VERSO 5
guṇair vicitrāḥ sṛjatīṁ
sa-rūpāḥ prakṛtiṁ prajāḥ
vilokya mumuhe sadyaḥ
sa iha jñāna-gūhayā
guṇaiḥ — pelos modos tríplices; vicitrāḥ — variados; sṛjatīm — criando; sa-rūpāḥ — com formas; prakṛtim — natureza material; prajāḥ — entidades vivas; vilokya — tendo visto; mumuhe — foi iludida; sadyaḥ — imediatamente; saḥ — a entidade viva; iha — neste mundo; jñāna-gūhayā — pelo aspecto dissimulador de conhecimento.
Dividida em variedades por seus modos tríplices, a natureza material cria as formas das entidades vivas, e as entidades vivas, vendo isso, iludem-se pelo aspecto dissimulador de conhecimento da energia ilusória.
SIGNIFICADO—A energia material tem o poder de encobrir o conhecimento, mas essa cobertura não pode ser aplicada à Suprema Personalidade de Deus. Ela é aplicável somente aos prajāḥ, ou aqueles que nascem com corpos materiais, as almas condicionadas. As diferentes espécies de entidades vivas variam de acordo com os modos da natureza material, como se explica na Bhagavad-gītā e em outros textos védicos. Na Bhagavad-gītā (7.12), explica-se muito bem que, embora os modos de bondade, paixão e ignorância nasçam da Suprema Personalidade de Deus, Ele não está sujeito a eles. Em outras palavras, a energia que emana da Suprema Personalidade de Deus não pode atuar sobre Ele; ela atua sobre as almas condicionadas, que estão cobertas pela energia material. O Senhor é o pai de todas as entidades vivas porque fecunda as almas condicionadas na energia material. Portanto, as almas condicionadas obtêm corpos criados pela energia material, ao passo que o pai das entidades vivas está afastado dos três modos.
No verso anterior, declarou-se que a energia material foi aceita pela Suprema Personalidade de Deus para que Ele manifestasse passatempos para as entidades vivas que quiseram desfrutar e se assenhorear da energia material. Este mundo foi criado através da energia material do Senhor para o dito gozo de tais entidades vivas. O motivo pelo qual este mundo material foi criado para o sofrimento das almas condicionadas é uma pergunta muito complexa. Há uma indicação no verso anterior, na palavra līlayā, que significa “para os passatempos do Senhor”. O Senhor quer corrigir a propensão ao desfrute das almas condicionadas. Afirma-se na Bhagavad-gītā que ninguém, além da Suprema Personalidade de Deus, é o desfrutador. Esta energia material é criada, portanto, para qualquer pessoa que tenha a pretensão de desfrutar. Como exemplo, pode-se citar que não há necessidade de o governo criar um departamento de polícia separado, mas, como é um fato que alguns dos cidadãos não aceitarão as leis do estado, é necessário um departamento para lidar com os criminosos. Não há necessidade, mas, ao mesmo tempo, há necessidade. Analogamente, não havia necessidade de criar este mundo material para o sofrimento das almas condicionadas, mas, ao mesmo tempo, há determinadas entidades vivas, conhecidas como nitya-baddha, que são eternamente condicionadas. Dizemos que elas têm estado condicionadas desde tempos imemoriais porque ninguém pode determinar quando a entidade viva, a parte integrante do Senhor Supremo, rebelou-se contra a supremacia do Senhor.
É um fato que há duas classes de homens – aqueles que são obedientes às leis do Senhor Supremo e aqueles que são ateístas ou agnósticos, que não aceitam a existência de Deus e que querem criar suas próprias leis. Eles querem estabelecer que todos podem criar suas próprias leis ou seu próprio caminho religioso. Sem remontar ao começo da existência dessas duas classes, podemos ter certeza de que algumas das entidades vivas revoltaram-se contra as leis do Senhor. Essas entidades são chamadas de almas condicionadas, pois estão condicionadas pelos três modos da natureza material. Portanto, as palavras guṇair vicitrāḥ são usadas aqui.
Neste mundo material, existem 8.400.000 espécies de vida. Como almas espirituais, todas elas são transcendentais a este mundo material. Porque, então, elas se manifestam em diferentes fases de vida? A resposta é dada aqui: elas estão sob o encanto dos três modos da natureza material. Como foram criadas pela energia material, seus corpos são feitos de elementos materiais. Coberta pelo corpo material, a identidade espiritual fica perdida, em razão do que se usa aqui a palavra mumuhe, indicando que elas se esqueceram de sua própria identidade espiritual. Esse esquecimento da identidade espiritual está presente nas jīvas, ou almas, que são condicionadas, estando sujeitas a serem encobertas pela energia da natureza material. Jñāna-gūhayā é outra palavra usada neste contexto. Gūhā significa “cobertura”. Como o conhecimento das diminutas almas condicionadas está encoberto, elas se manifestam em muitas espécies de vida. Afirma-se no Śrīmad-Bhāgavatam, sétimo capítulo, primeiro canto: “As entidades vivas estão iludidas pela energia material.” Também se afirma nos Vedas que as entidades vivas eternas estão encobertas por diferentes modos e que elas são chamadas de entidades vivas tricolores – vermelhas, brancas e azuis. O vermelho é a representação do modo da paixão, o branco é a representação do modo da bondade, e o azul é a representação do modo da ignorância. Esses modos da natureza material pertencem à energia material, e, devido a isso, as entidades vivas, sob esses diferentes modos da natureza material, têm diferentes espécies de corpos materiais. Por estarem esquecidas de suas identidades espirituais, pensam que os corpos materiais são elas mesmas. Para a alma condicionada, “eu” quer dizer o corpo material. Isso se chama moha, ou desorientação.
Afirma-se repetidamente na Kaṭha Upaniṣad que a Suprema Personalidade de Deus jamais é afetada pela influência da natureza material. Ao contrário, são as almas condicionadas, ou as diminutas partes integrantes infinitesimais do Supremo, que são afetadas pela influência da natureza material e que aparecem em diferentes corpos sob os modos materiais.