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CAPÍTULO QUATRO

Os Atributos de Ṛṣabhadeva, a Suprema Personalidade de Deus

Neste capítulo, narra-se como Ṛṣabhadeva, filho de Mahārāja Nābhi, gerou cem filhos e como, durante o reinado desses filhos, o mundo foi muito feliz sob todos os aspectos. Ao aparecer como o filho de Mahārāja Nābhi, Ṛṣabhadeva foi cotado como a personalidade mais su­blime e bela daquele tempo. Sua postura, influência, força, entusiasmo, brilho corpóreo e outras qualidades transcenden­tais eram sem paralelo. A palavra ṛṣabha refere-se ao melhor, ou supremo. Devido aos atributos mais do que excelentes do filho de Mahārāja Nābhi, o rei chamou seu filho de Ṛṣabha, ou “o melhor”. Sua influência era incomparável. Embora houvesse escassez de chuvas, Ṛṣabhadeva não se importou com Indra, o rei dos céus, encarregado de fornecer chuva. Através de sua própria potência, Ṛṣabhadeva derramou chuvas em abundância sobre Ajanābha. Ao receber, como seu filho, Ṛṣabhadeva, que é a Suprema Personalidade de Deus, o rei Nābhi passou a criá-lO com muito carinho. Depois disso, transmitiu-­Lhe o poder governamental e, deixando a vida familiar, viveu em Badarikāśrama, inteiramente ocupado em adorar Vāsudeva, o Senhor Supremo. Para seguir os costumes sociais, o Senhor Ṛṣabhadeva estudou temporariamente no gurukula e, após retornar, seguiu as ordens de Seu guru e aceitou uma esposa, chamada Jayantī, a qual Lhe foi dada por Indra, o rei dos céus. Ele gerou cem filhos no ventre de Jayantī. Desses cem filhos, o mais velho ficou conhecido como Bha­rata. Desde o reinado de Mahārāja Bharata, este planeta ficou co­nhecido como Bhārata-varṣa. Os outros filhos de Ṛṣabhadeva eram encabeçados por Kuśāvarta, Ilāvarta, Brahmāvarta, Malaya, Ketu, Bhadrasena, Indraspṛk, Vidarbha e Kīkaṭa. Havia, ainda, outros filhos chamados Kavi, Havi, Antarikṣa, Prabuddha, Pippalāyana, Āvirhotra, Drumila, Camasa e Karabhājana. Em vez de governar o reino, estes nove, seguindo os preceitos religiosos do Bhāgavatam, tornaram-se mendicantes a pregar a consciência de Kṛṣṇa. Suas características e atividades são descritas no décimo primeiro canto do Śrīmad-Bhāgavatam, por ocasião das conversas entre Vasudeva e Nārada, em Kurukṣetra. Para ensinar a população em geral, o rei Ṛṣabhadeva realizou muitos sacrifícios e ensinou os seus filhos a governarem os cidadãos.

VERSO 1: Śrī Śukadeva Gosvāmī disse: Tão logo nasceu como filho de Mahā­rāja Nābhi, o Senhor manifestou as mesmas características do Senhor Supremo, tais como marcas nas solas de Seus pés [a bandeira, o raio etc.]. Ele era equânime para com todos e muito pacífico. Podia con­trolar Seus sentidos e Sua mente e, tendo toda a opulência, não ansiava por gozo material. Possuidor de todos esses atributos, o filho de Mahārāja Nābhi se tornava mais poderoso dia após dia. Devido a isso, os cidadãos, os brāhmaṇas eruditos, os semideuses e os ministros desejavam que Ṛṣabhadeva fosse apontado como soberano da Terra.

VERSO 2: Ao tornar-Se visível, o filho de Mahārāja Nābhi manifestou todas as boas qualidades descritas pelos grandes poetas – a saber, um corpo bem constituído, apresentando todas as características divinas, tais como bravura, força, beleza, nome, fama, influência e entusiasmo. Quando o pai, Mahārāja Nābhi, viu todas essas qualidades, ele considerou seu filho o melhor dos seres humanos, ou o ser supremo. Portanto, concedeu-Lhe o nome Ṛṣabha.

VERSO 3: Indra, o rei dos céus, que tem muitas opulências materiais, passou a invejar o rei Ṛṣabhadeva. Em razão disso, ele interrompeu as chuvas sobre o planeta conhecido como Bhārata-varṣa. Naquele momento, o Senhor Supremo, Ṛṣabhadeva, o senhor de todo o poder místico, compreendeu o propósito do rei Indra e esboçou um discreto sorriso. Então, através de Seu próprio poder, Ele, por intermédio de yoga-māyā [Sua potência interna], derramou água em profusão sobre Sua própria cidade, conhecida como Ajanābha.

VERSO 4: Por ter, de acordo com seu desejo, obtido um filho perfeito, o rei Nābhi vivia dominado pela bem-aventurança transcendental e era muito afetuoso com seu filho. Foi em êxtase e com a voz balbuciante que se dirigiu a Ele: “Meu querido filho, meu adorado.” Essa mentalidade foi desencadeada por yoga-māyā, através da qual ele aceitava o Senhor Supremo, o pai supremo, como seu próprio filho. Por Sua vontade suprema, o Senhor tornou-Se filho do rei e, em Seu relacionamento com os demais, agia como se fosse um ser humano comum. Assim, com muita afeição, o rei Nābhi começou a criar seu filho transcendental, e estava arrebatado por bem-aventurança, alegria e devoção transcendentais.

VERSO 5: O rei Nābhi observou que o seu filho, Ṛṣabhadeva, era muito popular entre os cidadãos e entre os funcionários e ministros do governo. Reconhecendo a popularidade de seu filho, Mahārāja Nābhi entronizou-O como imperador do mundo para, em termos do sistema religioso védico, proteger a população em geral. Com esse propósito, ele entregou seu filho aos cuidados de brāhmaṇas eruditos, que o orientariam na administração do governo. Então, Mahārāja Nābhi e sua esposa, Merudevī, dirigiram-se a Badarikāśrama, que fica nas montanhas dos Himalaias, onde, com muito júbilo, o rei ocupou-se muito diligentemente em executar austeridades e penitências. Em completo samādhi, ele adorou a Suprema Personalidade de Deus, Nara-Nārāyaṇa, que é Kṛṣṇa sob Sua expansão plenária. Por causa disso, com o passar do tempo Mahārāja Nābhi se elevou ao mundo espiritual conhecido como Vaikuṇṭha.

VERSO 6: Ó Mahārāja Parīkṣit, para glorificar Mahārāja Nābhi, os sábios anciãos compuseram dois versos. Um deles é este: “Quem pode alcançar a perfeição de Mahārāja Nābhi? Quem pode igualar suas atividades? Devido ao seu serviço devocional, a Suprema Personalidade de Deus concordou em tornar-Se seu filho.”

VERSO 7: [A segunda oração é esta.] “Quem é um adorador dos brāhmaṇas mais perfeito do que Mahārāja Nābhi? Porque ele adorou os brāhmaṇas qualificados agradando-os por completo, os brāhmaṇas, através de seus poderes bramânicos, mostraram a Mahārāja Nābhi a Suprema Personalidade de Deus, Nārāyaṇa em pessoa.”

VERSO 8: Depois que Mahārāja Nābhi partiu para Badarikāśrama, Ṛṣabhadeva, o Senhor Supremo, compreendeu que Seu reino era Seu campo de atividades. Portanto, Ele Se apresentou como um exemplo e ensinou os deveres de um chefe de família, aceitando primeiramente brahmacarya, sob a orientação de mestres espirituais. Ele também foi viver na residência dos mestres espirituais, o gurukula. Após concluir Sua educação, Ele deu presentes (guru-dakṣiṇā) aos Seus mestres espirituais e, então, aceitou a vida de um chefe de família. Ele desposou Jayantī e gerou cem filhos tão poderosos e qualificados como Ele próprio. Sua esposa Jayantī fora-Lhe oferecida por Indra, o rei dos céus. Ṛṣabhadeva e Jayantī mantiveram uma vida familiar exemplar, executando as atividades ritualísticas ordenadas pelos śāstras tanto śrutis quanto smṛtis.

VERSO 9: Dentre os cem filhos de Ṛṣabhadeva, o mais velho, chamado Bharata, era um devoto grandioso e elevado, qualificado com os melhores atributos. Em sua honra, este planeta se tornou conhecido como Bhārata-varṣa.

VERSO 10: Seguindo Bharata, havia outros noventa e nove filhos, dentre os quais os mais velhos eram chamados Kuśāvarta, Ilāvarta, Brahmāvarta, Malaya, Ketu, Bhadrasena, Indraspṛk, Vidarbha e Kīkaṭa.

VERSOS 11-12: Além desses filhos, havia Kavi, Havi, Antarikṣa, Prabuddha, Pippalāyana, Āvirhotra, Drumila, Camasa e Karabhājana. Todos eles eram devotos muito virtuosos e avançados, pregadores autorizados do Śrīmad-Bhāgavatam. Esses devotos eram glorificados devido à sua forte devoção a Vasudeva, a Suprema Personalidade de Deus. Portanto, eles eram muito elevados. Para dar plena satisfação à mente, eu [Śukadeva Gosvāmī] descreverei oportunamente as características desses nove devotos quando comentar a conversa entre Nārada e Vasudeva.

VERSO 13: Além desses dezenove filhos mencionados anteriormente, havia oitenta e um filhos mais jovens, todos nascidos de Ṛṣabhadeva e Jayantī. De acordo com a ordem de seu pai, todos eles se tornaram muito cultos, bem-comportados, muito puros em suas atividades e hábeis no conhecimento védico e na realização de rituais védicos. Assim, todos eles se tornaram brāhmaṇas perfeitamente qualificados.

VERSO 14: Sendo uma encarnação da Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Ṛṣabhadeva era inteiramente independente, pois Sua forma era espiritual, eterna e plena de bem-aventurança transcendental. Ele, eternamente, nada tinha a ver com os quatro princípios do sofrimento material [nascimento, morte, velhice e doença]. Tampouco estava apegado materialmente. Ele era sempre equânime, e via todos no mesmo nível. Ficava infeliz ao ver a infelicidade alheia, e era benquerente de todas as entidades vivas. Muito embora fosse uma personalidade perfeita, o Senhor Supremo e controlador de todos, Ele agia como se fosse uma alma condicionada comum. Portanto, seguia estritamente os princípios de varṇāśrama-dharma e agia de acordo com os mesmos. No decorrer do tempo, os princípios de varṇāśrama-dharma haviam sido negligenciados; portanto, através de Suas características pessoais e de Seu comportamento, Ele ensinou o público ignorante a executar deveres dentro do varṇāśrama-dharma. Dessa maneira, Ele regulou a população em geral, orientando-a na vida familiar, capacitando-a a desenvolver religião e o bem-estar econômico e a alcançar reputação, obter filhos e filhas, gozar de prazeres materiais e, finalmente, entrar na vida eterna. Através de suas instruções, Ele mostrou como as pessoas poderiam permanecer na vida em família e, ao mesmo tempo, tornarem-se perfeitas, seguindo os princípios do varṇāśrama-dharma.

VERSO 15: Toda ação executada por um grande homem é seguida pelos homens comuns.

VERSO 16: Embora o Senhor Ṛṣabhadeva soubesse tudo sobre o conhecimento confidencial védico, que inclui informações sobre todas as espécies de deveres ocupacionais, ainda Se mantinha como um kṣatriya e seguia as instruções dos brāhmaṇas relativas ao controle da mente, controle dos sentidos, tolerância e assim por diante. Desse modo, Ele governava a população de acordo com o sistema de varṇāśrama-dharma, que prescreve que os brāhmaṇas instruam os kṣatriyas e que, através dos vaiśyas e śūdras, os kṣatriyas administrem o Estado.

VERSO 17: De acordo com as instruções dos textos védicos, o Senhor Ṛṣabhadeva realizou cem vezes toda espécie de sacrifícios. Assim, sob todos os aspectos, Ele satisfez o Senhor Viṣṇu. Todos os rituais eram enriquecidos com ingredientes de primeira classe. Eles eram executados em lugares sagrados, de acordo com o tempo adequado, e por sacerdotes que eram todos jovens e fiéis. Desta maneira, o Senhor Viṣṇu era adorado, e a prasāda era oferecida a todos os semideuses. Assim, todas as cerimônias e festivais eram exitosos.

VERSO 18: Ninguém gosta de possuir nada que seja como o fogo-fátuo ou uma flor no céu, pois todos sabem muito bem que essas coisas não existem. Quando o Senhor Ṛṣabhadeva governou este planeta de Bhārata-varṣa, mesmo os homens comuns não queriam pedir nada, em momento algum e por nenhum meio. Ninguém jamais pede por fogo-fátuo. Em outras palavras, todos estavam completamente satisfeitos, de modo que não havia nenhuma possibilidade de alguém solicitar alguma coisa. As pessoas estavam absortas em grande afeição pelo rei. Como essa afeição não parava de se expandir, elas não se sentiam inclinadas a pedir nada.

VERSO 19: Certa vez, enquanto viajava pelo mundo, o Senhor Ṛṣabhadeva, o Senhor Supremo, chegou a um lugar conhecido como Brahmāvarta, onde havia uma grande conferência de brāhmaṇas eruditos, e todos os filhos do rei ouviam atentamente as instruções dos brāhmaṇas ali presentes. Naquela assembleia, em que era ouvido pelos cidadãos, Ṛṣabhadeva instruiu Seus filhos, embora eles já fossem muito bem-comportados, devotados e qualificados. Ele os instruiu de modo que, no futuro, eles pudessem governar o mundo com absoluta perfeição. Assim, Ele falou o seguinte.

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