VERSO 39
kṛtsna-prasāda-sumukhaṁ spṛhaṇīya-dhāma
snehāvaloka-kalayā hṛdi saṁspṛśantam
śyāme pṛthāv urasi śobhitayā śriyā svaś-
cūḍāmaṇiṁ subhagayantam ivātma-dhiṣṇyam
kṛtsna-prasāda — abençoando a todos; su-mukham — rosto auspicioso; spṛhaṇīya — desejável; dhāma — refúgio; sneha — afeição; avaloka — olhando para; kalayā — pela expansão; hṛdi — dentro do coração; saṁspṛśantam — tocando; śyāme — ao Senhor com cor enegrecida; pṛthau — largo; urasi — peito; śobhitayā — sendo decorado; śriyā — deusa da fortuna; svaḥ — planetas celestiais; cūḍā-maṇim — pináculo; subhagayantam — espalhando boa fortuna; iva — como; ātma — a Suprema Personalidade de Deus; dhiṣṇyam — morada.
O Senhor é o reservatório de todo o prazer. Sua presença auspiciosa destina-se à bênção de todos, e Seu sorriso e olhar afetuosos tocam o âmago do coração. A bela cor do corpo do Senhor é enegrecida, e Seu peito largo é o lugar de repouso da deusa da fortuna, que glorifica todo o mundo espiritual, o pináculo de todos os planetas celestes. Assim, parecia que o Senhor estava pessoalmente espalhando a beleza e boa fortuna do mundo espiritual.
SIGNIFICADO—Ao aparecer, o Senhor ficou satisfeito com todos. Por isso, aqui se afirma: kṛtsna-prasāda-sumukham. O Senhor sabia que mesmo os porteiros ofensores eram Seus devotos puros, embora acidentalmente tivessem cometido uma ofensa aos pés de outros devotos. No serviço devocional, cometer uma ofensa contra um devoto é muito perigoso. É por isso que o Senhor Caitanya disse que uma ofensa a um devoto é como deixar um elefante louco solto: entrando num jardim, ele pisa em todas as plantas. Analogamente, uma ofensa aos pés de um devoto puro mutila nossa posição no serviço devocional. De Sua parte, o Senhor não Se sentia ofendido, pois Ele não aceita nenhuma ofensa criada por Seu devoto sincero. Contudo, o devoto deve ser muito cauteloso para não cometer ofensas aos pés de outro devoto. Sendo igual para com todos, e sendo especialmente inclinado para com Seu devoto, o Senhor olhou tão misericordiosamente para os ofensores como para os ofendidos. Esta atitude do Senhor deve-se a Sua ilimitada quantidade de qualidades transcendentais. Sua atitude alegre para com os devotos era tão agradável e tocante ao coração que Seu próprio sorriso lhes era atrativo. Aquela atração era gloriosa, não somente para todos os planetas superiores deste mundo material, mas também para o mundo espiritual, que fica muito além desses planetas materiais. Em geral, um ser humano não faz ideia do que seja a posição constitucional nos planetas materiais superiores, que são muito mais bem constituídos no que diz respeito a todas as suas formas e espécies. No entanto, o planeta Vaikuṇṭha é tão agradável e tão celestial que é comparado à joia central, ou ao fecho, num colar de joias.
Neste verso, as palavras spṛhaṇīya-dhāma indicam que o Senhor é o reservatório de todo o prazer porque Ele tem todas as qualidades transcendentais. Embora somente algumas dessas sejam cobiçadas pelas pessoas que anseiam pelo prazer de fundir-se no Brahman impessoal, há outros aspirantes que querem associar-se pessoalmente com o Senhor, como Seus servos. O Senhor é tão bondoso que dá abrigo a todos – tanto impersonalistas quanto devotos. Ele dá abrigo aos impersonalistas sob Sua refulgência Brahman impessoal, ao passo que dá abrigo aos devotos em Suas moradas pessoais conhecidas como os Vaikuṇṭhalokas. Ele Se sente especialmente inclinado a Seu devoto; Ele toca o âmago do coração do devoto simplesmente sorrindo e olhando para ele. O Senhor sempre é servido em Vaikuṇṭhaloka por muitas centenas e milhares de deusas da fortuna, como se afirma na Brahma-saṁhitā (lakṣmī-sahasra-śata-sambhrama-sevyamānam). Neste mundo material, uma pessoa é glorificada se recebe mesmo uma gota do favor da deusa da fortuna; assim, mal podemos imaginar quão glorificado é o reino de Deus no mundo espiritual, onde muitas centenas de milhares de deusas da fortuna ocupam-se em serviço direto ao Senhor. Outro aspecto deste verso é que ele declara abertamente onde estão situados os Vaikuṇṭhalokas. Eles se encontram no topo de todos os planetas celestiais, os quais estão acima do globo solar, no limite superior do universo, e são conhecidos como Satyaloka, ou Brahmaloka. O mundo espiritual está situado além do universo. Portanto, nesta passagem se declara que o mundo espiritual, Vaikuṇṭhaloka, é o topo de todos os sistemas planetários.