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VERSO 22

yac-chauca-niḥsṛta-sarit-pravarodakena
tīrthena mūrdhny adhikṛtena śivaḥ śivo ’bhūt
dhyātur manaḥ-śamala-śaila-nisṛṣṭa-vajraṁ
dhyāyec ciraṁ bhagavataś caraṇāravindam

yat — os pés de lótus do Senhor; śauca — lavando; niḥsṛta — surgida; sarit-pravara — do Ganges; udakena — pela água; tīrthena — sagrada; mūrdhni — sobre sua cabeça; adhikṛtena — sustentada; śivaḥ — senhor Śiva; śivaḥ — auspicioso; abhūt — tornou-se; dhyātuḥ — do meditador; manaḥ — na mente; śamala-śaila — a montanha de pecado; nisṛṣṭa — fulminado; vajram — raio; dhyāyet — deve-se meditar; ciram — por longo tempo; bhagavataḥ — do Senhor; caraṇa-aravindam — nos pés de lótus.

O abençoado senhor Śiva se torna ainda mais abençoado por carregar sobre sua cabeça as águas sagradas do Ganges, cuja nascente encontra-se na água que lavou os pés de lótus do Senhor. Os pés do Senhor atuam como raios lançados para despedaçar a montanha de pecado acumulada na mente do devoto que medita. Portanto, deve-se meditar nos pés de lótus do Senhor por um longo tempo.

SIGNIFICADO—Neste verso, menciona-se especificamente a posição do senhor Śiva. O impersonalista sugere que a Verdade Absoluta não tem forma e que, por isso, pode-se igualmente imaginar a forma de Viṣṇu, ou do senhor Śiva, ou da deusa Durgā, ou do filho deles, Gaṇeśa. Mas, na verdade, a Suprema Personalidade de Deus é o senhor supremo de todos. No Caitanya-caritāmṛta (Ādi 5.142), declara-se que ekale īśvara kṛṣṇa, ara saba bhṛtya: o Senhor Supremo é Kṛṣṇa, e todos mais, incluindo o senhor Śiva e o senhor Brahmā – para não mencionar outros semideuses – são servos de Kṛṣṇa. O mesmo princípio descreve-se aqui. O senhor Śiva é importante porque carrega sobre sua cabeça a água sagrada do Ganges, cuja origem está no banho dos pés do Senhor Viṣṇu. No Hari-bhakti-vilāsa, de Sanātana Gosvāmī, afirma-se que quem quer que coloque o Senhor Supremo e os semideuses, incluindo o senhor Śiva e o senhor Brahmā, no mesmo nível, torna-se imediatamente um pāṣaṇḍī, ou ateísta. Jamais devemos considerar que o Supremo Senhor Viṣṇu e os semideuses estão em pé de igualdade.

Outro ponto significativo deste verso é que a mente da alma condicionada, por estar em contato com a energia material desde tempos imemoriais, contém montes de sujeira sob a forma de desejos de assenhorear-se da natureza material. Essa sujeira é como uma montanha, mas uma montanha pode ser despedaçada ao ser atingida por um raio. A meditação nos pés de lótus do Senhor atua como um raio sobre a montanha de sujeira na mente do yogī. Se o yogī quiser fulminar a montanha de sujeira que há em sua mente, deverá concentrar-se nos pés de lótus do Senhor, e não imaginar algo vazio ou impessoal. Como a poeira tem-se acumulado como uma sólida montanha, deve-se meditar nos pés de lótus do Senhor por bastante tempo. Para quem está acostumado a pensar nos pés de lótus do Senhor constantemente, no entanto, o assunto é outro. Os devotos são tão fixos nos pés de lótus do Senhor que não pensam em nada mais. Aqueles que praticam o sistema de yoga precisam meditar nos pés de lótus do Senhor por um longo tempo após seguirem os princípios reguladores e, por esse meio, controlar os sentidos.

Menciona-se aqui especificamente que bhagavataś caraṇāravindam: tem-se de meditar nos pés de lótus do Senhor. Os māyāvādīs imaginam que se pode pensar nos pés de lótus do senhor Śiva, ou do senhor Brahmā, ou da deusa Durgā para alcançar a liberação, mas não é assim. Menciona-se especificamente o termo bhagavataḥ, que significa “da Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu”, e de ninguém mais. Outra frase significativa neste verso é śivaḥ śivo ’bhūt. Por sua posição constitucional, o senhor Śiva é sempre grandioso e auspicioso, mas, por ter aceitado sobre sua cabeça a água do Ganges, que emanou dos pés de lótus do Senhor, ele se torna ainda mais auspicioso e importante. Enfatizam-se os pés de lótus do Senhor. Se uma relação com os pés de lótus do Senhor pode aprimorar a importância inclusive do senhor Śiva, o que dizer, então, de outras entidades vivas comuns?

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