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VERSO 86

eta bali’ duṅhe rahe haraṣita hañā
śālagrāma sevā kare viśeṣa kariyā

eta bali’ — após essa conversa; duṅhe — ambos; rahe — permaneceram; haraṣita — jubilosos; hañā — ficando; śālagrāmaśālagrāma-nārāyaṇa-śilā; seva — serviço; kare — prestado; viśeṣa — com atenção especial; kariyā — dando-a.

Após essa conversa, tanto o esposo quanto a esposa encheram-se de júbilo, e juntos prestaram serviço à śālagrāma-śilā da família.

SIGNIFICADO—Especialmente em toda casa de brāhmaṇa, deve haver uma śālagrāma-śilā para a família brāhmaṇa adorar. Esse sistema ainda vigora. Pessoas que são brāhmaṇas de casta, que nasceram em famílias de brāhmaṇas, devem adorar a śālagrāma-śilā. Infelizmente, com o progresso de Kali-yuga, os ditos brāhmaṇas não adoram mais a śālagrāma-śilā, embora tenham muito orgulho de terem nascido em famílias de brāhmaṇas. Na verdade, porém, desde tempos imemoriais, tem sido costume que todos os nascidos em famílias de brāhmaṇas devem adorar a śālagrāma-śilā em todas as circunstâncias. Em nossa sociedade para a consciência de Kṛṣṇa, alguns dos membros estão muito desejosos de introduzir a śālagrāma-śilā, mas, propositadamente, adiamos a introdução dela, pois a maioria dos membros do movimento para a consciência de Kṛṣṇa não se originaram de famílias de casta brāhmaṇa. Após algum tempo, ao notarmos que eles estão deveras situados estritamente na linha do comportamento bramânico, introduzir-se-á essa śālagrāma-śilā.

Nesta era, a adoração à śālagrāma-śilā não é tão importante quanto o cantar do santo nome do Senhor. Esse é o preceito dos śāstras. Harer nāma harer nāma harer nāmaiva kevalaṁ/ kalau nāsty eva nāsty eva nāsty eva gatir anyathā. Segundo a opinião de Śrīla Jīva Gosvāmī, cantando o santo nome sem cometer ofensas, tornamo-nos inteiramente perfeitos. Não obstante, para dar condições de pureza à mente, é necessário também adorar a Deidade no templo. Portanto, quem é avançado em consciência espiritual ou está perfeitamente situado na plataforma espiritual pode adotar a adoração à śālagrāma-śilā.

Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura explica a transferência do Senhor do coração de Jagannātha Miśra para o coração de Śacīmātā do seguinte modo: “Deve-se concluir que Jagannātha Miśra e Śacīmātā são nitya-siddhas, associados sempre puros do Senhor. Seus corações são sempre incontaminados, daí eles jamais se esquecerem da Suprema Personalidade de Deus. Um homem comum neste mundo material tem o coração contaminado. Portanto, ele precisa primeiro purificar seu coração para chegar à posição transcendental. Porém, Jagannātha Miśra e Śacīmātā não eram homem e mulher comuns, com corações contaminados. Afirma-se que quem tem o coração incontaminado está na posição existencial de vasudeva. Vasudeva pode gerar Vāsudeva, ou Kṛṣṇa, que Se situa transcendentalmente.”

Deve-se entender que Śacīdevī não engravidou como uma mulher comum, que engravida devido ao prazer dos sentidos. Não se deve pensar que a gravidez de Śacīmātā é como a de uma mulher comum, pois isso seria uma ofensa. Pode compreender a gravidez de Śacīmātā quem é realmente avançado em consciência espiritual e se ocupa plenamente no serviço devocional ao Senhor.

O Śrīmad-Bhāgavatam (10.2.16) afirma:

bhagavān api viśvātmā
bhaktānām abhayaṅ-karaḥ
āviveśāṁśa-bhāgena
mana ānakadundubheḥ

Esta é uma afirmação relativa ao nascimento do Senhor Kṛṣṇa. A encarnação do Senhor entrou na mente de Vasudeva e foi, então, transferida à mente de Devakī. A esse respeito, Śrīla Śrīdhara Svāmī faz a seguinte observação: ‘mana āviveśa’ manasy āvirbabhūva; jīvānām iva na dhātu-sambandha ity arthaḥ. Não se tratou da ejaculação seminal que é necessária ao nascimento de um ser humano comum. Śrīla Rūpa Gosvāmī também comenta, a esse respeito, que o Senhor Kṛṣṇa primeiro apareceu na mente de Ānakadundubhi, Vasudeva, e, então, foi transferido à mente de Devakī-devī. Assim, a bem-aventurança espiritual na mente de Devakī-devī cresceu gradualmente, assim como a Lua aumenta toda noite até tornar-se lua cheia. No momento do aparecimento do Senhor Kṛṣṇa, Ele saiu da mente de Devakī e apareceu dentro do presídio de Kaṁsa, ao lado da cama de Devakī. Naquele momento, pelo encanto de yogamāyā, Devakī pensou que, então, havia nascido o filho dela. Em relação a isso, mesmo os semideuses do reino celestial também ficaram confusos. Como se afirma, muhyanti yat sūrayaḥ (Śrīmad-Bhāgavatam 1.1.1). Eles vieram oferecer suas orações a Devakī, pensando que o Senhor Supremo estava dentro do ventre dela. Os semideuses vieram a Mathurā, oriundos de seu reino celestial. Isso indica que Mathurā é ainda mais importante que o reino celestial do sistema planetário superior.

O Senhor Kṛṣṇa, como o filho eterno de Yaśodāmayī, está sempre presente em Vṛndāvana. Os passatempos do Senhor Kṛṣṇa prosseguem continuamente, tanto neste mundo material quanto no mundo espiritual. Em tais passatempos, o Senhor sempre Se considera o filho eterno de mãe Yaśodā e de pai Nanda Mahārāja. No décimo canto do Śrīmad-Bhāgavatam, capítulo seis, verso 43, afirma-se: “Quando o magnânimo e generoso Nanda Mahārāja regressava de viagem, imediatamente pegava seu filho Kṛṣṇa no colo e experimentava bem-aventurança transcendental, cheirando a cabeça dEle.” Semelhantemente, afirma-se no décimo canto, nono capítulo, verso 21: “Essa Personalidade de Deus, aparecendo como o filho de uma vaqueira, é facilmente compreensível e acessível aos devotos, ao passo que quem está sob o conceito de vida corpórea, mesmo que seja muito avançado em austeridade e penitência, ou mesmo que seja grande filósofo, é incapaz de compreendê-lO.”

Além disso, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī Ṭhākura cita Śrīpāda Baladeva Vidyābhūṣaṇa, que se refere às orações oferecidas pelos semideuses ao Senhor Kṛṣṇa no ventre de Devakī e resume o nascimento de Kṛṣṇa da seguinte maneira: “Assim como a lua nascente manifesta luz no oriente, da mesma forma, Devakī, que sempre se encontrava na plataforma transcendental, tendo sido iniciada no mantra de Kṛṣṇa por Vasudeva, o filho de Śūrasena, mantinha Kṛṣṇa dentro de seu coração.” Essa afirmação do Śrīmad-Bhāgavatam (10.2.18) dá a entender que a Suprema Personalidade de Deus manifestou-Se no coração de Devakī após ter sido transferida do coração de Ānakadundubhi, ou Vasudeva. Segundo Śrīla Baladeva Vidyābhūṣaṇa, “coração de Devakī” significa o ventre de Devakī, pois, no Śrīmad-Bhāgavatam (10.2.41), os semideuses dizem que diṣṭyāmba te kukṣi-gataḥ paraḥ pumān: “Mãe Devakī, o Senhor já Se encontra dentro de teu ventre.” Portanto, transferir o Senhor do coração de Vasudeva para o coração de Devakī significa que Ele transferiu-Se ao ventre de Devakī.

De forma semelhante, no que diz respeito ao aparecimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu como se descreve no Caitanya-caritāmṛta, as palavras viśeṣe sevana kare govinda-caraṇa, “eles começaram a adorar os pés de lótus de Govinda de modo especial”, indicam que, exatamente como Kṛṣṇa apareceu no coração de Devakī através do coração de Vasudeva, da mesma forma, o Senhor Caitanya apareceu no coração de Śacīdevī através do coração de Jagannātha Miśra. Esse é o mistério do aparecimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Consequentemente, não se deve considerar o aparecimento do Senhor Caitanya como o de um homem ou entidade viva comum. Esse assunto é um pouco difícil de entender, mas, para os devotos do Senhor, não será de modo algum difícil compreender as afirmações feitas por Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī.

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