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VERSO 33

na hy antaraṁ bhagavatīha samasta-kukṣāv
ātmānam ātmani nabho nabhasīva dhīrāḥ
paśyanti yatra yuvayoḥ sura-liṅginoḥ kiṁ
vyutpāditaṁ hy udara-bhedi bhayaṁ yato ’sya

na — não; hi — porque; antaram — distinção; bhagavati — na Suprema Personalidade de Deus; iha — aqui; samasta-kukṣau — tudo está dentro do abdômen; ātmānam — a entidade viva; ātmani — na Superalma; nabhaḥ — a pequena quantidade de ar; nabhasi — dentro da totalidade do ar; iva — assim como; dhīrāḥ — os eruditos; paśyanti — veem; yatra — em quem; yuvayoḥ — de vós dois; sura-liṅginoḥ — vestidos como habitantes de Vaikuṇṭha; kim — como; vyutpāditam — despertado, desenvolvido; hi — certamente; udara-bhedi — distinção entre o corpo e a alma; bhayam — temor; yataḥ — de onde; asya — do Senhor Supremo.

No mundo Vaikuṇṭha, há total harmonia entre os residentes e a Suprema Personalidade de Deus, assim como, dentro do espaço, há total harmonia entre o céu grande e o pequeno. Por que, então, há uma semente de medo neste campo de harmonia? Essas duas pessoas estão vestidas como habitantes de Vaikuṇṭha, mas de onde poderia ter surgido sua desarmonia?

SIGNIFICADO—Assim como há diferentes departamentos em cada estado neste mundo material – o departamento cível e o departamento criminal –, da mesma forma, na criação de Deus, há dois departamentos de existência. Assim como no mundo material observamos que o departamento criminal é muito menor que o departamento cível, da mesma forma, este mundo material, que é considerado o departamento criminal, é uma quarta parte de toda a criação do Senhor. Todas as entidades vivas que são habitantes dos universos materiais são consideradas como mais ou menos criminosas, visto que não desejam obedecer à ordem do Senhor, ou são contra as atividades harmoniosas da vontade de Deus. O princípio da criação é que o Senhor Supremo, a Personalidade de Deus, sendo alegre por natureza, converte-Se em muitos a fim de aumentar Seu júbilo transcendental. As entidades vivas como nós, sendo partes integrantes do Senhor Supremo, destinamo-nos a satisfazer os sentidos do Senhor. Assim, logo que há uma discrepância nesta harmonia, a entidade viva é enredada por māyā, ou ilusão.

A energia externa do Senhor chama-se mundo material, e o reino da energia interna do Senhor chama-se Vaikuṇṭha, ou o reino de Deus. No mundo Vaikuṇṭha, não há desarmonia entre o Senhor e os habitantes. Portanto, a criação de Deus no mundo Vaikuṇṭha é perfeita. Não há motivo para temor. Todo o reino de Deus é uma unidade tão completamente harmoniosa que não há possibilidade de inimizade. Tudo lá é absoluto. Assim como há muitos sistemas fisiológicos dentro do corpo que não obstante trabalham sob uma só ordem para a satisfação do estômago, e assim como numa máquina há centenas e milhares de peças que não obstante funcionam harmoniosamente para satisfazer o objetivo da máquina – nos planetas Vaikuṇṭha o Senhor é perfeito, e os habitantes também se ocupam perfeitamente a serviço do Senhor.

Os filósofos māyāvādīs, os impersonalistas, interpretam este verso do Śrīmad-Bhāgavatam como significando que o pequeno céu e o grande céu são uma coisa só, mas essa ideia não é aceitável. O exemplo do pequeno e do grande céu também é aplicável dentro do corpo de uma pessoa. O grande céu é o próprio corpo, e os intestinos e outras partes do corpo ocupam o pequeno céu. Cada parte do corpo tem individualidade, muito embora ocupe uma pequena parte da totalidade do corpo. Analogamente, toda a criação é o corpo do Senhor Supremo, e nós, as criaturas, ou qualquer coisa que seja criada, não passamos de uma pequena parte daquele corpo. As partes do corpo nunca são iguais ao todo. Isso não é possível em tempo algum. Na Bhagavad-gītā, afirma-se que as entidades vivas, as quais são partes integrantes do Senhor Supremo, são eternamente partes integrantes. Segundo os filósofos māyāvādīs, a entidade viva em ilusão considera-se parte integrante, embora, na verdade, seja igual ao todo supremo. Essa teoria não é válida. A unidade entre o todo e a parte está na qualidade de ambos. A unidade qualitativa da pequena e da grande porção do céu não implica em que o pequeno céu se torne o grande céu.

Não há motivo para a política de divisão e domínio nos planetas Vaikuṇṭha; não há medo, por causa da coincidência de interesses do Senhor e dos residentes. Māyā significa desarmonia entre as entidades vivas e o Senhor Supremo, e Vaikuṇṭha significa harmonia entre eles. Na verdade, todas as entidades vivas recebem provisões do Senhor e são mantidas por Ele, porque Ele é a entidade viva suprema. Contudo, criaturas tolas, embora na verdade estejam sob o controle da entidade viva suprema, desafiam Sua existência, e tal estado chama-se māyā. Às vezes, elas negam que haja um ser como Deus. Elas dizem: “Tudo é vazio”. Outras vezes O negam de uma maneira diferente: “Pode ser que exista um Deus, mas Ele não tem forma.” Essas duas concepções surgem igualmente da condição rebelde da entidade viva. Enquanto esta condição rebelde prevalecer, o mundo material continuará em desarmonia.

Harmonia ou desarmonia são entendidas em função da lei e da ordem de um lugar em particular. A religião é a lei e a ordem do Senhor Supremo. Na Śrīmad Bhagavad-gītā, encontramos que religião significa serviço devocional, ou consciência de Kṛṣṇa. Kṛṣṇa diz: “Abandona todos os demais princípios religiosos e simplesmente torna-te uma alma rendida a Mim.” Isso é religião. Quando alguém é plenamente consciente de que Kṛṣṇa é o desfrutador supremo e Senhor Supremo e age de acordo, então se manifesta a verdadeira religião. Nada que seja contrário a este princípio pode ser considerado religião. Portanto, Kṛṣṇa diz: “Abandona todos os demais princípios religiosos.” No mundo espiritual, este princípio religioso da consciência de Kṛṣṇa é mantido harmoniosamente, daí esse mundo chamar-se Vaikuṇṭha. Se os mesmos princípios puderem ser adotados aqui, integral ou parcialmente, isso também será Vaikuṇṭha. O mesmo se aplica a qualquer sociedade, tal como a Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna: se os membros da Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna, depositando fé em Kṛṣṇa como o centro, viverem harmoniosamente, segundo a ordem e os princípios da Bhagavad-gītā, estarão vivendo em Vaikuṇṭha, e não neste mundo material.

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