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VERSO 19

gṛheṣv āviśatāṁ cāpi
puṁsāṁ kuśala-karmaṇām
mad-vārtā-yāta-yāmānāṁ
na bandhāya gṛhā matāḥ

gṛheṣu — na vida familiar; āviśatām — que ingressaram; ca — também; api — mesmo; puṁsām — de pessoas; kuśala-karmaṇām — dedi­cadas a atividades auspiciosas; mat-vārtā — em tópicos sobre Mim; yāta — é gasto; yāmānām — cada momento de quem; na — não; ban­dhāya — para o cativeiro; gṛhāḥ — vida familiar; matāḥ — consi­derada.

Aqueles que se dedicam a atividades auspiciosas de serviço devocional decerto compreendem que o desfrutador ou beneficiário último de todas as atividades é a Suprema Personalidade de Deus. Assim, ao agirem, eles oferecem os resultados à Suprema Persona Personalidade de Deus e passam a vida sempre absortos em tópicos sobre o Senhor. Mesmo que tais pessoas estejam participando da vido familiar, elas não são afetadas pelos resultados de suas ações.

SIGNIFICADO—De um modo geral, uma pessoa que vive em família torna-se demasiadamente apegada a atividades fruitivas. Em outras palavras, ela tenta gozar dos resultados de suas atividades. O devoto, entretanto, sabe que Kṛṣṇa é o desfrutador supremo e o proprietário supremo (bhoktāraṁ yajña-tapasāṁ sarva-loka-maheśvaraṁ). Em consequência disso, o devoto não se considera o proprietário de nenhuma ocupação. O devoto sempre pensa na Suprema Personali­dade de Deus como o proprietário, motivo pelo qual ele oferece ao Senhor Supremo os resultados de suas atividades. Quem vive assim no mundo material com sua família e filhos nunca se deixa afetar pelas contaminações do mundo material. Confirma-se isso na Bhagavad-gītā (3.9):

yajñārthāt karmaṇo ’nyatra
loko ’yaṁ karma-bandhanaḥ
tad-arthaṁ karma kaunteya
mukta-saṅgaḥ samācara

Aquele que tenta gozar dos resultados de suas atividades é atado por esses mesmos resultados. Quem oferece seus resultados ou ganhos à Suprema Personalidade de Deus, contudo, não se enreda nos resultados. Esse é o segredo do sucesso. De um modo geral, as pessoas aceitam sannyāsa para se livrarem das reações das atividades fruitivas. Aquele que não fica com os resultados de suas ações, mas, ao contrário, oferece-os à Suprema Personalidade de Deus, com certeza permanece em uma condição liberada. No Bhakti-rasāmṛta­-sindhu, Śrī Rūpa Gosvāmī confirma isso:

īhā yasya harer dāsye
karmaṇā manasā girā
nikhilāsv apy avasthāsu
jīvan-muktaḥ sa ucyate

Se alguém se ocupar a serviço do Senhor através de sua vida, riqueza, palavras, inteligência e tudo que possui, será sempre libe­rado em qualquer condição. Uma pessoa assim se chama jīvan­-mukta, ou seja, liberada durante esta mesma vida. Desprovidos de consciência de Kṛṣṇa, aqueles que se ocupam em atividades mate­riais não fazem nada além de se enredarem cada vez mais no cativeiro material. São obrigados a sofrer e desfrutar das ações e reações de todas as ativi­dades. Portanto, este movimento para a consciência de Kṛṣṇa é a maior dádiva para a humanidade porque nos mantém sempre ocu­pados a serviço de Kṛṣṇa. Os devotos pensam em Kṛṣṇa, agem para Kṛṣṇa, comem para Kṛṣṇa, dormem para Kṛṣṇa e trabalham para Kṛṣṇa. Assim, ocupam tudo a serviço de Kṛṣṇa. Uma vida total em consciência de Kṛṣṇa nos salva da contaminação material. Afirma isso Bhaktisiddhānta Sarasvatī Gosvāmī Mahārāja:

kṛṣṇa-bhajane yāhā haya anukūla
viṣaya baliyā tyāge tāhā haya bhūla

“Se alguém é hábil o bastante para conectar ou ocupar tudo a serviço do Senhor, a ideia de renunciar ao mundo material se torna algo sem sentido.” Deve-se aprender a vincular tudo no serviço ao Senhor, pois tudo possui um vínculo com Kṛṣṇa. Esse é o verdadeiro objetivo da vida e o segredo do sucesso, como se reitera no terceiro capí­tulo da Bhagavad-gītā (3.19):

tasmād asaktaḥ satataṁ
kāryaṁ karma samācara
asakto hy ācaran karma
param āpnoti pūruṣaḥ

“Portanto, sem se apegar aos frutos das atividades, deve-se agir por uma questão de dever, pois, trabalhando sem apego, alcança-se o Supremo.”

O terceiro capítulo da Bhagavad-gītā analisa especificamente as atividades materiais com o propósito de gozo dos sentidos e ativi­dades materiais com o propósito de satisfazer ao Senhor Supremo. Em conclusão, essas duas classes de atividade não são iguais. Atividades materiais em busca de gozo dos sentidos consti­tuem a causa do cativeiro material, ao passo que as mesmíssimas atividades, quando visam à satisfação de Kṛṣṇa, constituem a causa da liberação. Como a mesma atividade pode ser causa de cativeiro e liberação é algo que se pode explicar da seguinte maneira: pode ser que alguém fique com indigestão por comer muitas preparações lácteas – leite condensado, arroz-doce e assim por diante. Contudo, ainda que o indivíduo sofra de indigestão ou diarreia, outra preparação láctea – iogurte misturado com pimenta do reino e sal – imediatamente cu­rará esses males. Em outras palavras, uma preparação láctea pode causar indigestão e diarreia, e outra preparação láctea pode curá-las.

Se alguém se vê dotado de opulência material devido à misericór­dia especial da Suprema Personalidade de Deus, ele não deve consi­derar essa opulência como causadora de cativeiro. Quando um devoto puro é abençoado com opulência material, ele não é afetado adversamente, pois sabe como empregar a opulência material a ser­viço do Senhor. Há muitos exemplos disso na história do mundo – reis como Pṛthu Mahārāja, Prahlāda Mahārāja, Janaka, Dhruva, Vaivasvata Manu e Mahārāja lkṣvāku. Todos eles foram grandes reis e receberam favor especial da Suprema Personalidade de Deus. Se um devoto não for maduro, o Senhor Supremo tomará toda a opulência dele. Esse princípio é declarado pela Suprema Personalidade de Deus, yasyāham anugṛhṇāmi hariṣye tad-dhanaṁ śanaiḥ: “A primeira misericórdia que mostro para Meu devoto é retirar toda a sua opulência material.” O Senhor Supremo tira qualquer opulên­cia material que prejudique o serviço devocional, ao passo que uma pessoa madura em serviço devocional recebe dEle todos os recursos materiais.

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