VERSO 33
yathendriyaiḥ pṛthag-dvārair
artho bahu-guṇāśrayaḥ
eko nāneyate tadvad
bhagavān śāstra-vartmabhiḥ
yathā — como; indriyaiḥ — pelos sentidos; pṛthak-dvāraiḥ — de diferentes maneiras; arthaḥ — um objeto; bahu-guṇa — muitas qualidades; āśrayaḥ — dotado de; ekaḥ — único; nānā — diferentemente; īyate — é percebido; tadvat — analogamente; bhagavān — a Suprema Personalidade de Deus; śāstra-vartmabhiḥ — segundo diferentes preceitos escriturais.
Um único objeto é apreciado de modo diferente por diferentes sentidos por ter diferentes qualidades. Analogamente, a Suprema Personalidade de Deus é única, mas, segundo diferentes preceitos escriturais, parece ser diferente.
SIGNIFICADO—Parece que, seguindo o caminho de jñāna-yoga, ou a especulação filosófica empírica, alcançamos o Brahman impessoal, ao passo que, executando serviço devocional em consciência de Kiṣna, enriquecemos nossa fé e devoção à Personalidade de Deus. Mas aqui se afirma que tanto bhakti-yoga quanto jñāna-yoga destinam-se a alcançar o mesmo objetivo: a Personalidade de Deus. Pelo processo de jñāna-yoga, a mesma Personalidade de Deus parece ser impessoal. Assim como o mesmo objeto parece ser diferente quando percebido por diferentes sentidos, o mesmo Senhor Supremo parece ser impessoal através da especulação mental. Uma colina pode parecer nublada à distância, e quem não a conhece poderá especular que a colina é uma nuvem. Na verdade, não é uma nuvem – é uma grande colina. É preciso aprender de alguma autoridade que a aparência de nuvem não é realmente uma nuvem, mas sim uma colina. Se progredimos um pouco mais, então, em vez de uma nuvem, vemos a colina e algo verde. Quando realmente nos aproximarmos da colina, veremos muitas variedades. Outro exemplo está na maneira de perceber o leite. Ao vermos o leite, observamos que ele é branco; saboreando-o, o leite parece muito gostoso. Quando tocamos o leite, ele parece muito frio; quando o cheiramos, ele parece ter um bom aroma; e, quando ouvimos, entendemos que ele se chama leite. Percebendo o leite com diferentes sentidos, dizemos que ele é algo branco, algo muito delicioso, algo muito aromático e assim por diante. Na verdade, trata-se do leite. Analogamente, aqueles que tentam encontrar a Divindade Suprema mediante a especulação mental podem se aproximar da refulgência corpórea, ou o Brahman impessoal, e aqueles que tentam encontrar a Divindade Suprema através da prática de yoga podem encorajá-lo como a Superalma localizada, mas aqueles que procuram aproximar-se diretamente da Verdade Suprema pela prática de bhakti-yoga podem ver a Verdade Suprema face a face como a Pessoa Suprema.
Em última análise, a Pessoa Suprema é o destino de todos os diferentes processos. A pessoa afortunada que, seguindo os princípios das escrituras, purifica-se inteiramente de toda a contaminação material, rende-se ao Senhor Supremo como tudo. Assim como podemos apreciar o verdadeiro sabor do leite com a língua, e não com os olhos, narinas ou ouvidos, de forma semelhante, só se pode apreciar a Verdade Absoluta com perfeição e com todo o deleitável prazer através de um caminho, o serviço devocional. Confirma-se isso também na Bhagavad-gītā. Bhaktyā mām abhijānāti: se alguém desejar entender a Verdade Absoluta com perfeição, deverá adotar o serviço devocional. Evidentemente, ninguém pode entender a Verdade Absoluta com toda a perfeição. Contudo, a entidade viva alcança o ponto mais elevado de compreensão praticando serviço devocional, e de nenhuma outra maneira.
Seguindo diversos caminhos escriturais, pode ser que se chegue à refulgência impessoal da Suprema Personalidade de Deus. O prazer transcendental obtido da fusão no Brahman impessoal, ou do entendimento do Brahman impessoal, é muito extenso porque Brahman é ananta. Tad brahma niṣkalaṁ anantam: o brahmānanda é ilimitado. Mas esse prazer ilimitado também pode ser superado. Essa é a natureza da Transcendência. O ilimitado também pode ser superado, e essa plataforma superior é Kṛṣṇa. Quando alguém se relaciona diretamente com Kṛṣṇa, a doçura e o humor saboreados pela reciprocidade de serviço devocional são incomparáveis, mesmo diante do prazer obtido do Brahman transcendental. Prabodhānanda Sarasvatī, portanto, diz que kaivalya, o prazer do Brahman, é sem dúvida enorme e é apreciado por muitos filósofos, mas, para um devoto, que compreende como obter prazer na reciprocidade de serviço devocional com o Senhor, esse Brahman ilimitado parece infernal. Devemos tentar, portanto, transcender inclusive o prazer do Brahman a fim de nos aproximarmos da posição de nos relacionar com Kṛṣṇa face a face. Assim como a mente é o centro de todas as atividades dos sentidos, Kṛṣṇa é chamado de o senhor dos sentidos, Hṛṣīkeśa. O processo consiste em fixar a mente em Hṛṣīkeśa, ou Kṛṣṇa, como fez Mahārāja Ambariṣa (sa vai manaḥ kṛṣṇa-padāravindayoḥ). Bhakti é o princípio básico de todos os processos. Sem bhakti, jñāna-yoga ou aṣṭāṅga-yoga não podem ser bem-sucedidos, e, a não ser que nos aproximemos de Kṛṣṇa, os princípios de autorrealização não têm destino final.