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Capítulo Vinte e Um

Instruções de Mahārāja Pṛthu

VERSO 1: grande sábio Maitreya disse a Vidura: Ao entrar o rei em sua cidade, ela estava muito belamente decorada para recebê-lo com péro­las, guirlandas de flores, belos tecidos e portões dourados, e toda a cidade estava perfumada com incensos muitos fragrantes.

VERSO 2: Com perfume destilado de sândalo e da erva aguru, borrifou-se todos os locais: as veredas, as estradas e os pequenos parques por toda a cidade, e, em todo lugar, havia decorações de frutas frescas, flores, cereais molhados, vários minerais e lamparinas, tudo ofere­cido como parafernália auspiciosa.

VERSO 3: Nos cruzamentos das ruas, havia cachos de frutas e ramalhetes de flores, bem como caules de bananeiras e ramos de noz de betel. Todas essas decorações dispostas em toda parte tornavam tudo muito atrativo.

VERSO 4: Quando o rei atravessou o portão da cidade, todos os cidadãos receberam-no com muitos artigos auspiciosos, como lamparinas, flores e iogurte. O rei também foi recebido por muitas mocinhas solteiras e belas, cujos corpos estavam adornados com vários enfeites, especialmente com brincos que tilintavam uns contra os outros.

VERSO 5: Quando o rei entrou no palácio, búzios e timbales ressoaram, sacerdotes cantaram mantras védicos e recitadores profissionais ofereceram diferentes orações. Contudo, apesar de toda essa cerimônia. para lhe dar as boas-vindas, o rei não se sentiu nem um pouco orgulhoso.

VERSO 6: Tanto os cidadãos importantes quanto os cidadãos comuns deram suas sinceras boas-vindas ao rei, e ele também lhes concedeu­ as bênçãos que desejavam.

VERSO 7: O rei Pṛthu era mais grandioso do que as almas mais grandiosas e, portanto, adorável para todos. Ele realizou muitas atividades gloriosas governando a extensão do mundo e era sempre magnânimo. Após alcançar tão grande sucesso e uma reputação que se espalhava por todo o uni­verso, ele finalmente obteve os pés de lótus da Suprema Personali­dade de Deus.

VERSO 8: Sūta Gosvāmī prosseguiu: Ó Śaunaka, líder dos grandes sábios, após ouvir Maitreya falar sobre as diversas atividades do rei Pṛthu, o rei original, que era plenamente qualificado, glorioso e ampla­mente louvado em todo o mundo, Vidura, o grande devoto, adorou Maitreya Ṛṣi com muita submissão e perguntou-lhe o seguinte.

VERSO 9: Vidura disse: Meu querido brāhmaṇa Maitreya, é muito edifi­cante saber que o rei Pṛthu foi entronado pelos grandes sábios e brāhmaṇas. Todos os semideuses deram-lhe inúmeros presentes, e ele também expandiu sua influência ao receber força pessoalmente do Senhor Viṣṇu. Assim, ele desenvolveu muito a Terra.

VERSO 10: Pṛthu Mahārāja era tão grandioso em suas atividades e magnânimo em seu método de governar que todos os reis e semideuses dos vários planetas ainda seguem seus passos. Quem, então, não pro­curará ouvir sobre suas gloriosas atividades? Desejo ouvir cada vez mais sobre Pṛthu Mahārāja, porque suas atividades são muito pie­dosas e auspiciosas.

VERSO 11: O grande sábio e santo Maitreya disse a Vidura: Meu querido Vidura, o rei Pṛthu viveu na região entre os dois grandes rios Ganges e Yamunā. Por ser muito opulento, parecia que estava des­frutando da fortuna a ele destinada a fim de reduzir os resultados de suas atividades piedosas passadas.

VERSO 12: Mahārāja Pṛthu era um rei irrivalizável e possuía o cetro para governar todas as sete ilhas na superfície do globo. Ninguém podia desobedecer às suas ordens irrevogáveis, exceto as pessoas santas, os brāhmaṇas e os descendentes da Suprema Personali­dade de Deus [os vaiṣṇavas].

VERSO 13: Certa vez, o rei Pṛthu iniciou a realização de um grandioso sacrifício, no qual se reuniram sábios grandiosos e santos, brāhmaṇas, semideuses de sistemas planetários superiores e grandes reis santos conhecidos como rājarṣis.

VERSO 14: Naquela grande assembleia, Mahārāja Pṛthu primeiramente ado­rou todos os visitantes respeitáveis de acordo com suas respectivas posições. Depois disso, levantou-se no meio da assembleia, e parecia que a lua cheia havia surgido entre as estrelas.

VERSO 15: O corpo do rei Pṛthu era alto e robusto, e sua tez era clara. Seus braços eram fartos e largos, e seus olhos, brilhantes como o sol nascente. Seu nariz era reto; seu rosto, muito belo, e sua personalidade era grave. Seus dentes estavam belamente assentados em seu rosto sorridente.

VERSO 16: O peito de Mahārāja Pṛthu era muito largo, sua cintura muito grossa, e seu abdômen, enrugado por dobras de pele, parecia uma folha de figueira-de-bengala. Seu umbigo era anelado e profundo; suas coxas, douradas, e seu peito do pé, arqueado.

VERSO 17: Os cabelos negros e lisos sobre a cabeça eram muito finos e cacheados, e seu pescoço, como um búzio, era decorado com linhas auspiciosas. Ele usava um dhotī muito valioso e um belo manto na parte superior de seu corpo.

VERSO 18: Conforme Mahārāja Pṛthu se preparava para a realização do sacrifício, ele tinha que ir se despojando de suas roupas preciosas, em razão do que sua beleza corpórea natural se tornou visível. Era muito agradável vê-lo vestindo-se com pele de veado negra e usando um anel de grama kuśa no dedo, pois isso aumentava a beleza natural de seu corpo. Parece que Mahārāja Pṛthu observou todos os princípios reguladores antes de realizar o sacrifício.

VERSO 19: Simplesmente para encorajar os membros da assembleia e ampliar o prazer deles, o rei Pṛthu olhou para eles com olhos que pareciam estrelas em um céu orvalhado. Em seguida, dirigiu-lhes a palavra com uma voz impactante.

VERSO 20: O discurso de Mahārāja Pṛthu era muito belo, rico em linguagem metafórica, muito claro e imensamente agradável de se ouvir. Todas as suas palavras eram graves e corretas. Ao falar, ele parecia expressar sua compreensão pessoal da Verdade Absoluta para bene­ficiar todos aqueles ali presentes.

VERSO 21: O rei Pṛthu disse: Ó gentis membros da assembleia, que toda a boa fortuna vos sorria! Peço a todos vós, grandes almas que viestes participar deste encontro, que façam a bondade de ouvir atentamente minha súplica. Alguém que seja realmente inquisitivo deve apresentar suas decisões perante uma assembleia de almas nobres.

VERSO 22: O rei Pṛthu prosseguiu: Pela graça do Senhor Supremo, fui designado como rei deste planeta e porto o cetro para governar os cidadãos, protegê-los contra todos os perigos e dar-lhes a ocupação de acordo com suas respectivas posições na ordem social estabelecida pelo preceito védico.

VERSO 23: Mahārāja Pṛthu disse: Creio que, cumprindo meus deveres como rei, serei capaz de atingir os objetivos desejáveis expostos pelos peri­tos em conhecimento védico. Esse destino é decerto alcançado através do prazer da Suprema Personalidade de Deus, que é o vidente de todo destino.

VERSO 24: Qualquer rei que não ensine a seus cidadãos sobre os deveres respectivos em termos de varṇa e āśrama, mas apenas cobre impos­tos e taxas diversas deles, sujeita-se a sofrer pelas atividades ímpias realizadas pelos cidadãos. Além dessa degradação, o rei também perde sua própria fortuna.

VERSO 25: Pṛthu Mahārāja prosseguiu: Portanto, meus queridos cidadãos, para o bem-estar de vosso rei após sua morte, deveis executar vossos deveres adequadamente em termos de vossas posições de varṇa e āśrama e deveis sempre pensar na Suprema Personalidade de Deus dentro de vossos corações. Se assim fizerdes, protegereis vossos próprios interesses e concedereis misericórdia a vosso rei no que diz respeito a seu bem-estar após a morte.

VERSO 26: Peço a todos os semideuses de coração puro, aos antepassados e às pessoas santas que apoiem a minha proposta, pois, após a morte, o resultado de uma ação é igualmente compartilhado pelo executor, pelo superintendente e pelo apoiador.

VERSO 27: Meus queridos e respeitáveis senhores e senhoras, conforme as afirmações autorizadas do śāstra, é preciso que haja uma autoridade suprema que seja capaz de conceder os respectivos benefícios de nossas atividades atuais. Caso contrário, por que haveria pessoas incomumente belas e poderosas tanto nesta vida quanto na vida após a morte?

VERSOS 28-29: Confirmam isto, não apenas as evidências dos Vedas, mas também o comportamento pessoal de grandes personalidades, como Manu, Uttānapāda, Dhruva, Priyavrata e meu avô Aṅga, bem como muitas outras grandes personalidades e entidades vivas comuns, exemplificadas por Mahārāja Prahlāda e Bali, todos os quais são teístas, crendo na existência da Suprema Personalidade de Deus, que porta uma maça.

VERSO 30: Embora pessoas abomináveis como meu pai, Vena, o neto da morte personificada, fiquem confusas em relação ao caminho da religião, todas as grandes personalidades, como aquelas já mencionadas, concordam que, neste mundo, o único outorgador das bênçãos de religião, desenvolvimento econômico, gozo dos sentidos, liberação ou ele­vação aos planetas celestiais é a Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 31: Através da inclinação para servir os pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, a humanidade sofredora pode eliminar de imediato a poeira que tem se acumulado em suas mentes há inúmeros nascimentos. Assim como a água do Ganges, que emana dos dedos dos pés de lótus do Senhor, tal processo imediatamente purifica a mente, e, assim, a consciência espiritual, ou consciência de Kṛṣṇa, aumenta pouco a pouco.

VERSO 32: Ao se refugiar aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus, o devoto se limpa inteiramente de todo equívoco ou especu­lação mental, e manifesta a renúncia. Isso só é possível para quem se fortalece mediante a prática de bhakti-yoga. Uma vez que se refugie na raiz dos pés de lótus do Senhor, o devoto jamais volta a esta existência material, que é repleta das três espécies de sofrimentos.

VERSO 33: Pṛthu Mahārāja aconselhou seus cidadãos: Ocupando vossas mentes, vossas palavras, vossos corpos e os resultados de vossos deveres ocupacionais, e sendo sempre liberais, deveis todos prestar serviço devocional ao Senhor. Conforme vossas habilidades e as ocupações nas quais estais situados, podeis consagrar vosso serviço aos pés de lótus da Suprema Personalidade de Deus com plena confiança e sem reservas. Então, certamente sereis exitosos na con­secução do objetivo final de vossas vidas.

VERSO 34: A Suprema Personalidade de Deus é transcendental e não contaminada por este mundo material. Porém, embora Ele seja uma alma espiritual concentrada e sem variedade material, para o benefício da alma condicionada, Ele, mesmo assim, aceita diferentes classes de sacrifícios realizados com vários elementos materiais, rituais e mantras e oferecidos aos semideuses sob diferentes nomes de acordo com os interesses e propósitos dos realizadores.

VERSO 35: A Suprema Personalidade de Deus é onipenetrante, mas Ele também Se manifesta em diferentes classes de corpos que surgem de combinações da natureza material, do tempo, de desejos e de deveres ocupacionais. Assim, diferentes classes de consciência se desenvolvem, assim como o fogo, que é basicamente o mesmo a todo momento, queima de diferentes maneiras de acordo com a forma e dimensão da lenha.

VERSO 36: A Suprema Personalidade de Deus é o senhor e o desfrutador dos resultados de todos os sacrifícios, sendo, também, o mestre espiritual supremo. Todos vós, cidadãos sobre a face do globo, que tendes uma relação comigo e estais adorando-O através de vossos deveres ocupacionais, estais concedendo-me vossa misericórdia. Portanto, ó meus cidadãos, eu vos agradeço.

VERSO 37: Os brāhmaṇas e vaiṣṇavas são pessoalmente glorificados por seus característicos poderes de tolerância, penitência, conhecimento e educação. Em virtude de todos esses bens espirituais, os vaiṣṇavas são mais poderosos do que a realeza. Portanto, aconselha-se que a ordem principesca não exiba seus poderes materiais diante dessas duas comunidades e evite ofendê-las.

VERSO 38: A Suprema Personalidade de Deus, a antiga e eterna Divindade, que é a principal entre todas as grandes personalidades, obteve a opulência de Sua sólida reputação, que purifica todo o universo, adorando os pés de lótus desses brāhmaṇas e vaiṣṇavas.

VERSO 39: A Suprema Personalidade de Deus, que é eternamente independente e que existe no coração de todos, fica muito satisfeito com aqueles que seguem Seus passos e se ocupam, sem reservas, a ser­viço dos descendentes de brāhmaṇas e vaiṣṇavas, pois Ele é sempre muito querido pelos brāhmaṇas e vaiṣṇavas, e estes Lhe são sempre muito queridos.

VERSO 40: Prestando serviço regular aos brāhmaṇas e aos vaiṣṇavas, podemos remover a sujeira de nosso coração e, assim, gozar da paz suprema e da liberação do apego material e ficarmos satisfeitos. Neste mundo, não há atividade fruitiva superior ao serviço à classe bramânica, pois isso pode dar prazer aos semideuses, para quem os muitos sacrifícios são recomendados.

VERSO 41: Embora a Suprema Personalidade de Deus, Ananta, coma por meio de sacrifícios de fogo oferecidos em nome de diferentes semi­deuses, Ele não sente tanto prazer em comer por meio do fogo como O sente ao aceitar oferendas por meio das bocas de sábios eruditos e devotos, pois, neste caso, Ele jamais deixa a companhia dos devotos.

VERSO 42: Na cultura bramânica, a posição transcendental do brāhmaṇa é mantida eternamente porque os preceitos dos Vedas são aceitos com fé, austeridade, conclusões das escrituras, pleno controle dos senti­dos e da mente e meditação. Dessa maneira, derrama-se luz sobre a verdadeira meta da vida, assim como o rosto de uma pessoa reflete-se inteira­mente em um espelho limpo.

VERSO 43: Ó respeitáveis personalidades aqui presentes, imploro as bênçãos de todos vós para que eu possa sempre carregar sobre minha coroa a poeira dos pés de lótus de tais brāhmaṇas e vaiṣṇavas até o fim de minha vida. Aquele que pode carregar essa poeira sobre sua cabeça alivia-se em pouco tempo de todas as reações decorrentes da vida pecaminosa e, por fim, desenvolve todas as qualidades boas e desejáveis.

VERSO 44: Qualquer pessoa que adquira as qualificações de um brāhmaṇa – cuja única riqueza é o bom comportamento, que é grato e que se refugia em pessoas experientes – obtém toda a opulência do mundo. Portanto, desejo que a Suprema Personalidade de Deus e Seus associados fiquem satisfeitos com a classe bramânica, com as vacas e comigo.

VERSO 45: O grande sábio Maitreya disse: Após ouvir o rei Pṛthu falar tão bem, todos os semideuses, os cidadãos de Pitṛloka, os brāhmaṇas e as pessoas santas presentes naquela reunião congratularam-se com ele, expressando sua satisfação.

VERSO 46: Todos eles declararam que a conclusão védica de que é possível conquistar os planetas celestiais por intermédio de um putra, ou filho, foi cumprida, pois o pecaminosíssimo Vena, que fora morto pela maldição dos brāhmaṇas, agora estava se livrando da mais escura região de vida infernal graças a seu filho, Mahārāja Pṛthu.

VERSO 47: De modo semelhante, Hiraṇyakaśipu, que em virtude de suas atividades pecaminosas sempre desafiava a supremacia da Suprema Personalidade de Deus, entrou na mais escura região de vida infer­nal; contudo, pela graça de seu grande filho, Prahlāda Mahārāja, ele também foi liberto e voltou ao lar, voltou ao Supremo.

VERSO 48: Todos os brāhmaṇas santos dirigiram-se assim a Pṛthu Mahārāja: Ó melhor dos guerreiros, ó pai deste planeta, sê abençoado com uma longa vida, pois tens grande devoção pela infalível Suprema Personalidade de Deus, que é o mestre de todo o universo.

VERSO 49: A audiência prosseguiu: Querido rei Pṛthu, tua reputação é a mais pura de todas, pois estás pregando as glórias do mais glorioso de todos, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor dos brāhma­ṇas. Já que, devido à nossa grande fortuna, temos tua pessoa como nosso mestre, julgamos estar vivendo diretamente sob o amparo do Senhor.

VERSO 50: Nosso amado senhor, teu dever ocupacional é governar os cidadãos. Essa não é uma tarefa muito maravilhosa para uma personalidade como tu, que tens muita afeição por zelar pelos interesses dos cida­dãos, porque és pleno de misericórdia. Essa é a grandeza de teu caráter.

VERSO 51: Os cidadãos prosseguiram: Hoje abriste nossos olhos e revelaste como podemos cruzar o oceano da escuridão. Devido a nossos atos passados e por arranjo da autoridade superior, estamos emaranha­dos em uma rede de atividades fruitivas e perdemos de vista o destino da vida; assim, estamos vagando dentro do universo.

VERSO 52: Querido senhor, estás situado em tua posição existencial de bondade pura; portanto, és o representante perfeito do Senhor Supremo. És glorificado por teus próprios poderes, de modo que estás man­tendo o mundo inteiro ao introduzir a cultura bramânica e ao proteger a todos na linha de teu dever como kṣatriya.

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