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VERSO 55

sa tvaṁ vicakṣya mṛga-ceṣṭitam ātmano ’ntaś
cittaṁ niyaccha hṛdi karṇa-dhunīṁ ca citte
jahy aṅganāśramam asattama-yūtha-gāthaṁ
prīṇīhi haṁsa-śaraṇaṁ virama krameṇa

saḥ — essa mesma pessoa; tvam — tu; vicakṣya — considerando; mṛga-ceṣṭitam — as atividades do veado; ātmanaḥ — do eu; antaḥ — dentro; cittam — consciência; niyaccha — fixa; hṛdi — no coração; karṇa-dhunīm — recepção auditiva; ca — e; citte — à consciência; jahi — renuncia; aṅganā-āśramam — vida familiar; asat-tama — muito abominável; yūtha-gātham — cheia de histórias de homem e mulher; prīṇīhi — simplesmente aceita; haṁsa-śaraṇam — o refúgio de almas liberadas; virama — desapega-te; krameṇa — aos poucos.

Meu querido rei, simplesmente tenta compreender o significado alegórico do veado. Sê plenamente consciente de ti mesmo e abandona o prazer de ouvir sobre a promoção aos planetas celestiais mediante ativi­dades fruitivas. Abandona a vida familiar, que é cheia de sexo, bem como histórias sobre tais assuntos, e refugia-te na Suprema Personalidade de Deus através da misericórdia das almas liberadas. Dessa maneira, por favor, abandona tua atração pela existência material.

SIGNIFICADO—Em uma de suas canções, Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura escreve:

karma-kāṇḍa, jñāna-kāṇḍa, kevala viṣera bhāṇḍa,
amṛta baliyā yebā khāya
nānā yoni sadā phire, kadarya bhakṣaṇa kare,
tāra janma adhaḥ-pāte yāya

“As atividades fruitivas e a especulação mental são simplesmente taças de veneno. Qualquer pessoa que as beba, julgando-as néctar, é obrigada a lutar muito arduamente, vida após vida, em diferentes espécies de corpos. Uma pessoa assim come toda sorte de bes­teiras e se condena por suas atividades de dito gozo dos sentidos.”

De um modo geral, todos estão enamorados dos resultados fruiti­vos de atividades mundanas e da especulação mental. Geralmente, eles desejam ser promovidos aos planetas celestiais, fundir-se na existência de Brahman ou manter-se no meio familiar, encanta­dos pelos prazeres da língua e dos órgãos genitais. O grande sábio Nārada instrui claramente o rei Barhiṣmān a não permanecer toda a sua vida no gṛhastha-āśrama. Estar no gṛhastha-āśrama significa estar sob o controle da esposa. É preciso abandonar tudo isso e ingressar no āśrama de paramahaṁsa, isto é, colocar-se sob o con­trole do mestre espiritual. O paramahaṁsa-āśrama é o āśrama da Suprema Personalidade de Deus, à sombra de quem o mestre espi­ritual se refugia. As características do mestre espiritual fidedigno são descritas no Śrīmad-Bhāgavatam (11.3.21):

tasmād guruṁ prapadyeta
jijñāsuḥ śreya uttamam
śābde pare ca niṣṇātaṁ
brahmaṇy upaśamāśrayam

“Quem quer que deseje seriamente alcançar a verdadeira felicidade deve procurar um mestre espiritual fidedigno e refugiar-se nele através da iniciação. A qualificação de mestre espiritual consiste em que ele compreendeu as conclusões das escrituras através da deliberação e de argumentos, sendo, assim, capaz de convencer outros sobre essas conclusões. Essas grandes personalidades, tendo se refugiado completamente na Divindade Suprema e deixado de lado todas as considerações materiais, devem ser tidas como mestres espirituais fidedignos.”

Um paramahaṁsa é aquele que se refugiou no Parabrahman, a Suprema Personalidade de Deus. Se alguém se refugiar no mestre espiritual paramahaṁsa, aos poucos, através do treinamento e da instrução, ele se desapegará da vida mundana e finalmente voltará ao lar, voltará ao Supremo. A menção específica de aṅganāśramam asattama-yūtha-gātham é muito interessante. O mundo inteiro está nas garras de māyā, sendo controlado pela mulher. Um homem não é apenas controlado pela mulher que é sua esposa, mas também é controlado por muitos livros eróticos. Essa é a causa de ele ficar enredado no mundo material. Não é possível alguém abandonar essa associação abominável através de seu próprio esforço, mas, refugiando-se em um mestre espiritual fidedigno, que seja um paramahaṁsa, ele aos poucos se elevará à plataforma da vida espiritual.

As palavras agradáveis dos Vedas que inspiram as pessoas a se elevarem aos planetas celestiais ou a fundirem-se na existência do Supremo destinam-se aos menos inteligentes, descritos na Bhagavad-­gītā como māyayāpahṛta-jñānāḥ (pessoas cujo conhecimento foi rou­bado pela energia ilusória). Verdadeiro conhecimento significa compreender a condição dolorosa da vida material. Todos devem refugiar-se em uma alma liberada genuína, um mestre espiritual, e, aos poucos, elevar-se à plataforma espiritual, desapegando-se, assim, do mundo material. Segundo Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, haṁsa-śaraṇam refere-se à cabana na qual vivem as pessoas santas. De um modo geral, uma pessoa santa vive em lugares remotos na floresta ou em uma humilde cabana. Contudo, devemos observar que os tempos mudaram. Pode ser benéfico para o interesse próprio de uma pessoa santa ir à floresta e viver em uma cabana, mas, se alguém se torna um pregador, especialmente nos países ocidentais, ele precisa convidar muitas classes de homens acos­tumados a viver em apartamentos confortáveis. Portanto, nesta era, uma pessoa santa deve tomar as devidas providências para receber as pessoas e atraí-las à mensagem da consciência de Kṛṣṇa. Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura, talvez pela primeira vez, intro­duziu automóveis e palácios para a residência de pessoas santas ape­nas para atrair o público em geral das grandes cidades. O fato principal é que todos devem associar-se com pessoas santas. Nesta era, as pessoas não saem à procura de santos na floresta, logo os santos e sábios devem dirigir-se às grandes cidades para receber ali as pessoas em geral, as quais estão habituadas às amenidades modernas da vida material. Pouco a pouco, essas pessoas aprenderão que palá­cios ou apartamentos confortáveis não são necessários de modo algum. A verdadeira necessidade é livrar-se do cativeiro material de qual­quer maneira. Segundo as ordens de Śrīla Rūpa Gosvāmī:

anāsaktasya viṣayān
yathārham upayuñjataḥ
nirbandhaḥ kṛṣṇa-sambandhe
yuktaṁ vairāgyam ucyate

“Quem uma pessoa não está apegada a nada, mas, ao mesmo tempo, aceita tudo que tenha em relação com Kṛṣṇa, está corretamente situada acima de todo senso de posse.” (Bhakti-rasāmṛta-sindhu 1.2.255)

Ninguém deve apegar-se à opulência material, mas pode-se acei­tar a opulência material no movimento para a consciência de Kṛṣṇa de modo a facilitar a propagação do movimento. Em outras palavras, pode-se aceitar a opulência material como sendo yukta-vairāgya, isto é, visando à renúncia.

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