VERSO 26
śrī-bhagavān uvāca
etau suretara-gatiṁ pratipadya sadyaḥ
saṁrambha-sambhṛta-samādhy-anubaddha-yogau
bhūyaḥ sakāśam upayāsyata āśu yo vaḥ
śāpo mayaiva nimitas tad aveta viprāḥ
śrī-bhagavān uvāca — a Suprema Personalidade de Deus respondeu; etau — esses dois porteiros; sura-itara — demoníaca; gatim — o ventre; pratipadya — obtendo; sadyaḥ — rapidamente; saṁrambha — pela ira; sambhṛta — intensificada; samādhi — concentração mental; anubaddha — firmemente; yogau — unidos a Mim; bhūyaḥ — novamente; sakāśam — à Minha presença; upayāsyataḥ — regressarão; āśu — dentro em breve; yaḥ — que; vaḥ — vossa; śāpaḥ — maldição; mayā — por Mim; eva — sozinho; nimitaḥ — ordenada; tat — esta; aveta — sabei; viprāḥ — ó brāhmaṇas.
O Senhor respondeu: Ó brāhmaṇas, sabei que a punição que lhes infligistes foi ordenada originalmente por Mim, e, em virtude disso, eles cairão para nascer em uma família demoníaca. Mas eles estarão firmemente unidos a Mim em pensamento, através da concentração mental intensificada pela ira, e regressarão à Minha presença dentro em breve.
SIGNIFICADO—O Senhor afirmou que a punição imposta pelos sábios aos porteiros Jaya e Vijaya foi concebida por Ele próprio. Sem a sanção do Senhor, nada pode acontecer. Deve-se compreender que houve um plano na maldição aos devotos do Senhor em Vaikuṇṭha, e muitas autoridades perfeitas explicam este plano do Senhor. Às vezes, o Senhor deseja lutar. O espírito de luta também existe no Senhor Supremo, pois, de outro modo, como a luta poderia se manifestar? Como o Senhor é a fonte de tudo, a ira e a luta também são inerentes à Sua personalidade. Quando Ele deseja lutar com alguém, Ele precisa achar um inimigo, mas, no mundo Vaikuṇṭha, não há inimigos, pois todos estão plenamente ocupados a serviço dEle. Portanto, às vezes Ele vem ao mundo material como uma encarnação a fim de manifestar Seu espírito de luta.
Na Bhagavad-gītā (4.8), afirma-se também que o Senhor aparece simplesmente para proteger os devotos e aniquilar os não-devotos. Os não-devotos encontram-se no mundo material, e não no mundo espiritual; portanto, quando o Senhor deseja lutar, Ele tem que vir a este mundo. Mas quem lutará contra o Senhor Supremo? Ninguém é capaz de lutar contra Ele! Portanto, porque o Senhor sempre executa Seus passatempos no mundo material acompanhado por Seus associados, e não por outros, Ele tem que lutar com algum devoto que represente o papel de inimigo. Na Bhagavad-gītā, o Senhor diz a Arjuna: “Meu querido Arjuna, embora tanto tu quanto Eu tenhamos aparecido muitas e muitas vezes neste mundo material, tu não te lembras disso, mas Eu sim.” Deste modo, Jaya e Vijaya foram escolhidos pelo Senhor para lutarem com Ele no mundo material, sendo que este foi o motivo pelo qual os sábios foram vê-lO e acidentalmente os porteiros foram amaldiçoados. Era desejo do Senhor enviá-los ao mundo material, não perpetuamente, mas por algum tempo. Portanto, assim como num palco de teatro alguém assume o papel de inimigo do personagem representado pelo proprietário do teatro, embora a peça permaneça por uma curta temporada e não haja inimizade permanente entre o servo e o proprietário, da mesma forma, os sura-janas (devotos) foram amaldiçoados pelos sábios a nascerem em asura-janas, ou famílias ateístas. É surpreendente que um devoto deva nascer em família ateísta, mas isso não passa de mero espetáculo. Após terminarem sua luta simulada, tanto o devoto quanto o Senhor associam-se novamente nos planetas espirituais. É isto o que se explica bem explicitamente aqui. A conclusão é que ninguém cai do mundo espiritual, ou seja, do planeta Vaikuṇṭha, pois se trata da morada eterna. Às vezes, porém, conforme o Senhor deseja, os devotos vêm a este mundo material como pregadores ou como ateístas. Devemos entender que, por trás de cada caso, há um plano do Senhor. Por exemplo, não obstante o senhor Buddha fosse uma encarnação, ele pregou o ateísmo: “Deus não existe”. Mas, na verdade, havia um plano por trás disso, como se explica no Bhāgavatam.