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VERSO 58

yan māyā-ceṣṭitaṁ puṁsaḥ
sthity-utpatty-apyayāya hi
anugrahas tan-nivṛtter
ātma-lābhāya ceṣyate

yat — quaisquer que; māyā-ceṣṭitam — as leis da natureza mate­rial estabelecidas pela Suprema Personalidade de Deus; puṁsaḥ — das entidades vivas; sthiti — duração de vida; utpatti — nascimento; apyayāya — aniquilação; hi — na verdade; anugrahaḥ — compaixão; tat-nivṛtteḥ — a criação e manifestação da energia cósmica para acabar com os repetidos nascimentos e mortes; ātma-lābhāya — voltando assim ao lar, voltando ao Supremo; ca — na verdade; iṣyate — é com esse propósito que existe a criação.

Através de Sua energia material, a Suprema Personalidade de Deus age na criação, manutenção e aniquilação desta manifestação cósmica apenas para libertar a entidade viva com Sua compaixão e extin­guir o nascimento, a velhice e a duração da vida materialista da en­tidade viva. Com isso, Ele capacita o ser vivo a retornar ao lar, a retornar ao Supremo.

SIGNIFICADO—Às vezes, os homens materialistas perguntam por que Deus criou o mundo material onde sofrem as entidades vivas. A criação ma­terial na certa é um lugar designado às almas condicionadas sofredoras, que são partes da Suprema Personalidade de Deus, como o próprio Senhor confirma na Bhagavad-gītā (15.7):

mamaivāṁśo jīva-loke
jīva-bhūtaḥ sanātanaḥ
manaḥ ṣaṣṭhānīndriyāṇi
prakṛti-sthāni karṣati

“As entidades vivas neste mundo condicionado são Minhas eternas partes fragmentárias. Por força da vida condicionada, elas empreendem árdua luta com os seis sentidos, entre os quais se inclui a mente.” Todas as entidades vivas são partes integrantes da Suprema Personalidade de Deus e, em qualidade, estão no mesmo nível do Senhor; em quantidade, porém, há uma grande diferença entre eles, pois o Senhor é ilimitado, ao passo que as entidades vivas são limitadas. Logo, o Senhor possui uma ilimitada potência de prazer, e as entidades vivas têm uma limitada potência de prazer. Ānandamayo ’bhyāsāt (Vedānta-sūtra 1.1.12). Tanto o Senhor quanto a entidade viva, sendo almas espirituais da mesma qualidade, têm a tendência para desfrutar em paz. Apesar disso, quando a parte da Suprema Personalidade de Deus cai no infortúnio de querer desfrutar de maneira in­dependente, sem Kṛṣṇa, ela é posta no mundo material, onde começa sua vida como Brahmā e, pouco a pouco, ela se degrada ao status de uma formiga ou de um verme no excremento. Isso se chama manaḥ ṣaṣṭhānīndriyāṇi prakṛti-sthāni karṣati. Há uma grande luta pela existência porque a entidade viva, condicionada pela natureza material, está sob pleno controle da natureza (prakṛteḥ kriyamāṇāni guṇaiḥ karmāṇi sarvaśaḥ). Entretanto, devido ao seu conhecimento limitado, a entidade viva pensa que está desfrutando neste mundo material. Manaḥ ṣaṣṭhānīndriyāṇi prakṛti-sthāni karṣati. Na verdade, ela está sob pleno controle da natureza material, mas, ainda assim, acha que é independente (ahaṅkāra-vimūḍhātmā kartāham iti manyate). Mesmo ao elevar-se através do conhecimento especulativo e tentar imergir na existência do Brahman, a mesma doença continua. Āruhya kṛcchreṇa paraṁ padaṁ tataḥ patanty adhaḥ (Śrīmad-Bhāgavatam 10.2.32). Mesmo após alcançar esse paraṁ padam, ou seja, após imergir no Brahman impessoal, ela volta a cair no mundo material.

Dessa maneira, a alma condicionada se submete a uma grande luta pela existência neste mundo material, de modo que o Senhor, sen­tindo compaixão dela, aparece neste mundo e a instrui. Assim, o Senhor diz na Bhagavad-gītā (4.7):

yadā yadā hi dharmasya
glānir bhavati bhārata
abhyutthānam adharmasya
tadātmānaṁ sṛjāmy aham

“Sempre e onde quer que haja um declínio na prática religiosa, ó descendente de Bharata, e uma ascensão predominante de irreligião – aí então Eu próprio faço o Meu advento.” O verdadeiro dharma é render-se a Kṛṣṇa, mas a entidade viva rebelde, em vez de render-se a Kṛṣṇa, ocupa-se em adharma, em lutar pela existência a fim de tornar-se como Kṛṣṇa. Portanto, por compaixão, Kṛṣṇa cria este mundo ma­terial para dar à entidade viva uma oportunidade de compreender sua verdadeira posição. A Bhagavad-gītā e textos védicos semelhan­tes são apresentados para que o ser vivo possa compreender a relação existente entre ele e Kṛṣṇa. Vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ (Bhagavad-gītā 15.15). Todos esses textos védicos destinam-se a capacitar o ser humano a compreender o que ele é, qual é sua verdadeira posição e qual é o seu relacionamento com a Suprema Personalidade de Deus. Isso se chama brahma-jijñāsā. Toda alma condicionada está lutando, mas a vida humana oferece a melhor oportunidade para ela compreender sua posição. Portanto, este verso diz que anugrahas tan-nivṛtteḥ, indicando que se deve descontinuar a vida ilusória sob a forma de repetidos nascimentos e mortes, e a alma condicionada deve educar-se. Eis o propósito da criação.

Ao contrário do que pensam os ateístas, a criação não surge caprichosamente.

asatyam apratiṣṭhaṁ te
jagad āhur anīśvaram
aparaspara-sambhūtaṁ
kim anyat kāma-haitukam

“Eles dizem que este mundo é irreal e sem fundamento, que não há nenhum Deus no controle, que ele é produzido do desejo sexual e tem como causa apenas a luxúria.” (Bhagavad-gītā 16.8) Os patifes ateístas pensam que não há Deus e que a criação ocorreu por acaso, assim como um homem e uma mulher casualmente se encontram e ela en­gravida e dá à luz um filho. Entretanto, a verdadeira história é bem diferente, pois de fato há um propósito para esta criação: dar à alma condicionada a oportunidade de recuperar sua consciência original, a consciência de Kṛṣṇa, e, então, retornar ao lar, retornar ao Supremo, e ser completamente feliz no mundo espiritual. No mundo material, a alma condicionada recebe a oportunidade de satisfazer seus sentidos, mas, ao mesmo tempo, o conhecimento védico a informa que este mundo material não é o verdadeiro lugar onde encon­trar a felicidade. Janma-mṛtyu-jarā-vyādhi-duḥkha-doṣānudarśanam. (Bhagavad-gītā 13.9) Deve-se acabar com os repetidos nascimentos e mortes. Portanto, todo ser humano deve aproveitar-se desta criação para compreender Kṛṣṇa e sua relação com Kṛṣṇa e, dessa maneira, voltar ao lar, voltar ao Supremo.

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