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Capítulo Dezesseis

Os Dois Porteiros de Vaikuṇṭha, Jaya e Vijaya, São Amaldiçoados pelos Sábios

VERSO 1: O senhor Brahmā disse: Então, após congratular-Se com os sábios pelas belas palavras deles, a Suprema Personalidade de Deus, cuja morada encontra-se no reino de Deus, falou o seguinte.

VERSO 2: A Personalidade de Deus disse: Esses Meus assistentes, Jaya e Vijaya, cometeram uma grande ofensa contra vós por Me ignorarem.

VERSO 3: Ó grandes sábios, Eu aprovo a punição que vós, que sois devotados a Mim, lhes aplicastes.

VERSO 4: Para Mim, o brāhmaṇa é a personalidade mais elevada e mais amada. O desrespeito mostrado por Meus assistentes foi, em verdade, demonstrado por Mim, visto que eles são Meus servidores. Tomo isso como uma ofensa da Minha parte; portanto, peço Vosso perdão pelo ocorrido.

VERSO 5: Um ato errado cometido por um servo leva as pessoas em geral a culpar seu amo, assim como uma só mancha de lepra branca em qualquer parte do corpo polui toda a pele.

VERSO 6: Em todo o mundo, qualquer pessoa, inclusive o baixo caṇḍāla, que vive de cozinhar e comer carne de cachorro, purifica-se de imediato caso se banhe ouvindo a glorificação de Meu nome, fama etc. Agora que Me compreendestes sem dúvida, não hesitarei em amputar Meu próprio braço se sua conduta mostrar-se hostil a vós.

VERSO 7: O Senhor continuou: Porque sou um servo de Meus devotos, Meus pés de lótus tornaram-se tão sagrados que imediatamente eliminam todos os pecados, e adquiri uma disposição tal que a deusa da fortuna não Me deixa, apesar de Eu não ser apegado a ela, e não obstante os outros louvarem sua beleza e observarem votos sagrados para conseguir dela mesmo um pequeno favor.

VERSO 8: Eu não desfruto das oblações oferecidas pelos sacrificadores no fogo de sacrifício, que é uma de Minhas próprias bocas, com a mesma satisfação com que experimento as delícias inundadas em ghī que são oferecidas às bocas dos brāhmaṇas que dedicam a Mim os resultados de suas atividades e que sempre ficam satisfeitos com Minha prasāda.

VERSO 9: Eu sou o senhor de Minha desimpedida energia interna, e a água do Ganges é o resto deixado depois que Meus pés são lavados. Essa água santifica os três mundos, juntamente com o senhor Śiva, que a carrega sobre sua cabeça. Se Eu posso levar a poeira dos pés do vaiṣṇava sobre Minha cabeça, quem se recusará a fazer o mesmo?

VERSO 10: Os brāhmaṇas, as vacas e as criaturas indefesas são Meu próprio corpo. Aqueles cuja faculdade de julgamento tem sido debilitada por seus próprios pecados veem-nos como diferentes de Mim. Eles são como serpentes furiosas, e são iradamente dilacerados pelos bicos dos abutres conhecidos como mensageiros de Yamarāja, o superintendente das pessoas pecaminosas.

VERSO 11: Por outro lado, cativam o Meu coração aqueles que são alegres de coração e que, com os rostos de lótus iluminados por sorrisos nectáreos, respeitam os brāhmaṇas, mesmo que os brāhmaṇas profiram palavras ásperas. Eles consideram os brāhmaṇas como Meu próprio Eu e os apaziguam louvando-os com palavras afetuosas, da mesma maneira que um filho acalmaria um pai irado ou como Eu estou vos apaziguando.

VERSO 12: Estes Meus servos vos maltrataram, desconhecendo a mentalidade de seu amo. Portanto, considerarei um favor para coMigo se ordenardes que, embora colhendo o fruto de sua transgressão, eles regressem logo à Minha presença e que o prazo de seu exílio de Minha morada expire em breve.

VERSO 13: Brahmā continuou: Apesar de os sábios terem sido picados pela serpente da ira, suas almas não se saciaram com a audição das afetuosas e iluminantes palavras do Senhor, as quais eram como uma série de hinos védicos.

VERSO 14: O excelente discurso do Senhor era difícil de compreender por causa de seu importante conteúdo e de seu profundíssimo significado. Os sábios ouviram-no com ouvidos bem atentos e também ponderaram sobre ele. Contudo, apesar de terem-no ouvido, não puderam compreender o que Ele pretendia fazer.

VERSO 15: Não obstante, os quatro brāhmaṇas sábios deleitaram-se extremamente por contemplá-lO, e experimentaram um arrepio em todo o corpo. Então, falaram da seguinte maneira ao Senhor, que lhes tinha revelado as múltiplas glórias da Personalidade Suprema através de Sua potência interna, yogamāyā.

VERSO 16: Os sábios disseram: Ó Suprema Personalidade de Deus, somos incapazes de saber o que pretendeis que façamos, pois, apesar de serdes o governante supremo de todos, falais em nosso favor como se tivéssemos feito algo de bom para Vós.

VERSO 17: Ó Senhor, sois o diretor supremo da cultura bramânica. O fato de considerardes que os brāhmaṇas estão na posição mais elevada é exemplo Vosso para ensinar aos outros. Na verdade, sois a suprema Deidade adorável, não somente para os deuses, mas também para os brāhmaṇas.

VERSO 18: Vós sois a fonte da ocupação eterna de todas as entidades vivas e, mediante Vossas múltiplas manifestações de Personalidades de Deus, tendes sempre protegido a religião. Sois o objetivo supremo dos princípios religiosos, e, em nossa opinião, sois inesgotável e imutável eternamente.

VERSO 19: Pela misericórdia do Senhor, místicos e transcendentalistas transpõem a ignorância cessando todos os desejos materiais. Não é possível, portanto, que o Senhor Supremo possa ser favorecido por outros.

VERSO 20: A deusa da fortuna, Lakṣmī, a poeira de cujos pés os outros usam sobre a cabeça, espera por Vós, como foi apontado, pois ela está ansiosa por conseguir um lugar na morada do rei das abelhas, que paira sobre a guirlanda fresca de folhas de tulasī oferecida a Vossos pés de lótus por algum venturoso devoto.

VERSO 21: Ó Senhor, sois excessivamente apegado às atividades de Vossos devotos puros, mas nunca Vos apegais às deusas da fortuna que se dedicam constantemente a Vosso transcendental serviço amoroso. Como, então, podeis ser purificado pela poeira do caminho percorrido pelos brāhmaṇas, e como podeis ser glorificado ou feito afortunado pelas marcas de Śrīvatsa em Vosso peito?

VERSO 22: Ó Senhor, sois a personificação de toda religião. Portanto, Vós Vos manifestais em três milênios e, dessa maneira, protegeis este universo, o qual consiste em seres animados e inanimados. Por Vossa graça, que é de bondade pura e é a outorgadora de todas as bênçãos, por favor, afastai os elementos de rajas e tamas para o benefício dos semideuses e dos duas vezes nascidos.

VERSO 23: Ó Senhor, sois o protetor dos mais elevados entre os duas vezes nascidos. Se não os protegêsseis, oferecendo-lhes adoração e palavras suaves, então certamente o auspicioso caminho da adoração seria rejeitado pelas pessoas em geral, que agem sob a força e autoridade de Vossa Onipotência.

VERSO 24: Querido Senhor, nunca desejais que o caminho auspicioso seja destruído, pois sois o reservatório de toda a bondade. Apenas para beneficiar as pessoas em geral, Vós destruís o mal através de Vossa poderosa potência. Sois o proprietário das três criações e o mantenedor de todo o universo. Portanto, Vossa potência não é reduzida por Vosso comportamento submisso. Pelo contrário, manifestais Vossos passatempos transcendentais através da submissão.

VERSO 25: Ó Senhor, qualquer punição que desejais conceder a essas duas pessoas inocentes, ou também a nós, aceitaremos sem duplicidade. Compreendemos que amaldiçoamos duas pessoas impecáveis.

VERSO 26: O Senhor respondeu: Ó brāhmaṇas, sabei que a punição que lhes infligistes foi ordenada originalmente por Mim, e, em virtude disso, eles cairão para nascer em uma família demoníaca. Mas eles estarão firmemente unidos a Mim em pensamento, através da concentração mental intensificada pela ira, e regressarão à Minha presença dentro em breve.

VERSO 27: O senhor Brahmā disse: Após verem o Senhor de Vaikuṇṭha, a Suprema Personalidade de Deus, no autoiluminado planeta Vaikuṇṭha, os sábios deixaram aquela morada transcendental.

VERSO 28: Os sábios circum-ambularam o Senhor Supremo, ofereceram-Lhe suas reverências e regressaram, extremamente deleitados por ficarem conhecendo as opulências divinas do vaiṣṇava.

VERSO 29: Então, o Senhor disse a Seus assistentes, Jaya e Vijaya: Ide deste lugar, mas não temais. Todas as glórias a vós! Embora Eu seja capaz de anular a maldição dos brāhmaṇas, Eu não o faria. Pelo contrário, ela tem Minha aprovação.

VERSO 30: Esta partida de Vaikuṇṭha foi predita por Lakṣmī, a deusa da fortuna. Ela ficou muito irada porque, quando deixou Minha morada e então regressou, vós a parastes no portão enquanto Eu dormia.

VERSO 31: O Senhor garantiu aos dois habitantes de Vaikuṇṭha, Jaya e Vijaya: Mediante a prática do sistema de yoga místico, com grande ira, Eu vos limpareis do pecado de terdes desobedecido aos brāhmaṇas, e, dentro de pouco tempo, regressareis a Mim.

VERSO 32: Após falar desse modo à porta de Vaikuṇṭha, o Senhor regressou à Sua morada, onde há muitos aeroplanos celestiais e riqueza e esplendor que a tudo superam.

VERSO 33: Porém, aqueles dois porteiros, os melhores dos semideuses, tendo sua beleza e brilho diminuídos pela maldição dos brāhmaṇas, ficaram taciturnos e caíram de Vaikuṇṭha, a morada do Senhor Supremo.

VERSO 34: Então, à medida que Jaya e Vijaya caíam da morada do Senhor, um grande rugido de desapontamento surgiu de todos os semideuses, que estavam sentados em seus esplêndidos aeroplanos.

VERSO 35: O senhor Brahmā continuou: Aqueles dois porteiros principais da Personalidade de Deus entraram agora no ventre de Diti, tendo sido cobertos pelo poderoso sêmen de Kaśyapa Muni.

VERSO 36: É o poder desses dois gêmeos asuras [demônios] que vos está perturbando, pois está reduzindo vosso poder. Contudo, não está em meu poder um remédio para isso, pois é o próprio Senhor que deseja fazer isso assim.

VERSO 37: Meus queridos filhos, o Senhor é o controlador dos três modos da natureza e é responsável pela criação, preservação e dissolução do universo. Seu maravilhoso poder criativo, yoga-māyā, não pode ser facilmente compreendido, nem mesmo pelos mestres do yoga. Essa pessoa mais antiga, a Personalidade de Deus, virá pessoalmente em nosso socorro. A que propósito poderemos servir em favor dEle, deliberando sobre este assunto?

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