto puro, ocupado em imaculado serviço devocional, está situado na plataforma transcendental (sa guṇān samatītyaitān brahma-bhūyāya kalpate). Ofereçamos, portanto, nossas reverências à Suprema Personalidade de Deus, por cuja misericórdia as supostas substâncias materiais também se tornam espirituais uma vez ocupadas em atividades espirituais.
O oṁkāra (praṇava) é a representação sonora simbólica da Suprema Personalidade de Deus. Oṁ tat sad iti nirdeśo brahmaṇas tri-vidhaḥ smṛtaḥ: as três palavras oṁ tat sat invocam precisamente a Pessoa Suprema. Portanto, Kṛṣṇa diz que Ele é o oṁkāra de todos os mantras védicos (praṇavaḥ sarva-vedeṣu). Quando se pronunciam os mantras védicos, começa-se com o oṁkāra para indicar precisamente a Suprema Personalidade de Deus. O Śrīmad-Bhāgavatam, por exemplo, começa com as palavras oṁ namo bhagavate vāsudevāya. Não há diferença entre a Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva, e o oṁkāra (praṇava). Devemos ser cuidadosos e procurar entender que o oṁkāra não indica algo nirākāra, ou amorfo. Na verdade, este verso declara diretamente: oṁ namo bhagavate. Bhagavān é uma pessoa. Logo, o oṁkāra é a representação da Pessoa Suprema. Diferentemente daquilo que os filósofos māyāvādīs propõem, o oṁkāra não deve ser definido como impessoal. Aqui, a palavra puruṣāya exprime isso com clareza. A verdade suprema chamada de oṁkāra é o puruṣa, a Pessoa Suprema; Ele não é impessoal. Se Ele não fosse uma pessoa, como poderia controlar os grandes e destacados controladores deste universo? O Senhor Viṣṇu, o senhor Brahmā e o senhor Śiva são os controladores supremos deste universo, mas até mesmo o senhor Brahmā e o senhor Śiva oferecem reverências ao Senhor Viṣṇu. Portanto, este verso usa a palavra pareśāya, que indica que os elevados semideuses adoram a Suprema Personalidade de Deus. Pareśāya significa parameśvara. O senhor Brahmā e o senhor Śiva são īśvaras, grandes controladores, mas o Senhor Viṣṇu é parameśvara, o controlador supremo.