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VERSO 24

ahiṁsayā pāramahaṁsya-caryayā
smṛtyā mukundācaritāgrya-sīdhunā
yamair akāmair niyamaiś cāpy anindayā
nirīhayā dvandva-titikṣayā ca

ahiṁsayā — pela não-violência; pāramahaṁsya-caryayā — seguindo os passos de grandes ācāryas; smṛtyā — lembrando-se; mukunda — a Suprema Personalidade de Deus; ācarita-agrya — simplesmente pregando Suas atividades; sīdhunā — pelo néctar; yamaiḥ — seguindo princípios reguladores; akāmaiḥ — sem desejos materiais; niyamaiḥ — seguindo estritamente as regras e regulações; ca — também; api — decerto; anindayā — sem blasfemar; nirīhayā — levando uma vida simples; dvandva — dualidade; titikṣayā — pela tolerância; ca — e.

Um candidato ao avanço espiritual deve ser não-violento, deve seguir os passos de grandes ācāryas, deve lembrar-se sempre do néctar dos passatempos da Suprema Personalidade de Deus, deve seguir os princípios reguladores sem desejos materiais e, enquanto segue os princípios reguladores, deve evitar blasfemar os outros. O devoto deve levar uma vida muito simples e não se deixar perturbar pela dualidade de elementos opostos. Ele deve aprender a tolerá-los.

SIGNIFICADO—Os devotos são pessoas realmente santas, ou sādhus. A primeira qualificação de um sādhu, ou devoto, é ahiṁsā, ou não-violência. As pessoas interessadas no caminho do serviço devocional, ou na volta ao lar, na volta ao Supremo, devem primeiro praticar ahiṁsā, ou não-violência. O sādhu é descrito como titikṣavaḥ kāruṇikāḥ. (Śrīmad-Bhāgavatam 3.25.21) O devoto deve ser tolerante e deve ser muito com­passivo com os outros. Por exemplo, se ele sofre uma injúria pessoal, deve tolerá-la, mas, se outra pessoa é a vítima de injúria, o devoto não pre­cisa tolerar tal coisa. O mundo inteiro está cheio de violência, e a principal função do devoto é descontinuar essa violência, incluindo a matança desnecessária de animais. O devoto é amigo, não só da sociedade humana, mas também de todas as entidades vivas, pois ele vê todas as entidades vivas como filhos da Suprema Personali­dade de Deus. Ele não afirma ser o único filho de Deus nem per­mite que todos os demais sejam mortos, pensando que eles não têm alma. O devoto puro do Senhor nunca defende esse tipo de filoso­fia. Suhṛdaḥ sarva-dehinām: o verdadeiro devoto é amigo de todas as entidades vivas. Na Bhagavad-gītā, Kṛṣṇa afirma ser o pai de toda espécie de entidades vivas; consequentemente, o devoto de Kṛṣṇa é sempre amigo de todos. Isso se chama ahiṁsā. Essa não-­violência só pode ser praticada quando seguimos os passos de grandes ācāryas. Portanto, segundo nossa filosofa vaiṣṇava, temos que seguir os grandes ācāryas dos quatro sampradāyas, ou suces­sões discipulares.

Tentar avançar na vida espiritual fora da sucessão discipular é simplesmente ridículo. É dito, portanto, que ācāryavān puruṣo veda: quem segue a sucessão discipular de ācāryas conhece as coisas como elas são. (Chāndogya Upaniṣad 6.14.2) Tad-vijñānārthaṁ sa gurum evābhigacchet: a fim de entender a ciência transcendental, é preciso aproximar-se do mestre espiritual fidedigno. (Muṇḍaka Upaniṣad 1.2.12) A palavra smṛtyā também é muito importante na vida espiritual. Smṛtyā significa lembrar-se sempre de Kṛṣṇa. Devemos moldar nossa vida de tal forma que não possamos permanecer sozinhos sem pensar em Kṛṣṇa. Devemos viver em Kṛṣṇa, de modo que, enquanto estivermos comendo, dormindo, caminhando e traba­lhando, permaneçamos apenas em Kṛṣṇa. Nossa sociedade para a consciência de Kṛṣṇa recomenda que ajustemos nossa vida de tal modo que possamos nos lembrar de Kṛṣṇa. Em nossa sociedade de devotos, a ISKCON, enquanto nos dedicamos a fazer os incensos Spiritual Sky, também ouvimos sobre as glórias de Kṛṣṇa ou Seus devotos. Os śāstras recomendam que smartavyaḥ satataṁ viṣṇuḥ: devemos sempre nos lembrar do Senhor Viṣṇu, constantemente. Vismartavyo na jātucit: Viṣṇu nunca deve ser esquecido. Assim é a vida espiritual: smṛtyā. Essa lembrança do Senhor pode ser contínua caso ouça­mos constantemente sobre Ele. Portanto, este verso recomenda: mukundācaritāgrya-sīdhunā. Sīdhu significa “néctar”. Ouvir sobre Kṛṣṇa a partir do Śrīmad-Bhāgavatam ou a partir da Bhagavad-gītā ou de qualquer literatura autêntica semelhante é viver em consciência de Kṛṣṇa. Podem alcançar semelhante concentração em consciência de Kṛṣṇa as pessoas que seguem estritamente as regras e os princípios reguladores. Recomendamos em nosso movimento para a consciência de Kṛṣṇa que cada devoto cante dezesseis voltas em suas contas diariamente e siga os princípios reguladores. Isso ajudará o devoto a firmar seu avanço na vida espiritual.

Afirma-se também neste verso que é possível avançar através do controle dos sentidos (yamaiḥ). Controlando os sentidos, podemos tornar-nos svāmīs, ou gosvāmīs. Portanto, quem desfruta deste título magnífico, svāmī ou gosvāmī, deve ser muito estrito no controle de seus sentidos. Na verdade, deve ser o senhor de seus sentidos. Isso é possível para quem não deseja gozo material dos sentidos. Se, por acaso, os sentidos desejam agir independentemente, ele os deve controlar. Caso, pela prática, simplesmente evitarmos o gozo material dos sentidos, naturalmente alcançaremos o controle dos sentidos.

Outro ponto importante mencionado a este respeito é anindayā – não devemos criticar os métodos de religião alheios. Existem diferentes espécies de sistemas religiosos operando sob diferentes qualidades da natureza material. Os sistemas influenciados pelos modos de ignorância e paixão não podem ser tão perfeitos quanto o sistema no modo da bondade. A Bhagavad-gītā divide tudo em três categorias qualitativas; portanto, os sistemas religiosos são semelhantemente categorizados. Para pessoas basicamente influen­ciadas pelos modos de paixão e ignorância, o sistema de religião será da mesma qualidade. Ao invés de criticar semelhantes siste­mas, o devoto incentivará os seguidores a manterem-se fiéis a seus princípios para que, aos poucos, possam chegar à plataforma de religião em bondade. Se simplesmente criticar, o devoto ficará com a mente agitada. Deste modo, o devoto deve tolerar e aprender a descontinuar a agitação.

Outro aspecto do devoto é nirīhayā, vida simples. Nirīhā signi­fica “amável”, “manso” ou “simples”. O devoto não deve viver muito luxuosamente e imitar as pessoas materialistas. Vida simples e pensamento elevado são recomendados para um devoto. Ele deve aceitar apenas o necessário para manter o corpo material capaz de executar serviço devocional. Ele não deve comer ou dormir mais do que o necessário. Simplesmente comer para viver, e não viver para comer, e dormir apenas de seis a sete horas por dia são princípios a serem seguidos pelos devotos. Enquanto existir, o corpo estará sujeito à influência de mudanças climáticas, doenças e distúrbios naturais, as três espécies de sofrimentos da existência material. Não podemos evitá-las. Às vezes, recebemos cartas de devotos neófitos perguntando-nos por que eles adoecem, embora pratiquem a cons­ciência de Kṛṣṇa. Eles devem aprender com este verso que devem tornar-se tolerantes (dvandva-titikṣayā). Este é o mundo das duali­dades. Ninguém deve pensar que, pelo fato de ter adoecido, caiu da consciência de Kṛṣṇa. A consciência de Kṛṣṇa pode continuar sem que qualquer oposição material a estorve. Portanto, o Senhor Śrī Kṛṣṇa aconselha na Bhagavad-gītā (2.14) que tāṁs titikṣasva bhārata: “Meu querido Arjuna, por favor, esforça-te para tolerar todas essas perturbações. Fixa-te em tuas atividades conscientes de Kṛṣṇa.”

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