VERSO 304
sei kṛṣṇa, sei gopī, — parama virodha
acintya caritra prabhura ati sudurbodha
sei kṛṣṇa — aquele Kṛṣṇa; sei gopī — aquela gopī; parama virodha — bastante contraditório; acintya — inconcebível; caritra — caráter; prabhura — do Senhor; ati — bastante; sudurbodha — difícil de entender.
Ele é Kṛṣṇa, mas assumiu a atitude das gopīs. Como é isso? Assim é o caráter inconcebível do Senhor, que é muito difícil de entender.
SIGNIFICADO—Com certeza, segundo quaisquer cálculos mundanos, é contraditório Kṛṣṇa assumir o papel das gopīs. Porém, o Senhor, com Seu caráter inconcebível, pode agir como as gopīs e sentir saudades de Kṛṣṇa, embora Ele seja o próprio Kṛṣṇa. Só se pode conciliar semelhante contradição na Suprema Personalidade de Deus, pois Sua energia é inconcebível (acintya) e pode tornar possível aquilo que é impossível de fazer (aghaṭa-ghaṭana-patīyasī). Tais contradições são muito difíceis de entender a menos que o devoto siga estritamente a filosofia vaiṣṇava sob a orientação dos Gosvāmīs. Portanto, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī termina todo capítulo com este verso:
śrī-rūpa-raghunātha-pade yāra āśa
caitanya-caritāmṛta kahe kṛṣṇadāsa
“Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles, eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta, seguindo seus passos.”
Uma canção de Narottama Dāsa Ṭhākura afirma:
rūpa-raghunātha-pade ha-ibe ākuti
kabe hāma bujhaba se yugala-pīriti
O amor conjugal entre Rādhā e Kṛṣṇa, que se chama yugala-pīriti, não pode ser entendido por eruditos, artistas ou poetas mundanos. Ele é compreendido apenas pelos devotos que seguem estritamente os passos dos seis Gosvāmīs. Algumas vezes, ditos artistas e poetas tentam entender as aventuras amorosas de Rādhā e Kṛṣṇa e publicam livros baratos de poesia e gravuras sobre o assunto. Infelizmente, contudo, eles nada entendem acerca das aventuras transcendentais de Rādhā e Kṛṣṇa. Simplesmente se intrometem num assunto que nem mesmo são aptos para entender.