VERSO 263
karma-nindā, karma-tyāga, sarva-śāstre kahe
karma haite prema-bhakti kṛṣṇe kabhu nahe
karma-nindā — condenação das atividades fruitivas; karma-tyāga — renúncia às atividades fruitivas; sarva-śāstre kahe — é anunciada em todas as escrituras reveladas; karma haite — a partir das atividades fruitivas; prema-bhakti — serviço devocional com amor extático; kṛṣṇe — por Kṛṣṇa; kabhu nahe — nunca se pode alcançar.
“Em toda escritura revelada, condenam-se as atividades fruitivas. Em toda parte, aconselha-se que sejam abandonadas, pois, enquanto alguém estiver ocupado com elas, não poderá alcançar a meta suprema da vida, o amor a Deus.”
SIGNIFICADO—Nos Vedas, há três kāṇḍas, ou divisões: karma-kāṇḍa, jñāna-kāṇḍa e upāsanā-kāṇḍa. A porção karma-kāṇḍa enfatiza a execução de atividades fruitivas, embora, em última análise, aconselhe-se que abandonemos tanto karma-kāṇḍa quanto jñāna-kāṇḍa (conhecimento especulativo) e aceitemos apenas upāsanā-kāṇḍa, ou bhakti-kāṇḍa. Não se pode alcançar amor a Deus executando karma-kāṇḍa ou jñāna-kāṇḍa. No entanto, dedicando nosso karma, ou atividades fruitivas, ao Senhor Supremo, podemos aliviar-nos da mente poluída. Porém, quem está realmente livre da poluição mental eleva-se com certeza à plataforma espiritual. É então que se passa a necessitar da companhia de um devoto puro, pois é apenas pela associação com um devoto puro que alguém pode tornar-se devoto puro da Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa. Quando alguém atinge a fase de serviço devocional puro, o processo de śravaṇaṁ kīrtanam é muito essencial. Executando os nove itens do serviço devocional, purificamo-nos por completo. Anyābhilāṣitā-śūnyaṁ jñāna-karmādy-anāvṛtam (Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.1.12). Somente então somos capazes de cumprir a ordem de Kṛṣṇa.
man-manā bhava mad-bhakto
mad-yājī māṁ namaskuru
mām evaiṣyasi satyam te
pratijāne priyo ’si me
sarva-dharmān parityajya
mām ekaṁ śaranaṁ vraja
ahaṁ tvāṁ sarva-pāpebhyo
mokṣayiṣyāmi mā śucaḥ
“Pensa sempre em Mim e torna-te Meu devoto. Adora-Me e homenageia-Me. Assim, virás a Mim, com certeza. Prometo-te isto por seres Meu amigo muito querido. Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas.” (Bhagavad-gītā 18.65-66)”
Dessa maneira, cada um desenvolve sua posição constitucional original, mediante a qual pode prestar serviço amoroso ao Senhor. Ninguém pode elevar-se à plataforma máxima de serviço devocional por meio de karma-kāṇḍa ou jñāna-kāṇḍa. É apenas através da associação com devotos puros que se pode compreender e alcançar o serviço devocional puro. A esse respeito, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura afirma que existem duas classes de atividades karma-kāṇḍa – piedosas e ímpias. Logicamente, preferem-se as atividades piedosas às ímpias, mas nem mesmo as atividades piedosas podem nos garantir o amor extático por Deus, Kṛṣṇa. Atividades piedosas e ímpias podem ocasionar felicidade ou sofrimento materiais, mas não há possibilidade alguma de que alguém se torne devoto puro simplesmente por agir piedosa ou impiedosamente. Bhakti, serviço devocional, significa satisfazer a Kṛṣṇa. Em toda escritura revelada – quer se enfatize jñāna-kāṇḍa, quer karma-kāṇḍa – sempre se glorifica o princípio de renúncia. O fruto maduro do conhecimento védico, o Śrīmad-Bhāgavatam, é a evidência védica suprema. O Śrīmad-Bhāgavatam (1.5.12) afirma:
naiṣkarmyam apy acyuta-bhāva-varjitaṁ
na śobhate jñānam alaṁ nirañjanam
kutaḥ punaḥ śaśvad abhadram īśvare
na cārpitaṁ karma yad apy akāraṇam
“Conhecimento sobre a autorrealização, mesmo que desprovido de toda afinidade material, não soa bem caso careça de uma concepção do Infalível [Deus]. De que adiantam, então, as atividades fruitivas, que são naturalmente dolorosas desde o próprio começo e de natureza transitória, caso não se as utilizem no serviço devocional ao Senhor?” Isso quer dizer que mesmo o conhecimento, que é superior à atividade fruitiva não é exitoso se desprovido de serviço devocional. Em todas as escrituras – em qualquer passagem das mesmas – condena-se karma-kāṇḍa e jñāna-kāṇḍa. O Śrīmad-Bhāgavatam diz: dharmaḥ projjhita-kaitavo ’tra.
Explica-se isso nos seguintes versos retirados do Śrīmad-Bhāgavatam (11.11.32) e da Bhagavad-gītā (18.66).