VERSO 40
pumāḻ labhetānativelam ātmanaḥ
prasīdato ’tyanta-śamaṁ svataḥ svayam
yan-nitya-sambandha-niṣevayā tataḥ
paraṁ kim atrāsti mukhaṁ havir-bhujām
pumān — uma pessoa; labheta — pode obter; anati-velam — sem demora; ātmanaḥ — de sua alma; prasīdataḥ — estando satisfeita; atyanta — a maior; śamam — paz; svataḥ — automaticamente; svayam — pessoalmente; yat — cuja; nitya — regular; sambandha — relação; niṣevayā — mediante o serviço; tataḥ — depois disso; param — superior; kim — que; atra — aqui; asti — há; mukham — felicidade; haviḥ — manteiga clarificada; bhujām — aqueles que bebem.
Prestando serviço regular aos brāhmaṇas e aos vaiṣṇavas, podemos remover a sujeira de nosso coração e, assim, gozar da paz suprema e da liberação do apego material e ficarmos satisfeitos. Neste mundo, não há atividade fruitiva superior ao serviço à classe bramânica, pois isso pode dar prazer aos semideuses, para quem os muitos sacrifícios são recomendados.
SIGNIFICADO—Na Bhagavad-gītā (2.65), declara-se: prasāde sarva-duḥkhānāṁ hānir asyopajāyate. A menos que sejamos autossatisfeitos, não podemos nos livrar das condições dolorosas da existência material. Portanto, é essencial prestar serviço aos brāhmaṇas e aos vaiṣṇavas para se alcançar a perfeição da autossatisfação. Portanto, Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura diz:
tāṅdera caraṇa sevi bhakta-sane vāsa
janame janame haya, ei abhilāṣa
“Nascimento após nascimento, desejo servir os pés de lótus dos ācāryas e viver em uma sociedade de devotos.” Só é possível manter uma atmosfera espiritual vivendo-se em uma sociedade de devotos e servindo as ordens dos ācāryas. O mestre espiritual é o melhor brāhmaṇa. Atualmente, na era de Kali, é muito difícil prestar serviço ao brāhmaṇa-kula, ou a classe bramânica. A dificuldade, segundo o Varāha Purāṇa, é que os demônios, aproveitando-se de Kali-yuga, nascem em famílias de brāhmaṇas. Rākṣasāḥ kalim āśritya jāyante brahma-yoniṣu (Varāha Purāṇa). Em outras palavras, nesta era, há muitos ditos brāhmaṇas de casta e gosvāmīs de casta que, aproveitando-se dos śāstras e da inocência da população em geral, afirmam serem brāhmaṇas e vaiṣṇavas por direito hereditário. Ninguém conseguirá benefício nenhum prestando serviço a esses falsos brāhmaṇa-kulas. É preciso, portanto, refugiar-se em um mestre espiritual fidedigno e em seus associados e, além disso, prestar-lhes serviço, pois semelhante atividade ajudará bastante o neófito a obter plena satisfação. Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura explica isso bem claramente ao comentar o verso vyavasāyātmikā buddhir ekeha kuru-nandana. (Bhagavad-gītā 2.41) Quem realmente observa os princípios reguladores de bhakti-yoga, conforme os recomenda Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura, pode atingir em pouco tempo a plataforma transcendental de liberação, como se explica neste verso (atyanta-śamam).
O uso específico da palavra anativelam (“sem demora”) é muito significativo porque, pelo simples fato de se servir os brāhmaṇas e os vaiṣṇavas, podemos libertar-nos. Não é necessário nos submetermos a rigorosas penitências e austeridades. Exemplo vívido disso é o próprio Nārada Muni. Em seu nascimento anterior, ele era um simples filho de uma criada, mas teve a oportunidade de prestar serviço a brāhmaṇas e vaiṣṇavas elevados, e assim, em sua próxima vida, não somente libertou-se, mas também se tornou famoso como o mestre espiritual supremo de toda a sucessão discipular vaiṣṇava. Segundo o sistema védico, portanto, recomenda-se costumeiramente que, após realizar uma cerimônia ritualística, deve-se servir alimento aos brāhmaṇas.