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VERSO 39

dharmo hy atrārtha-kāmau ca
prajānando ’mṛtaṁ yaśaḥ
lokā viśokā virajā
yān na kevalino viduḥ

dharmaḥ — ritual religioso; hi — decerto; atra — aqui neste (gṛhastha-āśrama, ou vida de chefe de família); artha — desenvolvimento econômico; kāmau — gozo dos sentidos; ca — e; prajā-ānandaḥ — o prazer das gerações; amtam — os resultados de sacrifícios; yaśaḥ — reputação; lokāḥ — sistemas planetários; viśokāḥ — sem lamentação; virajāḥ — sem doença; yān — que; na — nunca; kevalinaḥ — os transcendentalistas; viduḥ — conhecem.

A mulher prosseguiu: Neste mundo material, a vida de um chefe de família traz toda espécie de felicidade em termos de religião, desenvolvimento econômico e gozo dos sentidos e em termos de gerar filhos e netos. Além disso, pode ser que alguém deseje a liberação, bem como reputação material. O chefe de família pode apre­ciar os resultados de sacrifícios, que o capacitam a ser promovido a sistemas planetários superiores. Toda essa felicidade material é praticamente desconhecida pelos transcendentalistas. Eles não podem nem mesmo imaginar semelhante felicidade.

SIGNIFICADO––Segundo as instruções védicas, existem dois caminhos para as atividades humanas. Um deles se chama pravṛtti-mārga, e o outro se chama nivṛtti-mārga. O princípio básico para ambos é a vida religiosa. Na vida animal, só existe pravṛtti-mārga. Pravṛtti-mārga quer dizer gozo dos sentidos, e nivṛtti-mārga significa avanço espi­ritual. Na vida de animais e demônios, não há conceito de nivṛtti-mārga, nem qualquer conceito verdadeiro de pravṛtti-mārga. Pravṛtti-mārga consiste nisto: muito embora alguém tenha uma propen­são para o gozo dos sentidos, ele pode satisfazer seus sentidos de acordo com as orientações dos preceitos védicos. Por exemplo, todos têm a propensão para a vida sexual; na civilização demoníaca, porém, goza-se de sexo sem restrições. Segundo a cultura védica, o sexo deve ser vivenciado seguindo-se as instruções védicas. Assim, os Vedas orientam os seres humanos civilizados possibilitando-lhes satisfaze­rem suas propensões para o gozo dos sentidos.

Contudo, em nivṛtti-mārga, no caminho da compreensão transcendental, o sexo é completamente proibido. As ordens sociais dividem-se em quatro classes – brahmacarya, gṛhastha, vānapras­tha e sannyāsa – e só na vida familiar é que pravṛtti-mārga pode ser incentivado ou aceito de acordo com as instruções védicas. Nas ordens de brahmacarya, vānaprastha e sannyāsa, não há concessões ao sexo.

Neste verso, a mulher está defendendo apenas pravṛtti-mārga e desencorajando o caminho de nivṛtti-mārga. Ela diz claramente que os yatis, os transcendentalistas, cujo único interesse é a vida espiri­tual (kaivalya), não podem imaginar a felicidade de pravṛtti-mārga. Em outras palavras, o homem que segue os princípios védicos goza do modo de vida materialista, não apenas ao se tornar feliz nesta vida, mas também ao ser promovido aos planetas celestiais na próxima vida. Nesta vida, semelhante indivíduo obtém toda espé­cie de opulências materiais, tais como filhos e netos, por estar sem­pre ocupado em diversas cerimônias religiosas. As aflições materiais são nascimento, velhice, doença e morte, mas aqueles que estão interessados em pravṛtti-mārga promovem diversas cerimônias religio­sas no momento do nascimento, da velhice, da doença e da morte. Sem se importarem com as aflições de nascimento, velhice, doença e morte, eles se entregam à prática de cerimônias especiais de acordo com o cerimonial ritualístico védico.

Entretanto, a verdadeira base de pravṛtti-mārga é a vida sexual. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (7.9.45), yan maithunādi­gṛhamedhi-sukhaṁ hi tuccham. Um chefe de família que é muito viciado em pravṛtti-mārga chama-se, na verdade, gṛhamedhī, e não gṛhastha. Embora o gṛhastha deseje gozo dos sentidos, ele age conforme as instruções védicas. Contudo, o gṛhamedhī, interessado apenas em gozo dos sentidos, não segue nenhuma instrução védica. O gṛhamedhī converte-se em defensor da vida sexual e também permite que seus filhos e filhas façam sexo e sejam privados de qualquer meta gloriosa na vida. O gṛhastha goza de vida sexual tanto nesta vida quanto na próxima, mas o gṛhamedhī nem mesmo sabe o que será dele na próxima vida porque está interessado ape­nas em sexo nesta vida. De um modo geral, quando alguém é demasiadamente inclinado ao sexo, não se importa com a vida espiritual transcendental. Especialmente nesta era de Kali, ninguém está interessado em avanço espiritual. Muito embora, às vezes, encontre-se alguém interessado em avanço espiritual, é bem provável que ele aceite um método falso de vida espiritual, sendo desorien­tado por muitos impostores.

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