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VERSO 21

purañjana uvāca
nūnaṁ tv akṛta-puṇyās te
bhṛtyā yeṣv īśvarāḥ śubhe
kṛtāgaḥsv ātmasāt kṛtvā
śikṣā-daṇḍaṁ na yuñjate

purañjanaḥ uvāca — Purañjana disse; nūnam — decerto; tu então; akṛta-puṇyāḥ — aqueles que não são piedosos; te — semelhantes; bhṛtyāḥ — servos; yeṣu — aos quais; īśvarāḥ — os senhores; śubhe — ó auspiciosíssima; kṛta-āgaḥsu — tendo cometido uma ofensa; āt­masāt — aceitando como sua propriedade; kṛtvā — assim fazendo; śikṣā — instrutivo; daṇḍam — castigo; na yuñjate — não dão.

O rei Purañjana disse: Minha querida e bela esposa, quando o amo aceita o servo como sua propriedade, mas não o castiga por suas ofensas, o servo deve ser considerado desventurado.

SIGNIFICADO—Segundo a civilização védica, animais domésticos e servos são tratados exatamente como os próprios filhos. Os animais e os filhos, às vezes, são castigados, não por vingança, mas por amor. Da mesma forma, o amo, às vezes, castiga seu servo, não por vingança, mas por amor, para corrigi-lo e trazê-lo à posição correta. Assim, o rei Purañjana aceitou o castigo imposto pela rainha, sua esposa, como um ato de misericórdia para com ele. Purañjana se considerava o mais obediente servo da rainha. Ela estava irada com ele por causa de suas atividades pecaminosas – a saber, caçar na floresta e deixá-la em casa. O rei Purañjana aceitou o castigo como uma verdadeira manifestação de amor e afeição da parte de sua esposa. Da mesma maneira, quando alguém é punido pelas leis da natureza, pela vontade de Deus, não deve se perturbar. O verdadeiro devoto pensa dessa maneira. Quando o devoto é posto em uma posição penosa, ele a aceita­ como a misericórdia do Senhor Supremo.

tat te ’nukampāṁ susamīkṣamāṇo
bhuñjāna evātma-kṛtaṁ vipākam
hṛd-vāg-vapurbhir vidadhan namas te
jīveta yo mukti-pade sa dāya-bhāk

(Śrīmad-­Bhāgavatam 10.14.8)

Este verso afirma que o devoto aceita uma reviravolta em sua vida como bênção do Senhor, em consequência do que oferece ao Senhor mais reverências e orações, julgando que o castigo se deve a seus­ crimes passados e que o Senhor o está castigando muito suavemente. A punição imposta pelo estado ou por Deus, pelos delitos de alguém, é realmente para o benefício da pessoa. A Manu-saṁhitā diz que o rei deve ser considerado misericordioso quando condena um assassino à morte, pois o assassino punido nesta vida fica perdoado de suas atividades pecaminosas e, na vida seguinte, nasce livre de todos os pecados. Se alguém aceita o castigo como uma recompensa dada pelo amo, ele adquire inteligência suficiente para não cometer o mesmo erro de novo.

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