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Capítulo Vinte e Oito

Instruções de Kapila sobre a Execução do Serviço Devocional

VERSO 1: A Personalidade de Deus disse: Minha querida mãe, ó filha do rei, agora te explicarei o sistema de yoga, cujo objeto é concentrar a mente. Praticando este sistema, é possível tornar-se jubiloso e avançar progressivamente rumo ao caminho da Verdade Absoluta.

VERSO 2: Todos devem executar seus deveres prescritos da melhor maneira possível e evitar executar deveres que não lhes são atribuídos. Devem contentar-se com aquilo que obtiverem pela graça do Senhor, e devem adorar os pés de lótus de um mestre espiritual.

VERSO 3: A pessoa deva parar de executar práticas religiosas convencionais e deixar-se atrair por aquelas que levem à salvação. Deve comer muito frugalmente e deve sempre permanecer recluso para poder alcançar a perfeição máxima da vida.

VERSO 4: Deve-se praticar a não-violência e a veracidade, evitar roubar e contentar-se com a posse de apenas o que seja necessário para a manutenção. Deve-se abster-se da vida sexual, praticar austeridade, ser limpo, estudar os Vedas e adorar a forma suprema da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 5: Deve-se observar silêncio, obter firmeza praticando diversas posturas sentadas, controlar a respiração do ar vital, afastar os sentidos dos objetos dos sentidos e, deste modo, concentrar a mente no coração.

VERSO 6: O ato de fixar o ar vital e a mente em um dos seis circuitos de circulação de ar vital dentro do corpo, concentrando assim a mente nos passatempos transcendentais da Suprema Personalidade de Deus, é chamado de samādhi, ou samādhāna, da mente.

VERSO 7: Mediante esses processos, ou quaisquer outros processos autênticos, deve-se controlar a mente contaminada e desenfreada, que sempre sente atração pelo gozo material, e assim fixar-se em pensar na Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 8: Após o controle da mente e das posturas sentadas, deve-se estender um assento em lugar recluso e santificado, sentar-se nele em postura fácil, mantendo o corpo ereto, e praticar o controle da respiração.

VERSO 9: O yogī deve limpar a passagem do ar vital, respirando da seguinte maneira: primeiro ele deve inalar muito profundamente, depois manter a respiração dentro do corpo e, finalmente, exalar. Ou, invertendo o processo, o yogī pode exalar, depois manter a respiração fora do corpo e, finalmente, inalar. Faz-se isso para que a mente se estabilize e se livre de perturbações externas.

VERSO 10: Os yogīs que praticam tais exercícios respiratórios se livram rapidamente de todas as perturbações mentais, assim como o ouro, quando posto no fogo e abanado com ar, livra-se de todas as impurezas.

VERSO 11: Aquele que pratica o processo de prāṇāyāma pode erradicar a contaminação de sua condição fisiológica e, concentrando a mente, pode livrar-se de todas as atividades pecaminosas. Controlando os sentidos, ele pode livrar-se do contato com a matéria e, meditando na Suprema Personalidade de Deus, pode livrar-se dos três modos do apego material.

VERSO 12: Ao purificar a mente inteiramente mediante esta prática de yoga, deve-se concentrar-se na ponta do nariz com os olhos semicerrados e ver a forma da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 13: A Suprema Personalidade de Deus possui um semblante alegre e semelhante ao lótus, com olhos rosados como o interior do lótus e corpo escuro como as pétalas do lótus azul. Ele porta búzio, disco e maça em três de Suas mãos.

VERSO 14: Ele tem os quadris cobertos por uma veste brilhante, amarelada como os filamentos de um lótus. Traz sobre o peito a marca Śrīvatsa, uma mecha de cabelo branco. A brilhante joia Kaustubha está pendurada em Seu pescoço.

VERSO 15: Além disso, em volta do pescoço, Ele usa uma guirlanda de atrativas flores silvestres, e um enxame de abelhas, inebriadas por sua deliciosa fragrância, zumbem sobre a guirlanda. Ainda traz conSigo um majestoso colar de pérolas, uma coroa e pares de braceletes, pulseiras e argolas de tornozelo.

VERSO 16: Com cintura e quadris cingidos por um cinturão, Ele está de pé sobre o lótus do coração de Seu devoto. Ele é muito encantador para o olhar, e Seu aspecto sereno agrada os olhos e a alma dos devotos que O contemplam.

VERSO 17: O Senhor é eternamente belíssimo, e é adorável por todos os habitantes de cada planeta. Ele é sempre jovem e sempre anseia por conceder Sua bênção a Seus devotos.

VERSO 18: A glória do Senhor é sempre digna de ser cantada, pois Suas glórias ressaltam as glórias de Seus devotos. Portanto, deve-se meditar na Suprema Personalidade de Deus e em Seus devotos. Deve-se meditar na forma eterna do Senhor até que a mente se torne fixa.

VERSO 19: Assim, sempre imerso em serviço devocional, o yogī visualiza o Senhor de pé, em movimento, deitado ou sentado dentro de si, pois os passatempos do Senhor Supremo são sempre belos e atrativos.

VERSO 20: Ao fixar sua mente na forma eterna do Senhor, o yogī não deve manter uma visão coletiva de todos os Seus membros, senão que deve fixar a mente em cada membro individual do Senhor.

VERSO 21: O devoto deve primeiramente concentrar sua mente nos pés de lótus do Senhor, que são adornados com as marcas de um raio, um cajado, uma bandeira e um lótus. O esplendor de suas belas unhas rosadas assemelha-se à órbita da Lua e dissipa a densa escuridão do coração.

VERSO 22: O abençoado senhor Śiva se torna ainda mais abençoado por carregar sobre sua cabeça as águas sagradas do Ganges, cuja nascente encontra-se na água que lavou os pés de lótus do Senhor. Os pés do Senhor atuam como raios lançados para despedaçar a montanha de pecado acumulada na mente do devoto que medita. Portanto, deve-se meditar nos pés de lótus do Senhor por um longo tempo.

VERSO 23: O yogī deve fixar em seu coração as atividades de Lakṣmī, a deusa da fortuna, que é adorada por todos os semideuses e é a mãe de Brahmā, a pessoa suprema. Pode-se encontrá-la sempre massageando as pernas e as coxas do Senhor Transcendental, servindo-O dessa maneira com muito cuidado.

VERSO 24: Em seguida, o yogi deve fixar sua mente em meditação nas coxas da Personalidade de Deus, o reservatório de toda energia. As coxas do Senhor são da cor azul esbranquiçada, como o brilho da flor de linhaça, e parecem graciosíssimas quando o Senhor é transportado sobre os ombros de Garuḍa. Além disso, o yogī deve contemplar Seus quadris arredondados, os quais são cingidos por um cinturão que repousa na esplêndida roupa de seda amarela que se estende até Seus tornozelos.

VERSO 25: O yogī, então, deve meditar em Seu umbigo semelhante à Lua, no centro de Seu abdômen. De Seu umbigo, que é o alicerce de todo o universo, brotou o caule de lótus que contém todos os diferentes sistemas planetários. O lótus é a residência de Brahmā, a primeira criatura. Da mesma maneira, o yogī deve concentrar sua mente nos mamilos do Senhor, que parecem um par de finíssimas esmeraldas e que parecem brancos por causa dos raios dos colares de pérolas da cor do leite que Lhe adornam o peito.

VERSO 26: O yogī, em seguida, deve meditar no peito da Suprema Personalidade de Deus, a morada da deusa Mahā-Lakṣmī. O peito do Senhor é a fonte de todo o prazer transcendental para a mente e de plena satisfação para os olhos. O yogī, então, deve imprimir em sua mente o pescoço da Personalidade de Deus, a quem todo o universo adora. O pescoço do Senhor serve para realçar a beleza da joia Kaustubha, que está pendurada sobre Seu peito.

VERSO 27: O yogī deve, em seguida, meditar nos quatro braços do Senhor, que são a fonte de todos os poderes dos semideuses que controlam as diversas funções da natureza material. Então, o yogī deve concentrar-se nos ornamentos polidos, que foram lustrados pelo monte Mandara enquanto este girava. Ele também deve contemplar devidamente o disco do Senhor, o cakra Sudarśana, que contém mil raios e um brilho deslumbrante, bem como o búzio, que parece um cisne na palma de lótus de Sua mão.

VERSO 28: O yogī deve meditar em Sua maça, que se chama Kaumodakī e Lhe é muito querida. Essa maça esmaga os demônios, que sempre são soldados hostis, e é untada com o sangue deles. Deve, também, concentrar-se na bela guirlanda no pescoço do Senhor, que está sempre rodeada por zangões, com seu agradável zumbido, e deve meditar no colar de pérolas no pescoço do Senhor, o qual é considerado representativo das entidades vivas puras que estão sempre ocupadas a Seu serviço.

VERSO 29: Então, o yogī deve meditar no semblante de lótus do Senhor, que apresenta Suas diferentes formas neste mundo por compaixão pelos devotos ansiosos. Seu nariz é proeminente, e Suas bochechas cristalinas são iluminadas pelo oscilar de Seus reluzentes brincos em forma de crocodilo.

VERSO 30: O yogī, então, medita no belo rosto do Senhor, que é adornado com cabelo cacheado e decorado por olhos de lótus e sobrancelhas dançantes. A elegância de Seu rosto envergonharia um lótus rodeado por um enxame de abelhas e um par de peixes nadando.

VERSO 31: Os yogīs devem contemplar com plena devoção os compassivos olhares frequentemente lançados pelo Senhor, pois eles abrandam as tão terríveis agonias tríplices de Seus devotos. Seus olhares, acompanhados por amáveis sorrisos, são cheios de abundante graça.

VERSO 32: De modo semelhante, o yoga deve meditar no benevolentíssimo sorriso do Senhor Śrī Hari, sorriso este que, para todos aqueles que se prostram ante Ele, seca o oceano de lágrimas provocadas pelo intenso pesar. O yogī também deve meditar nas sobrancelhas arqueadas do Senhor, que se manifestam através de Sua potência interna a fim de encantar o deus do sexo para o bem dos sábios.

VERSO 33: Com devoção embebida em amor e afeição, o yogī deve meditar, no âmago de seu coração, na risada do Senhor Viṣṇu. A risada do Senhor Viṣṇu é tão cativante que se pode meditar nela facilmente. Quando o Senhor Supremo ri, pode-se ver Seus pequenos dentes, que parecem botões de jasmim matizados de rosa pelo esplendor de Seus lábios. Uma vez que tenha devotado sua mente a isso, o yogī já não deve desejar ver qualquer outra coisa.

VERSO 34: Seguindo este processo, aos poucos o yogī desenvolve amor puro pela Suprema Personalidade de Deus, Hari. No transcurso de seu progresso em serviço devocional, os pelos de seu corpo se arrepiam devido ao júbilo excessivo, e ele banha-se constantemente numa torrente de lágrimas ocasionadas pelo amor intenso. Aos poucos, até mesmo a mente, que ele usava como um meio para atrair o Senhor, assim como um peixe é atraído a um anzol, afasta-se da atividade material.

VERSO 35: Assim, ao livrar-se completamente de toda a contaminação material e desapegar-se dos objetivos materiais, a mente é como a chama de uma lamparina. Nessa altura, a mente vincula-se de fato à mente do Senhor Supremo e tem a experiência de ser una com Ele por estar livre do fluxo interativo das qualidades materiais.

VERSO 36: Assim situada na fase transcendental mais elevada, a mente descontinua toda a reação material e situa-se em sua própria glória, transcendental a todas as concepções materiais de felicidade e aflição. Nessa altura, o yogī compreende a verdade de sua relação com a Suprema Personalidade de Deus. Ele descobre que o prazer e a dor – bem como suas interações –, os quais ele atribuía a seu próprio eu, são, de fato, devidos ao falso ego, que é produto da ignorância.

VERSO 37: Por ter alcançado sua verdadeira identidade, a alma perfeitamente realizada não faz ideia de como o corpo material se movimenta ou age, assim como uma pessoa embriagada não pode entender se tem ou não roupa em seu corpo.

VERSO 38: A Suprema Personalidade de Deus cuida do corpo de tal yogī liberado, juntamente com os sentidos, e ele (o corpo) funciona até que as atividades a ele destinadas se acabem. O devoto liberado, estando desperto para sua posição constitucional e assim situado em samādhi, a mais elevada fase de perfeição do yoga, não aceita os subprodutos do corpo material como sua propriedade. Deste modo, ele considera as atividades de seu corpo como sendo as atividades de um corpo num sonho.

VERSO 39: Devido à grande afeição por família e riqueza, há quem aceite filhos e dinheiro como sua propriedade, e, devido à afeição pelo corpo material, há quem pense que ele é seu. Mas, na verdade, assim como uma pessoa pode entender que sua família e riqueza são diferentes dela, a alma liberada pode entender que ela e seu corpo não são a mesma coisa.

VERSO 40: O fogo abrasador é diferente das chamas, das centelhas e da fumaça, embora todos estejam intimamente ligados por nascerem da mesma madeira incandescente.

VERSO 41: A Suprema Personalidade de Deus, que é conhecida como paraṁ brahma, é o observador. Ele é diferente da alma jīva, ou seja, a entidade viva individual, que está combinada com os sentidos, com os cinco elementos e com a consciência.

VERSO 42: O yogī deve ver a mesma alma em todas as manifestações, pois tudo que existe é manifestação de diferentes energias do Supremo. Dessa maneira, o devoto deve ver todas as entidades vivas sem fazer distinções. Isso é compreensão da Alma Suprema.

VERSO 43: Assim como o fogo se manifesta em diferentes formas de madeira, do mesmo modo, sob diferentes condições dos modos da natureza material, a alma espiritual pura manifesta-se em diferentes corpos.

VERSO 44: Assim, o yogī pode situar-se na posição autorrealizada após conquistar o insuperável encanto de māyā, que se apresenta tanto como a causa quanto como o efeito desta manifestação material e, portanto, é muito difícil de ser entendida.

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