No edit permissions for Português

Capítulo Dezoito

O Senhor Vāmanadeva, a Encarnação em Forma de Anão

Este capítulo descreve como o Senhor Vāmanadeva apareceu e como foi à arena sacrificatória de Mahārāja Bali, que O recebeu bem e satisfez-Lhe o desejo abençoando-O.

Ao aparecer neste mundo, o Senhor Vāmanadeva surgiu do ventre de Aditi e estava completamente equipado com búzio, disco, maça e lótus. Sua tez era enegrecida, e Ele Se vestia com roupas amarelas. O Senhor Viṣṇu apareceu em um momento auspicioso, no Śravaṇa-dvādaśī, quando a estrela Abhijit acabava de nascer. Naquele momento, em todos os três mundos (incluindo o sistema planetário superior, o espaço exterior e esta Terra), todos os semideuses, as vacas, os brāhmaṇas e mesmo as estações estavam felizes com o aparecimento de Deus. Portanto, esse dia auspicioso chama-se Vijayā. Quando a Suprema Personalidade de Deus, cujo corpo é sac-cid-ānanda, apareceu como o filho de Kaśyapa e Aditi, ambos os Seus pais ficaram muito maravilhados. Após Seu aparecimento, o Senhor assumiu uma forma de anão (Vāmana). Todos os grandes sábios expressaram o seu júbilo e, na presença de Kaśyapa Muni, realizaram a cerimônia de natalício do Senhor Vāmana. No momento da ceri­mônia em que receberia Seu cordão sagrado, o Senhor Vāmanadeva foi honrado pelo deus do Sol, por Bṛhaspati, pela deusa que preside o planeta Terra, pela deidade dos planetas celestiais, por Sua mãe, pelo senhor Brahmā, por Kuvera, pelos sete ṛṣis e por outros. Então, o Senhor Vāmanadeva visitou a arena de sacrifício situada ao norte do rio Narmadā, no campo conhecido como Bhṛgukaccha, onde os brāhmaṇas da dinastia Bhṛgu realizavam yajñas. Usando um cinto de palha muñja, uma veste superior feita de pele de veado e um cordão sagrado, e carregando em Suas mãos uma daṇḍa, uma sombrinha e um cântaro (kamaṇḍalu), o Senhor Vāmanadeva apare­ceu na arena de sacrifícios de Mahārāja Bali. Devido à Sua presen­ça transcendentalmente refulgente, todos os sacerdotes ficaram com seus poderes ofuscados e, devido a isso, levantaram-se de seus assentos e ofereceram orações ao Senhor Vāmanadeva. Mesmo o senhor Śiva aceita sobre sua cabeça a água do Gaṅges gerada do dedão do pé do Senhor Vāmanadeva. Portanto, após lavar os pés do Senhor, Bali Mahārāja imediatamente colocou sobre sua cabeça as águas dos pés do Senhor e percebeu que ele e seus predecessores certamente haviam sido glorificados. Então, Bali Mahārāja indagou sobre o bem-estar de Vāmanadeva e solicitou ao Senhor que lhe pedisse dinheiro, joias ou o que quer que desejasse.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Depois que o senhor Brahmā falou essas palavras em glorificação às atividades e proezas do Senhor Supremo, a Suprema Personalidade de Deus, que, diferentemente dos seres vivos ordinários, jamais Se sujeita à morte, apareceu no ventre de Aditi. Suas quatro mãos estavam decoradas com búzio, maça, lótus e disco. Trajava roupas amarelas, e Seus olhos pareciam as pétalas de um lótus a desabrochar.

VERSO 2: O corpo da Suprema Personalidade de Deus, de tez escura, estava livre de toda a embriaguez. Seu rosto de lótus, decorado com brincos em formato de tubarões, parecia muito belo, e, em Seu peito, havia a marca de Śrīvatsa. Ele usava pulseiras e braceletes, tinha um elmo em Sua cabeça, um cinto em Sua cintura, um cordão sa­grado cruzando o Seu peito, e sinos de tornozelo decorando Seus pés de lótus.

VERSO 3: Uma guirlanda de flores extremamente bela decorava-Lhe o peito, e, devido ao fato de as flores serem intensamente fragrantes, um grande enxame de abelhas, produzindo seu zumbido habitual, inva­diu-as para fazer seu mel. Quando o Senhor apareceu, usando a joia Kaustubha em Seu pescoço, Sua refulgência eliminou a escuri­dão que havia no lar de Prajāpati Kaśyapa.

VERSO 4: Naquele momento, a felicidade surgiu em todas as direções, nos reservatórios de água, tais como os rios e oceanos, e no âmago de todos os corações. As várias estações apresentaram seus respectivos atributos, e todas as entidades vivas do sistema planetário superior, do espaço sideral e da superfície da Terra estavam jubilosas. Os se­mideuses, as vacas, os brāhmaṇas e as colinas e montanhas, todos sentiam imensa alegria.

VERSO 5: No dia de Śravaṇa-dvādaśī [o décimo segundo dia da quinzena da lua cheia do mês de bhādra], quando a Lua entrou na mansão lunar Śravaṇa, no momento auspicioso de Abhijit, o Senhor apareceu neste universo. Considerando muito auspicioso o aparecimento do Senhor, todas as estrelas e planetas, desde o Sol até Saturno, estavam prodigamente caridosos.

VERSO 6: Ó rei, quando o Senhor apareceu – no dvādaśī, o décimo segundo dia da Lua –, o Sol estava no meridiano, como sabe todo estudioso erudito. Esse dvādaśī chama-se Vijayā.

VERSO 7: Búzios, timbales, tambores, paṇavas e ānakas vibravam em concerto. O som desses e de vários outros instrumentos era tumultuoso.

VERSO 8: Estando muito satisfeitas, as dançarinas celestiais [Apsarās] dança­vam jubilosas, os melhores dos Gandharvas entoavam canções, e os grandes sábios, semideuses, Manus, Pitās e deuses do fogo ofere­ciam orações para satisfazer o Senhor.

VERSOS 9-10: Os Siddhas, Vidyādharas, Kimpuruṣas, Kinnaras, Cāraṇas, Yakṣas, Rākṣasas, Suparṇas, as melhores das serpentes e os seguidores dos semideuses, todos derramaram flores sobre a residência de Aditi, cobrindo toda a casa, enquanto glorificavam e louvavam o Senhor e dançavam.

VERSO 11: Ao ver a Suprema Personalidade de Deus, que surgira de seu ventre, aceitar, através de Sua própria potência espiritual, um corpo transcendental, Aditi ficou maravilhada e muito feliz. Ao ver o filho, o Prajāpati Kaśyapa, com muita felicidade e admira­ção, exclamou: “Jaya! Jaya!”

VERSO 12: O Senhor apareceu em Sua forma original, com adornos e armas em Suas mãos. Muito embora essa forma perene não seja visível no mundo material, Ele apareceu nessa forma. Então, na presença de Seu pai e de Sua mãe, Ele, tal qual um ator de teatro, assumiu a forma de Vāmana, um brāhmaṇa anão, um brahmacārī.

VERSO 13: Ao verem o Senhor como o brahmacārī anão Vāmana, os grandes sábios decerto ficaram muito satisfeitos. Assim, reuniram-se com Kaśyapa Muni, o Prajāpati, e realizaram todas as cerimônias ritualísticas, tais como a cerimônia do natalício.

VERSO 14: Na cerimônia em que Vāmanadeva recebeu o cordão sagrado, o deus do Sol pessoalmente pronunciou o mantra Gāyatrī, Bṛhaspati ofereceu o cordão sagrado, e Kaśyapa Muni ofertou um cinto de palha.

VERSO 15: A mãe Terra deu-Lhe uma pele de veado, e o semideus da Lua, que é o rei da floresta, deu-Lhe uma brahma-daṇḍa [o bastão de brahmacārī]. Sua mãe, Aditi, presenteou-O com tecidos que Ele de­veria usar como vestes internas, e a deidade que preside o reino ce­lestial ofereceu-Lhe uma sombrinha.

VERSO 16: Ó rei, o senhor Brahmā ofereceu um cântaro à inexaurível Suprema Personalidade de Deus, os sete sábios ofereceram-Lhe grama kuśa, e mãe Sarasvatī deu-Lhe um cordão de contas Rudrākṣa.

VERSO 17: Quando Vāmanadeva recebeu o cordão sagrado, Kuvera, o rei dos Yakṣas, deu-Lhe uma cuia de esmolas, e mãe Bhagavatī, a esposa do senhor Śiva e a mãe mais casta de todo o universo, concedeu-Lhe Suas primeiras esmolas.

VERSO 18: Tendo sido tão bem recebido por todos, o Senhor Vāmanadeva, o melhor dos brahmacārīs, manifestou Sua refulgência Brahman. Assim, Sua beleza ofuscou toda aquela assembleia, que estava repleta de grandes brāhmaṇas santos.

VERSO 19: Após organizar um fogo de sacrifício, o Senhor Vāmanadeva ofereceu adoração e realizou um sacrifício de fogo no campo sacrificatório.

VERSO 20: Quando o Senhor soube que Bali Mahārāja estava realizando sacrifícios aśvamedha sob a assistência de brāhmaṇas perten­centes à dinastia Bhṛgu, o Senhor Supremo, que é pleno sob todos os aspectos, dirigiu-Se até lá a fim de mostrar Sua misericórdia a Bali Mahārāja. Com Seu peso, Ele afundava a Terra a cada passo.

VERSO 21: Enquanto se ocupavam em realizar o sacrifício no campo conhecido como Bhṛgukaccha, situado na margem norte do rio Narmadā, os sacerdotes bramânicos, descendentes de Bhṛgu, viram Vāmanadeva, que Se assemelhava ao Sol nascendo nas proximidades.

VERSO 22: Ó rei, devido à brilhante refulgência de Vāmanadeva, os sacerdo­tes, juntamente com Bali Mahārāja e todos os membros da assem­bleia, praticamente perderam todo o seu esplendor. Eles, então, começaram a perguntar uns aos outros se o próprio deus do Sol, Sanat-kumāra ou o deus do fogo haviam vindo pessoalmente ver a cerimônia de sacrifício.

VERSO 23: Enquanto os sacerdotes da dinastia Bhṛgu e seus discípulos falavam e argumentavam de várias maneiras, a Suprema Personalidade de Deus, Vāmanadeva, portando em Suas mãos um bastão, uma sombrinha e um cântaro cheio de água, entrou na arena do sacrifício aśvamedha.

VERSOS 24-25: Parecendo um menino brāhmaṇa usando um cinto de palha, um cordão sagrado, uma roupa superior feita de pele de veado e cabelos em mechas emaranhadas, o Senhor Vāmanadeva entrou na arena de sacri­fício. Sua refulgência brilhante ofuscou o brilho de todos os sacer­dotes e seus discípulos, os quais, então, levantaram-se de seus assentos e deram as devidas boas-vindas ao Senhor, oferecendo-Lhe reverências.

VERSO 26: Bali Mahārāja, contente ao ver o Senhor Vāmanadeva, cujos belos membros contribuíam igualmente para a beleza de todo o Seu corpo, sentiu muita satisfação em oferecer-Lhe um assento.

VERSO 27: Oferecendo essa digna recepção à Suprema Personalidade de Deus, que é sempre belo para as almas liberadas, Bali Mahārāja adorou-O, lavando Seus pés de lótus.

VERSO 28: O senhor Śiva, o melhor dos semideuses, que carrega em sua testa o emblema da Lua, recebe sobre sua cabeça, com grande devoção, a água do Ganges que emana do dedão do pé de Viṣṇu. Inteirado dos princípios religiosos, Bali Mahārāja sabia disso. Consequente­mente, seguindo os passos do senhor Śiva, ele também colocou sobre sua cabeça a água que lavara os pés de lótus do Senhor.

VERSO 29: Então, Bali Mahārāja disse ao Senhor Vāmanadeva: Ó brāhmaṇa, ofereço-Vos minhas calorosas boas-vindas e minhas respeitosas reve­rências. Por favor, dizei-nos o que podemos fazer por Vós. Pensamos em Vós como a austeridade personificada dos grandes sábios brāhmaṇas.

VERSO 30: Ó meu Senhor, devido ao fato de que fizestes a gentileza de vir até nosso lar, todos os meus antepassados estão satisfeitos, nossa fa­mília e toda a sua dinastia foram santificadas, e o sacrifício que estamos realizando agora está concluído graças à Vossa presença.

VERSO 31: Ó filho de um brāhmaṇa, hoje o fogo do sacrifício está aceso de acordo com o preceito dos śāstras, e, através da água que lavou Vossos pés de lótus, libertei-me de todas as reações pecaminosas da minha vida. Ó meu Senhor, pelo contato de Vossos pequeninos pés de lótus, toda a superfície do mundo se santificou.

VERSO 32: Ó filho de brāhmaṇa, parece que viestes aqui para me pedir algo. Por­tanto, o que acaso desejardes podeis pedir-me. Ó melhor entre os adoráveis, posso dar-Vos vacas, ouro, uma casa mobiliada, alimentos e bebidas saborosos, a filha de um brāhmaṇa como Vossa espo­sa, vilas prósperas, cavalos, elefantes, quadrigas ou o que quer que desejardes.

« Previous Next »