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VERSO 6

yarhi vāva ha rājan sa rāja-putraḥ priyavrataḥ parama-bhāgavato nāradasya caraṇopasevayāñjasāvagata-paramārtha-satattvo brahma-satreṇa dīkṣiṣyamāṇo ’vani-tala-paripālanāyāmnāta-pravara-guṇa-gaṇaikānta-bhājanatayā sva-pitropāmantrito bhagavati vāsudeva evāvyavadhāna-samādhi-yogena samāveśita-sakala-kāraka-kriyā-kalāpo naivābhyanandad yadyapi tad apratyāmnātavyaṁ tad-adhikaraṇa ātmano ’nyasmād asato ’pi parābhavam anvīkṣamāṇaḥ.

yarhi — porque; vāva ha — de fato; rājan — ó rei; saḥ — ele; rāja­-putraḥ — o príncipe; priyavrataḥ — Priyavrata; parama — supremo; bhāgavataḥ — devoto; nāradasya — de Nārada; caraṇa — os pés de lótus; upasevayā — servindo; añjasā — rapidamente; avagata — tomou conhecimento de; parama-artha — tema transcendental; sa-tattvaḥ — com todos os fatos cognoscíveis; brahma-satrena — pelo entretenimento contínuo com o Supremo; dīkṣiṣyamāṇaḥ — desejando dedicar­-se por completo; avani-tala — a superfície do globo; paripālanāya — de governar; āmnāta — orientado pelas escrituras reveladas; pravara­ — supremas; guṇa — de qualidades; gaṇa — o somatório; ekānta — sem desvio; bhājanatayā — devido ao fato de ele possuir; sva-pitrā — por seu pai; upāmantritaḥ — sendo solicitado; bhagavati — na Suprema Personalidade de Deus; vāsudeve — o Senhor onipenetrante; eva — com certeza; avyavadhāna — sem cessar; samādhi-yogena — pela prática de yoga, em completa absorção; samāveśita — plenamente dedicado; sakala — todos; kāraka — sentidos; kriyā-kalāpaḥ — cujas atividades totais; na — não; eva — assim; abhyanandat — ofereceu boas-vindas; yady­api — embora; tat — isto; apratyāmnātavyam — que não deve ser re­jeitado por razão alguma; tat-adhikaraṇe — em ocupar este posto; ātmanaḥ — dele próprio; anyasmāt — por outras ocupações; asataḥ­ — materiais; api — decerto; parābhavam — deterioração; anvīkṣamāṇaḥ­ — prevendo.

Śukadeva Gosvāmī prosseguiu: Meu querido rei, o príncipe Priya­vrata era um grande devoto, pois refugiou-se aos pés de lótus de Nārada, seu mestre espiritual, alcançando, assim, a perfeição máxima em conhecimento transcendental. Munido de conhecimento avan­çado, ele discutia temas espirituais sem cessar e não dispersava sua atenção com coisa alguma. Então, o pai do príncipe pediu-lhe que se encarregasse de governar o mundo. Ele tentou convencer Priyavrata de que aquele era seu dever, segundo indicavam as escri­turas reveladas. O príncipe Priyavrata, contudo, seguiu praticando bhakti-yoga todo o tempo, lembrando-se sempre da Suprema Per­sonalidade de Deus e, assim, ocupando todos os seus sentidos a ser­viço do Senhor. Portanto, embora não pudesse rejeitar a ordem de seu pai, o príncipe não a acolheu com alegria. Então, muito cuidadosamente, ele questionou se deveria de fato desviar-se do serviço devocional, aceitando a responsabilidade de governar o mundo.

SIGNIFICADO—Em uma de suas canções, Śrīla Narottama Dāsa Ṭhākura diz que chāḍiyā vaiṣṇava-sevā nistāra pāyeche kebā: “Sem servir aos pés de lótus de um vaiṣṇava puro ou mestre espiritual, ninguém jamais alcançou a liberação perfeita do cativeiro material.” Como prestava serviço regular aos pés de lótus de Nārada, o príncipe Priyavrata entendia os temas transcendentais de uma maneira perfeita e concreta (sa-­tattvaḥ). A palavra sa-tattvaḥ significa que Priyavrata conhecia todos os fatos relativos à alma espiritual, à Suprema Personalidade de Deus e à relação entre a alma espiritual e a Suprema Personalidade de Deus, além de também conhecer tudo acerca deste mundo material e da relação da alma espiritual com o Senhor Supremo no mundo material. Sendo assim, o príncipe decidiu se ocupar apenas em prestar serviço ao Senhor.

Quando Svāyambhuva Manu, pai de Priyavrata, pediu-lhe que aceitasse a responsabilidade de governar o mundo, ele não recebeu com a alegria a sugestão. Esse sintoma é próprio de um grande devoto liberado. Mesmo que esteja ocupado em afazeres mundanos, ele não sente prazer neles, senão que permanece sempre absorto em servir ao Senhor. Enquanto serve ao Senhor dessa maneira, ele se ocupa externamente com os afazeres mundanos sem se deixar afetar por eles. Por exemplo, mesmo não sentindo atração por seus filhos, ele cuida deles e educa-os para que se tornem devotos. Da mesma forma, ele usa palavras afetuosas ao dirigir-se à sua esposa, mas não é apegado a ela. Prestando serviço devocional, o devoto adquire todas as boas qualidades do Senhor Supremo. O Senhor Kṛṣṇa tinha dezesseis mil esposas, todas elas belíssimas, e, embora Se relacionasse com todas elas como se fosse um esposo apaixonado, Ele não sentia atração ou apego por nenhuma delas. Da mesma maneira, mesmo que se case e seja muito afetuoso com a esposa e os filhos, o devoto nunca se apega a essas atividades.

Este verso afirma que, servindo aos pés de lótus de seu mestre espiritual, o príncipe Priyavrata logo alcançou a fase de perfeição em consciência de Kṛṣṇa. Essa é a única maneira de avançar na vida espiritual. Como afirmam os Vedas:

yasya deve parā bhaktir
yathā deve tathā gurau
tasyaite kathitā hy arthāḥ
prakāśante mahātmanaḥ

“Se alguém tiver fé absoluta no Senhor Supremo e no mestre espiritual, a essência de todo o conhecimento védico lhe será revelada.” (Śvetāśvatara Upaniṣad 6.23) O devoto está sempre pensando no Senhor. Enquanto canta o mantra Hare Kṛṣṇa, as palavras Kṛṣṇa e Hare imediatamente fazem com que ele se lembre de todas as atividades do Senhor. Como dedica toda a sua vida ao serviço do Senhor, o devoto não consegue esquecer o Senhor nem por um instante. Assim como um homem comum mantém sua mente ocupada em atividades materiais, o devoto mantém sua mente ocupada em atividades espi­rituais. Isso se chama brahma-satra, ou seja, meditar sempre no Senhor Supremo. O príncipe Priyavrata foi perfeitamente iniciado nessa prática por Śrī Nārada.

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