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VERSO 1

rājovāca
priyavrato bhāgavata
ātmārāmaḥ kathaṁ mune
gṛhe ’ramata yan-mūlaḥ
karma-bandhaḥ parābhavaḥ

rājā uvāca — o rei Parīkṣit disse; priya-vrataḥ — rei Priyavrata; bhāgavataḥ — grande devoto; ātma-ārāmaḥ — que sente prazer na autorrealização; katham — por que; mune — ó grande sábio; gṛhe­ — no lar; aramata — desfrutou; yat-mūlaḥ — tendo isso como a causa fundamental; karma-bandhaḥ — o cativeiro às atividades fruitivas; parābhavaḥ — o fracasso da missão humana.

O rei Parīkṣit perguntou a Śukadeva Gosvāmī: Ó grande sábio, por que o rei Priyavrata, que era um grande devoto autorrealizado do Senhor, permaneceu na vida familiar, que é a causa fundamental do cativeiro do karma [atividades fruitivas] e que faz fracassar a missão da vida humana?

SIGNIFICADO—No quarto canto, Śrīla Śukadeva Gosvāmī explica que Nārada Muni instruiu perfeitamente ao rei Priyavrata sobre a missão da vida humana. A missão da vida humana consiste em compreender o eu e então, aos poucos, voltar ao lar, voltar ao Supremo. Já que Nārada Muni havia dado instruções suficientes ao rei sobre esse assunto, por que ele retomou a vida familiar, que é a principal causa do cativeiro material? Mahārāja Parīkṣit estava muito atônito com o fato de o rei Priyavrata voltar à vida familiar, especialmente por ele ser, não somente uma alma autorrealizada, mas também um devoto de primeira classe. De fato, o devoto não tem atração pela vida familiar, mas, surpreendentemente, o rei Priyavrata gozou muito da vida familiar. Pode ser que alguém pergunte: “O que há de errado em desfrutar da vida familiar?” A resposta é que a vida familiar ata o indivíduo aos efeitos das atividades fruitivas. A essência da vida familiar é o gozo dos sentidos, e, enquanto alguém embrutece a mente no árduo trabalho em troca de gozo dos sentidos, deixa-se atar pelas reações de suas atividades fruitivas. Essa ignorância da autorrealização é o maior fracasso na vida humana. A forma humana de vida se destina especialmente a escapar do cativeiro das atividades fruitivas, mas, enquanto alguém se mantém esquecido de sua missão na vida e age como um animal comum – comendo, dormindo, acasalando-se e defendendo-se –, é obrigado a continuar sua vida condicionada na existência material. Essa espécie de vida se chama svarūpa-vismṛti, esquecimento da verdadeira posição constitucional. Portanto, na civilização védica, as pessoas são treinadas desde o começo da vida como brahmacārīs. O brahmacārī deve realizar austeridades e abster-se da prática sexual. Portanto, se alguém é bem treinado nos princípios de brahmacarya, geralmente não adota a vida familiar. Então, ele se chama naiṣṭhika-brahmacārī, o que indica perfeito celibato. Por isso, o rei Parīkṣit estava atônito de ver que o grande rei Priyavrata, embora treinado nos princípios de naiṣṭhika-brahmacarya, tivesse adotado a vida familiar.

As palavras bhāgavata ātmārāmaḥ são muito significativas neste verso. Se alguém vive satisfeito consigo mesmo, como acontece com a Suprema Personalidade de Deus, ele se chama bhāgavata ātmārāmaḥ. Existem diferentes classes de satisfação. Os karmīs contentam-se com suas atividades fruitivas, os jñānīs contentam-se com a imersão na refulgência do Brahman, mas os devotos ficam satisfeitos quando podem ocupar-se a serviço do Senhor. O Senhor está sempre satisfeito conSigo mesmo porque é plenamente opulento, e alguém que fica satisfeito servindo-O chama-se bhāgavata ātmārāmaḥ. Manuṣyāṇāṁ sahasreṣu: dentre milhares e milhares de pessoas, talvez uma queira esforçar-se pela liberação, e, dentre milhares de pessoas que tentam libertar-se, talvez uma se livre das ansiedades da existência material e passe a viver satisfeita consigo mesma. Mesmo essa satisfação, contudo, não é a satisfação final. Os jñānīs e os karmīs têm desejos, como os têm os yogīs, mas os devotos não têm desejos. A satisfação de servir ao Senhor se chama ākāma, isenção de desejos, e essa é a satisfação última. Portanto, Mahārāja Parīkṣit perguntou: “Como alguém plenamente satisfeito na plataforma superior poderia satisfazer-se com a vida familiar?”

A palavra parābhavaḥ, neste verso, também é significativa. Quem se contenta com a vida familiar está perdido porque já deve ter esquecido sua relação com o Senhor. Prahlāda Mahārāja diz que as atividades da vida familiar nos enredam cada vez mais. Ātma-pātaṁ gṛham andha-kūpam: a vida familiar é como um poço escuro. Se uma pessoa cai nesse poço, sua morte espiritual é inevitável. O verso seguinte descreve como Priyavrata Mahārāja permaneceu como um paramahaṁsa liberado mesmo dentro da vida familiar.

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