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VERSO 34

asāv ihāneka-guṇo ’guṇo ’dhvaraḥ
pṛthag-vidha-dravya-guṇa-kriyoktibhiḥ
sampadyate ’rthāśaya-liṅga-nāmabhir
viśuddha-vijñāna-ghanaḥ svarūpataḥ

asau — a Suprema Personalidade de Deus; iha — neste mundo material; aneka — diversas; guṇaḥ — qualidades; aguṇaḥ — transcendentais; adhvaraḥyajña; pṛthak-vidha — variedades; dravya — elementos físicos; guṇa — ingredientes; kriyā — realizações; ukti­bhiḥ — cantando diversos mantras; sampadyate — é adorado; artha — interesse; āśaya — propósito; liṅga — forma; nāmabhiḥ — nome; viśud­dha — sem contaminação; vijñāna — ciência; ghanaḥ — concentrado; sva-rūpataḥ — em Sua própria forma.

A Suprema Personalidade de Deus é transcendental e não contaminada por este mundo material. Porém, embora Ele seja uma alma espiritual concentrada e sem variedade material, para o benefício da alma condicionada, Ele, mesmo assim, aceita diferentes classes de sacrifícios realizados com vários elementos materiais, rituais e mantras e oferecidos aos semideuses sob diferentes nomes de acordo com os interesses e propósitos dos realizadores.

SIGNIFICADO—Para quem busca prosperidade material, há recomendações nos Vedas para diversas espécies de yajña (sacrifício). A Bhagavad-gītā (3.10) confirma que o senhor Brahmā criou todas as entidades vivas, incluindo os seres humanos e os semideuses, e as aconselhou a realizarem yajña de acordo com seus desejos materiais (saha-yajñāḥ prajāḥ sṛṣṭvā). Essas funções se chamam yajñas porque sua meta última é satisfazer a Suprema Personalidade de Deus, Viṣṇu. O pro­pósito de realizar yajñas é obter benefícios materiais, mas, como a meta é simultaneamente satisfazer o Senhor Supremo, seme­lhantes yajñas são recomendados nos Vedas. Essas cerimônias são, evi­dentemente, conhecidas como karma-kāṇḍa, ou atividades materiais, e todas as atividades materiais são decerto contaminadas pelos três modos da natureza material. De um modo geral, as cerimônias ritualísticas karma-kāṇḍa são feitas no modo da paixão, mas as almas condicionadas, tanto os seres humanos quanto os semi­deuses, são obrigadas a realizar esses yajñas porque, sem eles, não se pode ser feliz de forma alguma.

Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura comenta que essas cerimô­nias ritualísticas karma-kāṇḍa, embora contaminadas, contêm vestí­gios de serviço devocional, visto que o Senhor Viṣṇu é a figura central do sacrifício sempre que se realiza algum yajña. Isso é muito importante porque mesmo um pequeno esforço para satisfazer o Senhor Viṣṇu é bhakti e tem grande valor. Uma gotinha de bhakti purifica a natureza material das cerimônias, as quais, através do serviço devocional, gradualmente atingem a posição transcendental. Portanto, embora semelhantes yajñas sejam superficialmente atividades materiais, os resultados são transcendentais. Yajñas tais como Sūrya-yajña, Indra-yajña e Candra-yajña são realizados em nome dos semideuses, mas esses semideuses são partes do corpo da Suprema Personalidade de Deus. Os semideuses não podem aceitar oferendas de sacrifício para eles mesmos, mas podem aceitá-las em benefício da Suprema Personalidade de Deus, assim como o cobra­dor de impostos de um governo não pode cobrar impostos para depositá-los em sua conta pessoal, mas deve fazê-lo para o governo. Qualquer yajña realizado com base neste conhecimento e entendi­mento plenos é descrito na Bhagavad-gītā como brahmārpaṇaṁ, ou um sacrifício oferecido à Suprema Personalidade de Deus. Uma vez que ninguém além do Senhor Supremo pode desfrutar dos resulta­dos do sacrifício, o Senhor afirma ser o verdadeiro desfrutador de todos os sacrifícios (bhoktāram yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheś­varam). Deve-se executar sacrifícios com essa perspectiva em mente. Como se afirma na Bhagavad-gītā (4.24):

brahmārpaṇaṁ brahma havir
brahmāgnau brahmaṇā hutam
brahmaiva tena gantavyaṁ
brahma-karma-samādhinā

“Uma pessoa que está plenamente absorta em consciência de Kṛṣṇa com certeza alcança o reino espiritual devido a sua completa contribuição às atividades espirituais, nas quais a consumação é abso­luta e aquilo que se oferece é da mesma natureza espiritual.” O realizador de sacrifícios deve sempre ter em mente que os sacrifícios mencionados nos Vedas se destinam a satisfazer a Suprema Perso­nalidade de Deus. Viṣṇur ārādhyate panthāḥ. (Viṣṇu Purāṇa 3.8.9) Qualquer coisa, quer material, quer espiritual, feita para a satis­fação do Senhor Supremo, é tida como um yajña verdadeiro, e, executando semelhantes yajñas, libertamo-nos do cativeiro material. O método direto de libertar-se do cativeiro material é o serviço devocional, que consiste nos nove seguintes processos:

śravaṇaṁ kīrtanaṁ viṣṇoḥ
smaraṇaṁ pāda-sevanam
arcanaṁ vandanaṁ dāsyaṁ
sakhyam ātma-nivedana

(Śrīmad-Bhāgavatam 7.5.23)

Esse verso descreve esse processo nônuplo como viśuddha-vijñāna-­ghanaḥ, ou seja, satisfazer a Suprema Personalidade de Deus diretamente através de conhecimento transcendental concentrado sob a forma do Senhor Supremo, Viṣṇu. Esse é o melhor método para satisfazer o Senhor Supremo. Alguém que não possa adotar esse processo direto, entretanto, deve adotar o processo indireto de realizar yajñas para a satisfação de Viṣṇu, ou Yajña. Viṣṇu, portanto, é chamado de yajña-pati. Śriyaḥ patiṁ yajña-patiṁ jagat patiṁ. (Śrīmad-Bhāgavatam 2.9.15)

O profundo conhecimento científico da Suprema Personalidade de Deus é concentrado ao máximo. Por exemplo, a ciência médica conhece algumas coisas superficialmente, mas os médicos não sabem exatamente como as coisas acontecem no corpo. O Senhor Kṛṣṇa, contudo, conhece tudo detalhadamente. Portanto, Seu conhecimento é vijñāna-ghana porque não tem nenhum dos defeitos da ciência material. A Suprema Personalidade de Deus é viśuddha-­vijñāna-ghana, conhecimento transcendental concentrado; portanto, mesmo que aceite yajñas de karma-kāṇḍīya materialista, Ele sempre permanece em posição transcendental. Portanto, a menção de aneka-guṇa refere-se às muitas qualidades transcendentais da Su­prema Personalidade de Deus, pois as qualidades materiais não O afetam. As diferentes classes de parafernália material ou elementos físicos também se transformam aos poucos em compreensão espi­ritual porque, em última análise, não há diferença entre as quali­dades materiais e as espirituais, pois tudo emana do Espírito Supremo. Isso pode ser percebido através de um processo gradual de compreensão e purificação. Um exemplo vívido disso é Dhruva Mahārāja, que praticou meditação na floresta em troca de benefícios materiais, mas, por fim, tornou-se espiritualmente avançado e não quis qualquer bênção ligada a vantagens materiais. Ele estava simplesmente satisfeito de associar-se com o Senhor Supremo. Āśaya significa “determinação”. De um modo geral, a alma condicionada tem a determinação de obter lucro material, mas, satisfazendo esses desejos de lucro material através da realização de yajña, aos poucos ela atinge a plataforma espiritual. Então, sua vida se torna perfeita. Por isso, o Śrīmad-Bhāgavatam (2.3.10) recomenda:

akāmaḥ sarva-kāmo vā
mokṣa-kāma udāra-dhīḥ
tīvreṇa bhakti-yogena
yajeta puruṣaṁ param

Todos – sejam akāma (devotos), sarva-kāma (karmīs) ou mokṣa-­kāma (jñānīs ou yogīs) – são incentivados a adorar a Suprema Per­sonalidade de Deus pelo método direto do serviço devocional. Dessa maneira, todos podem obter se beneficiar material e espiritualmente ao mesmo tempo.

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