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Capítulo Nove

As Viagens do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu aos Lugares Sagrados

Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura apresenta o resumo do nono capítulo. Após deixar Vidyānagara, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou lugares de peregrinação tais como Gautamī-gaṅgā, Mallikārjuna, Ahovala-nṛsiṁha, Siddhavaṭa, Skanda-kṣetra, Trimaṭha, Vṛddhakāśī, Bauddha-sthāna, Tirupati, Tirumala, Pānā-nṛsiṁha, Śiva-kāñcī, Viṣṇu-kāñcī, Trikāla-hasti, Vṛddhakola, Śiyālī-bhairavī, o rio Kāverī e o Kumbhakarṇa-kapāla.

Finalmente, o Senhor foi a Śrī Raṅga-kṣetra, onde converteu um brāhmaṇa chamado Vyeṅkata Bhaṭṭa, que, juntamente com sua família, tornou-se devoto de Kṛṣṇa. Após deixar Śrī Raṅga, Caitanya Mahāprabhu chegou a Ṛṣabha-parvata, onde Se encontrou com Paramānanda Purī, o qual, mais tarde, foi para Jagannātha Purī. Então, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu seguiu viagem, chegando a Setubandha Rāmeśvara. Em Śrī Śaila-parvata, o Senhor encontrou-Se com o senhor Śiva e sua esposa Durgā disfarçados de brāhmaṇa e brāhmaṇī. Dali, foi para Kāmakoṣṭhī-purī, e, mais tarde, chegou à Mathurā do sul. Um devoto brāhmaṇa do Senhor Rāmacandra conversou com Ele. A seguir, o Senhor tomou Seu banho no rio Kṛtamālā. O Senhor viu Paraśurāma sobre a colina conhecida como Mahendra-śaila. Então, o Senhor foi até Setubandha e tomou banho em Dhanus-tīrtha. Ele também visitou Rāmeśvara, onde coletou alguns documentos referentes a Sītādevī, cuja forma ilusória fora raptada por Rāvaṇa. Em seguida, o Senhor visitou os lugares conhecidos como Pāṇḍya-deśa, o rio Tāmraparṇī, Naya-tripati, Ciyaḍatalā, Tila-kāñcī, Gajendra-mokṣaṇa, Pānāgaḍi, Cāmtāpura, Śrī Vaikuṇṭha, Malaya-parvata e Kanyā-kumārī. Então, o Senhor encontrou os Bhaṭṭathāris em Mallāra-deśa e salvou Kālā Kṛṣṇadāsa de suas garras. O Senhor também encontrou a Brahma-saṁhitā, quinto capítulo, às margens do rio Payasvinī. Então, visitou Payasvinī, Śṛṅgavera-purī-maṭha e Matsya-tīrtha. Na vila de Uḍupī, visitou o Gopāla instalado por Śrī Madhvācārya. Então, derrotou os tattvavādīs em diálogo śāstrico. Em seguida, o Senhor visitou Phalgu-tīrtha, Tritakūpa Pañcāpsarā, Sūrpāraka e Kolāpura. Em Pāṇḍarapura, o Senhor recebeu de Śrī Raṅga Purī a notícia do desaparecimento de Śaṅkarāraṇya (Viśvarūpa) ali. Então, foi às margens do rio Kṛṣṇa-veṇvā, onde conseguiu, entre os brāhmaṇas vaiṣṇavas locais, um livro escrito por Bilvamaṅgala, chamado Kṛṣṇa-karṇāmṛta. Então, o Senhor visitou o rio Tāpī, Māhiṣmatī-pura, o rio Narmadā e Ṛṣyamūka-parvata. Entrou em Daṇḍakāraṇya e liberou as sete palmeiras. Dali, visitou um local conhecido como Pampā-sarovara e visitou Pañcavaṭī, Nāsika, Brahmagiri e também a nascente do rio Godāvarī, Kuśāvarta. Desta maneira, o Senhor visitou quase todos os lugares santos do sul da Índia. Por fim, regressou a Jagannātha Purī seguindo a mesma rota, após visitar Vidyānagara mais uma vez.

VERSO 1: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu converteu os habitantes do sul da Índia. Essas pessoas eram fortes como elefantes, mas estavam sob as garras dos crocodilos de diversas filosofias – tais como as filosofias budista, jaina e māyāvāda. Com Seu disco de misericórdia, o Senhor converteu todos eles em vaiṣṇavas, devotos do Senhor.

VERSO 2: Todas as glórias ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda Prabhu! Todas as glórias a Śrī Advaita Prabhu! E todas as glórias aos devotos de Śrī Caitanya Mahāprabhu!

VERSO 3: A viagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu pelo sul da Índia com certeza foi muito extraordinária, pois lá Ele visitou muitos milhares de locais de peregrinação.

VERSO 4: Ao visitar todos aqueles locais sagrados, o Senhor converteu muitos milhares de residentes. Assim, muitas pessoas libertaram-se. Pelo simples fato de tocar nos locais sagrados, Ele os transformou em grandes lugares de peregrinação.

VERSO 5: Não posso registrar cronologicamente todos os lugares de peregrinação visitados pelo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu. Posso apenas resumir tudo dizendo que o Senhor visitou todos os locais santos, por toda parte, indo e vindo.

VERSO 6: Por ser-me impossível dar uma relação em ordem cronológica de todos esses locais, faço apenas um gesto simbólico de que os estou registrando.

VERSOS 7-8: Como afirmei anteriormente, todos os residentes das vilas visitadas pelo Senhor Caitanya tornaram-se vaiṣṇavas e começaram a cantar “Hari” e “Kṛṣṇa”. Dessa maneira, em todas as vilas que o Senhor visitou, todos se tornaram vaiṣṇavas, devotos.

VERSO 9: No sul da Índia, havia muitas classes de pessoas. Alguns eram especuladores filosóficos, e outros, trabalhadores fruitivos. Porém, qualquer que fosse o caso, havia inúmeros não-devotos.

VERSO 10: Pela influência de Śrī Caitanya Mahāprabhu, todas essas pessoas abandonaram suas opiniões pessoais e tornaram-se vaiṣṇavas, devotos de Kṛṣṇa.

VERSO 11: Na época, todos os vaiṣṇavas do sul da Índia eram adoradores do Senhor Rāmacandra. Alguns eram tattvavādīs, e outros, seguidores de Rāmānujācārya.

VERSO 12: Após encontrarem-se com Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos esses diferentes vaiṣṇavas tornaram-se devotos de Kṛṣṇa e começaram a cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa.

VERSO 13: “Ó Senhor Rāmacandra, descendente de Mahārāja Raghu, por favor, protegei-me! Ó Senhor Kṛṣṇa, matador do demônio Keśī, por favor, protegei-me!”

VERSO 14: Enquanto caminhava pela estrada, Śrī Caitanya Mahāprabhu costumava cantar este mantra Rāma Rāghava. Cantando dessa maneira, chegou às margens do Gautamī-gaṅgā, onde tomou Seu banho.

VERSO 15: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi a Mallikārjuna-tīrtha, onde visitou a deidade do senhor Śiva. Além disso, Ele induziu todas as pessoas a cantarem o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa.

VERSO 16: Ali, Ele viu o Senhor Mahādeva [Śiva], o servo do Senhor Rāma. Em seguida, foi para Ahovala-nṛsiṁha.

VERSO 17: Após ver a Deidade de Ahovala-nṛsiṁha, Caitanya Mahāprabhu ofereceu muitas orações ao Senhor. Então, foi a Siddhavaṭa, onde visitou a Deidade de Rāmacandra, o Senhor de Sītādevī.

VERSO 18: Após ver a Deidade do Senhor Rāmacandra, o descendente do rei Raghu, o Senhor ofereceu-Lhe Suas orações e prestou-Lhe reverências. Então, um brāhmaṇa convidou-O para almoçar.

VERSO 19: Aquele brāhmaṇa constantemente cantava o santo nome de Rāmacandra. Na verdade, a não ser cantar o santo nome do Senhor Rāmacandra, esse brāhmaṇa não falava palavra alguma.

VERSO 20: Naquele dia, o Senhor Caitanya hospedou-Se em sua casa, onde aceitou prasāda. Após conceder-lhe misericórdia dessa maneira, o Senhor prosseguiu.

VERSO 21: No lugar sagrado conhecido como Skanda-kṣetra, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo de Skanda. Dali, foi para Trimaṭha, onde viu a Deidade de Viṣṇu, Trivikrama.

VERSO 22: Após visitar o templo de Trivikrama, o Senhor regressou a Siddhavaṭa, onde novamente visitou a casa do brāhmaṇa, que agora constantemente cantava o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa.

VERSO 23: Após terminar Seu almoço ali, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou ao brāhmaṇa: “Meu caro amigo, por gentileza, dize-Me qual é tua posição agora”.

VERSO 24: “Antes, cantavas constantemente o santo nome do Senhor Rāma. Por que agora cantas constantemente o santo nome de Kṛṣṇa?”

VERSO 25: O brāhmaṇa respondeu: “Tudo isso se deve à Vossa influência, Senhor. Após ver-Vos, deixei a prática à qual me dediquei por toda a vida.”

VERSO 26: “Desde a minha infância, sempre cantei o santo nome do Senhor Rāmacandra, mas, após ver-Vos, comecei a cantar o santo nome do Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 27: “Desde então, o santo nome de Kṛṣṇa está firmemente ligado à minha língua. Na verdade, quando canto o santo nome de Kṛṣṇa, o santo nome do Senhor Rāmacandra se distancia.”

VERSO 28: “Desde minha infância, pratico este cantar e tenho extraído das escrituras reveladas as glórias do santo nome.”

VERSO 29: “‘A Suprema Verdade Absoluta chama-Se Rāma porque os transcendentalistas se comprazem no ilimitado e verdadeiro prazer da existência espiritual.’”

VERSO 30: “‘A palavra ‘kṛṣ’ é o aspecto atrativo da existência do Senhor, e ‘ṇa’ significa prazer espiritual. Ao acrescentar-se a raiz verbal ‘kṛṣ’ ao afixo ‘ṇa’, isso resulta em Kṛṣṇa, que indica a Verdade Absoluta.’”

VERSO 31: “Quanto aos santos nomes de Rāma e Kṛṣṇa, eles estão em nível de igualdade, mas, para avançar mais, recebemos algumas informações específicas das escrituras reveladas.”

VERSO 32: “Dirigindo-se à sua esposa, Durgā, o senhor Śiva explicou-lhe: ‘Ó Varānanā, eu canto o santo nome de Rāma, Rāma, Rāma, e assim desfruto deste belo som. Este santo nome de Rāmacandra equivale a mil santos nomes do Senhor Viṣṇu.’”

VERSO 33: “‘Os resultados piedosos obtidos por se cantar três vezes os mil santos nomes de Viṣṇu podem ser obtidos com uma única repetição do santo nome de Kṛṣṇa.’”

VERSO 34: “Segundo a afirmação dos śāstras, as glórias do santo nome de Kṛṣṇa são ilimitadas. Mesmo assim, eu não podia cantar Seu santo nome. Por favor, ouve a razão disso.”

VERSO 35: “O Senhor Rāmacandra tem sido meu Senhor adorável, e eu sentia felicidade cantando Seu santo nome. Como experimentava tal felicidade, eu cantava o santo nome do Senhor Rāma dia e noite.”

VERSO 36: “Com Teu aparecimento, também apareceu o santo nome do Senhor Kṛṣṇa, e, nessa ocasião, as glórias do nome de Kṛṣṇa se despertaram em meu coração.”

VERSO 37: O brāhmaṇa concluiu: “Senhor, sois o próprio Senhor Kṛṣṇa! Foi isso o que comprovei.” Ao dizer isso, o brāhmaṇa caiu aos pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 38: No dia seguinte, após ter mostrado misericórdia ao brāhmaṇa, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu partiu, chegando, em seguida, a Vṛddhakāśī, onde visitou o templo do senhor Śiva.

VERSO 39: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu deixou Vṛddhakāśī e seguiu viagem. Chegando a uma vila, verificou que a maioria de seus residentes eram brāhmaṇas, e ali descansou.

VERSO 40: Devido à influência do Senhor Caitanya Mahāprabhu, muitos milhões de homens foram ali apenas para vê-lO. Na verdade, tão ilimitada era a assembleia que não se podia contar seus membros.

VERSO 41: As características físicas do Senhor eram belíssimas, e, além disso, Ele sempre estava no êxtase de amor a Deus. Pelo simples fato de vê-lO, todos começaram a cantar o santo nome de Kṛṣṇa, e assim todos se tornaram devotos vaiṣṇavas.

VERSO 42: Há muitas espécies de filósofos. Alguns são lógicos e seguem Gautama ou Kaṇāda. Outros seguem a filosofia mīmāṁsā de Jaimini. Outros seguem a filosofia māyāvāda de Śaṅkarācārya, e outros, a filosofia sāṅkhya de Kapila ou o sistema de yoga místico de Patañjali. Alguns seguem o smṛti-śāstra composto de vinte escrituras religiosas, e outros seguem os Purāṇas e o tantra-śāstra. Dessa maneira, são muitas as diferentes classes de filósofos.

VERSO 43: Todos estes adeptos de diversas escrituras estavam prontos para apresentar as conclusões de suas respectivas escrituras; Śrī Caitanya Mahāprabhu, porém, despedaçou todas as suas opiniões e estabeleceu Seu próprio culto de bhakti, baseado nos Vedas, no Vedānta, no Brahma-sūtra e na filosofia de acintya-bhedābheda-tattva.

VERSO 44: Śrī Caitanya Mahāprabhu estabeleceu o culto devocional em toda parte. Ninguém conseguia derrotá-lO.

VERSO 45: Derrotados assim pelo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos esses filósofos e seus seguidores entraram para o Seu culto. Dessa maneira, o Senhor Caitanya transformou o sul da Índia em uma terra de vaiṣṇavas.

VERSO 46: Ao ouvirem falar da erudição de Śrī Caitanya Mahāprabhu, os descrentes foram vê-lO cheios de orgulho, trazendo consigo seus discípulos.

VERSO 47: Um deles era o líder de um culto budista e era um estudioso muito erudito. Ele chegou perante o Senhor e, a fim de estabelecer suas nove conclusões filosóficas, começou a falar.

VERSO 48: Embora os budistas não sirvam para debates e os vaiṣṇavas não devam vê-los, Caitanya Mahāprabhu falou com eles só para diminuir seu falso orgulho.

VERSO 49: As escrituras do culto budista baseiam-se principalmente na lógica e no argumento, e contêm nove princípios fundamentais. Como Śrī Caitanya Mahāprabhu derrotou-os em seus argumentos, eles não puderam estabelecer o seu culto.

VERSO 50: O preceptor do culto budista apresentou nove princípios, mas Śrī Caitanya Mahāprabhu despedaçou-os com Sua forte lógica.

VERSO 51: Śrī Caitanya Mahāprabhu derrotou todos os especuladores mentais e estudiosos eruditos. Quando o povo começou a rir deles, os filósofos budistas sentiram tanto vergonha quanto medo.

VERSO 52: Os budistas puderam compreender que o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu era um vaiṣṇava, e voltaram para casa muito tristes. Mais tarde, contudo, começaram a conspirar contra o Senhor.

VERSO 53: Uma vez armada a trama, os budistas levaram um prato com alimento intocável perante o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu dizendo que era mahā-prasāda.

VERSO 54: Quando a comida contaminada foi oferecida a Śrī Caitanya Mahāprabhu, um pássaro muito grande apareceu no local, apanhou o prato com seu bico e bateu asas em retirada.

VERSO 55: Na verdade, a comida intocável caiu sobre os budistas, e o grande pássaro deixou o prato cair na cabeça do principal mestre deles. Ao cair sobre sua cabeça, o prato produziu um grande ruído.

VERSO 56: O prato era feito de metal, e, ao golpear a cabeça do mestre, sua borda cortou o mestre, fazendo-o cair inconsciente ao chão de imediato.

VERSO 57: Vendo seu mestre caído, inconsciente, os discípulos budistas puseram-se a chorar muito alto e correram ao refúgio dos pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 58: Todos oraram ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, dirigindo-se a Ele como a própria Suprema Personalidade de Deus: “Senhor, por favor, perdoai nossas ofensas. Por favor, tende misericórdia de nós e trazei o nosso mestre espiritual de volta à vida.”

VERSO 59: Então, o Senhor respondeu aos discípulos budistas: “Deveis todos cantar bem alto os nomes de Kṛṣṇa e Hari ao pé do ouvido de vosso mestre espiritual.”

VERSO 60: “Através deste método, vosso mestre espiritual recobrará sua consciência.” Seguindo o conselho de Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos os discípulos budistas começaram a cantar o santo nome de Kṛṣṇa congregacionalmente.

VERSO 61: Quando todos os discípulos cantaram os santos nomes Kṛṣṇa, Rāma e Hari, o mestre budista recobrou a consciência e logo se colocou a cantar o santo nome do Senhor Hari.

VERSO 62: Quando o mestre espiritual dos budistas começou a cantar o santo nome de Kṛṣṇa e submeteu-se ao Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, todas as pessoas ali reunidas ficaram perplexas.

VERSO 63: Então, súbita e estranhamente, Śrī Caitanya Mahāprabhu, o filho de Śacīdevī, desapareceu da vista de todos, sem que ninguém conseguisse encontrá-lO.

VERSO 64: Em seguida, Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou a Tirupati e Tirumala, onde visitou uma Deidade de quatro braços. Logo em seguida, prosseguiu em direção à colina Veṅkaṭa.

VERSO 65: Após chegar a Tirupati, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo do Senhor Rāmacandra. Ofereceu Suas orações e prestou reverências perante Rāmacandra, o descendente do rei Raghu.

VERSO 66: Onde quer que Śrī Caitanya Mahāprabhu fosse, Sua influência pasmava a todos. Em seguida, Ele chegou ao templo de Pānā-nṛsiṁha. O Senhor é muito misericordioso.

VERSO 67: Em grande amor extático, Śrī Caitanya Mahāprabhu ofereceu reverências e orações ao Senhor Nṛsiṁha. As pessoas ficaram assombradas de ver a influência do Senhor Caitanya.

VERSO 68: Chegando a Śiva-kāñcī, Caitanya Mahāprabhu visitou a deidade do senhor Śiva. Por Sua influência, Ele converteu todos os devotos do senhor Śiva em vaiṣṇavas.

VERSO 69: Então, o Senhor visitou um local sagrado conhecido como Viṣṇu-kāñcī. Ali, Ele viu as Deidades de Lakṣmī-Nārāyaṇa e ofereceu os Seus respeitos e muitas orações para o prazer dElas.

VERSO 70: Permanecendo em Viṣṇu-kāñcī por dois dias, Śrī Caitanya Mahāprabhu dançou e fez kīrtana em êxtase. Ao vê-lO, todas as pessoas convertiam-se em devotos do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 71: Após visitar Trimalaya, Caitanya Mahāprabhu foi ver Trikāla-hasti. Foi ali que Ele viu o senhor Śiva e ofereceu-lhe todos os respeitos e reverências.

VERSO 72: Em Pakṣi-tīrtha, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo do senhor Śiva. A seguir, foi ao local de peregrinação chamado Vṛddhakola.

VERSO 73: Em Vṛddhakola, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo de Śveta-varāha, o javali branco. Após prestar-Lhe Seus respeitos, o Senhor visitou o templo do senhor Śiva, no qual se veste a deidade com roupas amarelas.

VERSO 74: Após visitar o templo de Śiyālī-bhairavī [outra forma da deusa Durgā], Śrī Caitanya Mahāprabhu, o filho de mãe Śacī, dirigiu-Se até a margem do rio Kāverī.

VERSO 75: Então, o Senhor visitou um local conhecido como Go-samāja, onde viu o templo do senhor Śiva. Depois disso, chegou a Vedāvana, onde viu outra deidade do senhor Śiva e ofereceu-lhe orações.

VERSO 76: Ao ver a deidade de Śiva chamada Amṛta-liṅga, o Senhor Caitanya Mahāprabhu prestou-lhe Suas reverências. Assim, Ele visitou todos os templos do senhor Śiva e converteu os devotos do senhor Śiva em vaiṣṇavas.

VERSO 77: Em Devasthāna, Caitanya Mahāprabhu visitou o templo do Senhor e, ali, conversou com os vaiṣṇavas pertencentes à sucessão discipular de Rāmānujācārya. Esses vaiṣṇavas são conhecidos como Śrī Vaiṣṇavas.

VERSO 78: Em Kumbhakarṇa-kapāla, Śrī Caitanya Mahāprabhu viu um grande lago e também o lugar santo chamado Śiva-kṣetra, onde se encontra um templo do senhor Śiva.

VERSO 79: Após visitar o local sagrado chamado Śiva-kṣetra, Caitanya Mahāprabhu chegou a Pāpanāśana, onde viu o templo do Senhor Viṣṇu. Então, chegou enfim a Śrī Raṅga-kṣetra.

VERSO 80: Após banhar-Se no rio Kāverī, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo de Raṅganātha e ofereceu Suas ardentes orações e reverências. Assim, sentiu-Se bem-sucedido.

VERSO 81: No templo de Raṅganātha, Śrī Caitanya Mahāprabhu cantou e dançou em amor extático por Deus. Vendo Seu excelente desempenho, todos se encheram de admiração.

VERSO 82: Então, um vaiṣṇava conhecido como Veṅkaṭa Bhaṭṭa convidou Śrī Caitanya Mahāprabhu à sua casa com grande respeito.

VERSO 83: Śrī Veṅkaṭa Bhaṭṭa levou Śrī Caitanya Mahāprabhu para sua casa. Após ele ter lavado os pés do Senhor, todos os membros de sua família beberam a água.

VERSO 84: Após oferecer almoço ao Senhor, Veṅkaṭa Bhaṭṭa informou-Lhe que o período de Cāturmāsya já chegara.

VERSO 85: Veṅkaṭa Bhaṭṭa disse: “Por favor, sê misericordioso comigo e fica em minha casa durante o Cāturmāsya. Fala sobre os passatempos do Senhor Kṛṣṇa e bondosamente liberta-me por Tua misericórdia.”

VERSO 86: Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu na casa de Veṅkaṭa Bhaṭṭa por quatro meses seguidos. O Senhor passava Seus dias alegremente gozando da doçura transcendental de conversar sobre os passatempos do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 87: Enquanto esteve ali, Śrī Caitanya Mahāprabhu tomava banho no rio Kāverī e visitava o templo de Śrī Raṅga. Todos os dias, o Senhor também dançava em êxtase.

VERSO 88: A beleza do corpo do Senhor Caitanya e Seu amor extático por Deus eram testemunhados por todos. Muitas pessoas costumavam ir vê-lO, e, assim que O viam, toda a sua infelicidade e sofrimento desapareciam.

VERSO 89: Muitas centenas de milhares de pessoas de diversas regiões iam ver o Senhor, e, após vê-lO, todas elas cantavam o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa.

VERSO 90: Na verdade, elas não cantavam nada senão o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, e todas elas se tornaram devotos do Senhor Kṛṣṇa. Assim, a população em geral ficou assombrada.

VERSO 91: Todos os brāhmaṇas vaiṣṇavas residentes em Śrī Raṅga-kṣetra convidavam o Senhor a suas casas todos os dias.

VERSO 92: A cada dia, o Senhor era convidado por um brāhmaṇa diferente; alguns deles, porém, não tiveram a oportunidade de oferecer-Lhe um almoço, pois o período de Cāturmāsya chegou ao fim.

VERSO 93: Na terra santa de Śrī Raṅga-kṣetra, um brāhmaṇa vaiṣṇava costumava visitar o templo diariamente e recitar todo o texto da Bhagavad-gītā.

VERSO 94: O brāhmaṇa regularmente lia os dezoito capítulos da Bhagavad-gītā em grande êxtase transcendental, mas, como não sabia pronunciar as palavras de maneira correta, as pessoas costumavam caçoar dele.

VERSO 95: Devido à sua pronúncia incorreta, às vezes criticavam-no e riam dele, mas ele não se importava. A leitura da Bhagavad-gītā o deixava pleno de êxtase, e, pessoalmente, ele era muito feliz.

VERSO 96: Enquanto lia o livro, o brāhmaṇa experimentava transformações corpóreas transcendentais. Seu cabelo arrepiava-se, lágrimas escorriam de seus olhos e seu corpo tremia e transpirava durante a leitura. Vendo isso, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito feliz.

VERSO 97: Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou ao brāhmaṇa: “Meu caro senhor, por que estás experimentando um amor tão extático? Que parte da Bhagavad-gītā te proporciona tamanho prazer transcendental?”

VERSO 98: O brāhmaṇa respondeu: “Sou iletrado, de modo que não conheço o significado das palavras. Ora leio a Bhagavad-gītā da forma correta, ora leio incorretamente; mas, de qualquer modo, estou fazendo isso segundo as ordens de meu mestre espiritual.”

VERSO 99: O brāhmaṇa prosseguiu: “Na verdade, vejo apenas uma ilustração do Senhor Kṛṣṇa sentado em uma quadriga como o quadrigário de Arjuna. Segurando as rédeas em Suas mãos, Ele Se demonstra muito belo e enegrecido.”

VERSO 100: “Vendo a ilustração do Senhor Kṛṣṇa sentado em uma quadriga a instruir Arjuna, encho-me de felicidade extática.”

VERSO 101: “Enquanto leio a Bhagavad-gītā, simplesmente vejo as belas características do Senhor. É por esse motivo que estou lendo a Bhagavad-gītā, e minha mente não pode desviar-se disso.”

VERSO 102: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse ao brāhmaṇa: “Na verdade, és uma autoridade na leitura da Bhagavad-gītā. Tudo o que sabes constitui o verdadeiro significado da Bhagavad-gītā.”

VERSO 103: Após dizer isso, o Senhor Caitanya Mahāprabhu abraçou o brāhmaṇa, e o brāhmaṇa, agarrando-se aos pés de lótus do Senhor, começou a chorar.

VERSO 104: O brāhmaṇa disse: “Ao ver-Vos, minha felicidade dobra. Acho que sois o próprio Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 105: A mente do brāhmaṇa se purificou com a revelação do Senhor Kṛṣṇa, e, em razão disso, ele pôde entender a verdade sobre Śrī Caitanya Mahāprabhu em todos os pormenores.

VERSO 106: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu deu instruções muito minuciosas ao brāhmaṇa e pediu-lhe que não revelasse o fato de que Ele era o próprio Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 107: Aquele brāhmaṇa tornou-se um grande devoto de Śrī Caitanya Mahāprabhu e, por quatro meses seguidos, não abandonou a companhia do Senhor.

VERSO 108: Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu na casa de Veṅkaṭa Bhaṭṭa conversando constantemente sobre o Senhor Kṛṣṇa. Dessa maneira, Ele ficou muito feliz.

VERSO 109: Sendo um vaiṣṇava do Rāmānuja-sampradāya, Veṅkaṭa Bhaṭṭa adorava a Deidade de Lakṣmī e Nārāyaṇa. Vendo sua devoção pura, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito.

VERSO 110: Por associarem-se constantemente um com o outro, Śrī Caitanya Mahāprabhu e Veṅkaṭa Bhaṭṭa desenvolveram aos poucos uma relação amistosa. Na verdade, às vezes riam e gracejavam juntos.

VERSO 111: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse ao Bhaṭṭācārya: “Tua adorável deusa da fortuna, Lakṣmī, permanece sempre abraçada ao peito de Nārāyaṇa, sendo com certeza a mulher mais casta na criação.”

VERSO 112: “Contudo, Meu Senhor é o Senhor Śrī Kṛṣṇa, um vaqueirinho dedicado a apascentar vacas. Por que Lakṣmī, sendo uma esposa tão casta, quer associar-se com Meu Senhor?”

VERSO 113: “Só para associar-se com Kṛṣṇa, Lakṣmī abandonou toda a felicidade transcendental de Vaikuṇṭha e, por longo período de tempo, aceitou votos e princípios reguladores, praticando ilimitadas austeridades.”

VERSO 114: Caitanya Mahāprabhu disse então: “‘Ó Senhor, não sabemos como a serpente Kāliya obteve semelhante oportunidade de ser tocada pela poeira de Vossos pés de lótus. Mesmo a deusa da fortuna, para este fim, praticou austeridades por séculos, abandonando todos os outros desejos e fazendo votos austeros. Na verdade, não sabemos como a serpente Kāliya teve semelhante oportunidade.’”

VERSO 115: Então, Veṅkaṭa Bhaṭṭa disse: “O Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Nārāyaṇa são a mesma pessoa; os passatempos de Kṛṣṇa, porém, são mais aprazíveis devido à sua natureza divertida.”

VERSO 116: “Uma vez que Kṛṣṇa e Nārāyaṇa são ambos a mesma personalidade, a associação de Lakṣmī com Kṛṣṇa não quebra seu voto de castidade. Pelo contrário, foi com grande prazer que a deusa da fortuna quis associar-se com o Senhor Kṛṣṇa.”

VERSO 117: Veṅkaṭa Bhaṭṭa continuou: “‘Segundo a percepção transcendental, não há diferença alguma entre as formas de Nārāyaṇa e Kṛṣṇa. Todavia, há em Kṛṣṇa um atrativo transcendental especial devido à doçura conjugal, em consequência do que Ele supera Nārāyaṇa. Essa é a conclusão das doçuras transcendentais.’”

VERSO 118: “A deusa da fortuna ponderou que seu voto de castidade não se quebraria se ela se relacionasse com Kṛṣṇa. Pelo contrário, associando-se com Kṛṣṇa, ela poderia gozar do benefício da dança da rāsa.”

VERSO 119: Veṅkaṭa Bhaṭṭa explicou ainda: “Mãe Lakṣmī, a deusa da fortuna, também é desfrutadora de bem-aventurança transcendental; portanto, se ela quisesse divertir-se com Kṛṣṇa, que mal haveria nisso? Por que gracejas dessa maneira sobre isso?”

VERSO 120: O Senhor Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Sei que não há mal algum da parte da deusa da fortuna, mas, de qualquer modo, ela não pôde participar da dança da rāsa. É isso o que nos dizem as escrituras reveladas.”

VERSO 121: “‘Ao dançar com as gopīs na rāsa-līlā, o Senhor Śrī Kṛṣṇa abraçou-as mantendo Seus braços em volta de seus pescoços. Este favor transcendental não foi jamais concedido à deusa da fortuna nem a outras consortes no mundo espiritual. Tampouco as belíssimas moças dos planetas celestiais, com seus corpos brilhantes e aromáticos como se fossem flores de lótus, jamais sequer imaginaram tal coisa. E o que dizer, então, de mulheres mundanas que talvez sejam muito bonitas segundo o consenso material?’”

VERSO 122: “Mas podes dizer-Me por qual motivo a deusa da fortuna, Lakṣmī, não pôde entrar na dança da rāsa? As autoridades em conhecimento védico puderam participar da dança e associar-se com Kṛṣṇa.”

VERSO 123: “‘Praticando o sistema de yoga místico e controlando a respiração, grandes sábios conquistam a mente e os sentidos. Assim, ocupando-se em yoga místico e vendo a Superalma dentro de seus corações; eles, por fim, imergem no Brahman impessoal, juntamente com os inimigos da Suprema Personalidade de Deus. Contudo, as donzelas de Vraja, as gopīs, querem abraçar Kṛṣṇa e Seus braços, que são como serpentes. Atraídas pela beleza de Kṛṣṇa, as gopīs enfim saborearam o néctar dos pés de lótus do Senhor. As Upaniṣads também saborearam o néctar de Seus pés de lótus, seguindo os passos das gopīs.’”

VERSO 124: Quando Caitanya Mahāprabhu perguntou-lhe por que a deusa da fortuna não pôde participar da dança da rāsa ao passo que as autoridades em conhecimento védico puderam, Veṅkaṭa Bhaṭṭa respondeu: “Não posso penetrar nos mistérios desse comportamento.”

VERSO 125: Então, Veṅkaṭa Bhaṭṭa admitiu: “Sou um ser humano comum. Como minha inteligência é muito limitada e como eu fico agitado facilmente, minha mente não pode mergulhar no profundo oceano dos passatempos do Senhor.”

VERSO 126: “És a própria Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa. Conheces o propósito de Tuas atividades, e a pessoa a quem iluminas também pode compreender Teus passatempos.”

VERSO 127: O Senhor respondeu: “O Senhor Kṛṣṇa tem uma característica específica. Ele atrai o coração de todos com a doçura de Seu amor conjugal pessoal.”

VERSO 128: “Seguindo os passos dos habitantes do planeta conhecido como Vrajaloka ou Goloka Vṛndāvana, pode-se alcançar o refúgio dos pés de lótus de Śrī Kṛṣṇa. Contudo, naquele planeta, os habitantes não sabem que o Senhor Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus.”

VERSO 129: “Ali, pode ser que alguém O aceite como filho e às vezes O ate a um pilão. Pode ser que outra pessoa O aceite como amigo íntimo e, vencendo-O, monte sobre Seus ombros como uma brincadeira.”

VERSO 130: “Os habitantes de Vrajabhūmi conhecem Kṛṣṇa como o filho de Mahārāja Nanda, o rei de Vrajabhūmi, e consideram que não podem ter nenhuma relação com o Senhor na rasa de opulência.”

VERSO 131: “Quem adora o Senhor seguindo os passos dos habitantes de Vrajabhūmi alcança-O no planeta transcendental de Vraja, onde Ele é conhecido como o filho de Mahārāja Nanda.”

VERSO 132: Então, Caitanya Mahāprabhu citou o seguinte: “‘A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, o filho de mãe Yaśodā, é acessível àqueles devotos ocupados em serviço amoroso espontâneo, mas não é tão facilmente acessível aos especuladores mentais, àqueles que estão procurando alcançar a autorrealização por meio de rigorosas austeridades e penitências ou àqueles que acham que o corpo e o eu são a mesma coisa.’”

VERSO 133: “As autoridades em textos védicos conhecidas como śruti-gaṇas adoraram o Senhor Kṛṣṇa no êxtase das gopīs e seguiram-lhes os passos.”

VERSO 134: “As personificações das autoridades nos hinos védicos adquiriram corpos como os das gopīs e nasceram em Vrajabhūmi. Com aqueles corpos, foi-lhes permitido participarem da dança da rāsa-līlā do Senhor.”

VERSO 135: “O Senhor Kṛṣṇa pertence à comunidade pastoril, e as gopīs são as queridíssimas amantes de Kṛṣṇa. Embora as esposas dos habitantes dos planetas celestiais sejam muito opulentas dentro do mundo material, nem elas nem quaisquer outras mulheres no universo material podem gozar da companhia de Kṛṣṇa.”

VERSO 136: “A deusa da fortuna, Lakṣmī, quis desfrutar com Kṛṣṇa e, ao mesmo tempo, reter seu corpo espiritual sob a forma de Lakṣmī. Apesar de seu desejo, ela não seguiu os passos das gopīs em sua adoração a Kṛṣṇa.”

VERSO 137: “Vyāsadeva, a autoridade suprema em literatura védica, compôs um verso que começa com ‘nāyaṁ sukhāpo bhagavān’, pois ninguém pode participar da dança da rāsa-līlā em algum outro corpo diferente do corpo de gopī.”

VERSO 138: Antes de Śrī Caitanya Mahāprabhu apresentar esta explicação, Veṅkaṭa Bhaṭṭa pensava que Śrī Nārāyaṇa era a Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 139: Pensando dessa maneira, Veṅkaṭa Bhaṭṭa acreditava que a adoração a Nārāyaṇa era a forma suprema de adoração, superior a todos os outros processos de serviço devocional, pois era essa a adoração feita pelos discípulos śrī vaiṣṇavas de Rāmānujācārya.

VERSO 140: Śrī Caitanya Mahāprabhu percebeu esse engano de Veṅkaṭa Bhaṭṭa e, para corrigi-lo, o Senhor demoradamente em tom de troça.

VERSO 141: Então, o Senhor prosseguiu: “Meu querido Veṅkaṭa Bhaṭṭa, por favor, não continues duvidando. O Senhor Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus, e essa é a conclusão dos textos védicos.”

VERSO 142: “O Senhor Nārāyaṇa, a forma opulenta de Kṛṣṇa, atrai a mente da deusa da fortuna e de seus seguidores.”

VERSO 143: “‘Todas estas encarnações de Deus são ou porções plenárias ou partes das porções plenárias dos puruṣa-avatāras. Kṛṣṇa, porém, é a própria Suprema Personalidade de Deus. Em todas as eras, Ele protege o mundo por meio de Suas diferentes características quando o mundo é perturbado pelos inimigos de Indra.’”

VERSO 144: “Como Kṛṣṇa tem quatro qualidades extraordinárias não possuídas pelo Senhor Nārāyaṇa; a deusa da fortuna, Lakṣmī, sempre deseja Sua companhia.”

VERSO 145: “Recitaste o śloka que começa com ‘siddhāntatas tv abhede ’pi’. Este mesmíssimo verso é prova de que Kṛṣṇa é a Suprema Personalidade de Deus.”

VERSO 146: “‘Segundo a percepção transcendental, não há diferença alguma entre as formas de Nārāyaṇa e Kṛṣṇa. Todavia, há em Kṛṣṇa um atrativo transcendental especial devido à doçura conjugal, em consequência do que Ele supera Nārāyaṇa. Essa é a conclusão das doçuras transcendentais.’”

VERSO 147: “A Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, atrai a mente da deusa da fortuna, mas o Senhor Nārāyaṇa não pode atrair as mentes das gopīs. Isso prova a sobre-excelência de Kṛṣṇa.”

VERSO 148: “Para não falar do Senhor Nārāyaṇa pessoalmente, o próprio Senhor Kṛṣṇa apareceu como Nārāyaṇa apenas para pregar uma peça nas gopīs.”

VERSO 149: “Embora Kṛṣṇa houvesse assumido a forma de quatro braços de Nārāyaṇa, Ele não conseguiu atrair seriamente a atenção das gopīs absortas em amor extático.”

VERSO 150: “‘Certa vez, o Senhor Śrī Kṛṣṇa, de brincadeira, manifestou-Se como Nārāyaṇa, com quatro braços vitoriosos e uma forma belíssima. Contudo, quando as gopīs viram esta forma sublime, seus sentimentos extáticos reduziram-se. Portanto, um estudioso erudito não pode compreender os sentimentos extáticos das gopīs, os quais se centralizam firmemente na forma original do Senhor Kṛṣṇa como o filho de Nanda Mahārāja. Os maravilhosos sentimentos das gopīs em parama-rasa extático com Kṛṣṇa constituem o maior mistério da vida espiritual.’”

VERSO 151: Dessa maneira, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu abateu o orgulho de Veṅkaṭa Bhaṭṭa, mas, só para deixá-lo feliz novamente, falou o seguinte.

VERSO 152: O Senhor apaziguou Veṅkaṭa Bhaṭṭa, dizendo-lhe: “Na realidade, tudo o que Eu disse foi brincadeira. Agora podes ouvir de Mim a conclusão dos śāstras, na qual todos os devotos vaiṣṇavas têm firme fé.”

VERSO 153: “Não há diferença alguma entre o Senhor Kṛṣṇa e o Senhor Nārāyaṇa, pois Eles têm a mesma forma. De maneira similar, não há diferença entre as gopīs e a deusa da fortuna, pois elas também têm a mesma forma.”

VERSO 154: “A deusa da fortuna goza da companhia de Kṛṣṇa por meio das gopīs. Ninguém deve fazer distinções entre as formas do Senhor, pois tais conceituações são ofensivas.”

VERSO 155: “Não há diferença alguma entre as formas transcendentais do Senhor. Diferentes formas manifestam-se devido a diferentes apegos de diferentes devotos. Na verdade, o Senhor é um só, mas aparece em diferentes formas apenas para satisfazer Seus devotos.”

VERSO 156: “‘Quando a joia conhecida como vaidūrya toca outros objetos, ela parece dividir-se em diferentes cores. Consequentemente, as formas também parecem diferentes. Analogamente, de acordo com o êxtase meditativo do devoto, o Senhor, que é conhecido como Acyuta [infalível], aparece em diferentes formas, embora seja essencialmente um só.’”

VERSO 157: Então, Veṅkaṭa Bhaṭṭa disse: “Sou uma entidade viva caída e ordinária; Tu, porém, és Kṛṣṇa, a própria Suprema Personalidade de Deus.”

VERSO 158: “Os passatempos transcendentais do Senhor são insondáveis, e eu nada sei sobre eles. Tudo o que disseste aceito como verdade.”

VERSO 159: “Tenho me ocupado a serviço de Lakṣmī-Nārāyaṇa e, graças à misericórdia dEles, fui capaz de ver Teus pés de lótus.”

VERSO 160: “Por Tua misericórdia imotivada, falaste-me das glórias do Senhor Kṛṣṇa. Ninguém pode chegar ao fim da opulência, das qualidades e das formas do Senhor.”

VERSO 161: “Agora posso compreender que o serviço devocional a Kṛṣṇa é a forma suprema de adoração. Por Tua misericórdia imotivada, tornaste minha vida exitosa simplesmente explicando-me os fatos.”

VERSO 162: Após dizer isso, Veṅkaṭa Bhaṭṭa caiu aos pés de lótus do Senhor, e o Senhor, movido por Sua misericórdia imotivada, abraçou-o.

VERSO 163: Terminado o período de Cāturmāsya, Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu permissão para deixar Veṅkaṭa Bhaṭṭa e, após visitar Śrī Raṅga, seguiu viagem rumo ao sul da Índia.

VERSO 164: Veṅkaṭa Bhaṭṭa não quis voltar para casa, senão que também desejou ir com o Senhor. Foi com muito esforço que Śrī Caitanya Mahāprabhu despediu-Se dele.

VERSO 165: Quando Ele assim procedeu, Veṅkaṭa Bhaṭṭa caiu inconsciente. Assim se deram os passatempos do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, o filho de mãe Śacī, em Śrī Raṅga-kṣetra.

VERSO 166: Ao chegar à colina Ṛṣabha, o Senhor viu o templo do Senhor Nārāyaṇa e Lhe ofereceu reverências e diversas orações.

VERSO 167: Paramānanda Purī encontrava-se na colina Ṛṣabha, e, ao tomar conhecimento disso, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi vê-lo imediatamente.

VERSO 168: Ao encontrar Paramānanda Purī, Śrī Caitanya Mahāprabhu, tocando em seus pés de lótus, prestou-lhe todos os respeitos, e Paramānanda Purī abraçou o Senhor em êxtase.

VERSO 169: Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu com Paramānanda Purī na casa de um brāhmaṇa onde Paramānanda Purī residia. Ambos passaram três dias ali conversando sobre Kṛṣṇa.

VERSO 170: Paramānanda Purī informou a Śrī Caitanya Mahāprabhu que iria ver Puruṣottama em Jagannātha Purī, e, após ver o Senhor Jagannātha, iria para a Bengala banhar-se no Ganges.

VERSO 171: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse-lhe: “Por favor, regressa a Jagannātha Purī, pois logo partirei de Rāmeśvara [Setubandha] e Me dirigirei para lá.”

VERSO 172: “Desejo ficar contigo, de modo que, se voltares para Jagannātha Purī, mostrarás grande misericórdia para coMigo.”

VERSO 173: Após confabular dessa maneira com Paramānanda Purī, o Senhor pediu-lhe permissão para partir, rumando para o sul da Índia. O Senhor mostrava-Se muito satisfeito.

VERSO 174: Assim, Paramānanda Purī partiu para Jagannātha Purī, e Śrī Caitanya Mahāprabhu colocou-Se a caminhar rumo a Śrī Śaila.

VERSO 175: Em Śrī Śaila, o senhor Śiva e sua esposa Durgā viviam disfarçados de brāhmaṇas. Ao verem Śrī Caitanya Mahāprabhu, eles ficaram muito contentes.

VERSO 176: O senhor Śiva, vestido de brāhmaṇa, fez doações a Śrī Caitanya Mahāprabhu e convidou-O a passar três dias em um local solitário. Sentados juntos nesse local, eles conversaram muito confidencialmente.

VERSO 177: Após conversar com o senhor Śiva, Śrī Caitanya Mahāprabhu pediu-lhe permissão para partir, dirigindo-Se a Kāmakoṣṭhī-purī.

VERSO 178: Ao chegar à Mathurā do sul, vindo de Kāmakoṣṭhī, Śrī Caitanya Mahāprabhu encontrou-Se com um brāhmaṇa.

VERSO 179: O brāhmaṇa que se encontrou com Śrī Caitanya Mahāprabhu convidou o Senhor a ir à sua casa. Esse brāhmaṇa, um grande devoto, tinha bastante conhecimento sobre o Senhor Śrī Rāmacandra. Ele era completamente desapegado das atividades materiais.

VERSO 180: Após banhar-Se no rio Kṛtamālā, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi à casa do brāhmaṇa para almoçar; notou, porém, que a comida ainda não estava preparada, pois o brāhmaṇa não a cozinhara.

VERSO 181: Ao ver isso, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Meu caro senhor, dize-Me, por favor, por que não cozinhaste. Já é meio-dia.”

VERSO 182: O brāhmaṇa respondeu: “Meu querido Senhor, vivemos na floresta. Deste modo, não temos conseguido obter todos os ingredientes para cozinhar.”

VERSO 183: “Quando Lakṣmaṇa trouxer da floresta todos os legumes, frutas e raízes, Sītā se encarregará de cozinhar o que for necessário.”

VERSO 184: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito em conhecer o sistema de adoração do brāhmaṇa. Por fim, o brāhmaṇa apressadamente tomou as necessárias providências para cozinhar.

VERSO 185: Śrī Caitanya Mahāprabhu almoçou por volta das três da tarde, mas o brāhmaṇa, muito sentido, jejuou.

VERSO 186: Vendo o brāhmaṇa a jejuar, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou-lhe: “Por que jejuas? Por que estás tão triste e tão preocupado?”

VERSO 187: O brāhmaṇa respondeu: “Não vejo nenhum motivo para continuar vivendo. Abandonarei minha vida me afogando ou me atirando ao fogo.”

VERSO 188: “Meu caro senhor, mãe Sītā é a mãe do universo e a suprema deusa da fortuna. O demônio Rāvaṇa tocou-a, e aborrece-me ouvir esta notícia.”

VERSO 189: “Senhor, devido à minha tristeza, é-me impossível continuar vivendo. Embora meu corpo esteja queimando, minha vida não se vai.”

VERSO 190: Śrī Caitanya Mahāprabhu respondeu: “Por favor, deixa de pensar dessa maneira. És um paṇḍita erudito. Por que não analisas o caso?”

VERSO 191: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “Sītādevī, a queridíssima esposa do Supremo Senhor Rāmacandra, certamente tem uma forma espiritual plena de bem-aventurança. Ninguém pode vê-la com olhos materiais, pois os seres materiais são destituídos desse poder.”

VERSO 192: “Uma pessoa valendo-se dos sentidos materiais não pode sequer ver mãe Sītā, para não dizer da impossibilidade de tocá-la! Ao raptá-la, Rāvaṇa levou apenas sua forma material ilusória.”

VERSO 193: “Assim que Rāvaṇa apareceu diante de Sītā, esta desapareceu. Foi somente para enganar Rāvaṇa que ela enviou uma forma material ilusória.”

VERSO 194: “A substância espiritual nunca está sob a jurisdição da concepção material. É esse o veredito dos Vedas e dos Purāṇas.”

VERSO 195: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu garantiu ao brāhmaṇa: “Tem fé em Minhas palavras e deixa de atormentar tua mente com essa ideia equivocada.”

VERSO 196: Embora estivesse jejuando, o brāhmaṇa teve fé nas palavras de Śrī Caitanya Mahāprabhu e aceitou alimentar-se. Dessa maneira, sua vida foi salva.

VERSO 197: Após fazer, deste modo, com que o brāhmaṇa se sentisse seguro, Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu Sua jornada pelo sul da Índia e, por fim, chegou a Durvaśana, onde Se banhou no rio Kṛtamālā.

VERSO 198: Em Durvaśana, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o templo do Senhor Rāmacandra e, sobre a colina conhecida como Mahendra-śaila, viu o Senhor Paraśurāma.

VERSO 199: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para Setubandha [Rāmeśvara], onde Se banhou em um lugar chamado Dhanus-tīrtha. De lá, visitou o templo de Rāmeśvara, após o que descansou.

VERSO 200: Então, entre brāhmaṇas, Śrī Caitanya Mahāprabhu ouviu o Kūrma Purāṇa, o qual mencionava a narração sobre a mulher casta.

VERSO 201: Śrīmatī Sītādevī, a mãe dos três mundos, é esposa do Senhor Rāmacandra. Dentre as mulheres castas, ela é a suprema; ela é filha do rei Janaka.

VERSO 202: Quando Rāvaṇa foi raptar mãe Sītā e esta o viu, ela se refugiou em Agni, o deus do fogo. Agni encobriu o corpo de mãe Sītā, e, dessa maneira, protegeu-a das mãos de Rāvaṇa.

VERSO 203: Ao ouvir a narração do Kūrma Purāṇa de como Rāvaṇa raptara a forma falsa de mãe Sītā, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito contente.

VERSO 204: Agni, o deus do fogo, levou embora a verdadeira Sītā, conduzindo-a para onde estava Pārvatī, a deusa Durgā. Então, uma forma ilusória de mãe Sītā foi entregue a Rāvaṇa, que, dessa maneira, foi enganado.

VERSO 205: Após o Senhor Rāmacandra matar Rāvaṇa, Sītādevi foi levada perante o fogo.

VERSO 206: Quando o Senhor Rāmacandra trouxe a Sītā ilusória perante o fogo, o deus do fogo fez a forma ilusória desaparecer e entregou a verdadeira Sītā ao Senhor Rāmacandra.

VERSO 207: Ao ouvir esta história, Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito contente e lembrou-Se das palavras de Rāmadāsa Vipra.

VERSO 208: Ao ouvir estas afirmações conclusivas do Kūrma Purāṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu sentiu grande felicidade. Após pedir permissão aos brāhmaṇas, Ele Se apossou daqueles manuscritos. Dessa maneira, Śrī Caitanya Mahāprabhu recebeu o velho manuscrito do Kūrma Purāṇa.

VERSO 209: Como o Kūrma Purāṇa era muito antigo, o manuscrito também estava muito velho. Śrī Caitanya Mahāprabhu apossou-Se das folhas originais a fim de ter a evidência direta. O texto foi copiado em folhas novas a fim de que se substituísse o Purāṇa.

VERSO 210: Śrī Caitanya Mahāprabhu regressou à Mathurā do sul [Madurai] e entregou o manuscrito original do Kūrma Purāṇa a Rāmadāsa Vipra.

VERSOS 211-212: “Ao ser solicitado por mãe Sītā, o deus do fogo, Agni, produziu uma forma ilusória de Sītā. E Rāvaṇa, que tinha dez cabeças, raptou a Sītā falsa. Então, a Sītā original foi para a morada do deus do fogo. Quando o Senhor Rāmacandra colocou o corpo de Sītā à prova, foi a Sītā ilusória e falsa quem entrou no fogo. Naquele momento, o deus do fogo trouxe, de sua morada, a Sītā original e entregou-a ao Senhor Rāmacandra.”

VERSO 213: Rāmadāsa Vipra, ao receber os pergaminhos originais do Kūrma Purāṇa, ficou muito contente. Caiu imediatamente aos pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu e começou a chorar.

VERSO 214: Após receber o manuscrito, o brāhmaṇa, muito satisfeito, disse: “Senhor, és o próprio Senhor Rāmacandra e vieste disfarçado de sannyāsī para dar-me audiência.”

VERSO 215: “Meu querido senhor, salvaste-me de uma condição muito triste. Peço-Te que almoces em minha casa. Por favor, aceita este convite.”

VERSO 216: “Devido à minha angústia mental, não pude Te oferecer uma refeição adequada naquele dia. Agora, para a minha felicidade, vieste novamente à minha casa.”

VERSO 217: Tendo dito isso, o brāhmaṇa cozinhou muito alegremente, e ofereceu uma refeição de primeira classe a Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 218: Śrī Caitanya Mahāprabhu passou aquela noite na casa do brāhmaṇa. Então, após mostrar Sua misericórdia para com ele, o Senhor partiu rumo ao rio Tāmraparṇī, em Pāṇḍya-deśa.

VERSO 219: Havia nove templos do Senhor Viṣṇu em Naya-tripati, na margem do rio Tāmraparṇī, e, após banhar-Se no rio, o Senhor Caitanya Mahāprabhu viu a Deidade cheio de curiosidade e continuou Suas andanças.

VERSO 220: Depois disso, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi a um local sagrado conhecido como Ciyaḍatalā, onde viu as Deidades dos dois irmãos, o Senhor Rāmacandra e Lakṣmaṇa. Então, seguiu para Tila-kāñcī, onde viu o templo do senhor Śiva.

VERSO 221: Então, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou o lugar santo chamado Gajendra-mokṣaṇa, onde foi a um templo do Senhor Viṣṇu. Depois, chegou a Pānāgaḍi, um local sagrado onde viu as Deidades do Senhor Rāmacandra e Sītā.

VERSO 222: Mais tarde, o Senhor foi para Cāmtāpura, onde viu as Deidades do Senhor Rāmacandra e de Lakṣmaṇa. Em seguida, foi a Śrī Vaikuṇṭha e visitou ali o templo do Senhor Viṣṇu.

VERSO 223: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para Malaya-parvata e ofereceu orações a Agastya Muni. Dali, visitou um local conhecido como Kanyā-kumārī [atualmente, Cabo Comorin].

VERSO 224: Após visitar Kanyā-kumārī, Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou a Āmlitalā, onde viu a Deidade de Śrī Rāmacandra. A seguir, foi a um local conhecido como Mallāra-deśa, onde vivia uma comunidade de Bhaṭṭathāris.

VERSO 225: Após visitar Mallāra-deśa, Caitanya Mahāprabhu foi para Tamāla-kārtika e, dali, para Vetāpani. Ali, Ele visitou o templo de Raghunātha, o Senhor Rāmacandra, e passou a noite.

VERSO 226: Śrī Caitanya Mahāprabhu estava acompanhado de Seu servo chamado Kṛṣṇadāsa. Este era um brāhmaṇa, e encontrou-se com os Bhaṭṭathāris ali.

VERSO 227: Os Bhaṭṭathāris ludibriaram o brāhmaṇa Kṛṣṇadāsa, que era simples e amável. Em virtude da má companhia deles, sua inteligência se poluiu.

VERSO 228: Ludibriado pelos Bhaṭṭathāris, Kṛṣṇadāsa foi até onde eles estavam de manhã cedo. Desejando encontrá-lo, o Senhor também apressou-Se em ir até lá.

VERSO 229: Ao chegar à comunidade dos Bhaṭṭathāris, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou-lhes: “Por que estais mantendo convosco o Meu brāhmaṇa ajudante?”

VERSO 230: “Da mesma forma que vós, Eu pertenço à ordem de vida renunciada. Todavia, estais causando-Me sofrimento propositadamente, e não vejo nenhuma boa lógica nisso.”

VERSO 231: Ao ouvirem Śrī Caitanya Mahāprabhu, todos os Bhaṭṭathāris foram em Sua direção correndo, de armas em punho, desejando agredir o Senhor.

VERSO 232: Entretanto, suas armas caíram-lhes das mãos e golpearam-lhes os próprios corpos. Quando alguns dos Bhaṭṭathāris foram assim despedaçados, os outros saíram correndo nas quatro direções.

VERSO 233: Enquanto se desenrolavam muita dor e muitos gemidos na comunidade Bhaṭṭathāri, Śrī Caitanya Mahāprabhu agarrou Kṛṣṇadāsa pelo cabelo e o levou embora.

VERSO 234: Naquela mesma noite, Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seu ajudante Kṛṣṇadāsa chegaram à margem do rio Payasvinī. Após tomarem banho, foram visitar o templo de Ādi-keśava.

VERSO 235: Ao ver o templo de Ādi-keśava, o Senhor foi imediatamente tomado de êxtase. Oferecendo diversas reverências e orações, Ele cantou e dançou.

VERSO 236: Todas as pessoas dali ficaram muito espantadas diante dos passatempos extáticos de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Todas elas receberam o Senhor muito bem.

VERSO 237: No templo de Ādi-keśava, Śrī Caitanya Mahāprabhu, confabulando com devotos altamente avançados, discutiu sobre temas espirituais. Nesse local, Ele encontrou um capítulo da Brahma-saṁhitā.

VERSO 238: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou imensamente feliz de encontrar um capítulo dessa escritura, e sintomas de transformação extática, tais como tremor, lágrimas, transpiração, transe e júbilo, manifestaram-se em Seu corpo.

VERSOS 239-240: No que diz respeito à conclusão espiritual final, não há escritura igual à Brahma-saṁhitā. Na verdade, esta escritura é a revelação suprema das glórias do Senhor Govinda, pois apresenta o conhecimento máximo sobre Ele. Como todas as conclusões são demonstradas sucintamente na Brahma-saṁhitā, é essencial entre todos os textos vaiṣṇavas.

VERSO 241: Śrī Caitanya Mahāprabhu copiou a Brahma-saṁhitā e, a seguir, foi, com grande prazer, a um lugar conhecido como Ananta Padmanābha.

VERSO 242: Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu por dois ou três dias em Ananta Padmanābha e visitou o templo dali. Então, em grande êxtase, foi ver o templo de Śrī Janārdana.

VERSO 243: Śrī Caitanya Mahāprabhu cantou e dançou em Śrī Janārdana por dois dias. Então, foi para a margem do rio Payasvinī e visitou o templo de Śaṅkara-nārāyaṇa.

VERSO 244: Ali, visitou o monastério conhecido como Śṛṅgeri-maṭha, a morada de Ācārya Śaṅkara. A seguir, visitou Matsya-tīrtha, um local de peregrinação, e banhou-Se no rio Tuṅgabhadrā.

VERSO 245: Em seguida, Caitanya Mahāprabhu chegou à terra de Madhvācārya, onde residiam os filósofos conhecidos como tattvavādīs. Ali, viu a Deidade do Senhor Kṛṣṇa e enlouqueceu de êxtase.

VERSO 246: Em Sua visita ao monastério de Uḍupī, Śrī Caitanya Mahāprabhu viu o “Gopāla dançante”, uma Deidade belíssima. Essa Deidade apareceu em um sonho para Madhvācārya.

VERSO 247: De alguma forma, Madhvācārya obtivera a Deidade de Kṛṣṇa no meio de um monte de gopī-candana que um barco transportava.

VERSO 248: Madhvācārya levou esta Deidade do Gopāla dançante para Uḍupī e A instalou no templo. Até hoje, os seguidores de Madhvācārya, conhecidos como tattvavādīs, adoram essa Deidade.

VERSO 249: Ao ver esta bela forma de Gopāla, Śrī Caitanya Mahāprabhu sentiu grande prazer. Ele dançou e cantou demoradamente em amor extático.

VERSO 250: À primeira vista, os vaiṣṇavas tattvavādīs consideraram Śrī Caitanya Mahāprabhu um sannyāsī māyāvādī. Portanto, não conversaram com Ele.

VERSO 251: Mais tarde, após presenciarem Śrī Caitanya Mahāprabhu em amor extático, eles se encheram de admiração. Então, considerando-O um vaiṣṇava, receberam-nO muito bem.

VERSO 252: Śrī Caitanya Mahāprabhu percebeu que os tattvavādīs orgulhavam-se muito de seu vaiṣṇavismo. Portanto, Ele sorriu e começou a falar com eles.

VERSO 253: Tendo em conta o orgulho deles, Caitanya Mahāprabhu começou Seu debate.

VERSO 254: O principal ācārya da comunidade tattvavāda era muito versado nas escrituras reveladas. Por humildade, Śrī Caitanya Mahāprabhu perguntou a ele.

VERSO 255: Caitanya Mahāprabhu disse: “Não conheço muito bem o objetivo da vida, nem como atingi-lo. Por favor, dize-Me qual é o melhor ideal para a humanidade e como alcançá-lo.”

VERSO 256: O ācārya respondeu: “Dedicar a Kṛṣṇa as atividades das quatro castas e dos quatro āśramas constitui o melhor meio pelo qual se pode alcançar a meta mais elevada da vida.”

VERSO 257: “Quem dedica os deveres do varnāśrama-dharma a Kṛṣṇa candidata-se às cinco espécies de liberação. Deste modo, transfere-se ao mundo espiritual, Vaikuṇṭha. Essa é a meta máxima da vida e o veredito de todas as escrituras reveladas.”

VERSO 258: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Segundo o veredito dos śāstras, o processo de ouvir e cantar é o melhor meio para se alcançar o serviço amoroso a Kṛṣṇa.”

VERSOS 259-260: “‘Este processo implica em ouvir, cantar e lembrar-se do santo nome, forma, passatempos, qualidades e séquito do Senhor, prestar serviço de acordo com o tempo, o lugar e o executante, adorar a Deidade, oferecer orações, sempre se considerar o servo eterno de Kṛṣṇa, fazer amizade com Ele e dedicar tudo a Ele. Estes nove itens do serviço devocional, quando diretamente oferecidos a Kṛṣṇa, constituem a perfeição máxima da vida. Este é o veredito das escrituras reveladas.’”

VERSO 261: “Quem atinge, através da execução destes nove processos, a plataforma de serviço amoroso ao Senhor Kṛṣṇa, alcança a quinta plataforma de sucesso e o limite das metas da vida.”

VERSO 262: “‘Quando alguém é realmente avançado e sente prazer em cantar o santo nome do Senhor, que lhe é muito querido, ele fica eufórico e canta alto o santo nome. Além disso, ri, chora, fica inquieto e canta tal qual um louco, sem ligar para os outros.’”

VERSO 263: “Em toda escritura revelada, condenam-se as atividades fruitivas. Em toda parte, aconselha-se que sejam abandonadas, pois, enquanto alguém estiver ocupado com elas, não poderá alcançar a meta suprema da vida, o amor a Deus.”

VERSO 264: “‘As escrituras religiosas descrevem os deveres ocupacionais. Se alguém os analisa, pode entender plenamente suas qualidades e deficiências e, então, abandoná-los por completo para prestar serviço à Suprema Personalidade de Deus. Quem assim age é considerado um homem de primeira classe.’”

VERSO 265: “‘Abandona todas as variedades de religião e simplesmente rende-te a Mim. Eu te libertarei de todas as reações pecaminosas. Não temas.’”

VERSO 266: “‘Se alguém ainda anseia por atividades fruitivas e ainda não despertou seu gosto pelo serviço devocional através de śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ, tem que se submeter aos princípios reguladores dos preceitos védicos.’”

VERSO 267: “Os devotos puros rejeitam as cinco espécies de liberação; na verdade, para eles, a liberação é muito insignificante, pois eles a veem como algo infernal.”

VERSO 268: “‘Os devotos puros sempre rejeitam as cinco espécies de liberação, que incluem viver nos planetas espirituais Vaikuṇṭha, possuir as mesmas opulências que o Senhor Supremo, ter as mesmas características corpóreas que o Senhor, associar-se com o Senhor e fundir-se no corpo do Senhor. Essas bênçãos sem o serviço ao Senhor não são aceitas pelos devotos puros.’”

VERSO 269: “‘É muito difícil abandonar a opulência material, terra, filhos, sociedade, amigos, riquezas, esposa ou as bênçãos da deusa da fortuna, que mesmo grandes semideuses desejam. O rei Bharata não desejava tais coisas, e isso era inteiramente adequado à sua posição, pois, para um devoto puro cuja mente sempre se ocupa a serviço do Senhor, mesmo a liberação, ou o fundir-se na existência do Senhor, é insignificante. E o que dizer, então, de facilidades materiais?’”

VERSO 270: “‘Quem é devoto do Senhor Nārāyaṇa não teme a condição infernal, pois a considera igual à elevação aos planetas celestiais ou à liberação. Os devotos do Senhor Nārāyaṇa estão acostumados a ver todas essas coisas em nível de igualdade.’”

VERSO 271: “Os devotos rejeitam tanto a liberação quanto as atividades fruitivas. Estás tentando estabelecer essas coisas como a meta da vida e como o processo para atingi-la.”

VERSO 272: Śrī Caitanya Mahāprabhu continuou a falar ao ācārya tattvavādī: “Vendo que sou um mendicante na ordem de vida renunciada, atuou em relação a Mim com ambiguidade. De fato, não descreveste o processo e o objetivo último.”

VERSO 273: Após ouvir Śrī Caitanya Mahāprabhu, o ācārya do sampradāya tattvavāda ficou muito envergonhado. Ao perceber a rígida fé de Śrī Caitanya Mahāprabhu no vaiṣṇavismo, ele ficou admirado.

VERSO 274: O ācārya tattvavādī respondeu: “O que disseste é certamente um fato. É a conclusão de todas as escrituras reveladas dos vaiṣṇavas.”

VERSO 275: “Ainda assim, tudo o que Madhvācārya estabeleceu como fórmula para o nosso grupo seguimos como regulamento.”

VERSO 276: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Tanto o trabalhador fruitivo quanto o filósofo especulador são tidos como não-devotos. Esses dois elementos encontram-se presentes em teu sampradāya.”

VERSO 277: “A única qualificação que consigo ver em teu sampradāya é que vós aceitais a forma do Senhor como verdadeira.”

VERSO 278: Assim, Śrī Caitanya Mahāprabhu acabou com o orgulho dos tattvavādīs. Então, foi ao local sagrado conhecido como Phalgu-tīrtha.

VERSO 279: Śrī Caitanya Mahāprabhu, o filho de mãe Śacī, foi a Tritakūpa, e, após ver a Deidade de Viśālā, foi ao lugar sagrado conhecido como Pañcāpsarā-tīrtha.

VERSO 280: Após visitar Pañcāpsarā, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para Gokarṇa. Enquanto esteve ali, visitou o templo do senhor Śiva e, em seguida, foi para Dvaipāyani. Śrī Caitanya Mahāprabhu, a principal joia de todos os sannyāsīs, dirigiu-Se então a Sūrpāraka-tīrtha.

VERSO 281: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou a cidade de Kolāpura, onde viu a deusa da fortuna no templo de Kṣīra-bhagavatī, e, em outro templo, conhecido como Cora-pārvatī, viu Lāṅga-gaṇeśa.

VERSO 282: Dali, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi para Pāṇḍarapura, onde, cheio de alegria, visitou o templo de Viṭhṭhala Ṭhākura.

VERSO 283: Śrī Caitanya Mahāprabhu, como de costume, cantou e dançou de diversas maneiras, e um brāhmaṇa, ao vê-lO absorto em amor extático, ficou tão satisfeito que convidou o Senhor a almoçar em sua casa.

VERSO 284: Aquele brāhmaṇa ofereceu alimento a Śrī Caitanya Mahāprabhu com grande respeito e amor. Após terminar Seu almoço, o Senhor recebeu uma notícia auspiciosa.

VERSO 285: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou sabendo que Śrī Raṅga Purī, um dos discípulos de Śrī Mādhavendra Purī, encontrava-se naquela vila na casa de um brāhmaṇa.

VERSO 286: Ao ouvir esta notícia, Śrī Caitanya Mahāprabhu imediatamente foi ver Śrī Raṅga Purī na casa do brāhmaṇa. Tão logo entrou, o Senhor o viu sentado ali.

VERSO 287: Assim que viu o brāhmaṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu imediatamente começou a prestar-lhe reverências em amor extático prostrando-Se no chão. Os sintomas de transformação transcendental – a saber, lágrimas, júbilo, tremor e transpiração – eram visíveis.

VERSO 288: Ao ver Śrī Caitanya Mahāprabhu absorto em tal êxtase, Śrī Raṅga Purī disse: “Vossa Santidade, por favor, levanta-Te!”

VERSO 289: “Por certo que Vossa Santidade está relacionado a Śrī Mādhavendra Purī, sem o qual não existe aroma algum de amor extático.”

VERSO 290: Após dizer isto, Śrī Raṅga Purī levantou Śrī Caitanya Mahāprabhu e O abraçou. Ao se abraçarem, ambos passaram a chorar em êxtase.

VERSO 291: Após alguns momentos, voltaram a si e apaziguaram-se. Śrī Caitanya Mahāprabhu, então, revelou a Śrī Raṅga Purī qual era a Sua relação com Īśvara Purī.

VERSO 292: Ambos foram inundados pelo maravilhoso êxtase de amor, o qual se manifestou nos dois. Por fim, sentaram-se e passaram a conversar com deferência.

VERSO 293: Dessa maneira, eles discutiram tópicos sobre o Senhor Kṛṣṇa por cinco a sete dias seguidos.

VERSO 294: Por curiosidade, Śrī Raṅga Purī perguntou a Śrī Caitanya Mahāprabhu qual era a terra natal dEle, ao que Ele informou ser Navadvīpa-dhāma.

VERSO 295: Śrī Raṅga Purī estivera outrora em Navadvīpa com Śrī Mādhavendra Purī, em razão do que se lembrou dos incidentes que lá aconteceram.

VERSO 296: Assim que Śrī Raṅga Purī relembrou Navadvīpa, também se recordou de haver acompanhado Śrī Mādhavendra Purī à casa de Jagannātha Miśra, onde almoçara. Ele lembrou-se, inclusive, do sabor de um caril inigualável, feito com flores de banana.

VERSO 297: Śrī Raṅga Purī lembrou-se também da esposa de Jagannātha Miśra. Ela era muito devotada e casta. Quanto à sua afeição, ela era exatamente como a mãe do universo.

VERSO 298: Ele também se lembrou de como a esposa de Śrī Jagannātha Miśra, Śacīmātā, era hábil em cozinhar. Recordou-se de que ela era muito afetuosa para com os sannyāsīs e servia-lhe alimento como faria por seus próprios filhos.

VERSO 299: Śrī Raṅga Purī também ficou sabendo que um dos nobres filhos de Śacīmātā aceitara a ordem renunciada ainda muito jovem. Seu nome era Śaṅkarāraṇya.

VERSO 300: Śrī Raṅga Purī informou a Śrī Caitanya Mahāprabhu que o sannyāsī chamado Śaṅkarāraṇya alcançara a perfeição neste local sagrado, Pāṇḍarapura.

VERSO 301: Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Em Meu āśrama anterior, Śaṅkarāraṇya era Meu irmão, e Jagannātha Miśra, Meu pai.”

VERSO 302: Após terminar o colóquio com Śrī Caitanya Mahāprabhu, Śrī Raṅga Purī partiu para Dvārakā-dhāma.

VERSO 303: Depois que Śrī Raṅga Purī partiu para Dvārakā, Śrī Caitanya Mahāprabhu permaneceu com o brāhmaṇa em Pāṇḍarapura por mais quatro dias. Ele Se banhava no rio Bhīmā e visitava o templo de Viṭhṭhala.

VERSO 304: A seguir, Śrī Caitanya Mahāprabhu dirigiu-Se à margem do rio Kṛṣṇa-veṇvā, onde visitou muitos lugares sagrados e os templos de diversos deuses.

VERSO 305: A comunidade brāhmaṇa de lá compunha-se de devotos puros que regularmente estudavam o livro intitulado Kṛṣṇa-karṇāmṛta, composto por Bilvamaṅgala Ṭhākura.

VERSO 306: Śrī Caitanya Mahāprabhu ficou muito satisfeito ao ouvir o livro Kṛṣṇa-karṇāmṛta e, muito animado, solicitou que o copiassem e o levou conSigo.

VERSO 307: Nos três mundos, não há nada que se compare ao Kṛṣṇa-karṇāmṛta. Quem estuda este livro eleva-se ao conhecimento do serviço devocional puro a Kṛṣṇa.

VERSO 308: Aquele que sempre lê o Kṛṣṇa-karṇāmṛta pode compreender plenamente a beleza e a doçura dos passatempos do Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 309: A Brahma-saṁhitā e o Kṛṣṇa-karṇāmṛta são dois livros considerados por Śrī Caitanya Mahāprabhu como as joias mais preciosas. Por isso, Ele os levou conSigo na viagem de regresso.

VERSO 310: Em seguida, Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou às margens do rio Tāpī. Após banhar-Se ali, foi a Māhiṣmatī-pura, onde visitou muitos lugares sagrados às margens do rio Narmadā.

VERSO 311: Em seguida, o Senhor chegou a Dhanus-tīrtha, onde Se banhou no rio Nirvindhyā. Então, chegou à montanha Ṛṣyamūka, após o que foi para Daṇḍakāraṇya.

VERSO 312: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou dentro da floresta um lugar chamado Saptatāla. Todas as árvores ali eram muito antigas, de tronco largo e muito altas.

VERSO 313: Após ver as sete palmeiras, Śrī Caitanya Mahāprabhu as abraçou. Em decorrência disso, todas elas voltaram a Vaikuṇṭhaloka, o mundo espiritual.

VERSO 314: Depois que as sete palmeiras partiram para os Vaikuṇṭhas, todos se admiraram ao dar pela falta delas. Então, todos começaram a dizer: “Este sannyāsī chamado Śrī Caitanya Mahāprabhu deve ser uma encarnação do Senhor Rāmacandra.”

VERSO 315: “Apenas o Senhor Rāmacandra tem o poder de mandar sete palmeiras de volta aos planetas espirituais Vaikuṇṭha.”

VERSO 316: Por fim, Śrī Caitanya Mahāprabhu chegou a um lago conhecido como Pampā, onde Se banhou. Então, foi a um local chamado Pañcavaṭī, local este onde descansou.

VERSO 317: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu visitou Nāsika, onde viu a deidade de Tryambaka [o senhor Śiva]. Dali, foi para Brahma-giri e, então, para Kuśāvarte, a nascente do rio Godāvarī.

VERSO 318: Após visitar muitos outros lugares sagrados, o Senhor foi a Sapta-godāvarī. Por fim, voltou a Vidyānagara.

VERSO 319: Ao ficar sabendo da chegada de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Rāmānanda Rāya ficou muito satisfeito e foi vê-lO imediatamente.

VERSO 320: Quando Rāmānanda Rāya caiu prostrado tocando os pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu, imediatamente o Senhor o levantou e o abraçou.

VERSO 321: Absortos em amor extático, ambos começaram a chorar, e, assim, suas mentes desanuviaram-se.

VERSO 322: Após algum tempo, ambos voltaram a si e sentaram-se juntos para discutir diversos assuntos.

VERSO 323: Śrī Caitanya Mahāprabhu apresentou a Rāmānanda Rāya uma vívida descrição de Suas viagens aos lugares sagrados e contou-lhe como adquirira os dois livros chamados Kṛṣṇa-karṇāmṛta e Brahma-saṁhitā. Então, o Senhor entregou os livros a Rāmānanda Rāya.

VERSO 324: O Senhor disse: “Estes dois livros confirmam plenamente tudo o que Me disseste sobre o serviço devocional.”

VERSO 325: Rāmānanda Rāya ficou muito feliz em receber estes livros. Ele, juntamente com o Senhor, deliciou-se com o seu conteúdo e fez uma cópia de cada um.

VERSO 326: A notícia da chegada de Śrī Caitanya Mahāprabhu espalhou-se pela vila de Vidyānagara, e todos foram vê-lO mais uma vez.

VERSO 327: Após ver o povo reunido ali, Śrī Rāmānanda Rāya voltou à sua própria casa. Ao meio-dia, Śrī Caitanya Mahāprabhu levantou-Se para almoçar.

VERSO 328: Regressando à noite, Śrī Rāmānanda Rāya juntou-se ao Senhor para ambos discutirem tópicos a respeito de Kṛṣṇa. Eles passaram a noite assim.

VERSO 329: Rāmānanda Rāya e Śrī Caitanya Mahāprabhu conversaram sobre Kṛṣṇa dia e noite; passaram, deste modo, de cinco a sete dias em grande felicidade.

VERSO 330: Rāmānanda Rāya disse: “Meu querido Senhor, com Tua permissão, já escrevi humildemente uma carta ao rei.”

VERSO 331: “O rei já me deu ordem de voltar a Jagannātha Purī, e estou tomando as medidas para isto.”

VERSO 332: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu disse: “Foi somente com este propósito que retornei. Quero levar-te comigo para Jagannātha Purī.”

VERSO 333: Rāmānanda Rāya disse: “Meu querido Senhor, é melhor prosseguires sozinho a Jagannātha Purī, pois comigo haverá muitos cavalos, elefantes e soldados, todos bradando tumultuosamente.”

VERSO 334: “Dentro de dez dias, já terei tomado todas as providências. Logo irei ao Teu encontro em Nīlācala.”

VERSO 335: Ordenando que Rāmānanda Rāya fosse para Nīlācala, Śrī Caitanya Mahāprabhu partiu para Jagannātha Purī com muito prazer.

VERSO 336: Śrī Caitanya Mahāprabhu voltou pela mesma estrada por onde seguira antes para Vidyānagara, e todos os vaiṣṇavas viram-nO novamente enquanto Ele passava.

VERSO 337: Em todo lugar a que Śrī Caitanya Mahāprabhu ia, vibrava-se o santo nome de Śrī Hari. Ao presenciar isso, o Senhor ficou muito feliz.

VERSO 338: Ao chegar a Ālālanātha, o Senhor enviou Seu assistente Kṛṣṇadāsa na frente, mandando-o chamar Nityānanda e outros associados pessoais.

VERSO 339: Assim que Nityānanda ficou sabendo da chegada de Śrī Caitanya Mahāprabhu, imediatamente Se levantou e foi ao encontro dEle. Na verdade, em Seu grande êxtase, Ele estava muito impaciente.

VERSO 340: Śrī Nityānanda Rāya, Jagadānanda, Dāmodara Paṇḍita e Mukunda, todos ficaram extáticos em sua alegria, e, dançando ao longo do caminho, foram se encontrar com o Senhor.

VERSO 341: Gopīnātha Ācārya também se foi, muito alegre. Todos eles foram se encontrar com o Senhor e, enfim, depararam-se com Ele no caminho.

VERSO 342: O Senhor também Se encheu de amor extático e abraçou a todos. Devido ao amor deles, eles começaram a chorar de prazer.

VERSO 343: Sārvabhauma Bhaṭṭācārya também foi ver o Senhor com muito prazer, encontrando-se com Ele à beira-mar.

VERSO 344: Vendo Sārvabhauma Bhaṭṭācārya cair a Seus pés de lótus, o Senhor o levantou e o abraçou.

VERSO 345: Sārvabhauma Bhaṭṭācārya chorou em pleno amor extático. Então, acompanhado de todos eles, o Senhor foi ao templo de Jagannātha.

VERSO 346: Devido ao amor extático experimentado ao visitar o Senhor Jagannātha, inundações de tremor, transpiração, lágrimas e júbilo arrebataram o corpo de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

VERSO 347: Śrī Caitanya Mahāprabhu dançava e cantava em amor extático. Nessa altura, todos os ajudantes e sacerdotes aproximaram-se para oferecer-Lhe uma guirlanda e os restos do alimento do Senhor Jagannātha.

VERSO 348: Śrī Caitanya Mahāprabhu apaziguou-Se após receber a guirlanda e a prasāda do Senhor Jagannātha. Todos os servos do Senhor Jagannātha encontraram-se com Śrī Caitanya Mahāprabhu com muito prazer.

VERSO 349: Em seguida, chegou Kāśī Miśra e caiu aos pés de lótus do Senhor, que o abraçou respeitosamente.

VERSO 350: Então, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya levou o Senhor à sua casa, dizendo: “Hoje o almoço será em minha casa.” Dessa maneira, ele convidou o Senhor.

VERSO 351: Sārvabhauma Bhaṭṭācārya levou consigo diversas classes de restos de comida deixados pelo Senhor Jagannātha. Levou todas as espécies de bolo e de preparações de leite condensado.

VERSO 352: Acompanhado de todos os Seus associados, Śrī Caitanya Mahāprabhu foi à casa de Sārvabhauma Bhaṭṭācārya, onde almoçou.

VERSO 353: Após oferecer alimento a Śrī Caitanya Mahāprabhu, Sārvabhauma Bhaṭṭācārya fê-lO descansar, e ele começou a massagear pessoalmente as pernas do Senhor.

VERSO 354: Então, Śrī Caitanya Mahāprabhu mandou que Sārvabhauma Bhaṭṭācārya fosse almoçar, e o Senhor permaneceu aquela noite em sua casa só para agradá-lo.

VERSO 355: Śrī Caitanya Mahāprabhu e Seus associados pessoais permaneceram com Sārvabhauma Bhaṭṭācārya. Eles ficaram acordados a noite inteira ouvindo a narrativa sobre a peregrinação do Senhor.

VERSO 356: O Senhor disse a Sārvabhauma Bhaṭṭācārya: “Viajei por muitos lugares sagrados, mas não pude encontrar em nenhuma parte um vaiṣṇava tão bom quanto és.”

VERSO 357: Śrī Caitanya Mahāprabhu prosseguiu: “Tive muito prazer em conversar com Rāmānanda Rāya.” O Bhaṭṭācārya respondeu: “Por esta razão, solicitei-Te que o encontrasses.”

VERSO 358: Assim, acabo de narrar a peregrinação de Śrī Caitanya Mahāprabhu descrevendo-a sucintamente. Não é possível descrevê-la em sua plenitude.

VERSO 359: Os passatempos do Senhor Caitanya são ilimitados. Ninguém pode descrever Suas atividades apropriadamente; faço, todavia, uma avara tentativa. Isso apenas demonstra a minha impudência.

VERSO 360: Quem quer que ouça sobre a peregrinação de Śrī Caitanya Mahāprabhu a diversos lugares sagrados obtém as riquezas do profundíssimo amor extático.

VERSO 361: Por favor, escutai os passatempos transcendentais do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu com fé e devoção. Abandonando a inveja ao Senhor, cantai todos o santo nome do Senhor, Hari.

VERSO 362: Nesta era de Kali, não existem princípios religiosos autênticos diferentes daqueles estabelecidos pelos devotos vaiṣṇavas e pelas escrituras vaiṣṇavas. Essa é a essência e a substância de tudo.

VERSO 363: Os passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu são como um oceano insondável. Não me é possível mergulhar neles. Meramente de pé na praia, tudo o que faço é tocar na água.

VERSO 364: Todo aquele que ouve os passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu com fé, estudando-os analiticamente, alcança as riquezas extáticas do amor a Deus.

VERSO 365: Orando aos pés de lótus de Śrī Rūpa e Śrī Raghunātha, desejando sempre a misericórdia deles; eu, Kṛṣṇadāsa, narro o Śrī Caitanya-caritāmṛta seguindo seus passos.

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