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CAPÍTULO SESSENTA

O Senhor Kṛṣṇa Importuna a Rainha Rukmiṇī

Este capítulo descreve como o Senhor Kṛṣṇa provocou ira na rainha Rukmiṇī ao dizer-lhe gracejos e como, em seguida, Ele a consolou, demonstrando assim a opulência da discórdia entre amantes.

Certo dia, o Senhor Kṛṣṇa sentou-Se à vontade no quarto da rainha Rukmiṇī enquanto ela e suas criadas serviam-nO de várias maneiras. Rukmiṇī sempre correspondia aos humores de Śrī Kṛṣṇa, independentemente de quais fossem. Nesta ocasião, o Senhor olhou para Rukmiṇī, cuja beleza era impecável, e começou a importuná-la: “No passado, muitos reis opulentos, dignos de ti em aparência e caráter, queriam casar-se contigo. De fato, teu pai e teu irmão pretendiam dar-te em casamento a Śiśupāla. Por que, então, aceitaste um marido tão inadequado como Eu, que certa vez renunciou a Seu reino e fugiu para o mar com medo de Jarāsandha? Além disso, transgrido a moralidade mundana e, porque nada possuo, sou querido aos outros indigentes. Com certeza, os abastados não adorariam alguém como Eu.”

Śrī Kṛṣṇa continuou: “Quando um homem e uma mulher partilham da mesma classe social, influência, beleza física e assim por diante, o casamento ou a amizade podem florescer entre eles. Por insensatez, no entanto, aceitaste um marido que carece de todas as boas qualidades e que é glorificado pelos mendigos. Seria melhor se tivesses casado com algum guerreiro ilustre, em consequência do que poderias ter sido feliz nesta vida e na próxima. Teu irmão Rukmī e reis como Śiśupāla, todos Me odeiam, e foi só para acabar com o orgulho deles que te raptei. Mas, em relação a coisas tais como corpo, lar, esposa e filhos, sou-lhes indiferente, por ser a autossatisfeita Personalidade de Deus, transcendental a todos os assuntos materiais.”

Depois de destruir a certeza da rainha Rukmiṇī de ser a favorita de seu marido, Śrī Kṛṣṇa parou de falar. Ela se colocou a chorar, e logo ficou atordoada devido ao medo, dor e tristeza extremos e, em seguida, caiu inconsciente. O Senhor Kṛṣṇa viu que ela interpretara mal Sua brincadeira e, por isso, teve compaixão dela. Ele a levantou do chão e, acariciando-lhe o rosto, consolou-a: “Sei que és totalmente apegada a Mim. Foi só pela avidez de ver teu rosto de lótus adornado com um franzir de sobrancelhas que Eu te provoquei. Gracejar com a amada é o maior prazer para os homens casados”. Estas palavras afastaram de Rukmiṇī o medo da rejeição. Vendo que Kṛṣṇa só fizera aquilo de brincadeira, ela disse: “O que disseste quanto a nós dois não combinarmos é de fato verdadeiro. Afinal, ninguém é igual a Ti, o senhor onipotente das três deidades principais – Brahmā, Viṣṇu e Śiva.” Rukmiṇī continuou explicando que tudo o que Kṛṣṇa dissera para denegrir-Se era, em realidade, glorificação.

O Senhor Kṛṣṇa, então, falou a Rukmiṇī com profunda afeição: “Eu não pretendia agitar tua mente com Meus gracejos; ao contrário, queria demonstrar a força de tua castidade. Qualquer um que rogue a Mim por gozo dos sentidos e felicidade na vida familiar está apenas sendo enganado por Minha energia ilusória, Māyā. Semelhante pessoa receberá um nascimento inferior. Mulheres comuns com desejos corruptos não conseguem adorar-Me fielmente, como o fizeste. Por ocasião de teu casamento, não mostraste interesse por nenhum dos pretendentes reais, senão que Me enviaste um mensageiro brāhmaa. Portanto, és com certeza a mais amada de todas as Minhas consortes.”

Desta forma, o Senhor do universo, Śrī Kṛṣṇa, sentia prazer em gracejar com a deusa da fortuna sob sua forma como Rukmiṇī e, de maneira semelhante, cumpria todos os deveres de pai de família em cada palácio de Suas outras rainhas.

VERSO 1: Śrī Bādarāyaṇi disse: Certa vez, na companhia de suas criadas, a rainha Rukmiṇī estava pessoalmente abanando seu marido, o mestre espiritual do universo, enquanto este repousava no leito dela.

VERSO 2: A não nascida Personalidade de Deus, o controlador supremo, que cria, mantém e, por fim, devora este universo como uma simples brincadeira Sua, nasceu entre os Yadus para preservar Suas próprias leis.

VERSOS 3-6: Os aposentos da rainha Rukmiṇī eram belíssimos, ostentando um dossel do qual pendiam brilhantes cordões de pérolas, bem como joias refulgentes que serviam de lâmpadas. Havia guirlandas de jasmim e de outras flores suspensas aqui e ali, atraindo enxames de abelhas zumbidoras, e os imaculados raios da Lua brilhavam através dos orifícios da treliça das janelas. À medida que o incenso de aguru exalava pelas frestas da treliça, meu querido rei, a brisa que soprava o perfume do bosque de pārijātas transportava para dentro do quarto a atmosfera de um jardim. Ali, a rainha servia seu marido, o Senhor Supremo de todos os mundos, enquanto Ele Se reclinava sobre uma opulenta almofada no leito dela, que era tão macio e branco quanto a espuma do leite.

VERSO 7: Da mão de sua criada, a deusa Rukmiṇī apanhou um abano de pelo de iaque com cabo incrustado de pedras preciosas e, então, colocou-se a adorar seu mestre abanando-O.

VERSO 8: Com sua mão adornada de anéis, pulseiras e o abano cāmara, a rainha Rukmiṇī parecia resplandecente postada ao lado do Senhor Kṛṣṇa. Seus guizos de tornozelo incrustados de pedras preciosas tilintavam, e seu colar reluzia, avermelhado pelo kuṅkuma de seus seios, que estavam cobertos pela ponta de seu sári. Em torno de seus quadris, ela usava um cinto de valor inestimável.

VERSO 9: Enquanto Ele contemplava a própria deusa da fortuna, que deseja apenas o Senhor Kṛṣṇa, Ele sorriu. O Senhor assume várias formas para encenar Seus passatempos, e Ele estava satisfeito de que a forma que a deusa da fortuna assumira era bem apropriada para ela servir como Sua consorte. Seu rosto encantador estava adornado de cabelo cacheado, brincos, um medalhão no pescoço e o néctar de seu sorriso brilhante e feliz. O Senhor, então, dirigiu-se a ela com as seguintes palavras.

VERSO 10: O Senhor Supremo disse: Minha querida princesa, foste ambicionada por muitos reis tão poderosos quanto os governantes dos planetas. Todos eles eram dotados de imensa influência política, riqueza, beleza, generosidade e força física.

VERSO 11: Visto que teu irmão e teu pai ofereceram-te a eles, por que rejeitaste o rei de Cedi e todos aqueles outros pretendentes, que estavam diante de ti, enlouquecidos pelo Cupido? Por qual motivo, em vez disso, fizeste tua escolha por Nós, que de modo algum somos um par adequado para ti?

VERSO 12: Aterrorizado com esses reis, ó mulher de lindas sobrancelhas, buscamos abrigo no oceano. Tornamo-nos inimigo de homens poderosos, e praticamente abandonamos Nosso trono real.

VERSO 13: Ó dama de belas sobrancelhas, em geral as mulheres estão fadadas a sofrer quando acompanham homens cujo comportamento é incerto e que trilham um caminho não aprovado pela sociedade.

VERSO 14: Não temos bens materiais e temos a benquerença daqueles que igualmente nada possuem. Portanto, ó dama esbelta, é muito difícil que os ricos Me adorem.

VERSO 15: O casamento e a amizade são apropriados entre duas pessoas que são iguais em termos de riqueza, nascimento, influência, aparência física e capacidade para gerar uma boa progênie, mas nunca entre um superior e um inferior.

VERSO 16: Ó Vaidarbhī, não percebeste isso por falta de sagacidade e, portanto, escolheste-Nos como marido, ainda que não tenhamos boas qualidades e sejamos louvados apenas por mendigos iludidos.

VERSO 17: Agora deves definitivamente aceitar um marido mais adequado, um homem de primeira classe pertencente à ordem real que possa ajudar-te a obter tudo o que desejas, tanto nesta vida como na próxima.

VERSO 18: Reis como Śiśupāla, Śālva, Jarāsandha e Dantavakra, bem como teu irmão mais velho Rukmī, todos Me odeiam, ó mulher de belas coxas.

VERSO 19: Foi para dissipar a arrogância desses reis que te levei embora, Minha boa mulher, pois eles estavam cegos devido à embriaguez do poder. Minha intenção era refrear a força desses homens perversos.

VERSO 20: Não Nos importamos nem um pouco com esposas, filhos ou riquezas. Sempre satisfeito dentro de Nós, não trabalhamos em prol do corpo e do lar, senão que, tal qual uma fonte de luz, permanecemos apenas como uma testemunha.

VERSO 21: Śukadeva Gosvāmī disse: Rukmiṇī pensara que era a amada especial do Senhor, porque este nunca deixava a sua companhia. Ao dizer-lhe estas coisas, Ele destruiu seu orgulho, após o que Ele descontinuou Sua fala.

VERSO 22: A deusa Rukmiṇī jamais ouvira seu amado, o Senhor dos governantes universais, falar-lhe coisas tão desagradáveis, daí ter-se assustado. Um tremor surgiu em seu coração, e ela começou a chorar em terrível ansiedade.

VERSO 23: Com seu macio pé, a refletir o esplendor avermelhado de suas unhas, ela riscava o chão, e lágrimas enegrecidas devido ao rímel de seus olhos salpicavam-lhe os seios tingidos de kuṅkuma. Ali, ela estacou, imóvel, cabisbaixa e com a voz embargada em virtude de sua extrema aflição.

VERSO 24: A mente de Rukmiṇī foi soterrada pela infelicidade, medo e pesar. Suas pulseiras escorregaram da mão, e seu abano caiu. Em seu atordoamento, ela de repente desmaiou, e seu cabelo ficou em desalinho enquanto seu corpo caía ao chão tal qual uma bananeira derrubada pelo vento.

VERSO 25: Vendo que Sua amada estava tão atada a Ele pelo amor que não conseguiu compreender todo o sentido de Sua brincadeira, o misericordioso Senhor Kṛṣṇa sentiu compaixão por ela.

VERSO 26: O Senhor levantou-Se rapidamente da cama. Manifestando quatro braços, Ele ergueu Rukmiṇī, alinhou seus cabelos e acariciou-lhe o rosto com Sua mão de lótus.

VERSOS 27-28: Enxugando-lhe os olhos lacrimejantes e os seios manchados de lágrimas de pesar, o Senhor Supremo, a meta de Seus devotos, abraçou Sua casta esposa, que não desejava nada além dEle, ó rei. Perito na arte de apaziguar, Śrī Kṛṣṇa consolou com ternura a lamuriosa Rukmiṇī, cuja mente ficou desconcertada por Sua astuta brincadeira e que não merecia sofrer assim.

VERSO 29: O Senhor Supremo disse: Ó Vaidarbhī, não fiques descontente coMigo. Sei que tens plena devoção a Mim. Falei aquilo apenas de brincadeira, querida dama, porque queria ouvir o que dirias.

VERSO 30: Também queria ver teu rosto com os lábios trêmulos de zanga de amor, os cantos avermelhados de teus olhos a lançar olhares de lado e franzida a linha de tuas belas sobrancelhas.

VERSO 31: O maior prazer que os chefes de família mundanos podem desfrutar em casa é passar o tempo a gracejar com suas amadas esposas, Minha querida dama tímida e temperamental.

VERSO 32: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, a Suprema Personalidade de Deus tranquilizou completamente a rainha Vaidarbhī, que compreendeu, então, que Ele dissera aquilo apenas de brincadeira. Assim, ela abandonou o medo de que seu amado a rejeitaria.

VERSO 33: Sorrindo acanhadamente enquanto lançava olhares encantadores e afetuosos ao rosto do Senhor, o melhor dos varões, Rukmiṇī disse o seguinte, ó descendente de Bharata.

VERSO 34: Śrī Rukmiṇī disse: De fato, o que disseste é verdade, ó pessoa de olhos de lótus. Sou deveras inadequada para a onipotente Personalidade de Deus. Que comparação há entre esse Senhor Supremo, que é mestre das três deidades primordiais e que Se deleita em Sua própria glória, e esta que Te dirige a palavra, uma mulher de qualidades mundanas cujos pés são segurados por tolos?

VERSO 35: Sim, meu Senhor Urukrama, repousas dentro do oceano como se estivesses com medo dos modos materiais e, dessa maneira, apareces no coração como a Superalma em consciência pura. Estás sempre a combater os tolos sentidos materiais, e, de fato, até mesmo Teus servos rejeitam o privilégio da soberania real, que conduz à cegueira da ignorância.

VERSO 36: Teus movimentos, inescrutáveis até para sábios que saboreiam o mel de Teus pés de lótus, são decerto incompreensíveis para seres humanos que se comportam como animais. E assim como Tuas atividades são transcendentais, ó Senhor onipotente, também o são as de Teus seguidores.

VERSO 37: Nada possuis porque nada existe além de Ti. Até mesmo os grandes desfrutadores de tributo – Brahmā e outros semideuses – pagam tributo a Ti. Aqueles que estão cegos devido à sua riqueza e absortos em satisfazer os sentidos não Te reconhecem sob a forma da morte. Para os deuses, os desfrutadores de tributo, no entanto, és o mais querido, assim como eles o são para Ti.

VERSO 38: És a personificação de todas as metas humanas e Tu mesmo és o objetivo final da vida. Desejando alcançar-Te, ó Senhor todo-poderoso, pessoas inteligentes abandonam tudo o mais. São elas que merecem Tua associação, e não homens e mulheres absortos no prazer e dor resultantes de sua luxúria mútua.

VERSO 39: Sabendo que eminentes sábios que renunciaram ao daṇḍa de sannyāsī proclamam Tuas glórias, sabendo que és a Alma Suprema de todos os mundos e que és tão misericordioso que entregas até mesmo Teu próprio eu, escolhi Tua pessoa como marido, rejeitando o senhor Brahmā, o senhor Śiva e os governantes dos céus, cujas aspirações são todas frustradas pela força do tempo, que nasce de Tuas sobrancelhas. Que interesse, então, eu poderia ter em qualquer outro pretendente?

VERSO 40: Meu Senhor, assim como um leão afugenta animais inferiores para exigir o tributo que lhe cabe, Tu, com o tanger ressoante de Teu arco Śārṅga, enxotaste os reis reunidos e, depois, reivindicaste a mim, Tua justa partilha. Logo, não passa de absoluta tolice, meu querido Gadāgraja, dizeres que Te abrigaste no oceano por temor a esses reis.

VERSO 41: Desejando Tua associação, os melhores dos reis – Aṅga, Vainya, Jāyanta, Nāhuṣa, Gaya e outros – abandonaram sua soberania absoluta e foram para a floresta em busca de Ti. Como esses reis poderiam frustrar-se neste mundo, ó pessoa de olhos de lótus?

VERSO 42: O aroma de Teus pés de lótus, que é glorificado por grandes santos, concede a liberação às pessoas e é a morada da deusa Lakṣmī. Que mulher se abrigaria em algum outro homem depois de saborear esse aroma? Visto seres a morada de qualidades transcendentais, que mulher mortal com a perspicácia para distinguir seu verdadeiro interesse desprezaria aquela fragrância e dependeria, em vez disso, de alguém que está sempre sujeito ao terrível medo?

VERSO 43: Por seres adequado para mim, eu Te escolhi, o mestre e Alma Suprema de todos os mundos, que satisfazes nossos desejos nesta vida e na próxima. Que Teus pés, cujos adoradores libertam da ilusão quem os busca, deem abrigo a mim, que tenho vagado de uma situação material a outra.

VERSO 44: Ó infalível Kṛṣṇa, que cada um dos reis que nomeaste torne-se esposo de uma mulher cujos ouvidos jamais ouviram Tuas glórias, que são cantadas nas assembleias de Śiva e Brahmā. Afinal, nos lares de tais mulheres, esses reis vivem como asnos, bois, cães, gatos e escravos.

VERSO 45: Uma mulher que deixa de saborear a fragrância do mel de Teus pés de lótus ilude-se por completo e, deste modo, aceita como marido ou amante um cadáver vivo coberto de pele, barba, unhas, cabelos e pelos e cheio de carne, ossos, sangue, parasitas, fezes, muco, bílis e ar.

VERSO 46: Ó pessoa de olhos de lótus, ainda que estejas satisfeito dentro de Ti mesmo e, por isso, raramente voltes para mim a Tua atenção, por favor, abençoa-me com amor inabalável por Teus pés. É quando assumes uma predominância de paixão para manifestar o universo que me olhas de relance, mostrando-me o que é de fato Tua maior misericórdia.

VERSO 47: De fato, Madhusūdana, não considero falsas as Tuas palavras. Muitas vezes, uma jovem solteira sente atração por um homem, como no caso de Ambā.

VERSO 48: A mente de uma mulher promíscua, mesmo que esta seja casada, sempre anseia por novos amantes. Um homem inteligente não deve manter semelhante esposa incasta, pois, se o fizer, perderá sua boa fortuna tanto nesta vida como na próxima.

VERSO 49: O Senhor Supremo disse: Ó mulher santa, ó princesa, Nós te enganamos só porque desejávamos ouvir-te falar assim. De fato, tudo o que disseste em resposta às Minhas palavras é decerto muito verdadeiro.

VERSO 50: Quaisquer bênçãos que almejes a fim de livrar-te dos desejos materiais estão sempre a teu dispor, ó formosa e nobre dama, pois és Minha devota pura.

VERSO 51: Ó dama impoluta, agora vi em primeira mão o amor puro e apego casto que tens por teu marido. Ainda que abalada por Minhas palavras, tua mente não pôde ser afastada de Mim.

VERSO 52: Embora Eu tenha o poder de conceder a liberação espiritual, pessoas luxuriosas adoram-Me por meio de penitência e votos a fim de obter Minhas bênçãos para sua vida familiar mundana. Tais pessoas se deixam confundir por Minha energia ilusória.

VERSO 53: Ó supremo reservatório de amor, desventurados são aqueles que, mesmo depois de alcançarem-Me, o Senhor tanto da liberação como da riqueza material, anseiam apenas por tesouros mundanos. Semelhantes ganhos podem ser encontrados até mesmo no inferno. Visto que tais indivíduos têm obsessão pelo gozo dos sentidos, o inferno é um lugar adequado para eles.

VERSO 54: Felizmente, ó dona da casa, sempre Me prestaste fiel serviço devocional, o que liberta a pessoa da existência material. É muito difícil que os invejosos pratiquem esse serviço, sobretudo uma mulher cujas intenções são perversas, que vive somente para satisfazer as exigências do corpo e que se deleita com a duplicidade.

VERSO 55: Em todos os Meus palácios, não posso encontrar outra esposa tão amorosa como tu, ó respeitosíssima dama. Quando estavas para casar, desprezaste todos os reis que se haviam reunido para pedir tua mão, e apenas porque ouvira narrações autênticas a Meu respeito, mandaste um brāhmaṇa até Mim com tua mensagem confidencial.

VERSO 56: Quando teu irmão, que fora derrotado em combate e depois desfigurado, foi morto mais tarde durante uma sessão de jogatina no dia do casamento de Aniruddha, sentiste insuportável tristeza, apesar do que, por medo de perder-Me, não disseste uma palavra. Com esse silêncio, tu Me conquistaste.

VERSO 57: Quando enviaste o mensageiro com teu plano muito confidencial e, mesmo assim, Eu Me demorei em ir ter contigo, passaste a ver o mundo inteiro como vazio e quiseste abandonar o corpo, que jamais poderia ser dado a alguém além de Mim. Que essa tua grandeza permaneça sempre contigo; nada posso fazer para retribuir exceto agradecer-te alegremente por tua devoção.

VERSO 58: Śukadeva Gosvāmī disse: E assim o autossatisfeito Senhor Supremo do universo desfrutava com a deusa da fortuna, ocupando-a em conversas de amantes e imitando a conduta da sociedade humana.

VERSO 59: O onipotente Senhor Hari, preceptor de todos os mundos, de igual modo procedia como um pai de família convencional nos palácios de Suas outras rainhas, cumprindo os deveres religiosos de um homem casado.

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