VERSO 15
yo ’sau mayāvidita-tattva-dṛśā sabhāyāṁ
kṣipto durukti-viśikhair vigaṇayya tan mām
arvāk patantam arhattama-nindayāpād
dṛṣṭyārdrayā sa bhagavān sva-kṛtena tuṣyet
yaḥ — quem; asau — isto; mayā — por mim; avidita-tattva — sem conhecer o fato real; dṛśā — pela experiência; sabhāyām — na assembleia; kṣiptaḥ — foi insultado; durukti — palavras descorteses; viśikhaiḥ — pelas flechas de; vigaṇayya — não levando em conta; tat — isto; mām — a mim; arvāk — para baixo; patantam — deslizando para o inferno; arhat-tama — o mais respeitável; nindayā — pela difamação; apāt — salvaste; dṛṣṭyā — vendo; ārdrayā — por compaixão; saḥ — este; bhagavān — Vossa Onipotência; sva-kṛtena — com tua própria misericórdia; tuṣyet — te satisfaças.
Não conheço a plenitude de tuas glórias. Por esta razão, disparei flechas de palavras ásperas contra ti em plena assembleia, embora não as levasses em conta. Eu estava descendo ao inferno devido à minha desobediência a ti, que és a personalidade mais respeitável, mas tiveste compaixão de mim e me salvaste punindo-me. Peço-te que te satisfaças com tua própria misericórdia, uma vez que não posso satisfazer-te com minhas palavras.
SIGNIFICADO—Como de costume, o devoto numa condição adversa de vida aceita tal condição como misericórdia do Senhor. De fato, as palavras insultuosas usadas por Dakṣa contra o senhor Śiva eram suficientes para atirá-lo perpetuamente em uma vida infernal. Porém, o senhor Śiva, sendo bondoso com ele, aplicou-lhe uma punição para neutralizar a ofensa. O rei Dakṣa compreendeu isso e, sentindo-se agradecido pelo comportamento magnânimo do senhor Śiva, quis demonstrar sua gratidão. Às vezes o pai castiga o filho, e, quando o filho cresce e chega à razão, compreende que o castigo do pai, na verdade, não era punição, mas, sim, misericórdia. Do mesmo modo, Dakṣa apreciou o fato de receber uma punição do senhor Śiva como manifestação da misericórdia do senhor Śiva. Esse é o sintoma de alguém que progride no caminho da consciência de Kṛṣṇa. Afirma-se que o devoto na consciência de Kṛṣṇa jamais aceita uma condição de vida dolorosa como condenação da Suprema Personalidade de Deus. Ele aceita a condição dolorosa como uma graça do Senhor, pensando: “Eu teria sido punido ou posto numa condição de vida mais perigosa devido às minhas más ações do passado, mas o Senhor me protegeu. Assim, recebi somente uma pequena punição como sinal da execução da lei do karma.” Pensando dessa maneira acerca da graça de Kṛṣṇa, o devoto sempre se rende à Suprema Personalidade de Deus cada vez mais seriamente e não se deixa perturbar pela suposta punição.