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VERSO 48

nātyantikaṁ vigaṇayanty api te prasādaṁ
kimv anyad arpita-bhayaṁ bhruva unnayais te
ye ’ṅga tvad-aṅghri-śaraṇā bhavataḥ kathāyāḥ
kīrtanya-tīrtha-yaśasaḥ kuśalā rasa-jñāḥ

na — não; ātyantikam — liberação; vigaṇayanti — importam-se com; api — mesmo; te — aquelas; prasādam — bênçãos; kim u — isto para não falar; anyat — outras felicidades materiais; arpita — dadas; bhayam — temor; bhruvaḥ — das sobrancelhas; unnayaiḥ — pelo erguer; te — Vossas; ye — esses devotos; aṅga — ó Suprema Personalidade de Deus; tvat — Vossos; aṅghri — pés de lótus; śaraṇāḥ — que têm se refugiado; bhavataḥ — Vossas; kathāyāḥ — narrações; kīrtanya — dignos de se cantar; tīrtha — puras; yaśasaḥ — glórias; kuśalāḥ — muito hábeis; rasa-jñāḥ — conhecedores das doçuras ou humores.

As pessoas que são muito hábeis e muito inteligentes em compreender as coisas como elas são dedicam-se a ouvir as narrações das auspiciosas atividades e passatempos do Senhor, que são dignos de se cantar e dignos de se ouvir. Tais pessoas não se importam nem mesmo com a mais elevada bênção material, ou seja, a liberação, isto para não falar de outras bênçãos menos importantes, como a felicidade material do reino celeste.

SIGNIFICADO—A bem-aventurança transcendental desfrutada pelos devotos do Senhor é completamente diferente da felicidade material desfrutada pelas pessoas menos inteligentes. As pessoas menos inteligentes no mundo material agem em função dos quatro princípios de bênção chamados dharma, artha, kāma e mokṣa. Geralmente, elas preferem adotar a vida religiosa para conseguir alguma bênção material, cujo propósito é satisfazer os sentidos. Quando, por meio deste processo, elas se confundem ou se frustram ao satisfazerem a quantidade máxima de gozo dos sentidos, procuram tornar-se unas com o Supremo, o que é, segundo sua concepção, mukti, ou liberação. Há cinco tipos de liberação, a menos importante das quais se chama sāyujya, tornar-se uno com o Supremo. Os devotos não se importam com tal liberação porque são realmente inteligentes. Tampouco se sentem inclinados a aceitar qualquer um dos outros quatro tipos de liberação, a saber, viver no mesmo planeta que o Senhor, viver com Ele lado a lado como um associado, ter a mesma opulência que Ele e alcançar os mesmos aspectos corpóreos que Ele. Eles estão interessados somente em glorificar o Senhor Supremo e Suas atividades auspiciosas. O serviço devocional puro é śravaṇaṁ kīrtanam. Os devotos puros, que sentem prazer transcendental em ouvir e cantar as glórias do Senhor, não se importam com nenhum tipo de liberação; mesmo que lhes ofereçam os cinco tipos de liberação, eles se recusam a aceitá-las, como se declara no terceiro canto do Bhāgavatam. As pessoas materialistas aspiram ao gozo dos sentidos de prazeres celestiais no reino celestial, mas os devotos rejeitam de vez esses prazeres materiais. Os devotos não se importam nem mesmo com o posto de Indra. O devoto sabe que qualquer posição material prazerosa está sujeita a ser aniquilada em algum momento. Mesmo que alguém alcance o posto de Indra, Candra ou qualquer outro semideus, terá que ser dissolvido numa determinada fase. O devoto nunca se interessa por tal prazer temporário. Pelas escrituras védicas, entende-se que às vezes mesmo Brahmā e Indra caem, mas um devoto na morada transcendental do Senhor jamais cai. Essa fase transcendental de vida, em que se sente prazer transcendental em ouvir os passatempos do Senhor, também é recomendada pelo Senhor Caitanya. Durante a conversa do Senhor Caitanya com Rāmānanda Rāya, este apresentou àquele uma variedade de sugestões a respeito da realização espiritual, mas o Senhor Caitanya rejeitou todas, exceto uma, que devemos ouvir as glórias do Senhor na companhia de devotos puros. Isso é aceitável para todos, especialmente nesta era. Devemos nos dedicar a ouvir os devotos puros falarem sobre as atividades do Senhor. Essa é considerada a bênção suprema para a humanidade.

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