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VERSOS 36-37

athātmano ’rtha-bhūtasya
yato ’nartha-paramparā
saṁsṛtis tad-vyavacchedo
bhaktyā paramayā gurau

vāsudeve bhagavati
bhakti-yogaḥ samāhitaḥ
sadhrīcīnena vairāgyaṁ
jñānaṁ ca janayiṣyati

atha — portanto; ātmanaḥ — da entidade viva; artha-bhūtasya — vendo seu verdadeiro interesse; yataḥ — de que; anartha — de todas as coisas indesejáveis; param-parā — uma série contínua; saṁsṛtiḥ­ — existência material; tat — desta; vyavacchedaḥ — parando; bhaktyā­ — pelo serviço devocional; paramayā — imaculado; gurau — ao Senhor Supremo ou Seu representante; vāsudeve — Vāsudeva; bhagavati — a Suprema Personalidade de Deus; bhakti-yogaḥ — serviço devo­cional; samāhitaḥ — aplicado; sadhrīcīnena — por completo; vairāgyam — desapego; jñānam — conhecimento pleno; ca — e; janayiṣyati — fará com que se manifeste.

O verdadeiro interesse da entidade viva é escapar da ignorância que faz com que ela sofra repetidos nascimentos e mortes. O único remédio é entregar-se à Suprema Personalidade de Deus através de Seu representante. A menos que prestemos serviço devocional à Suprema Personalidade de Deus, Vāsudeva, não temos possibili­dade de desapegar-nos por completo deste mundo material, nem nos é possível manifestar verdadeiro conhecimento.

SIGNIFICADO—É assim que nos desapegamos da condição material artificial. O único remédio é adotar a consciência de Kṛṣṇa e ocupar-se constantemente em serviço devocional ao Senhor Vāsudeva, a Suprema Personalidade de Deus. Todos se esforçam em ser felizes, e o processo adotado para alcançar essa felicidade se chama interesse pessoal. Infelizmente, a alma condicionada divagando dentro deste mundo material não sabe que sua meta última de interesse pessoal é Vāsu­deva. Saṁsṛti, ou existência material, começa com o ilusório conceito de vida corpórea e, com base nesse conceito, segue-se uma série de coisas indesejáveis (anarthas). Essas coisas indesejáveis são, na verdade, desejos mentais de várias espécies de gozo dos sentidos. Dessa maneira, aceitam-se diferentes classes de corpos dentro deste mundo material. Antes de mais nada, é preciso controlar a mente para que os desejos da mente possam purificar-se. O Nārada­-pañcarātra descreve esse processo como sarvopādhi-vinirmuktaṁ tat paratvena nirmalam. Sem purificar a mente, não há possibili­dade de livrar-se da condição material. Como se afirma no Śrīmad-­Bhāgavatam (1.7.6):

anarthopaśamaṁ sākṣād
bhakti-yogam adhokṣaje
lokasyājānato vidvāṁś
cakre sātvata-saṁhitām

“Os sofrimentos materiais da entidade viva, que são supérfluos para ela, podem ser diretamente mitigados através do processo unitivo de serviço devocional. Contudo, a massa popular não sabe disso, em razão do que o erudito Vyāsadeva compilou esta literatura védica, que está relacionada com a Verdade Suprema.” Anarthas, coisas indesejáveis, transferem-se de uma vida corpórea para a outra. Para escapar desse enredamento, deve-se adotar o serviço devocional ao Senhor Vāsudeva, Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus. A palavra guru é muito significativa a esse respeito. A palavra guru pode ser tradu­zida como “pesado”, ou “o supremo”. Em outras palavras, o guru é o mestre espiritual. Śrīla Ṛṣabhadeva aconselhava Seus filhos dizendo que gurur na sa syāt na mocayed yaḥ samupeta-mṛtyum: “Ninguém deve assumir o posto de mestre espiritual a menos que seja capaz de libertar seu discípulo do ciclo de nascimentos e mortes.” (Śrīmad-Bhāgavatam 5.5.18) A existência material, na verdade, é uma cadeia de ações e reações provocadas por diferentes espécies de atividades fruitivas. Essa é a causa de nascimentos e mortes. Só pode parar este processo quem se ocupa a serviço de Vāsudeva.

Bhakti refere-se àquelas atividades realizadas a serviço do Senhor Vāsudeva. Uma vez que o Senhor Vāsudeva é o Supremo, devemos ocupar-nos a serviço dEle, e não a serviço dos semideuses. O ser­viço devocional começa a partir da fase neófita – a fase de seguir as regras e regulações – e estende-se até se chegar ao serviço amoroso espontâneo ao Senhor. A finalidade de todas as fases é satisfazer o Senhor Vāsudeva. Quando alguém é perfeitamente avançado em ser­viço devocional a Vāsudeva, ele se desapega por completo do ser­viço ao corpo, isto é, da posição a ele atribuída na existência material. Após se desapegar assim, ele se torna deveras perfeito em conhecimento e ocupa-se com perfeição a serviço do Senhor Vāsu­deva. Śrī Caitanya Mahāprabhu diz que jīvera ‘svarūpa’ haya — kṛṣṇera ‘nitya-dāsa’: “Toda entidade viva, por posição cons­titucional, é serva eterna de Kṛṣṇa.” Tão logo alguém se ocupe em servir o Senhor Vāsudeva, ele atinge sua posição constitucional normal. Essa posição se chama “estado liberado”. Muktir hitvānyathā-rūpaṁ svarūpeṇa vyavasthitiḥ: no estado liberado, situamo-nos em nossa posição consciente de Kṛṣṇa original. Abandonamos todos os compromissos com o serviço à matéria, compromissos inventados sob os nomes de serviço social, serviço nacional, serviço comunitá­rio, serviço canino, serviço automobilístico e tantos outros serviços conduzidos sob a ilusão de “eu” e “meu”. Como se explica no segundo capítulo do primeiro canto Śrīmad-Bhāgavatam (1.2.7):

vāsudeve bhagavati
bhakti-yogaḥ prayojitaḥ
janayaty āśu vairāgyaṁ
jñānaṁ ca yad ahaitukam

“Aquele que presta serviço devocional à Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, adquire imediatamente conhecimento imotivado e desapego do mundo.” Assim, todos devem ocupar-se em servir Vāsudeva sem desejos materiais, especulação mental ou atividades fruitivas.

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