No edit permissions for Português

VERSO 42

yad brahma nityaṁ virajaṁ sanātanaṁ
śraddhā-tapo-maṅgala-mauna-saṁyamaiḥ
samādhinā bibhrati hārtha-dṛṣṭaye
yatredam ādarśa ivāvabhāsate

yat — aquilo que; brahma — a cultura bramânica; nityam — eternamente; virajam — sem contaminação; sanātanam — sem começo; śraddhā — fé; tapaḥ — austeridade; maṅgala — auspiciosa; mauna — silêncio; saṁyamaiḥ — controlando a mente e os sentidos; samādhinā — com plena concentração; bibhrati — ilumina; ha — como ele o fez; artha — o verdadeiro objetivo dos Vedas; dṛṣṭaye — com o intuito de descobrir; yatra — em que; idam — tudo isso; ādarśe — num espelho; iva — como; avabhāsate — manifesta.

Na cultura bramânica, a posição transcendental do brāhmaṇa é mantida eternamente porque os preceitos dos Vedas são aceitos com fé, austeridade, conclusões das escrituras, pleno controle dos senti­dos e da mente e meditação. Dessa maneira, derrama-se luz sobre a verdadeira meta da vida, assim como o rosto de uma pessoa reflete-se inteira­mente em um espelho limpo.

SIGNIFICADO—Como se descreve no verso anterior que alimentar um brāhmaṇa vivo é mais efetivo do que oferecer oblações em um sacrifício de fogo, agora este verso descreve claramente o que é bramanismo e quem é o brāhmaṇa. Na era de Kali, aproveitando-se do fato de que, alimen­tando um brāhmaṇa, obtém-se um resultado mais efetivo do que rea­lizar sacrifícios, uma classe de homens sem qualificações bramânicas reivindica para si o privilégio alimentar conhecido como brāhmaṇa-bhojana, simplesmente baseados em seus nascimentos em famílias de brāhmaṇas. A fim de distinguir essa classe de homens dos brāhmaṇas verdadeiros, Mahārāja Pṛthu descreve exatamente um brāhmaṇa e a cultura bramânica. Ninguém deve tirar proveito de sua posição simplesmente para viver como um fogo sem luz. O brāhmaṇa deve ser plenamente versado nas conclusões védicas, que se descrevem na Bhagavad-gītā. Vedaiś ca sarvair aham eva vedyaḥ. (Bhagavad-gītā 15.15) A conclusão védica – a compreensão fundamental, ou a compreensão Vedānta – é o conhecimento de Kṛṣṇa. Na verdade, isso é um fato, pois, pelo simples fato de entender Kṛṣṇa como Ele é, como O descreve a Bhagavad-gītā (janma karma ca me divyam evam yo vetti tattvataḥ), tornamo-nos brāhmaṇas perfeitos. O brāhmaṇa que conhece Kṛṣṇa perfeitamente bem está sempre em uma posição transcendental. Confirma-se isso também na Bhagavad-gītā (14.26):

māṁ ca yo ’vyabhicāreṇa
bhakti-yogena sevate
sa guṇān samatītyaitān
brahma-bhūyāya kalpate

“Quem se ocupa em serviço devocional pleno e não cai em circunstância alguma transcende de imediato os modos da natureza material e, assim, atinge o nível de Brahman.”

Portanto, o devoto do Senhor Kṛṣṇa é realmente um brāhmaṇa perfeito. Sua situação é transcendental, pois ele está livre dos quatro defeitos da vida condicionada, que são as tendências de cometer erros, enganar-se, enganar os outros e possuir sentidos imperfeitos. O vaiṣṇava perfeito, ou a pessoa consciente de Kṛṣṇa, está sempre nessa posição transcendental por falar de acordo com Kṛṣṇa e Seu representante. Já que os vaiṣṇavas falam exatamente em afinação com Kṛṣṇa, tudo o que dizem está livre desses quatro defeitos. Por exemplo, Kṛṣṇa diz na Bhagavad-gītā que todos devem sempre pen­sar nEle, todos devem tornar-se Seus devotos, prestar-Lhe reverên­cias e adorá-lO, e, em última análise, todos devem render-se a Ele. Essas atividades devocionais são transcendentais e isentas de erros, ilusão, trapaça e imperfeição. Portanto, quem quer que seja um devoto sincero do Senhor Kṛṣṇa e que pregue este culto, falando apenas com base nas instruções de Kṛṣṇa, é tido como virajam, ou livre dos defeitos da contaminação material. Portanto, o brāhmaṇa ou o vaiṣṇava genuíno depende eternamente das conclusões dos Vedas ou das interpretações védicas apresentadas pela própria Suprema Persona­lidade de Deus. Somente através do conhecimento védico é que podemos entender a verdadeira posição da Verdade Absoluta, a qual, como se descreve no Śrīmad-Bhāgavatam, manifesta-se sob três aspectos – a saber, o Brahman impessoal, o Paramātmā locali­zado e, por fim, a Suprema Personalidade de Deus. Esse conheci­mento é perfeito desde tempos imemoriais, e a cultura bramânica ou vaiṣṇava depende eternamente desse princípio. Portanto, devemos estudar os Vedas com fé, não apenas em busca de conhecimento para nós mesmos, mas também com o intuito de difundir este conhecimento e estas atividades através de verdadeira fé nas palavras da Suprema Personalidade de Deus e dos Vedas.

Neste verso, a palavra maṅgala, “auspicioso”, é muito significa­tiva. Śrīla Śrīdhara Svāmī cita que fazer o que é bom e rejeitar o que não é bom se chama maṅgala, ou auspicioso. Fazer o que é bom significa aceitar tudo que é favorável ao desempenho do ser­viço devocional, e rejeitar o que não é bom significa rejeitar tudo que não é favorável ao desempenho do serviço devocional. Em nosso movimento para a consciência de Kṛṣṇa, aceitamos esse princí­pio, rejeitando quatro itens proibidos, a saber, vida sexual ilícita, intoxicação, jogos de azar e consumo de carne, e aceitando o canto diário de pelo menos dezesseis voltas do mahā-mantra Hare Kṛṣṇa e a meditação diária de cantar, três vezes ao dia, o mantra Gāyatrī. Dessa maneira, pode-se manter a cultura bramânica e a força espi­ritual intactas. Seguindo esses princípios de serviço devocional estri­tamente, cantando vinte e quatro horas por dia o mahā-mantra – Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare –, fazemos progresso positivo na vida espiritual e, por fim, qualificamo-nos perfeitamente para ver a Suprema Personalidade de Deus face a face. Como a meta última do estudo ou a compreensão do conhecimento védico é encon­trar Kṛṣṇa, aquele que segue os princípios védicos descritos acima pode, desde o início, ver todos os aspectos do Senhor Kṛṣṇa, a Ver­dade Absoluta, muito distintamente, assim como uma pessoa pode ver seu próprio rosto inteiramente refletido em um espelho limpo. Conclui-se, portanto, que o brāhmaṇa não se torna brāhmaṇa pelo simples fato de ser uma entidade viva ou por ter nascido em família de brāhmaṇas; ele deve possuir todas as qualidades mencionadas nos śāstras e praticar os princípios bramânicos em sua vida. Assim, em última análise, ele se torna uma pessoa plenamente consciente de Kṛṣṇa e pode entender quem é Kṛṣṇa. A seguir, a Brahma-saṁhitā (5.38) descreve como o devoto vê Kṛṣṇa face a face, a cada instante:

premāñjana-cchurita-bhakti-vilocanena
santaḥ sadaiva hṛdayeṣu vilokayanti
yaṁ śyāmasundaram acintya-guṇa-svarūpaṁ
govindam ādi-puruṣaṁ tam ahaṁ bhajāmi

Desenvolvendo amor puro por Kṛṣṇa, o devoto vê, a cada instante, a Suprema Personalidade de Deus, que é conhecida como Śyāma­sundara, dentro de seu coração. Essa é a fase de perfeição da cul­tura bramânica.

« Previous Next »