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VERSO 16

evaṁ yogeśvaraḥ kṛṣṇo
bhagavān jagad-īśvaraḥ
īyate paśu-dṛṣṭīnāṁ
nirjito jayatīti saḥ

evam — desse modo; yoga — do yoga místico; īśvaraḥ — o Senhor; kṛṣṇaḥ — Kṛṣṇa; bhagavān — a Personalidade de Deus; jagat — do universo; īśvaraḥ — o Senhor; īyate — parece; paśu — como animais; dṛṣṭī­nām — para aqueles cuja visão; nirjitaḥ — derrotado; jayati — é vitorio­so; iti — como se; saḥ — Ele.

Desse modo, o Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, o mestre de todo o poder místico e o Senhor do universo, é sempre vitorioso. Apenas as pessoas de visão animalesca pensam que Ele às vezes sofre derrota.

SIGNIFICADO—Śrīla Viśvanātha Cakravartī tece o seguinte meticuloso comentário sobre esta seção do Śrīmad-Bhāgavatam:

Com relação à morte de Dantavakra, o Uttara-khaṇḍa (279) do Padma Purāṇa contém mais detalhes na seguinte passagem em prosa, atha śiśupālaṁ nihataṁ śrutvā dantavakraḥ kṛṣṇena saha yoddhuṁ mathurām ājagāma. kṛṣṇas tu tac chrutvā ratham āruhya mathurām āyayau: “Então, ouvindo que Śiśupāla fora morto, Dantavakra foi para Mathurā lutar contra Kṛṣṇa. Quando Kṛṣṇa, por Sua vez, ouviu isso, Ele subiu em Sua quadriga e foi para Mathurā.”

Tayor dantavakra-vāsudevayor aho-rātraṁ mathurā-dvāri saṅgrāmaḥ samavartata; kṛṣṇas tu gadayā taṁ jaghāna; sa tu cūrṇita-sarvāṅgo vajra-nirbhinno mahīdhara iva gatāsur avani-tale nipapāta; so ’pi hareḥ sārūpyeṇa yogi-gamyaṁ nityānanda-sukha-daṁ śāśvataṁ paramaṁ padam avāpa: “Entre eles dois – Dantavakra e o Senhor Vāsudeva –, começou, então, uma batalha às portas de Mathurā que durou o dia e a noite inteiros. Por fim, Kṛṣṇa golpeou Dantavakra com Sua maça, momento no qual Dantavakra caiu sem vida no chão, com todos os membros de seu corpo esmagados, tal qual uma monta­nha despedaçada por um raio. Dantavakra logrou a espécie de libera­ção em que se obtém uma forma igual à do Senhor, e assim também alcançou a suprema e eterna morada do Senhor, a qual é acessível a yogīs perfeitos e concede a felicidade da eterna bem-aventurança es­piritual.”

Itthaṁ jaya-vijayau sanakādi-śāpa-vyājena kevalaṁ bhagavato līlārthaṁ saṁsṛtāv avatīrya janma-traye ’pi tenaiva nihatau janma-trayāvasāne muktim avāptau: “Foi assim que Jaya e Vijaya – aparentemente por terem sido amaldiçoados por Sanaka e seus ir­mãos, mas, em verdade, para facilitar os passatempos do Senhor Supremo – desceram a este mundo material e, em três vidas consecutivas, foram mortos pelo próprio Senhor. Então, ao se completa­rem estas três vidas, eles alcançaram a liberação.”

Nesta passagem do Padma Purāṇa, as palavras kṛṣṇas tu tac chrutvā, “quando Kṛṣṇa ouviu isso”, indicam que o Senhor ouviu de Nārada, que viaja tão rápido quanto a mente, que Dantavakra fora para Mathurā. Portanto, logo após matar Śālva, sem primeiro entrar em Dvārakā, o Senhor chegou aos arredores de Mathurā em um mo­mento em Sua quadriga, que também se move tão rápido quanto a mente, e lá viu Dantavakra. É por isso que, ainda hoje, junto ao portão de Mathurā que está voltado para Dvārakā, há uma vila conhecida no idioma local como Datihā, um nome derivado do sâns­crito dantavakra-hā, “matador de Dantavakra”. Essa vila foi fun­dada por Vajra, o bisneto de Kṛṣṇa.

Na mesma seção do Padma Purāṇa, seguem-se estas afirmações, kṛṣṇo ’pi taṁ hatvā yamunām uttīrya nanda-vrajaṁ gatvā sotkaṇṭhau pitarāv abhivādyāśvāsya tābhyāṁ sāśru-sekam āliṅgitaḥ sakala-gopa-vṛddhān praṇamya bahu-vastrābharaṇādibhis tatra-sthān santarpayām āsa: “E depois de matá-lo [Vidūratha], Kṛṣṇa atravessou o Yamunā e foi para a vila pastoril de Nanda, onde honrou e consolou Seus aflitos pais. Eles O encharcaram de lágrimas e abraçaram-nO, após o que o Senhor ofereceu reverências aos vaqueiros mais velhos e satisfez todos os residentes com abundantes presentes, tais como roupas, ornamentos etc.”

kālindyāḥ puline ramye
puṇya-vṛkṣa-samācite
gopa-nārībhir aniśaṁ
krīḍayām āsa keśavaḥ

ramya-keli-sukhenaiva
gopa-veśa-dharaḥ prabhuḥ
bahu-prema-rasenātra
māsa-dvayam uvāsa ha

“O Senhor Keśava divertia-Se continuamente com as mulheres da vila na encantadora margem do Kālindī, que era cheia de árvores piedosas. Assim, o Senhor Supremo, assumindo a aparência de um vaqueiro, residiu lá por dois meses e desfrutou de passatempos íntimos em vários humores de reciprocação amorosa.”

Atha tatra-sthā nanda-gopādayaḥ sarve janāḥ putra-dārādi-sahitā vāsudeva-prasādena divya-rūpa-dharā vimānam ārūḍhāḥ paramaṁ vaikuṇṭha-lokam avāpuḥ; kṛṣṇas tu nanda-gopa-vrajaukasāṁ sarveṣāṁ nirāmayaṁ sva-padaṁ dattvā divi deva-gaṇaiḥ saṁstūyamāno dvāravatīṁ viveśa: “Então, pela graça do Senhor Vāsudeva, Nanda e todos os outros residentes daquele lugar, juntamente com seus filhos e esposas, assumiram suas formas espirituais eternas, subiram a bordo de um ae­roplano celestial e ascenderam ao supremo planeta Vaikuṇṭha [Goloka Vṛndāvana]. O Senhor Kṛṣṇa, porém, depois de conceder a Nanda Gopa e a todos os outros habitantes de Vraja Sua própria morada transcendental, que é livre de toda doença, viajou pelos céus e regressou a Dvārakā enquanto semideuses cantavam Seus louvores.”

Em seu Laghu-bhāgavatāmṛta (1.488-489), Śrīla Rūpa Gosvāmī faz o seguinte comentário sobre esta passagem:

vrajeśāder aṁśa-bhūtā
ye droṇādyā avātaran
kṛṣṇas tān eva vaikuṇṭhe
prāhiṇod iti sāmpratam

preṣṭhebhyo ’pi priyatamair
janair gokula-vāsibhiḥ
vṛndāraṇye sadaivāsau
vihāraṁ kurute hariḥ

“Visto que Droṇa e outros semideuses outrora haviam descido à Terra para fundirem-se como expansões parciais no rei de Vraja e em outros devotos de Vṛndāvana, desta vez foram essas expansões de semideuses que o Senhor Kṛṣṇa enviou para Vaikuṇṭha. O Senhor Hari está perpetuamente a desfrutar passatempos em Vṛndāvana com Seus devotos íntimos, os residentes de Gokula, que Lhe são até mais queridos do que Seus outros devotos mais queridos.”

Na passagem do Padma Purāṇa, a palavra putra na frase nanda-gopādayaḥ sarve janāḥ putra-dārādi-sahitāḥ (“Nanda Gopa e os outros, juntamente com seus filhos e esposas”) refere-se a filhos tais como Kṛṣṇa, Śrīdāmā e Subala, enquanto a palavra dāra refere-se a esposas tais como Śrī Yaśodā e Kīrtidā, a mãe de Rādhārāṇī. A frase sarve janāḥ (“todo o povo”) refere-se a todos os que viviam no distrito de Vraja. Dessa maneira, todos eles foram para o mais elevado planeta Vaikuṇṭha, Goloka. A frase divya-rūpa-dharāḥ indica que, em Goloka, eles realizam passatempos próprios de semideuses, e não aqueles conve­nientes a seres humanos, como em Gokula. Assim como durante a encarnação do Senhor Rāmacandra os residentes de Ayodhyā foram transportados para Vaikuṇṭha em seus próprios corpos, do mesmo modo, nesta encarnação de Kṛṣṇa, os residentes de Vraja alcançaram Goloka nos deles.

A seguinte passagem do Śrīmad-Bhāgavatam (1.11.9) confirma a viagem do Senhor Kṛṣṇa de Dvārakā para Vraja, yarhy ambujākṣāpasasāra bho bhavān kurūn madhūn vātha suhṛd-didṛkṣayā/ tatrābda-koṭi-pratimaḥ kṣaṇo bhavet: “Ó Senhor dos olhos de lótus, sempre que partis para Mathurā, Vṛndāvana ou Hastināpura para encontrar Vossos amigos e parentes, cada momento de Vossa ausência parece um milhão de anos.” O Senhor Kṛṣṇa estivera acalentando o desejo de ir ver Seus amigos e parentes em Vraja desde que o Senhor Baladeva fora lá, mas Sua mãe, pai e outras pessoas mais velhas em Dvā­rakā recusaram-se a Lhe dar permissão. Agora, todavia, após matar Śālva, quando Kṛṣṇa ouviu de Nārada que Dantavakra tinha ido a Mathurā, ninguém poderia opor-se à ida imediata do Senhor para lá, sem entrar primeiro em Dvārakā. E depois de matar Dantavakra, Ele teria a oportunidade de encontrar-Se com Seus amigos e parentes que viviam em Vraja.

Pensando dessa maneira e também lembrando-se do que Uddhava dissera sobre as gopīs ao usar as palavras gāyanti te viśada-karma (Śrīmad-Bhāgavatam 10.71.9), Ele foi para Vraja e dissipou os sentimentos de saudade sentidos por seus habitantes. Durante dois meses, o Senhor Kṛṣṇa desfrutou em Vṛndāvana exatamente como antes de ter saído de lá para matar Kaṁsa em Mathurā. Então, ao final de dois meses, Ele afastou dos olhos mundanos Seus passatempos levando para Vaikuṇṭha as porções dos semideuses que habitavam em Seus pais e outros parentes e amigos. Assim, em uma manifestação plenária, Ele foi para Goloka, no mundo espiritual; em outra, permaneceu desfrutan­do perpetuamente em Vraja, embora invisível aos olhos materiais, e ainda em outra forma, subiu em Sua quadriga e voltou sozinho para Dvārakā. O povo da província de Śaurasena pensou que, após matar Dan­tavakra, Kṛṣṇa fizera uma visita a Seus pais e outros entes queridos, e agora estava voltando para Dvārakā. O povo de Vraja, por outro lado, não podia compreender para onde Ele Se fora de repente, de modo que ficaram em total assombro.

Além disso, Śukadeva achava que Parīkṣit Mahārāja poderia pensar: “Como é que o mesmo Kṛṣṇa que fez com que os vaqueiros alcan­çassem Vaikuṇṭha em seus próprios corpos também fez com que os residentes de Dvārakā atingissem uma condição tão inauspiciosa no decurso de Sua mauṣala-līlā?” Assim, por causa de sua própria afi­nidade com os Yadus, o rei poderia considerar o arranjo injusto. É por isso que Śukadeva Gosvāmī não lhe permitiu ouvir esse passatempo, que, como se menciona acima, é narrado no Uttara-khaṇḍa do Śrī Padma Purāṇa.

No Śrī Vaiṣṇava-toṣaṇī, comentário de Sanātana Gosvāmī referen­te ao décimo canto, encontramos a seguinte lista da sequência de passatempos: Primeiro ocorreu a viagem por ocasião do eclipse solar, então a assembleia Rājasūya, depois o jogo de dados e a tentativa de despir Draupadī, em seguida o exílio dos Pāṇḍavas na floresta, então a morte de Śālva e Dantavakra, depois a visita de Kṛṣṇa a Vṛndāvana, e por fim o encerramento dos passatempos de Vṛndāvana.

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