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VERSO 22

aṣṭau prakṛtayaḥ proktās
traya eva hi tad-guṇāḥ
vikārāḥ ṣoḍaśācāryaiḥ
pumān ekaḥ samanvayāt

aṣṭau — oito; prakṛtayaḥ — energias materiais; proktāḥ — afirma-se; trayaḥ — três; eva — decerto; hi — na verdade; tat-guṇāḥ — os modos da energia material; vikārāḥ — transformações; ṣoḍaśa — dezesseis; ācāryaiḥ — pelas autoridades; pumān — a entidade viva; ekaḥ — uma; samanvayāt — da mistura.

As oito energias distintas do Senhor, os três modos da natureza material e as dezesseis transformações [os onze sentidos e os cinco elementos materiais grosseiros, tais como terra e água] – dentro de todos esses, a alma espiritual individual existe como observadora. Portanto, todos os grandes ācāryas concluíram que a alma espiritual é condicionada por esses elementos materiais.

SIGNIFICADO—Como se explicou no verso anterior, kṣetreṣu deheṣu tathātma-yogair adhyātma-vid brahma-gatiṁ labheta: “Uma pessoa espiritualmente avançada pode entender como a partícula espiritual existe dentro do corpo e, assim, cultivando o conhecimento espiritual, pode alcançar a perfeição na vida espiritual.” A pessoa inteligente, hábil em encontrar o eu dentro do corpo, deve entender as oito energias externas, que são enumeradas na Bhagavad-gītā (7.4):

bhūmir āpo ’nalo vāyuḥ
khaṁ mano buddhir eva ca
ahaṅkāra itīyaṁ me
bhinnā prakṛtir aṣṭadhā

“Terra, água, fogo, ar, éter, mente, inteligência e falso ego – juntos, todos estes oito elementos formam Minhas energias materiais separadas.” Bhūmi, terra, inclui todos os objetos da percepção dos sentidos – rūpa (forma), rasa (sabor), gandha (cheiro), śabda (som) e sparśa (tato). Na terra, existe a fragrância das rosas, o sabor da fruta doce e todos os outros estímulos sensoriais. Como se afirma no Śrīmad-Bhāgavatam (1.10.4), sarva-kāma-dughā mahī: na terra (mahī), encontra-se tudo o que necessitamos. Assim, todos os objetos de percepção sensorial estão presentes em bhūmi, ou na terra. Os elementos materiais grosseiros e os elementos materiais sutis (mente, inteligência e ahaṅkāra, falso ego) constituem a totalidade da energia material.

Dentro da totalidade da energia material, estão os três modos ou qualidades materiais. Essas qualidades – sattva-guṇa, rajo-guṇa e tamo-guṇa – não se aplicam à alma, mas à energia material. É devido à interação desses três modos da natureza material que os cinco sentidos cognoscitivos, os cinco sentidos funcionais e seu controlador, a mente, manifestam-se. Então, de acordo com esses modos, a entidade viva, sofrendo o influxo de diferentes classes de conhecimentos, pensamentos, sentimentos e desejos, obtém a oportunidade de executar várias espécies de karma. É então que a máquina corpórea passa a funcionar.

Tudo isso foi devidamente analisado em sāṅkhya-yoga pelos grandes ācāryas, em especial pela Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, sob Sua encarnação de Devahūti-putra Kapila. Aqui, a palavra ācāryaiḥ sugere essa ideia. Não precisamos seguir ninguém que não seja um ācārya autorizado. Ācāryavān puruṣo veda: pode entender a verdade completa quem se refugia em um ācārya competente.

A entidade viva é individual, mas o corpo é composto de muitos elementos materiais. Isso fica provado pelo fato de que, tão logo a entidade viva deixa esta combinação de elementos materiais, esses se tornam um mero aglomerado de matéria. A matéria é qualitativamente una, e a alma espiritual é qualitativamente una com o Supremo. O Supremo é único, e a alma tem uma existência individual, mas a alma individual é tida como o senhor da combinação individual da energia material, ao passo que o Senhor Supremo é o controlador da totalidade da energia material. A entidade viva é o amo do seu corpo em particular e, de acordo com suas atividades, sujeita-se a diferentes classes de dores e prazeres. Entretanto, embora também seja um, a Pessoa Suprema, o Paramātmā, como indivíduo, está presente em todos os corpos.

A energia material se divide realmente em vinte e quatro elementos. A alma individual, o proprietário do corpo individual, é o vigésimo quinto elemento, e, acima de tudo, está o Senhor Viṣṇu como o Paramātmā, o controlador supremo, que é o vigésimo sexto elemento. Quando alguém entende esses vinte e seis elementos, torna-se adhyātma-vit, uma pessoa entendida e capaz de discernir entre matéria e espírito. Como se afirma na Bhagavad-gītā (13.3), kṣetra-kṣetrajñayor jñānam: entender o kṣetra (a constituição do corpo) e a alma individual e a Superalma constitui verdadeiro jñāna, ou conhecimento. Enquanto alguém não entender que o Senhor Supremo está eternamente relacionado com a alma individual, seu conhecimento continuará imperfeito. Confirma isso a Bhagavad-gītā (7.19):

bahūnāṁ janmanām ante
jñānavān māṁ prapadyate
vāsudevaḥ sarvam iti
sa mahātmā sudurlabhaḥ

“Depois de muitos nascimentos e mortes, aquele que tem verdadeiro conhecimento se rende a Mim, sabendo que sou a causa de todas as causas e de tudo o que existe. É muito raro encontrar semelhante grande alma.” Tudo o que é material e espiritual consiste em várias energias de Vāsudeva, a quem a alma individual, a fração espiritual do Senhor Supremo, está subordinada. Quem entende esse conhecimento perfeito se rende à Suprema Personalidade de Deus (vāsudevaḥ sarvam iti sa mahātmā sudurlabhaḥ).

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