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VERSO 29

evam upaśamāyaneṣu sva-tanayeṣv atha jagatī-patir jagatīm arbudāny ekādaśa parivatsarāṇām avyāhatākhila-puruṣa-kāra-sāra-sambhṛta-dor-daṇḍa-yugalāpīḍita-maurvī-guṇa-stanita-viramita-dharma-pratipakṣo barhiṣmatyāś cānudinam edhamāna-pramoda-prasaraṇa-yauṣiṇya-vrīḍā-pramuṣita-hāsāvaloka-rucira-kṣvely-ādibhiḥ parābhūyamāna-viveka ivānavabudhyamāna iva mahāmanā bubhuje.

evam — assim; upaśama-ayaneṣu — todos muito qualificados; sva­-tanayeṣu — seus próprios filhos; atha — depois disso; jagatī-patiḥ — o amo do universo; jagatīm — o universo; arbudāniarbudas (um arbuda equivale a cem milhões); ekādaśa — onze; parivatsarāṇām — de anos; avyāhata — sem ser interrompido; akhila — universal; puruṣa-­kāra — poder; sāra — força; sambhṛta — dotado de; doḥ-daṇḍaḥ — de braços poderosos; yugala — pelo par; āpīḍita — sendo recolhida; maurvī-guṇa — da corda do arco; stanita — pelo som alto; viramita — derrotava; dharma — os princípios religiosos; pratipakṣaḥ — aqueles que são contrários; barhiṣmatyāḥ — de sua esposa Barhiṣmatī; ca — e; anudinam — diariamente; edhamāna — aumentando; pramoda — inter­curso agradável; prasaraṇa — amabilidade; yauṣiṇya — comportamen­to feminino; vrīḍā — pelo recato; pramuṣita — contido; hāsa — risos; avaloka — olhar; rucira — agradáveis; kṣveli-ādibhiḥ — pelas trocas de afetos amorosos; parābhūyamāna — estando derrotado; vivekaḥ — seu verdadeiro conhecimento; iva — como; anavabudhyamānaḥ — uma pessoa menos inteligente; iva — como; mahā-manāḥ — a grande alma; bubhuje — governava.

Depois de Kavi, Mahāvīra e Savana terem se tornado perfeitamen­te treinados na fase de vida paramahaṁsa, Mahārāja Priyavrata governou o universo durante onze arbudas de anos. Sempre que ele decidia fixar sua flecha no arco com seus dois braços poderosos, todos os oponentes dos princípios reguladores da vida religiosa fugiam de sua presença, com medo da inigualável bravura por ele demonstrada enquanto governava o universo. Ele tinha muito amor por sua esposa Barhiṣmatī, e, com o passar dos dias, a troca de amor nupcial entre eles se intensificava. Pelas maneiras femininas com que se vestia, caminhava, levantava, sorria e olhava, a rainha Barhiṣmatī aumentava a energia do rei. Assim, embora ele fosse uma grande alma, parecia seduzido pela conduta feminina de sua esposa. Comportava-se com ela assim como um homem comum, mas, na verdade, era uma grande alma.

SIGNIFICADO—Neste verso, a expressão dharma-pratipakṣaḥ, “oponentes dos princípios religiosos”, refere-se à desobediência, não a uma fé específica, mas sim ao varṇāśrama-dharma, a divisão da sociedade, social e espiritualmente, em quatro varṇas (brāhmaṇa, kṣatriya, vaiśya e śūdra) e em quatro āśramas (brahmacarya, gṛhastha, vānaprastha e sannyāsa). Para manter a devida ordem social e ajudar os cidadãos a progredirem pouco a pouco rumo à meta da vida – a saber, a compreensão espiritual –, é preciso aceitar os princípios de varṇāśrama-dharma. A julgar por esse verso, Mahārāja Priyavrata parece ter sido tão estrito na manutenção dessa instituição de varṇāśrama-dharma que qualquer pessoa que a transgredisse imediatamente teria de fugir de sua presença para que o rei não a censurasse, lutando ou aplicando-lhe punições leves. Na verdade, Mahārāja Priyavrata não precisava lutar, pois, graças à sua forte determinação, ninguém ousava desobedecer às regras e regulações do varṇāśrama-dharma. Segundo se diz, a menos que a sociedade humana seja regulada pelo varṇāśrama-dharma, ela não é melhor do que uma sociedade animal de cães e gatos. Mahārāja Priyavrata, portanto, manteve estritamente o varṇāśrama-dharma através de sua bravura extraordinária e inigualável.

Para manter uma vida de tão estrita vigilância, o homem precisa do estímulo de sua esposa. No sistema de varṇāśrama-dharma, certas classes, tais como os brāhmaṇas e os sannyāsīs, não precisam do estímulo do outro sexo. Os kṣatriyas e gṛhasthas, contudo, realmente precisam do estímulo de suas esposas para cumprirem seus deveres. Na realidade, um gṛhastha ou kṣatriya não pode cumprir devidamente seus deveres sem a companhia de sua esposa. Śrī Caitanya Mahā­prabhu admitiu pessoalmente que o gṛhastha deve viver com a esposa. Os kṣatriyas, inclusive, tinham autorização de ter muitas esposas que os encorajassem no desempenho dos deveres do governo. A associação com uma boa esposa é necessária em uma vida de karma e assuntos políticos. Portanto, a fim de cumprir devidamente os seus deveres, Mahārāja Priyavrata tirava proveito de sua boa esposa Barhiṣmatī, a qual era sempre muito hábil em satisfazer seu grande esposo, vestindo-se bem, sorrindo e exibindo suas feições corpóreas femini­nas. A rainha Barhiṣmatī sempre mantinha Mahārāja Priyavrata muito motivado, de maneira que ele cumpria seu dever governamental muito adequadamente. Neste verso, usa-se iva duas vezes para indicar que Mahārāja Priyavrata agia tal qual um esposo apegado, tanto que parecia ter perdido seu senso de responsabilidade humana. Na verdade, contudo, ele tinha plena consciência de sua posição de alma espiritual, embora aparentemente se comportasse como um esposo karmī submisso. Deste modo, Mahārāja Priyavrata governou o universo durante onze arbudas de anos. Um arbuda consiste em cem milhões de anos, e Mahārāja Priyavrata governou o universo durante onze desses arbudas.

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