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VERSO 18

nārtho baler ayam urukrama-pāda-śaucam
āpaḥ śikhā-dhṛtavato vibudhādhipatyam
yo vai pratiśrutam ṛte na cikīrṣad anyad
ātmānam aṅga manasā haraye ’bhimene

na — nunca; arthaḥ — de nenhum valor em comparação com; baleḥ — da força; ayam — esta; urukrama-pāda-śaucam — a água que lavou os pés da Personalidade de Deus; āpaḥ — água; śikhā-dhṛtavataḥ — daquele que a derramou sobre sua cabeça; vibudha-adhipatyam — supremacia sobre o reino dos semideuses; yaḥ — aquele que; vai — decerto; pratiśrutam — que foi devidamente prometido; ṛte na — além disto; cikīrṣat — tentou; anyat — alguma outra coisa; ātmānam — mesmo seu corpo pessoal; aṅga — ó Nārada; manasā — em sua mente; haraye — ao Senhor Supremo; abhimene — dedicado.

Bali Mahārāja, que colocou sobre sua cabeça a água que lavou os pés de lótus do Senhor, pensava somente em sua promessa, apesar da proibição que lhe fora imposta pelo seu mestre espiritual. O rei entregou seu próprio corpo para que o Senhor concluísse o Seu terceiro passo. Para essa personalidade, nem mesmo o reino dos céus, que ele conquistara com sua força, tinha algum valor.

SIGNIFICADO—Bali Mahārāja, que em troca de seu grande sacrifício material recebeu o favor transcendental do Senhor, conseguiu um lugar em Vaikuṇṭhaloka, onde viveria condições mais propícias ao gozo eterno; portanto, ele nada perdeu ao sacrificar o reino dos céus, que possuía graças à sua força material. Em outras palavras, quando o Senhor arrebata as posses materiais que a pessoa adquiriu arduamente e a favorece com Seu transcendental serviço pessoal que lhe outorga vida, bem-aventurança e conhecimento eternos, essa desapropriação efetuada pelo Senhor deve ser considerada um favor especialmente concedido a esse devoto puro.

As posses materiais, por mais sedutoras que sejam, não podem ser posses permanentes. Portanto, a pessoa deve voluntariamente abandonar essas posses, ou ela terá de deixar essas posses na hora de abandonar seu corpo material. O homem são sabe que todas as posses materiais são temporárias e que o melhor uso dessas posses é ocupá-las no serviço ao Senhor para que o Senhor possa ficar satisfeito com ele e lhe conceda um lugar permanente em Seu paraṁ dhāma.

Na Bhagavad-gītā (15.5-6), o paraṁ dhāma do Senhor é descrito da seguinte maneira:

nirmāna-mohā jita-saṅga-doṣā
adhyātma-nityā vinivṛtta-kāmāḥ
dvandvair vimuktāḥ sukha-duḥkha-saṁjñair
gacchanty amūḍhāḥ padam avyayaṁ tat

na tad bhāsayate sūryo
na śaśāṅko na pāvakaḥ
yad gatvā na nivartante
tad dhāma paramaṁ mama

A pessoa que, neste mundo material, tem muitas posses sob a forma de casas, terra, filhos, sociedade, amizade e riqueza, possui essas coisas apenas por algum tempo. Ninguém pode possuir permanentemente toda essa parafernália ilusória, criada por māyā. Semelhante proprietário está muito iludido no que diz respeito à sua autorrealização; a pessoa, então, deve possuir pouco ou nada, para que possa ficar livre do prestígio artificial. No mundo material, contaminamo-nos com a associação dos três modos da natureza material. Assim, quanto mais alguém perde suas posses temporárias para avançar espiritualmente no serviço devocional ao Senhor, tanto mais ele se liberta do apego à ilusão material. Para atingir essa fase da vida, a pessoa deve ter firme convicção sobre a existência espiritual e seus efeitos permanentes. Para conhecer com exatidão a perpetuidade da existência espiritual, a pessoa deve voluntariamente aprender a diminuir suas posses ou ter apenas o mínimo necessário para manter sua existência material sem dificuldades. A pessoa não deve criar necessidades artificiais. Isso a ajudará a ficar satisfeita com as mínimas posses. As necessidades artificiais da vida são as atividades dos sentidos. O avanço moderno da civilização baseia-se nessas atividades dos sentidos, ou, em outras palavras, essa civilização quer o gozo dos sentidos. Civilização perfeita é a civilização de ātmā, ou da própria alma. O homem civilizado que se ocupa em gozo dos sentidos está no mesmo nível dos animais, pois os animais não podem ir além das atividades dos sentidos. Acima dos sentidos está a mente. A civilização que pratica a especulação mental também não está na fase perfeita da vida porque, acima da mente, está a inteligência, e a Bhagavad-gītā nos informa sobre a civilização intelectual. Os textos védicos dão diferentes orientações para a civilização humana, incluindo a civilização na plataforma dos sentidos, da mente, da inteligência e da própria alma. A Bhagavad-gītā basicamente se detém na inteligência do homem, mostrando o caminho progressivo através do qual a pessoa chega à civilização que se interessa pela alma espiritual. E o Śrīmad-Bhāgavatam é a civilização humana completa cujo assunto é a própria alma. Logo que se eleva à etapa da civilização que se preocupa com a alma, o homem está em condições de ser promovido ao reino de Deus, que é descrito na Bhagavad-gītā, como nos versos acima mencionados.

A informação fundamental sobre o reino de Deus nos diz que lá não há necessidade de Sol, Lua ou eletricidade, que são todos necessários neste mundo material de escuridão. E a informação subsequente sobre o reino de Deus explica que qualquer pessoa que é capaz de alcançar aquele reino após adotar o estilo de vida da civilização que se interessa pela alma em si, ou, em outras palavras, praticando bhakti-yoga, alcança a perfeição máxima da vida. Ela se situa, então, na existência permanente da alma, com pleno conhecimento sobre o transcendental serviço amoroso ao Senhor. Em troca de suas grandes posses materiais, Bali Mahārāja aceitou essa civilização que cuida do interesse da alma e, assim, tornou-se apto a ser promovido ao reino de Deus. O reino dos céus, que ele obteve em virtude de seu poder material, foi considerado muito insignificante em comparação com o reino de Deus.

Aqueles que alcançaram os confortos de uma civilização material feita para o gozo dos sentidos devem tentar alcançar o reino de Deus seguindo os passos de Bali Mahārāja, quem, em troca do poder material que adquirira, adotou o processo de bhakti-yoga recomendado na Bhagavad-gītā e mais elaboradamente explicado no Śrīmad-Bhāgavatam.

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