No edit permissions for Português

Capítulo Trinta

As Atividades dos Pracetās

VERSO 1: Vidura perguntou a Maitreya: Ó brāhmaṇa, anteriormente falaste sobre os filhos de Prācīnabarhi e me informaste que eles satisfizeram a Suprema Personalidade de Deus, cantando uma canção com­posta pelo senhor Śiva. O que eles obtiveram dessa maneira?

VERSO 2: Meu querido Bārhaspatya, o que os filhos do rei Barhiṣat, conhecidos como os Pracetās, obtiveram depois de se encontrarem com o senhor Śiva, que é muito querido pela Suprema Personalidade de Deus, o outorgador da liberação? É certo que foram transferidos para o mundo espiritual, mas, além disso, o que obtive­ram dentro deste mundo material, quer nesta vida, quer em outras vidas?

VERSO 3: O grande sábio Maitreya disse: Os filhos do rei Prācīnabarhi, conhecidos como os Pracetās, praticaram rigorosas austeridades dentro da água do mar para cumprirem a ordem de seu pai. Cantando e repetindo os mantras dados pelo senhor Śiva, eles foram capazes de satisfazer o Senhor Viṣṇu, a Suprema Personalidade de Deus.

VERSO 4: Ao fim de dez mil anos de rigorosas austeridades praticadas pelos Pracetās, a Suprema Personalidade de Deus, em recompensa por suas austeridades, apareceu diante deles sob Sua forma tão prazerosa. Isso satisfez os Pracetās e compensou o esforço extenuante de suas austeridades.

VERSO 5: A Personalidade de Deus, aparecendo sobre os ombros de Garuḍa, parecia uma nuvem repousando no topo da montanha conhe­cida como Meru. O corpo transcendental da Personalidade de Deus trajava roupas amarelas e atrativas, e Seu pescoço estava enfei­tado com a joia conhecida como Kaustubha-maṇi. O brilho do corpo do Senhor dissipou toda a escuridão do universo.

VERSO 6: O rosto do Senhor era muito belo, e Sua cabeça estava enfeitada com um elmo brilhante e ornamentos dourados. O elmo era cintilante e estava muito belamente repousado sobre Sua cabeça. O Senhor tinha oito braços, cada um portando uma arma específica. O Senhor estava cercado por semideuses, grandes sábios e outros associados. Todos eles estavam ocupados a serviço dEle. Garuḍa, o transporta­dor do Senhor, glorificava o Senhor com hinos védicos, batendo suas asas. Garuḍa parecia um habitante do planeta conhecido como Kinnara-loka.

VERSO 7: Em volta do pescoço da Personalidade de Deus, pendia uma guirlanda de flores que alcançava Seus joelhos. Seus oito braços fortes e alon­gados estavam decorados com aquela guirlanda, a qual desafiava a beleza da deusa da fortuna. Com um olhar misericordio­so e uma voz igual ao trovão, o Senhor dirigiu-Se aos filhos do rei Prācīnabarhiṣat, que eram muitíssimo rendidos a Ele.

VERSO 8: A Suprema Personalidade de Deus disse: Meus queridos filhos do rei, estou muito satisfeito com as relações amistosas entre vós. Estais todos empenhados em uma só ocupação – o serviço devocional. Estou tão agradado com vossa amizade mútua que vos desejo­ toda a boa fortuna. Agora podeis pedir-Me qualquer bênção.

VERSO 9: O Senhor prosseguiu: Aqueles que se lembrarem de vós todas as noites de todos os dias se tornarão amigáveis com seus irmãos e com todas as demais entidades vivas.

VERSO 10: Aqueles que Me oferecerem as orações compostas pelo senhor Śiva, tanto de manhã quanto à noite, receberão Minhas bênçãos. Dessa maneira, eles poderão tanto satisfazer seus desejos, quanto alcançar boa inteligência.

VERSO 11: Como aceitastes com prazer dentro de vosso coração as ordens de vosso pai e cumpristes essas ordens muito fielmente, vossas qualidades atrativas serão celebradas em todo o mundo.

VERSO 12: Vós tereis um belo filho, que não será de modo algum inferior ao senhor Brahmā. Em consequência disso, ele será muito famoso em todo o universo, e os filhos e netos gerados por ele encherão os três mundos.

VERSO 13: Ó filhos do rei Prācīnabarhiṣat, a moça da sociedade celestial chamada Pramlocā deixou a filha de Kaṇḍu, de olhos de lótus, aos cuidados das árvores da floresta. Então, ela regressou ao planeta celestial. Essa filha nasceu da cópula da Apsarā chamada Pramlocā com o sábio Kaṇḍu.

VERSO 14: Depois disso, a criança, que fora deixada aos cuidados das árvores, começou a chorar de fome. Nesse momento, o rei da floresta, a saber, o rei do planeta Lua, por compaixão colocou seu dedo, do qual fluía néctar, dentro da boca da criança. Assim, a criança foi criada pela misericórdia do rei da Lua.

VERSO 15: Uma vez que todos vós sois muito obedientes às Minhas ordens, peço-vos que vos caseis imediatamente com essa moça, que é tão bem dotada de beleza e boas qualidades. Seguindo a ordem de vosso pai, criai progênie através dela.

VERSO 16: Todos vós, irmãos, sois da mesma natureza, sendo devotos e filhos obedientes de vosso pai. Do mesmo modo, esta moça também é da mesma classe e é dedicada a todos vós. Assim, tanto a moça quanto vós, os filhos do rei Prācīnabarhiṣat, estais na mesma plataforma, unidos em nome de um princípio comum.

VERSO 17: Então, o Senhor abençoou todos os Pracetās dizendo-lhes: Meus queridos príncipes, por Minha misericórdia, podeis gozar de todos os recursos deste mundo, bem como do mundo celestial. Na verdade, podeis desfrutar de tudo isso sem obstáculos e com pleno vigor por um milhão de anos celestiais.

VERSO 18: Depois disso, desenvolvereis serviço devocional imaculado a Mim e vos libertareis de toda a contaminação material. Nesse momento, estando inteiramente desapegados do gozo material nos ditos plane­tas celestiais, bem como nos planetas infernais, retornareis ao lar, de volta ao Supremo.

VERSO 19: Aqueles que se dedicam a atividades auspiciosas de serviço devocional decerto compreendem que o desfrutador ou beneficiário último de todas as atividades é a Suprema Personalidade de Deus. Assim, ao agirem, eles oferecem os resultados à Suprema Persona Personalidade de Deus e passam a vida sempre absortos em tópicos sobre o Senhor. Mesmo que tais pessoas estejam participando da vido familiar, elas não são afetadas pelos resultados de suas ações.

VERSO 20: Ocupando-se sempre em atividades de serviço devocional, os devotos se sentem cada vez mais viçosos e renovados em todas as suas atividades. O ser onisciente, a Superalma dentro do coração do devoto, faz com que tudo se revigore cada vez mais. Os defensores da Verdade Absoluta conhecem isso como a posição Brahman. Nessa fase liberada [brahma-bhūta], ninguém fica confuso, em tempo algum. Tampouco se lamenta ou se torna desnecessariamente jubiloso. Isso se deve à situação brahma-bhūta.

VERSO 21: O grande sábio Maitreya disse: Depois que a Personalidade de Deus falou assim, os Pracetās puseram-se a oferecer-Lhe orações. O Senhor é o outorgador de todo sucesso na vida e o benfeitor supremo. Ele também é o amigo supremo, que elimina todas as condições dolorosas experimentadas por um devoto. Com a voz embargada, devido ao êxtase, os Pracetās começaram a oferecer orações. Eles estavam purificados pela presença do Senhor, o qual Se encontrava pessoalmente perante eles.

VERSO 22: Os Pracetās falaram da seguinte maneira: Querido Senhor, Vós nos aliviais de toda espécie de aflições materiais. Vossas magnânimas qualidades transcendentais e Vosso santo nome são plenamente auspiciosos. Esta conclusão já é em estabelecida. Sua velocidade supera àquela da mente e das palavras. Não podeis ser percebido pelos senti­dos materiais. Portanto, nós Vos oferecemos repetidamente nossas respeitosas reverências.

VERSO 23: Querido Senhor, aceite, por favor, nossas reverências. Quando a mente está fixa em Vós, o mundo de dualidade, apesar de ser um lugar feito para o gozo material, parece insignificante. Vossa forma transcendental é plena de bem-aventu­rança transcendental. Portanto, nós Vos prestamos nossos respeitos. Vossos aparecimentos como o senhor Brahmā, o Senhor Viṣṇu e o senhor Śiva destinam-se ao propósito de criar, manter e aniquilar esta manifestação cósmica.

VERSO 24: Querido Senhor, nós Vos oferecemos nossas respeitosas reverências porque Vossa existência é inteiramente independente de todas as influências materiais. Vossa Onipotência sempre afasta as condições dolorosas do devoto, pois Vosso cérebro planeja como fazê-lo. Viveis em toda parte como Paramātmā; portanto, sois conhecido como Vāsudeva. Além disso, aceitais Vāsudeva como Vosso pai, e sois célebre pelo nome Kṛṣṇa. Sois tão bondoso que sempre aumen­tais o prestígio de todos os Vossos devotos.

VERSO 25: Querido Senhor, nós Vos oferecemos nossas respeitosas reverências porque, de Vosso abdômen, brota a flor de lótus, a origem de todas as entidades vivas. Estais sempre enfeitado com uma guirlanda de lótus, e Vossos pés assemelham-se à flor de lótus, com toda a sua fragrância. Vossos olhos são como as pétalas de uma flor de lótus. Portanto, nós Vos oferecemos sempre nossas respeitosas reverências.

VERSO 26: Querido Senhor, a roupa que usais é amarelada, como o açafrão de uma flor de lótus, mas ela não é feita de nada material. Como viveis no coração de todos, sois a testemunha direta de todas as atividades de todas as entidades vivas. Nós Vos oferecemos repetidamente nossas respeitosas reverências.

VERSO 27: Querido Senhor, nós almas condicionadas estamos sempre enco­bertos pela ignorância no conceito corpóreo de vida. Portanto, preferimos sempre as condições dolorosas da existência material. A fim de libertar-nos dessas condições lastimáveis, aparecestes sob esta forma transcendental. Isso comprova a Vossa misericórdia ilimitada e imotivada para com aqueles entre nós que estão sofrendo dessa maneira. O que dizer, então, dos devotos, pelos quais sempre sentis uma inclinação favorável?

VERSO 28: Querido Senhor, sois o exterminador de tudo que é inauspicioso. Sois compassivo para com Vossos pobres devotos através da expansão de Vosso arcā-vigraha. Certamente pensais em nós como Vossos servos eternos.

VERSO 29: Quando o Senhor, por Sua compaixão natural, pensa em Seu devoto, é somente esse processo que proporciona a satisfação de todos os desejos do devoto neófito. O Senhor encontra-Se no coração de cada entidade viva, mesmo que seja uma entidade viva muito insignificante. O Senhor conhece tudo sobre a entidade viva, incluindo todos os seus desejos. Muito embora sejamos muito insignificantes, por que o Senhor desconheceria nossos desejos?

VERSO 30: Ó Senhor do universo, sois o verdadeiro mestre da ciência do serviço devocional. Estamos satisfeitos de que Vossa Onipotência seja a meta última de nossas vidas, e oramos que sempre fiqueis satisfeito conosco. Por favor, dai-nos esta bênção. Não desejamos nada além de Vossa plena satisfação.

VERSO 31: Querido Senhor, portanto, queremos implorar Vossa bênção porque sois o Supremo, além de toda a transcendência, e porque são infinitas as Vossas opulências. Em consequência disso, sois célebre pelo nome de Ananta.

VERSO 32: Querido Senhor, quando a abelha se aproxima da árvore celestial chamada pārijāta, ela certamente não deixa a árvore, porque não necessita fazê-lo. De forma semelhante, agora que nos aproxima­mos de Vossos pés de lótus e nos refugiamos neles, que outra bênção podemos pedir-Vos?

VERSO 33: Querido Senhor, enquanto tivermos que permanecer dentro deste mundo material devido à nossa contaminação material e tivermos que vagar de uma espécie de corpo a outra e de um planeta a outro, oramos que nos deis a oportunidade de nos associarmos com aqueles que se dedicam a conversar sobre Vossos passatempos. Oramos por essa bênção vida após vida, em diferentes formas corpóreas e em diferentes planetas.

VERSO 34: Não se pode comparar nem mesmo um segundo de associação com um devoto puro com a transferência a planetas celestiais ou com a imersão na refulgência Brahman em completa liberação. Para entidades vivas destinadas a abandonar o corpo e morrer, a associação com devotos puros é a bênção mais elevada.

VERSO 35: Sempre que os tópicos puros do mundo transcendental são discu­tidos, os membros da audiência se esquecem de toda espécie de anseios materiais, ao menos durante esse tempo. Não apenas isso, mas eles não sentem mais inveja uns dos outros, nem sofrem de ansiedade ou temor.

VERSO 36: O Senhor Supremo, Nārāyaṇa, está presente entre devotos ocupados em ouvir e cantar o santo nome da Suprema Personalidade de Deus. O Senhor Nārāyaṇa é a meta última dos sannyāsīs, os mem­bros da ordem de vida renunciada, e Nārāyaṇa é adorado através deste movimento de saṅkīrtana por aqueles que estão libertos da contaminação material. Na verdade, eles recitam o santo nome repetidamente.

VERSO 37: Querido Senhor, Vossos associados pessoais, os devotos, vagueiam pelo mundo inteiro para purificar inclusive os lugares sagrados de peregrinação. Essa atividade não será agradável àqueles que realmente temem a existência material?

VERSO 38: Querido Senhor, em virtude de um momento de associação com o senhor Śiva, que Vos é muito querido e que é Vosso amigo muito íntimo, tivemos a fortuna de Vos alcançar. Vós sois o médico mais hábil, capaz de tratar da doença incurável da existência material. Por nossa grande fortuna, somos capazes de nos refugiar a Vossos pés de lótus.

VERSOS 39-40: Querido Senhor, temos estudado os Vedas, aceitado um mestre espiritual e prestado respeitos a brāhmaṇas, devotos avançados e pessoas idosas que são espiritualmente muito avançadas. Temos prestado nossos respeitos a todos eles, sem invejar nenhum irmão, amigo ou qualquer outra pessoa. Além disso, temos praticado rigorosas austeridades dentro da água e há muito tempo não nos alimen­tamos. Oferecemos todos esses nossos bens espirituais para a Vossa satisfação. Oramos unicamente por essa bênção e nada mais.

VERSO 41: Querido Senhor, mesmo grandes yogīs e místicos que são muito avançados, em virtude de austeridades e de conhecimento, e que se situaram plenamente em existência pura, bem como personalidades notáveis como Manu, o senhor Brahmā e o senhor Śiva, não podem alcançar o limite de Vossas glórias e potências. Todavia, eles oferecem suas orações de acordo com suas próprias capacidades. Da mesma maneira, nós, embora muito inferiores a essas personali­dades, também oferecemos nossas orações de acordo com nossa pró­pria capacidade.

VERSO 42: Querido Senhor, Vós não tendes inimigos nem amigos. Portanto, sois igual para com todos. Não podeis ser contaminado por atividades pecaminosas, e Vossa forma transcendental está sempre além da criação material. Sois a Suprema Personalidade de Deus porque permaneceis em toda parte dentro de toda a existência. Logo, sois conhecido como Vāsudeva. Nós Vos oferecemos nossas respeitosas reverências.

VERSO 43: O grande sábio Maitreya prosseguiu: Meu querido Vidura, a Suprema Personalidade de Deus, que protege as almas rendidas, tendo assim ouvido os Pracetās e tendo sido adorado por eles, respondeu: “Que se cumpra tudo segundo vós orastes.” Após dizer isso, a Suprema Personalidade de Deus, cujo poder é invencível, partiu. Os Pracetās não desejavam separar-se dEle porque não O haviam visto para sua completa satisfação.

VERSO 44: Depois disso, todos os Pracetās emergiram das águas do mar. Então, eles viram que todas as árvores em terra firme haviam cres­cido muito, como se quisessem obstruir o caminho para os planetas celestiais. Essas árvores haviam coberto toda a superfície do mundo. Nesse momento, os Pracetās ficaram muito irados.

VERSO 45: Meu querido rei, no momento da devastação, o senhor Śiva emite fogo e ar de sua boca, devido à ira. Para deixar a superfície da Terra completamente sem árvores, os Pracetās também emitiram fogo e ar de suas bocas.

VERSO 46: Após ver todas as árvores na superfície da Terra sendo reduzidas a cinzas, o senhor Brahmā imediatamente foi ter com os filhos do rei Barhiṣmān e os apaziguou com palavras cheias de lógica.

VERSO 47: As árvores restantes, sentindo muito medo dos Pracetās, foram aconselhadas pelo senhor Brahmā a imediatamente entregar sua filha aos Pracetās.

VERSO 48: Seguindo a ordem do senhor Brahmā, todos os Pracetās aceitaram a jovem como sua esposa. Do ventre dessa mocinha, nasceu o filho do senhor Brahmā chamado Dakṣa. Dakṣa teve que nascer do ventre de Māriṣā por ter desobedecido e desrespeitado o senhor Mahādeva [Śiva]. Em consequência disso, ele foi obrigado a abandonar seu corpo duas vezes.

VERSO 49: Seu corpo anterior fora destruído, mas ele, o mesmo Dakṣa, inspirado pela vontade suprema, criou todas as entidades vivas desejadas no manvantara Cākṣuṣa.

VERSOS 50-51: Após nascer, Dakṣa, pela excelência extraordinária do brilho de seu corpo, encobriu a opulência corpórea de todos os demais. Por ser muito perito em realizar atividades fruitivas, foi chamado de Dakṣa, que signi­fica “muito perito”. O senhor Brahmā, portanto, conferiu a Dakṣa a tarefa de gerar entidades vivas e mantê-las. Com o trans­curso do tempo, Dakṣa também ocupou outros Prajāpatis [progeni­tores] no processo de geração e manutenção.

« Previous Next »