VERSO 14
kim iha bahu ṣaḍ-aṅghre gāyasi tvaṁ yadūnām
adhipatim agṛhāṇām agrato naḥ purāṇam
vijaya-sakha-sakhīnāṁ gīyatāṁ tat-prasaṅgaḥ
kṣapita-kuca-rujas te kalpayantīṣṭam iṣṭāḥ
kim — por que; iha — aqui; bahu — tanto; sat-aṅghre — ó abelha (de seis pés); gāyasi — estás cantando; tvam — tu; yadūnām — dos Yadus; adhipatim — sobre o senhor; agṛhāṇām — que não temos lar; agraṭaḥ — diante de; naḥ — nós; purāṇam — velhos; vijaya — de Arjuna; sakha — do amigo; sakhīnām — para os amigos; gīyatām — devem ser cantados; tat — sobre Ele; prasaṅgaḥ — os tópicos; kṣapita — aliviada; kuca — de cujos seios; rujaḥ — a dor; te — eles; kalpayanti — proverão; iṣṭam — a caridade que desejas; iṣṭāḥ — Suas amadas.
Ó abelhão, por que cantas tanto aqui sobre o Senhor dos Yadus, diante de nós, gente sem lar? Estes tópicos são notícias velhas para nós. É melhor que cantes sobre aquele amigo de Arjuna diante de Suas novas namoradas, de cujos seios Ele agora aliviou o desejo ardente. Sem dúvida, aquelas damas te darão a caridade que mendigas.
SIGNIFICADO—Com as palavras agṛhāṇām agrato naḥ, Rādhārāṇī lamenta que, embora Ela e as outras gopīs tivessem abandonado seus lares para amar a Kṛṣṇa em uma relação conjugal, o Senhor as deixou e tornou-Se príncipe na grande cidade real dos Yadus. Além de significar “Arjuna, o vencedor”, a palavra vijaya também indica diretamente Śrī Kṛṣṇa, que é sempre vitorioso em Seus intentos, e, além de significar “(notícias) antigas”, a palavra purāṇam também indica que Śrī Kṛṣṇa é glorificado nas antigas escrituras védicas que têm este nome.
Neste verso, observamos na atitude de Rādhārāṇī a semente da ira enciumada que surge de um aparente desdém por Kṛṣṇa, acompanhada de um sarcástico olhar de lado dirigido a Ele. Este verso, portanto, encaixa-se na seguinte descrição de vijalpa presente no Ujjvala-nīlamaṇi (14.186):
vyaktayāsūyayā gūḍha-
māna-mudrāntarālayā
agha-dviṣi kaṭākṣoktir
vijalpo viduṣāṁ mataḥ
“Segundo autoridades eruditas, vijalpa é o discurso sarcástico que se dirige ao matador de Agha e que exprime abertamente o ciúme, enquanto, ao mesmo tempo, sugere o orgulho irado do orador.”