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VERSO 46

astv ambujākṣa mama te caraṇānurāga
ātman ratasya mayi cānatirikta-dṛṣṭeḥ
yarhy asya vṛddhaya upātta-rajo-’ti-mātro
mām īkṣase tad u ha naḥ paramānukampā

astu — que haja; ambuja-aka — ó pessoa de olhos de lótus; mama — minha; te — Teus; caraa — pelos pés; anurāga — atração firme; ātman — em Ti mesmo; ratasya — que sentes prazer; mayi — para mim; ca — e; anatirikta — não muito; dṛṣṭe — cujo olhar; yarhi — quando; asya — deste universo; vddhaye — para o aumento; upātta — assumindo; raja — do modo da paixão; ati-mātra — uma abundância; mām — para mim; īkase — olhas; tat — isto; u ha — de fato; na — para nós; parama — a maior; anukampā — demonstração de misericórdia.

Ó pessoa de olhos de lótus, ainda que estejas satisfeito dentro de Ti mesmo e, por isso, raramente voltes para mim a Tua atenção, por favor, abençoa-me com amor inabalável por Teus pés. É quando assumes uma predominância de paixão para manifestar o universo que me olhas de relance, mostrando-me o que é de fato Tua maior misericórdia.

SIGNIFICADO—No verso 20 deste capítulo, o Senhor Kṛṣṇa disse: “Sempre satisfeito dentro de Nós, não Nos importamos nem um pouco com esposas, filhos e riquezas.” Aqui, Rukmiṇī-devī responde com humildade: “Sim, sentes prazer dentro de Ti mesmo e, por isso, raramente olhas para mim.”

A este respeito, Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura ressalta que o Senhor Kṛṣṇa já declarara Seu amor por Rukmiṇī, tathāham api tac-citto nidrā ca na labhe niśi: “Também estou sempre pensando nela – tanto que não consigo dormir à noite.” (Śrīmad-Bhāgavatam 10.53.2) O Senhor Kṛṣṇa está satisfeito dentro de Si mesmo, e se nos lembrarmos de que Śrīmatī Rukmiṇī-devī é Sua potência interna, poderemos compreender que Seus casos amorosos com ela são expressões de Sua felicidade espiritual pura.

Aqui, todavia, a rainha Rukmiṇī identifica-se humildemente com a energia externa do Senhor, que é uma expansão dela. Portanto, ela diz: “Embora não costumes olhar para mim, quando estás pronto para manifestar o universo material e assim começas a trabalhar através da qualidade material da paixão, que é Tua potência, Tu me olhas de relance. Dessa maneira, Tu me mostras Tua maior misericórdia.” Assim, o ācārya Viśvanātha explica que se pode compreender a declaração da deusa Rukmiṇī de duas maneiras. E é evidente que os vaiṣṇavas, após compreenderem a fundo a filosofia de Kṛṣṇa ensinada pelos ācāryas genuínos, simplesmente saboreiam esses casos amorosos entre o Senhor e Seus elevados devotos.

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