VERSO 8
nūnaṁ bhagavato brahman
harer adbhuta-karmaṇaḥ
durvibhāvyam ivābhāti
kavibhiś cāpi ceṣṭitam
nūnam — ainda insuficiente; bhagavataḥ — da Personalidade de Deus; brahman — ó brāhmaṇa erudito; hareḥ — do Senhor; adbhuta — maravilhoso; karmaṇaḥ — alguém que age; durvibhāvyam — inconcebível; iva — assim; ābhāti — parece; kavibhiḥ — mesmo para os altamente eruditos; ca — também; api — apesar de; ceṣṭitam — sendo buscado com esforço.
Ó brāhmaṇa erudito, todas as atividades do Senhor são maravilhosas, e parecem inconcebíveis porque, nem mesmo através de muitos esforços, os sábios eruditos conseguiram compreendê-las.
SIGNIFICADO—Os atos que o Senhor Supremo desempenha apenas na criação deste universo parecem inconcebivelmente maravilhosos. E existem inúmeros universos, e a totalidade deles é conhecida como o mundo material criado. E esta parte de sua criação é uma mera porção fracionária da criação completa. O mundo material compõe apenas uma parte (ekāṁśena sthito jagat). Supondo que o mundo material é a manifestação de uma parte de Sua energia, as três partes restantes consistem no vaikuṇṭha-jagat, ou o mundo espiritual descrito na Bhagavad-gītā como mad-dhāma ou sanātana-dhāma, o mundo eterno. Assinalamos no verso anterior que Ele cria e volta a exterminar a criação. Essa ação se aplica apenas ao mundo material, pois o outro, que é a parte maior de Sua criação, a saber, o mundo Vaikuṇṭha, não é criado nem aniquilado; caso contrário, o Vaikuṇṭha-dhāma não teria sido denominado eterno. O Senhor existe com o dhāma; Seu nome, qualidade, passatempos, séquito e personalidade eternos são todos uma manifestação de Suas diferentes energias e expansões. O Senhor é chamado anādi, ou aquele que não tem criador, e ādi, ou a origem de tudo. À nossa própria maneira imperfeita, pensamos que o Senhor também é criado, mas o Vedānta nos informa que Ele não é criado. Ao contrário, todas as outras coisas são criadas por Ele (nārāyaṇaḥ paro ’vyaktāt). Portanto, o homem comum pode apreciar todos esses temas maravilhosos. Mesmo para grandes eruditos, eles são inconcebíveis, daí esses eruditos apresentarem teorias contraditórias entre si. Mesmo quando se trata deste universo específico, que é uma porção insignificante de Sua criação, eles não têm completa informação sobre a expansão limitada deste espaço, ou sobre a quantidade de estrelas e planetas, ou sobre as diferentes condições desses inúmeros planetas. Os cientistas modernos conhecem insuficientemente tudo isso. Alguns afirmam que existem cem milhões de planetas espalhados por todo o espaço. Num boletim informativo de Moscou, datado de 21 de fevereiro de 1960, transmitiu-se a seguinte notícia:
“O famoso professor russo de astronomia, Boris Vorontsov-Veliaminov, disse que deve existir no universo um número infinito de planetas habitados por seres dotados de raciocínio.”
“Talvez floresça nesses planetas a vida parecida com aquela existente na Terra.”
“O doutor em química Nikolai Zhirov, cobrindo o problema da atmosfera em outros planetas, assinalou que o organismo de um marciano, por exemplo, poderia muito bem adaptar-se à existência normal com uma baixa temperatura corpórea.”
“Ele disse que suspeitava que a composição gasosa da atmosfera marciana era deveras adequada para sustentar a vida de seres que tenham se adaptado a ela.”
Essa adaptabilidade de um organismo a diferentes variedades de planetas é descrita na Brahma-saṁhitā como vibhūti-bhinnam, isto é, cada planeta do universo possui um determinado tipo de atmosfera, e os seres que vivem ali são mais perfeitamente avançados em ciência e psicologia devido a uma atmosfera melhor. Vibhūti significa “poderes específicos”, e bhinnam significa “variados”. É bom que os cientistas que estão tentando explorar o espaço exterior e estão procurando alcançar outros planetas valendo-se de arranjos mecânicos fiquem sabendo que os organismos adaptados à atmosfera da Terra não podem resistir nas atmosferas de outros planetas (Fácil Viagem a Outros Planetas). Portanto, a pessoa deve preparar-se para transferir-se a um diferente planeta após libertar-se do corpo atual, como se afirma na Bhagavad-gītā (9.25):
yānti deva-vratā devān
pitṝn yānti pitṛ-vratāḥ
bhūtāni yānti bhūtejyā
yānti mad-yājino ’pi mām
“Aqueles que adoram os semideuses nascerão entre os semideuses; aqueles que adoram os ancestrais irão ter com os ancestrais; aqueles que adoram fantasmas e espíritos nascerão entre esses seres, e aqueles que Me adoram viverão coMigo.”
A afirmação que Mahārāja Parīkṣit fez a respeito das ações da energia criativa do Senhor revela que ele sabia tudo sobre o processo de criação. Por que, então, ele pediu que Śukadeva Gosvāmī lhe desse essa informação? Mahārāja Parīkṣit, sendo um grande imperador, um descendente dos Pāṇḍavas e um grande devoto do Senhor Kṛṣṇa, era deveras capaz de ter considerável conhecimento sobre a criação do mundo, mas todo esse conhecimento não era suficiente. Ele disse, portanto, que, mesmo após grandes esforços, grandes sábios eruditos não conseguem conhecer isso. O Senhor é ilimitado, e Suas atividades também são insondáveis. Com limitada fonte de conhecimento e sentidos imperfeitos, nenhum ser vivo, mesmo que esteja no padrão de Brahmājī, o ser vivo mais altamente perfeito dentro do universo, jamais pode imaginar conhecer o ilimitado. Sobre o ilimitado, podemos conhecer algo que o ilimitado explica, como o próprio Senhor fez ao proferir as afirmações ímpares contidas na Bhagavad-gītā, e, até certo ponto, também se pode conhecê-lO através de almas autorrealizadas, como Śukadeva Gosvāmī, que aprendeu com Vyāsadeva, um discípulo de Nārada. Assim, o conhecimento perfeito só pode descer através da corrente de sucessão discipular, e não por alguma forma de conhecimento experimental, antigo ou recente.