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VERSOS 15-16

na dadarśa praticchannaṁ
valmīka-tṛṇa-kīcakaiḥ
pipīlikābhir ācīrṇaṁ
medas-tvaṅ-māṁsa-śoṇitam

tapantaṁ tapasā lokān
yathābhrāpihitaṁ ravim
vilakṣya vismitaḥ prāha
hasaṁs taṁ haṁsa-vāhanaḥ

na — não; dadarśa — viu; praticchannam — coberto; valmīka — por um formigueiro; tṛṇa — grama; kīcakaiḥ — e bambus; pipīlikābhiḥ — pelas formigas; ācīrṇam — comida quase toda; medaḥ — cuja gordura; tvak — pele; māṁsa — a carne; śoṇitam — e sangue; tapantam — aquecendo; tapasā — mediante uma rigorosa classe de penitência; lokān — todos os três mundos; yathā — assim como; abhra — pelas nuvens; apihitam — coberto; ravim — o Sol; vilakṣya — vendo; vismitaḥ — surpreso; prāha — disse; hasan — sorrindo; tam — a ele; haṁsa-vāhanaḥ — o senhor Brahmā, transportado em um aeroplano, o qual é um cisne.

O senhor Brahmā, carregado por seu aeroplano, um cisne, primeiramente não pôde ver onde estava Hiraṇyakaśipu, pois o corpo de Hiraṇyakaśipu estava coberto por um formigueiro, gramas e bambus. Visto que Hiraṇyakaśipu estava ali havia muito tempo, as formigas haviam devorado sua pele, gordura, carne e sangue. Então, o senhor Brahmā e os semideuses conseguiram localizá-lo. Ele parecia um sol coberto pelas nuvens, aquecendo o mundo inteiro com suas austeridades. Surpreso, o senhor Brahmā começou a sorrir e, então, dirigiu-lhe as seguintes palavras.

SIGNIFICADO—A entidade viva pode viver através de seu próprio poder, sem a ajuda de pele, medula, ossos, sangue e assim por diante, porque se afirma que asaṅgo hy ayaṁ puruṣaḥ – a entidade viva nada tem a ver com a cobertura material. Por muitos e muitos anos, Hiraṇyakaśipu executou uma severa espécie de tapasya, austeridade. Na verdade, segundo se diz, ele executou tapasya por cem anos celestiais. Como um dia dos semideuses equivale a seis de nossos meses, decerto ele se valeu de um tempo muito prolongado. Pelo próprio sistema da natureza, seu corpo fora quase totalmente consumido pelas minhocas, formigas e outros predadores, de modo que, de início, mesmo Brahmā foi incapaz de vê-lo. Mais tarde, entretanto, Brahmā pôde determinar onde estava Hiraṇyakaśipu, e ficou surpreso ao observar que Hiraṇyakaśipu executava tapasya com um poder extraordinário. Qualquer pessoa concluiria que Hiraṇyakaśipu estava morto, pois havia muito seres e objetos que lhe cobriam o corpo, mas o senhor Brahmā, o ser vivo supremo deste universo, pôde compreender que Hiraṇyakaśipu estava vivo, mas encoberto por elementos materiais.

Deve-se notar também que, muito embora executasse sua austeridade por muitíssimo tempo, Hiraṇyakaśipu era conhecido como um Daitya e Rākṣasa. Nos versos seguintes, será demonstrado que mesmo grandes pessoas santas não poderiam executar tão severa classe de austeridade. Por que, então, ele era chamado de Rākṣasa e Daitya? Porque tudo o que ele fazia era para o gozo de seus sentidos. Como seu filho Prahlāda Mahārāja tinha apenas cinco anos, o que Prahlāda poderia fazer? Entretanto, pelo simples fato de executar um pouco de serviço devocional como fora instruído por Nārada Muni, Prahlāda se tornou tão querido ao Senhor que o Senhor veio salvá-lo, ao passo que Hiraṇyakaśipu, apesar de todas as suas austeridades, foi morto. Essa é a diferença entre o serviço devocional e todos os outros métodos que têm como objetivo a perfeição. Alguém que realiza severas austeridades para poder gozar dos sentidos é temível para o mundo inteiro, mas o devoto que executa pelo menos um pouco de serviço devocional é amigo de todos (suhṛdaṁ sarva-bhūtānām). Uma vez que o Senhor é o benquerente de todas as entidades vivas e visto que o devoto adquire as qualidades do Senhor, o devoto, executando serviço devocional, também age para a boa fortuna de todos. Assim, embora tivesse executado austeridades tão severas, Hiraṇyakaśipu permaneceu como um Daitya e Rākṣasa, enquanto Prahlāda Mahārāja, embora nascido do mesmo pai Daitya, tornou-se o devoto mais sublime e foi protegido pessoalmente pelo Senhor Supremo. Bhakti, portanto, chama-se sarvopādhi-vinirmuktam, indicando que o devoto está livre de todas as designações materiais, e anyābhilāṣitā-śūnyam, ele se situa em uma posição transcendental, livre de todos os desejos materiais.

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