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VERSO 14

śreyaḥ prajā-pālanam eva rājño
yat sāmparāye sukṛtāt ṣaṣṭham aṁśam
hartānyathā hṛta-puṇyaḥ prajānām
arakṣitā kara-hāro ’gham atti

śreyaḥ — auspicioso; prajā-pālanam — governando a massa geral de pessoas; eva — decerto; rājñaḥ — para o rei; yat — porque; sāmparāye — no nascimento seguinte; su-kṛtāt — das atividades piedosas; ṣaṣṭham aṁśam — uma sexta parte; hartā — coletor; anyathā — caso contrário; hṛta-puṇyaḥ — sendo destituído dos resultados das ativi­dades piedosas; prajānām — dos cidadãos; arakṣitā — aquele que não protege; kara-hāraḥ — cobrador de impostos; agham — pecado; atti­ — recebe ou sofre.

Proteger a massa geral de pessoas que são cidadãos do estado é o dever ocupacional prescrito para um rei. Agindo dessa maneira, o rei em sua próxima vida compartilha de uma sexta parte do resultado das atividades piedosas dos cidadãos. Porém, um rei ou líder executivo do estado que só faz arrecadar impostos dos cidadãos, mas não lhes dá proteção adequada como seres humanos, tem os resultados de suas próprias atividades piedosas tomados pelos cida­dãos, e, em troca por não os ter protegido, torna-se passível de punição pelas atividades ímpias de seus súditos.

SIGNIFICADO—Pode-se perguntar aqui o seguinte: Se todas as pessoas se ocupas­sem em atividades espirituais para alcançar a salvação e se tornassem indiferentes às atividades do mundo material, como, então, as coisas poderiam continuar como são? E se as coisas devem continuar como têm que ser, como um líder de estado pode ficar indife­rente a tais atividades? Em resposta a essa pergunta, a palavra śreyaḥ, auspicioso, é usada aqui. A divisão de atividades na socie­dade, conforme o arranjo da Suprema Personalidade de Deus, não foi cega ou acidentalmente criada, como as pessoas tolas dizem. O brāhmaṇa deve cumprir seu dever adequadamente, e o kṣatriya, o vaiśya e até mesmo o śūdra devem fazer o mesmo. E todos eles podem alcançar a mais elevada perfeição da vida – a liberação deste cativeiro material. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (18.45). Sve sve karmaṇy abhirataḥ saṁsiddhiṁ labhate naraḥ: “Quem executa seus deveres prescritos pode alcançar a perfeição máxima.”

O Senhor Viṣṇu instruiu Mahārāja Pṛthu que um rei não é aconselhado a abandonar seu reino e responsabilidades de proteger os prajās, ou cidadãos, para, ao invés disso, ir-se embora aos Hima­laias em busca da liberação. Ele pode alcançar a liberação no transcurso do cumprimento de seus deveres reais. O dever real, ou o dever do líder de estado, é cuidar para que os prajās, ou a massa geral de pessoas, estejam cumprindo seus respectivos deveres para a salvação espiritual. Um estado secular não precisa de um rei ou líder de estado indiferente às atividades dos prajās. No governo do estado moderno, há muitas regras e preceitos para regular os deveres dos prajās, mas o governo descuida-se de que os cidadãos avancem em conhecimento espiritual. Se o governo for descuidado neste assunto, os cidadãos agirão caprichosamente, sem qualquer senso de compreensão de Deus ou vida espiritual e, dessa maneira, eles se enredarão em atividades pecaminosas.

Um líder executivo não deve ser insensível ao bem-estar do povo em geral enquanto simplesmente continua arrecadando impostos. O verdadeiro dever do rei é zelar para que, aos poucos, os cidadãos tornem-se plenamente conscientes de Kṛṣṇa. Consciente de Kṛṣṇa significa inteiramente livre de todas as atividades pecaminosas. Logo que houver completa erradicação das atividades pecaminosas no estado, não haverá mais guerra, peste, fome ou distúrbios natu­rais. Era essa a situação realmente prevalecente durante o reinado de Mahārāja Yudhiṣṭhira. Se um rei ou líder do governo é capaz de induzir os cidadãos a se tornarem conscientes de Kṛṣṇa, então ele é digno de governar a massa; caso contrário, não tem direito de cobrar impostos. Se o rei zela pelos interesses espirituais dos cidadãos, ele pode cobrar impostos sem dificuldade. Dessa maneira, tanto os súditos quanto o rei serão felizes durante esta vida, e, na próxima vida, o rei poderá compartilhar de um sexto das atividades piedosas dos cidadãos. Caso contrário, por cobrar impostos dos cidadãos pecaminosos, ele será obrigado a compartilhar das reações de suas atividades pecaminosas.

Esse mesmo princípio também pode ser aplicado aos pais e mes­tres espirituais. Se os pais simplesmente geram filhos como cães e gatos, mas não podem salvar seus filhos da morte iminente, eles se tornam responsáveis pelas atividades de seus filhos animalescos. Na atualidade, tais filhos estão se tornando hippies. Do mesmo modo, se um mestre espiritual não pode orientar seus discípulos para que se livrem das atividades pecaminosas, torna-se responsável por seus atos pecaminosos. Essas leis sutis da natureza são desco­nhecidas pelos atuais líderes da sociedade. Uma vez que os líderes da sociedade têm um pobre fundo de conhecimento e os cidadãos em geral são patifes e ladrões, não pode haver uma situação auspi­ciosa para a sociedade humana. No momento atual, o mundo inteiro está repleto dessa combinação incompatível de estado e cidadãos, daí haver tensão, guerra e ansiedade constantes como resultado inevitável dessas condições sociais.

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