VERSO 54
sumanaḥ-sama-dharmaṇāṁ strīṇāṁ śaraṇa āśrame puṣpa-madhu-gandhavat kṣudratamaṁ kāmya-karma-vipākajaṁ kāma-sukha-lavaṁ jaihvyaupasthyādi vicinvantaṁ mithunī-bhūya tad-abhiniveśita-manasaṁ ṣaḍaṅghri-gaṇa-sāma-gītavad atimanohara-vanitādi-janālāpeṣv atitarām atipralobhita-karṇam agre vṛka-yūthavad ātmana āyur harato ’ho-rātrān tān kāla-lava-viśeṣān avigaṇayya gṛheṣu viharantaṁ pṛṣṭhata eva parokṣam anupravṛtto lubdhakaḥ kṛtānto ’ntaḥ śareṇa yam iha parāvidhyati tam imam ātmānam aho rājan bhinna-hṛdayaṁ draṣṭum arhasīti.
sumanaḥ — flores; sama-dharmaṇām — exatamente como; strīṇām — de mulheres; śaraṇe — no refúgio; āśrame — vida familiar; puṣpa — em flores; madhu — de mel; gandha — o aroma; vat — como; kṣudra-tamam — muito insignificante; kāmya — desejadas; karma — de atividades; vipāka-jam — obtidas como resultado; kāma-sukha — de gozo dos sentidos; lavam — um fragmento; jaihvya — prazer da língua; aupasthya — gozo sexual; ādi — começando com; vicinvantam — sempre pensando em; mithunī-bhūya — fazendo sexo; tat — em sua esposa; abhiniveśita — sempre absorta; manasam — cuja mente; ṣaṭ-aṅghri — de abelhas; gaṇa — dos grupos; sāma — suave; gīta — o canto; vat — como; ati — muito; manohara — atrativo; vanitā-ādi — começando com a esposa; jana — de pessoas; ālāpeṣu — às conversas; atitarām — excessivamente; ati — muito; pralobhita — atraídos; karṇam — cujos ouvidos; agre — em frente; vṛka-yūtha — um grupo de tigres; vat — como; ātmanaḥ — do próprio eu; āyuḥ — duração de vida; harataḥ — roubando; ahaḥ-rātrān — dias e noites; tān — todos eles; kāla-lava-viśeṣān — os momentos do tempo; avigaṇayya — sem considerar; gṛheṣu — na vida familiar; viharantam — desfrutando; pṛṣṭhataḥ — pelas costas; eva — decerto; parokṣam — sem ser visto; anupravṛttaḥ — indo ao encalço de; lubdhakaḥ — o caçador; kṛta-antaḥ — o superintendente da morte; antaḥ — no coração; śarena — por uma flecha; yam — a quem; iha — neste mundo; parāvidhyati — trespassa; tam — esta; imam — isto; ātmānam — tu próprio; aho rājan — ó rei; bhinna-hṛdayam — cujo coração está trespassado; draṣṭum — ver; arhasi — deves; iti — assim.
Meu querido rei, a mulher, que é muito atrativa no início, mas muito perturbadora no final, é exatamente como a flor, que é atrativa no início e detestável no fim. Com a mulher, o ser vivo enreda-se em desejos luxuriosos e goza de sexo, assim como alguém que desfruta do aroma de uma flor. Assim, o ser vivo leva uma vida de gozo dos sentidos – desde sua língua até seus órgãos genitais – e, dessa maneira, considera-se muito feliz na vida familiar. Unido com sua esposa, ele sempre permanece absorto nesses pensamentos. Sente muito prazer em ouvir as conversas de sua esposa e de seus filhos, as quais são como o doce zumbido de abelhas que colhem mel de flor em flor. Ele esquece que, diante dele, está o tempo, que reduz a duração de sua vida dia após dia, noite após noite. Ele não vê a redução gradual de sua vida, nem se importa com o superintendente da morte, que está tentando matá-lo pelas costas. Procura compreender isso. Tu estás em uma posição precária e estás sendo ameaçado de todos os lados.
SIGNIFICADO—Vida materialista significa esquecimento de nossa posição constitucional como servos eternos de Kṛṣṇa, e esse esquecimento é especialmente acentuado no gṛhastha-āśrama. No gṛhastha-āśrama, um jovem aceita uma jovem esposa que é muito bela no início, mas, com o transcorrer do tempo, após dar à luz muitos filhos e tornar-se cada vez mais velha, ela exige muitas coisas do esposo para manter toda a família. Nesse momento, a esposa torna-se detestável para o mesmo homem que a aceitou em seus dias de juventude. Um homem fica apegado ao gṛhastha-āśrama por apenas duas razões: a esposa cozinha preparações deliciosas para a satisfação da língua do esposo e lhe dá prazer sexual à noite. Uma pessoa apegada ao gṛhastha-āśrama sempre pensa nestas duas coisas – comida saborosa e prazer sexual. Tanto as conversas da esposa quanto as conversas dos filhos, desfrutadas como uma recreação familiar, atraem a entidade viva. Assim, ela esquece que acabará morrendo um dia e que precisa preparar se para a próxima vida caso deseje ser posta em um corpo agradável.
O veado no jardim florido é uma alegoria usada pelo grande sábio Nārada para mostrar ao rei que o próprio rei está igualmente preso na armadilha das coisas que o cercam. Na verdade, todos estão cercados por essa vida familiar, a qual os desorienta. Deste modo, a entidade viva esquece que tem que voltar ao lar, voltar ao Supremo. Ela simplesmente se enreda na vida familiar. Portanto, Prahlāda Mahārāja sugeriu: hitvātma-pātaṁ gṛham andha-kūpaṁ vanaṁ gato yad dharim āśrayeta. A vida familiar é considerada um poço camuflado (andha-kūpam) no qual todos que caem morrem desamparados. Prahlāda Mahārāja recomenda que, enquanto tivermos os sentidos funcionando bem e sejamos suficientemente fortes, devemos abandonar o gṛhastha-āśrama e refugiar-nos aos pés de lótus do Senhor, indo à floresta de Vṛndāvana. Segundo a civilização védica, é preciso abandonar a vida familiar em uma determinada idade (cinquenta anos de idade), aceitar vānaprastha e, por fim, permanecer sozinho como sannyāsī. Esse é o método prescrito de civilização védica conhecido como varṇāśrama-dharma. Alguém que aceita sannyāsa após gozar da vida familiar satisfaz o Supremo Senhor Viṣṇu.
Todos devem entender sua posição na vida familiar ou mundana. Isso se chama inteligência. Ninguém deve permanecer preso para sempre na armadilha da vida familiar para satisfazer sua língua e seus órgãos genitais na companhia de uma esposa. Quem faz isso simplesmente arruína sua vida. Segundo a civilização védica, é imprescindível abandonar a família em uma determinada fase, à força, se necessário. Infelizmente, pretensos seguidores da vida védica não abandonam sua família nem mesmo no fim da vida, a menos que sejam forçados pela morte. É necessário que haja uma completa revisão do sistema social, e a sociedade deve voltar aos princípios védicos, isto é, aos quatro varṇas e quatro āśramas.