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VERSO 118

apareyam itas tv anyāṁ
prakṛtiṁ viddhi me parām
jīva-bhūtāṁ mahā-bāho
yayedaṁ dhāryate jagat

aparā — energia inferior; iyam — este mundo material; itaḥ — além desta; tv — mas; anyām — outra; prakṛtiṁ — energia; viddhi — deves saber; me — de Mim; parām — que é energia superior; jīva-bhūtāṁ — elas são as entidades vivas; mahā-bāho — ó poderoso; yayā — através das quais; idam — esse mundo material; dhāryate — está sendo conduzido; jagat a manifestação cósmica.

“‘Além da natureza inferior, ó poderoso Arjuna, tenho Minha energia superior, que consiste em todas as entidades vivas, as quais lutam com a natureza material e sustêm o universo.’”

SIGNIFICADO—A Bhagavad-gītā explica que os cinco elementos, terra, água, fogo, ar e éter, constituem a energia grosseira da Verdade Absoluta, e que também existem três energias sutis, a saber, a mente, a inteligência e o falso ego, ou seja, a identificação com o mundo fenomenal. Assim, toda a manifestação cósmica divide-se em oito energias, todas as quais são inferiores. Como se explica na Bhagavad-gītā (mama māyā duratyayā), a energia inferior conhecida como māyā é tão forte que, embora a entidade viva não pertença a esta energia, devido à força superior da energia inferior, a entidade viva (jīva-bhūta) se esquece de sua verdadeira posição e se identifica com ela. Kṛṣṇa diz claramente que, além da energia material, há uma energia superior conhecida como jīva-bhūta, ou seja, as entidades vivas. Ao entrar em contato com a energia material, esta energia superior conduz todas as atividades de todo o mundo material fenomenal.

A causa suprema é Kṛṣṇa (janmādy asya yataḥ), que é a origem de todas as energias, as quais trabalham de diversas maneiras. A Suprema Personalidade de Deus tem tanto energia inferior quanto superior, e a diferença entre elas é que a energia superior é real, ao passo que a energia inferior é um reflexo da superior. O reflexo do Sol no espelho ou na água parece ser o Sol, mas não é. Analogamente, o mundo material é apenas um reflexo do mundo espiritual. Embora pareça real, não é; é apenas um reflexo temporário, ao passo que o mundo espiritual é uma realidade concreta. O mundo material, com suas formas grosseiras e sutis, é mero reflexo do mundo espiritual.

A entidade viva não é produto da energia material; ela é energia espiritual. Todavia, em contato com a matéria, esquece sua identidade. Assim, a entidade viva identifica-se com a matéria e entusiasticamente ocupa-se em atividades materiais, disfarçada de tecnólogo, cientista, filósofo, etc. Ela não sabe que não é de forma alguma um produto material, mas, sim, espiritual. Com sua identidade verdadeira assim perdida, ela luta arduamente no mundo material, e o Movimento Hare Kṛṣṇa, ou Movimento para a Consciência de Kṛṣṇa, tenta reviver sua consciência original. Suas atividades ao construir grandes arranha-céus dão prova de sua inteligência, mas essa espécie de inteligência não é nada avançada. Devemos entender que nossa única preocupação verdadeira deve ser no sentido de livrar-nos do contato com a matéria, pois, absorvendo nossa mente em atividades materiais, assumimos corpos materiais repetidamente, e, mesmo que falsamente afirmemos ser muito inteligentes, em consciência material não somos nada inteligentes. Quando falamos sobre o Movimento para a Consciência de Kṛṣṇa, que se destina a tornar as pessoas inteligentes, a entidade viva condicionada o interpreta mal. Ela está tão absorta no conceito material da vida que não pensa que possa haver alguma atividade realmente baseada em inteligência além da construção de arranha-céus e grandes estradas e da indústria automobilística. Essa é a prova de māyayāpahṛta-jñāna, ou perda de toda a inteligência devido à influência de māyā. A entidade viva que se livra de tais equívocos chama-se alma liberada. Quem se liberta realmente não se identifica mais com o mundo material. O sintoma de mukti (liberação) é que nos dedicamos a atividades espirituais, ao invés de nos dedicarmos falsamente a atividades materiais.

O transcendental serviço devocional amoroso é a atividade espiritual da alma espiritual. Os filósofos māyāvādīs confundem tal atividade espiritual com atividade material, mas a Bhagavad-gītā (14.26) confirma:

māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate

sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate

Aquele que se dedica às atividades espirituais de serviço devocional imaculado (avyabhicāriṇī-bhakti) eleva-se imediatamente à plataforma transcendental, e deve-se considerá-lo brahma-bhūta, o que indica que ele não está mais no mundo material, mas, sim, no mundo espiritual. Serviço devocional é iluminação, ou despertar. Ao executar perfeitamente atividades espirituais sob a orientação do mestre espiritual, a entidade viva aperfeiçoa-se em conhecimento e compreende que não é Deus, mas serva de Deus. Como explicou Caitanya Mahāprabhu, jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’: “A verdadeira identidade da entidade viva é que ela é serva eterna do Supremo”. (Caitanya-caritāmṛta, Madhya 20.108) Enquanto alguém não chegue a essa conclusão, estará decerto na ignorância. O Senhor também confirma isso na Bhagavad-gītā (7.19), bahūnāṁ janmanām ante jñānavān māṁ prapadyate...sa mahātmā su-durlabhaḥ: “Após muitos nascimentos de luta pela vida e cultivo de conhecimento, quando alguém chega ao ponto de verdadeiro conhecimento, rende-se a Mim.” É muito raro encontrar um mahātmā, ou grande alma, avançado assim. De tal modo, embora os filósofos māyāvādīs pareçam muito avançados em conhecimento, eles ainda não são perfeitos. Para chegarem ao ponto da perfeição, terão de render-se voluntariamente a Kṛṣṇa.

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