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Capítulo Vinte

O Aparecimento do Senhor Viṣṇu na Arena de Sacrifício de Mahārāja Pṛthu

VERSO 1: O grande sábio Maitreya prosseguiu: Meu querido Vidura, estan­do muito satisfeito com a realização de noventa e nove sacrifícios de cavalo, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, apare­ceu no local. O rei Indra O acompanhava. O Senhor Viṣṇu, então, começou a falar.

VERSO 2: O Senhor Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus, disse: Meu querido rei Pṛthu, Indra, o rei do céu, perturbou tua realização de cem sacrifícios. Agora ele veio coMigo para receber o teu perdão. Portanto, perdoa-o.

VERSO 3: Ó rei, quem é avançado em inteligência e anseia realizar atividades beneficentes para os outros é considerado o melhor entre os seres humanos. Um ser humano avançado nunca age com malícia para com os demais. Aqueles que são dotados de inteligência avançada são sempre conscientes de que este corpo material é diferente da alma.

VERSO 4: Se uma personalidade como tu, que és tão avançado por teres executado as instruções dos ācāryas anteriores, é arrastada pela influência de Minha energia material, então todo o teu avanço pode ser considerado como tendo sido mera perda de tempo.

VERSO 5: Aqueles que têm pleno conhecimento do conceito corpóreo da vida, que sabem que este corpo é composto de ignorância, desejos e atividades resultantes da ilusão, não se sentem inclinados ao corpo.

VERSO 6: Como pode uma pessoa altamente erudita, que não tem afinidade alguma com o conceito corpóreo da vida, deixar-se afetar pelo conceito corpóreo com relação a lar, filhos, riqueza e outros produtos similarmente ligados ao corpo?

VERSO 7: A alma individual é única, pura, imaterial e autorrefulgente. Ela é o reservatório de todas as boas qualidades e é onipenetrante. Não tem cobertura material e é a testemunha de todas as atividades. É inteiramente distinta das outras entidades vivas e é transcendental a todas as almas corporificadas.

VERSO 8: Embora dentro da natureza material, quem está assim situado em conhecimento pleno do Paramātmā e do ātmā nunca é afetado pelos modos da natureza material, pois está sempre situado em Meu transcendental serviço amoroso.

VERSO 9: A Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Viṣṇu, prosseguiu: Meu querido rei Pṛthu, quando alguém, situado em seu dever ocupacional, ocupa-se em Meu serviço amoroso sem motivação de ganho material, gradualmente fica muito satisfeito dentro de si.

VERSO 10: Quando o coração se purifica de toda a contaminação material, a mente do devoto torna-se mais ampla e transparente, e ele pode ver as coisas com igualdade. Nessa fase de vida, existe paz, e a pessoa se situa como sac-cid-ānanda-vigraha, igual a Mim.

VERSO 11: Todo aquele que saiba que este corpo material, composto dos cinco elementos grosseiros, dos órgãos dos sentidos, dos sentidos funcionais e da mente, é simplesmente supervisionado pela alma fixa é candidato à liberação do cativeiro material.

VERSO 12: O Senhor Viṣṇu disse ao rei Pṛthu: Meu querido rei, as mudanças constantes deste mundo material devem-se à interação dos três modos da natureza material. Os cinco elementos, os sentidos, os semideuses que controlam os sentidos, bem como a mente, que é agitada pela alma espiritual – tudo isso, em conjunto, compreende o corpo. Uma vez que a alma espiritual é inteiramente diferente dessa combinação de elementos materiais grosseiros e sutis, Meu devoto, que está ligado a Mim por intensa amizade e afeição, nunca é agitado por felicidade e aflição materiais, pois tem conhecimento pleno.

VERSO 13: Meu querido rei, ó herói, por favor, mantém-te sempre equânime e trata as pessoas com igualdade, quer elas sejam superiores, iguais ou inferiores a ti. Não fiques perturbado pela aflição ou felicidade temporárias. Conquista o domínio pleno sobre tua mente e sobre teus sentidos. Nessa posição transcendental, procura cumprir teu dever como rei em qualquer condição de vida que sejas colocado por Meu arranjo, pois teu único dever aqui é proteger os cidadãos de teu reino.

VERSO 14: Proteger a massa geral de pessoas que são cidadãos do estado é o dever ocupacional prescrito para um rei. Agindo dessa maneira, o rei em sua próxima vida compartilha de uma sexta parte do resultado das atividades piedosas dos cidadãos. Porém, um rei ou líder executivo do estado que só faz arrecadar impostos dos cidadãos, mas não lhes dá proteção adequada como seres humanos, tem os resultados de suas próprias atividades piedosas tomados pelos cida­dãos, e, em troca por não os ter protegido, torna-se passível de punição pelas atividades ímpias de seus súditos.

VERSO 15: O Senhor Viṣṇu prosseguiu: Meu querido rei Pṛthu, se continuares a proteger os cidadãos de acordo com as instruções autori­zadas de brāhmaṇas eruditos, conforme elas são recebidas pela sucessão discipular – pelo processo de ouvir – do mestre para o discípulo, e se seguires os princípios religiosos estabelecidos por elas, sem apego a ideias criadas pela invenção mental, então todos os teus cidadãos serão felizes e te amarão, e dentro em breve serás capaz de ver personalidades já liberadas, tais como os quatro Kumāras [Sanaka, Sanātana, Sanandana e Sanat-kumāra].

VERSO 16: Meu querido rei, sinto-Me muito cativado por tuas elevadas quali­dades e excelente comportamento, de modo que estou muito favora­velmente disposto para contigo. Portanto, podes pedir-Me qualquer bênção que desejares. Não é possível a alguém que não possui qualidades e comportamento elevado alcançar Meu favor mera­mente através da realização de sacrifícios, de austeridades rigorosas ou do yoga místico. Mas Eu sempre permaneço equânime no coração daquele que também é equânime em todas as circunstâncias.

VERSO 17: O grande santo Maitreya prosseguiu: Meu querido Vidura, dessa maneira, Mahārāja Pṛthu, o conquistador do mundo inteiro, aceitou responsavelmente as instruções da Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 18: Como o rei Indra se encontrava ali perto, envergonhou-se de suas próprias atividades e caiu perante o rei Pṛthu para tocar seus pés de lótus. Pṛthu Mahārāja, porém, imediatamente o abraçou em grande êxtase e abandonou toda a inveja que sentira pelo fato de Indra ter roubado o cavalo destinado ao sacrifício.

VERSO 19: O rei Pṛthu adorou copiosamente os pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, que fora tão misericordioso com ele. Enquanto adorava os pés de lótus do Senhor, aos poucos Pṛthu Mahā­rāja aumentava seu êxtase em serviço devocional.

VERSO 20: O Senhor estava prestes a partir, mas, como sentia-Se imensamente inclinado ao comportamento do rei Pṛthu, Ele não partiu. Vendo o comportamento de Mahārāja Pṛthu com Seus olhos de lótus, deteve-Se, pois é sempre o benquerente de Seus devotos.

VERSO 21: O rei original, Mahārāja Pṛthu, com os olhos cheios de lágrimas e sua voz embargada e trêmula, não podia ver o Senhor muito distintamente nem conseguiu dirigir palavra alguma ao Senhor. Ele sim­plesmente abraçou o Senhor em seu coração e permaneceu assim, de pé e com as mãos postas.

VERSO 22: A Suprema Personalidade de Deus permaneceu com Seus pés de lótus quase tocando o solo enquanto repousava a palma de Sua mão sobre o ombro erguido de Garuḍa, o inimigo das serpentes. Mahārāja Pṛthu, enxugando as lágrimas de seus olhos, tentava contemplar o Senhor, mas parecia que o rei não estava plena­mente satisfeito em vê-lO. Assim, o rei ofereceu-Lhe as seguintes orações.

VERSO 23: Meu querido Senhor, Vós sois o melhor dos semideuses que podem oferecer bênçãos. Por que, então, alguma pessoa erudita deveria pedir-Vos bênçãos destinadas a entidades vivas desorientadas pelos modos da natureza? Semelhantes bênçãos estão natural­mente disponíveis até mesmo nas vidas de entidades vivas que sofrem em condições infernais. Meu querido Senhor, certamente podeis conceder a imersão em Vossa existência, mas eu não desejo ter semelhante bênção.

VERSO 24: Portanto, meu querido Senhor, não desejo ter a bênção de fundir-me em Vossa existência, uma bênção que carece da existência da bebida nectárea de Vossos pés de lótus. Quero a bênção de ter pelo menos um milhão de ouvidos, visto que, dessa maneira, serei capaz de ouvir sobre as glórias de Vossos pés de lótus das bocas de Vossos devotos puros.

VERSO 25: Meu querido Senhor, sois glorificado por versos seletos proferidos por grandes personalidades. Tal glorificação de Vossos pés de lótus é assim como partículas de açafrão. Quando a vibração transcendental das bocas de grandes devotos transporta o aroma do pó de açafrão de Vossos pés de lótus, a entidade viva esquecida lembra-se gradualmente de sua relação eterna convosco. Assim, os devotos aos poucos deduzem conclusões corretas sobre o valor da vida. Meu querido Senhor, portanto, não preciso de nenhuma outra bênção além da oportunidade de ouvir da boca de Vosso devoto puro.

VERSO 26: Meu querido e gloriosíssimo Senhor, se alguém, na companhia de devotos puros, ouve mesmo que uma só vez as glórias de Vossas atividades, a não ser que não passe de um animal, jamais abandonará a companhia dos devotos, pois nenhuma pessoa inteligente seria tão descuidada a ponto de deixar a companhia deles. A per­feição de cantar e ouvir sobre Vossas glórias foi aceita inclusive pela deusa da fortuna, que desejou ouvir Vossas atividades ilimitadas e glórias transcendentais.

VERSO 27: Agora, desejo ocupar-me a serviço dos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus e quero servir assim como a deusa da fortuna, que porta uma flor de lótus em sua mão, porque Vossa Oni­potência, a Suprema Personalidade de Deus, é o reservatório de todas as qualidades transcendentais. Temo que a deusa da fortuna e eu possamos nos desentender, pois ambos estaremos atentamente ocu­pados no mesmo serviço.

VERSO 28: Meu querido Senhor, a deusa da fortuna, Lakṣmī, é a mãe do universo, apesar do que eu creio que ela ficará irada comigo devido à minha intromissão em seu serviço e por eu agir naquela plataforma à qual ela está tão apegada. Todavia, eu estou muito esperan­çoso de que, mesmo que haja algum mal-entendido, Vós ficareis do meu lado, pois sois muito inclinado aos desprotegidos e sempre engrande­ceis mesmo um serviço insignificante a Vós. Portanto, mesmo que ela fique irada, creio que isso não Vos fará mal, porque sois tão autossuficiente que podeis viver sem ela.

VERSO 29: Grandes santos que são sempre liberados adotam Vosso serviço devocional porque somente através do serviço devocional pode alguém livrar-se das ilusões da existência material. Ó meu Senhor, a única razão pela qual as almas liberadas se refugiam a Vossos pés de lótus é que tais almas vivem pensando em Vossos pés.

VERSO 30: Meu querido Senhor, o que disseste ao Vosso devoto imaculado é decerto muito desconcertante. Os atrativos que ofereceis nos Vedas certamente não são apropriados para os devotos puros. As pessoas em geral, atadas pelas palavras adocicadas dos Vedas, ocupam-se repetidamente em atividades fruitivas, enamoradas pelos resultados de suas ações.

VERSO 31: Meu Senhor, devido à Vossa energia ilusória, todos os seres vivos neste mundo material esqueceram-se de sua posição constitucional verdadeira e, por ignorância, vivem desejosos de felicidade material sob a forma de sociedade, amizade e amor. Portanto, por favor, não façais com que eu receba alguns benefícios materiais de Vós, senão que, como o pai que não espera pelo pedido do filho e faz tudo para o benefí­cio do filho, por favor, concedei-me qualquer coisa que julgais ser o melhor para mim.

VERSO 32: O grande sábio Maitreya prosseguiu, dizendo que o Senhor, o superintendente do universo, após ouvir a oração de Pṛthu Mahārāja, dirigiu-Se ao rei: Meu querido rei, que gozes sempre da bênção de te ocupares em Meu serviço devocional. Somente com tal pureza de propó­sito, como vejo expressares com grande inteligência, pode alguém cruzar a insuperável energia ilusória de māyā.

VERSO 33: Meu querido rei, ó protetor dos cidadãos, de agora em diante cumpre Minhas ordens com bastante cuidado e não deixes que nada te desoriente. Qualquer pessoa que viva dessa maneira, simplesmente cumprindo Minhas ordens fielmente, sempre encontrará boa fortuna pelo mundo inteiro.

VERSO 34: O grande santo Maitreya disse a Vidura: A Suprema Personalidade de Deus apreciou amplamente as significativas orações de Mahārāja Pṛthu. Assim, após ser devidamente adorado pelo rei, o Senhor o abençoou e decidiu partir.

VERSOS 35-36: O rei Pṛthu adorou os semideuses, os grandes sábios, os habitantes de Pitṛloka, os habitantes de Gandharvaloka e os de Siddhaloka, Cāraṇaloka, Pannagaloka, Kinnaraloka, Apsaroloka, dos planetas terrestres e dos planetas dos pássaros. Adorou, também, muitas outras entidades vivas que se apresentaram na arena do sacrifício. De mãos postas, adorou-os a todos, bem como a Suprema Personalidade de Deus e os associados pessoais do Senhor, oferecendo-lhes palavras doces e tanta riqueza quanto possível. Após essa cerimônia, todos regressaram a suas respectivas moradas, seguindo os passos do Senhor Viṣṇu.

VERSO 37: A infalível Suprema Personalidade de Deus, tendo cativado a mente do rei e dos sacerdotes ali presentes, regressou à Sua morada no céu espiritual.

VERSO 38: Então, o rei Pṛthu prestou suas respeitosas reverências à Suprema Personalidade de Deus, que é o Senhor Supremo de todos os semideuses. Apesar de não ser um objeto de visão material, o Senhor revelou-Se aos olhos de Mahārāja Pṛthu. Após prestar reverências ao Senhor, o rei retornou a seu lar.

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