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Capítulo Treze

O Advento do Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu

Este décimo terceiro capítulo do Śrī Caitanya-caritāmṛta descreve o aparecimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu. A seção inteira da Ādi-līlā descreve a vida familiar do Senhor Caitanya Mahāprabhu, e, de modo semelhante, a Antya-līlā descreve Sua vida na ordem de sannyāsa. Dentro da Antya-līlā, os primeiros seis anos de Sua vida de sannyāsa chamam-se Madhya-līlā. Durante essa época, Caitanya Mahāprabhu viajou pelo sul da Índia, foi para Vṛndāvana, regressou de Vṛndāvana e pregou o movimento de saṅkīrtana.

Um brāhmaṇa erudito chamado Upendra Miśra, que residia no distrito de Śrīhaṭṭa, era o pai de Jagannātha Miśra, que foi para Navadvīpa estudar sob a orientação de Nīlāmbara Cakravartī e, então, estabeleceu-se ali após casar-se com Śacīdevī, a filha de Nīlāmbara Cakravartī. Śrī Śacīdevī deu à luz oito crianças, todas meninas, que morreram uma após outra imediatamente após o nascimento. Após sua nona gravidez, ela deu à luz um filho que se chamou Viśvarūpa. Então, em 1407 da era Śaka, na noite de lua cheia do mês de Phālguna, sob a constelação de Siṁha (Leão), o Senhor Caitanya Mahāprabhu apareceu como o filho de Śrī Śacīdevī e Jagannātha Miśra. Ao ficarem sabendo do nascimento de Caitanya Mahāprabhu, estudiosos eruditos e brāhmaṇas, trazendo muitos presentes, foram visitar o bebê recém-nascido. Nīlāmbara Cakravartī, que era um grande astrólogo, imediatamente preparou um horóscopo e, através de cálculos astrológicos, viu que a criança era uma grande personalidade. Este capítulo descreve as características dessa grande personalidade.

VERSO 1: Desejo a graça do Senhor Caitanya Mahāprabhu, por cuja misericórdia mesmo aquele que é caído pode descrever os passatempos do Senhor.

VERSO 2: Todas as glórias a Śrī Kṛṣṇa Caitanya Mahāprabhu! Todas as glórias a Advaitacandra! Todas as glórias ao Senhor Nityānanda Prabhu!

VERSO 3: Todas as glórias a Gadādhara Prabhu! Todas as glórias a Śrīnivāsa Ācārya Prabhu! Todas as glórias a Mukunda Prabhu e a Vāsudeva Prabhu! Todas as glórias a Haridāsa Ṭhākura!

VERSO 4: Todas as glórias a Svarūpa Dāmodara e a Murāri Gupta! Todas estas luas brilhantes juntas dissiparam a escuridão deste mundo material.

VERSO 5: Todas as glórias às luas que são devotos da lua principal, o Senhor Caitanyacandra! O refulgente luar deles ilumina o universo inteiro.

VERSO 6: Assim, acabo de falar o prefácio do Caitanya-caritāmṛta. Agora, descreverei os passatempos de Caitanya Mahāprabhu em ordem cronológica.

VERSO 7: Em primeiro lugar, apresentarei uma sinopse dos passatempos do Senhor. Depois disso, irei descrevê-los em detalhes.

VERSO 8: O Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, aparecendo pessoalmente em Navadvīpa, esteve visível por quarenta e oito anos, desfrutando de Seus passatempos.

VERSO 9: No ano de 1407 da era Śaka, apareceu o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu, e, no ano de 1455, Ele desapareceu deste mundo.

VERSO 10: Por vinte e quatro anos, o Senhor Caitanya viveu no gṛhastha-āśrama [vida familiar], sempre dedicado aos passatempos do movimento Hare Kṛṣṇa.

VERSO 11: Após vinte e quatro anos, Ele ingressou na ordem de vida renunciada, sannyāsa, e morou mais vinte e quatro anos em Jagannātha Purī.

VERSO 12: Desses últimos vinte e quatro anos, Ele passou os primeiros seis anos viajando pela Índia, continuamente, às vezes no sul da Índia, às vezes na Bengala e às vezes em Vṛndāvana.

VERSO 13: Durante os dezoito anos restantes, Ele permaneceu continuamente em Jagannātha Purī. Cantando o nectáreo mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, Ele imergiu todos ali numa inundação de amor a Kṛṣṇa.

VERSO 14: Os passatempos de Sua vida familiar são conhecidos como Ādi-līlā, ou os passatempos originais. Seus passatempos posteriores são conhecidos como Madhya-līlā e Antya-līlā, ou os passatempos intermediários e finais.

VERSO 15: Todos os passatempos desempenhados pelo Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu em Sua Ādi-līlā foram registrados em resumo por Murāri Gupta.

VERSO 16: Seus passatempos posteriores [Madhya-līlā e Antya-līlā] foram registrados por Seu secretário, Svarūpa Dāmodara Gosvāmī e, assim, mantidos num livro.

VERSO 17: Vendo e ouvindo os apontamentos registrados por essas duas grandes personalidades, um vaiṣṇava, um devoto do Senhor, poderá conhecer estes passatempos, um após o outro.

VERSO 18: Seus passatempos originais dividem-se em quatro categorias: bālya, paugaṇḍa, kaiśora e yauvana [infância, meninice, meninice avançada e juventude].

VERSO 19: Presto minhas respeitosas reverências à noite de lua cheia do mês de Phālguna, um momento auspicioso, pleno de sinais auspiciosos, quando o próprio Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu apareceu com o cantar do santo nome, Hare Kṛṣṇa.

VERSO 20: Na noite de lua cheia do mês de Phālguna, quando o Senhor nasceu, por coincidência, houve, também, um eclipse lunar.

VERSO 21: Em júbilo, todos cantavam o santo nome do Senhor – “Hari! Hari!” –, e, então, o Senhor Śrī Caitanya Mahāprabhu apareceu, após fazer com que o santo nome aparecesse.

VERSO 22: Em Seu nascimento, em Sua infância, em Sua meninice e em Sua adolescência, bem como em Sua juventude, o Senhor Caitanya Mahāprabhu, sob diferentes pretextos, induziu as pessoas a cantarem o santo nome de Hari [o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa].

VERSO 23: Em Sua infância, o Senhor parava imediatamente de chorar ao ouvir os santos nomes Kṛṣṇa e Hari.

VERSO 24: Todas as senhoras amigas que vinham visitar a criança cantavam os santos nomes – “Hari! Hari!” – assim que a criança chorava.

VERSO 25: Todas as senhoras divertiam-se e riam com isso, e passaram a chamar o Senhor de “Gaurahari”. Desde então, Gaurahari tornou-se outro de Seus nomes.

VERSO 26: Sua infância durou até a data do hāte khaḍi, o início de Sua educação. A época desde o fim de Sua infância até Seu casamento chama-se paugaṇḍa.

VERSO 27: Após Seu casamento, iniciou-se Sua juventude, período em que Ele fez com que todos cantassem o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa em todo e qualquer lugar.

VERSO 28: Durante Sua idade paugaṇḍa, Ele tornou-Se um estudante sério e também reuniu discípulos. Dessa maneira, explicava o santo nome de Kṛṣṇa em toda parte.

VERSO 29: Ao dar um curso de gramática [vyākaraṇa] e explicá-lo com notas, Śrī Caitanya Mahāprabhu instruiu Seus discípulos sobre as glórias do Senhor Kṛṣṇa. Todas as explicações culminavam em Kṛṣṇa, e Seus discípulos entendiam-nas com muita facilidade. Assim, Sua influência era maravilhosa.

VERSO 30: Quando estudante, o Senhor Caitanya Mahāprabhu pedia a todos que encontrava que cantassem o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa. Dessa maneira, Ele inundou toda a cidade de Navadvīpa com o cantar de Hare Kṛṣṇa.

VERSO 31: Já antes de Sua juventude, Ele começou o movimento de saṅkīrtana. Dia e noite, Ele dançava em êxtase com Seus devotos.

VERSO 32: O movimento de saṅkīrtana alastrava-se de uma parte da cidade a outra, enquanto o Senhor vagava por toda parte, fazendo kīrtana. Dessa maneira, Ele inundou o mundo inteiro, distribuindo o amor a Deus.

VERSO 33: O Senhor Caitanya Mahāprabhu viveu na área de Navadvīpa durante vinte e quatro anos, e fez com que todas as pessoas cantassem o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, imergindo, assim, em amor a Kṛṣṇa.

VERSO 34: Durante Seus vinte e quatro anos restantes, Śrī Caitanya Mahāprabhu, após ingressar na ordem de vida renunciada, permaneceu em Jagannātha Purī com Seus devotos.

VERSO 35: Durante seis desses vinte e quatro anos em Nīlācala [Jagannātha Purī], Ele distribuiu amor a Deus, cantando e dançando sempre.

VERSO 36: Começando do Cabo Camorim e prosseguindo através da Bengala até Vṛndāvana, durante esses seis anos, Ele viajou por toda a Índia, cantando, dançando e distribuindo amor a Kṛṣṇa.

VERSO 37: As atividades do Senhor Caitanya Mahāprabhu em Suas viagens após Ele ter aceitado sannyāsa são Seus passatempos principais. Suas atividades durante Seus últimos dezoito anos chamam-se Antya-līlā, ou a porção final de Seus passatempos.

VERSO 38: Durante seis dos dezoito anos, Ele permaneceu em Jagannātha Purī, onde executava kīrtanas regulares. Simplesmente com Seu canto e Sua dança, Ele induzia todos os devotos a amarem Kṛṣṇa.

VERSO 39: Durante os doze anos restantes, Ele permaneceu em Jagannātha Purī, e ensinou a todos como provarem o doce e transcendental êxtase do amor a Kṛṣṇa, saboreando-o Ele próprio.

VERSO 40: Dia e noite, o Senhor Caitanya Mahāprabhu sentia a separação de Kṛṣṇa. Manifestando sintomas dessa separação, Ele chorava e falava sem qualquer coerência, como um louco.

VERSO 41: Assim como Śrīmatī Rādhārāṇī falou incoerentemente ao encontrar-Se com Uddhava, da mesma forma, Śrī Caitanya Mahāprabhu deleitava-Se, tanto de dia quanto de noite, em tal conversa extática no humor de Śrīmatī Rādhārāṇī.

VERSO 42: O Senhor costumava ler os livros de Vidyāpati, Jayadeva e Caṇḍīdāsa, saboreando suas canções com Seus associados íntimos, como Śrī Rāmānanda Rāya e Svarūpa Dāmodara Gosvāmī.

VERSO 43: Com saudades de Kṛṣṇa, Śrī Caitanya Mahāprabhu saboreou todas essas atividades extáticas e, assim, satisfez Seus próprios desejos.

VERSO 44: Os passatempos do Senhor Caitanya Mahāprabhu são ilimitados. Quanto pode uma pequena entidade viva discorrer sobre esses passatempos transcendentais?

VERSO 45: Se Śeṣanāga Ananta pessoalmente fosse colocar os passatempos do Senhor Caitanya em sūtras, nem com Suas milhares de bocas teria qualquer possibilidade de chegar a esgotar esse tema.

VERSO 46: Devotos como Śrī Svarūpa Dāmodara e Murāri Gupta registraram todos os passatempos principais do Senhor Caitanya sob a forma de anotações, após madura deliberação.

VERSO 47: As anotações guardadas por Śrī Svarūpa Dāmodara e Murāri Gupta são a base deste livro. Escrevo sobre todos os passatempos do Senhor seguindo tais anotações, que foram elaboradamente descritas por Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura.

VERSO 48: Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura, o escritor autorizado dos passatempos de Śrī Caitanya Mahāprabhu, é tão bom quanto Śrīla Vyāsadeva. Ele descreve os passatempos de tal maneira que eles se tornam cada vez mais doces.

VERSO 49: Temendo que seu livro ficasse volumoso demais, ele deixou alguns trechos sem descrições vívidas. Tentarei preencher tais lacunas tanto quanto possível.

VERSO 50: Śrīla Vṛndāvana Dāsa Ṭhākura realmente saboreou os passatempos transcendentais do Senhor Caitanya. Eu procuro apenas mastigar os restos dos alimentos deixados por ele.

VERSO 51: Meus queridos devotos do Senhor Caitanya, agora escreverei uma breve sinopse da Ādi-līlā, pois não é possível descrever esses passatempos por completo.

VERSO 52: Para satisfazer um desejo específico que tinha em Sua mente, o Senhor Kṛṣṇa, Vrajendra-kumāra, decidiu descer a este planeta após madura consideração.

VERSO 53: Portanto, antes de mais nada, o Senhor Kṛṣṇa permitiu que os membros superiores de Sua família descessem à Terra. Procurarei descrevê-los brevemente, pois não é possível descrevê-los todos.

VERSOS 54-55: Antes de aparecer como o Senhor Caitanya, o Senhor Śrī Kṛṣṇa solicitou a estes devotos que O antecedessem: Śrī Śacīdevī, Jagannātha Miśra, Mādhavendra Purī, Keśava Bhāratī, Īśvara Purī, Advaita Ācārya, Śrīvāsa Paṇḍita, Ācāryaratna, Vidyānidhi e Ṭhākura Haridāsa.

VERSO 56: Havia, também, Śrī Upendra Miśra, residente no distrito de Śrīhaṭṭa. Era grande devoto do Senhor Viṣṇu, um estudioso erudito, um homem rico e um reservatório de todas as boas qualidades.

VERSOS 57-58: Upendra Miśra teve sete filhos, que eram todos santos e muito influentes: (1) Kaṁsāri, (2) Paramānanda, (3) Padmanābha, (4) Sarveśvara, (5) Jagannātha, (6) Janārdana e (7) Trailokyanātha. Jagannātha Miśra, o quinto filho, decidiu residir às margens do Ganges em Nadia.

VERSO 59: Jagannātha Miśra foi apelidado de Purandara. Exatamente como Nanda Mahārāja e Vasudeva, ele era um oceano de todas as boas qualidades.

VERSO 60: Sua esposa, Śrīmatī Śacīdevī, era uma mulher casta, altamente devotada a seu esposo. O nome do pai de Śacīdevī era Nīlāmbara, e seu sobrenome, Cakravartī.

VERSO 61: Nityānanda Prabhu, Gaṅgādāsa Paṇḍita, Murāri Gupta e Mukunda nasceram em Rāḍhadeśa, a parte da Bengala que o Ganges não banha.

VERSO 62: O Senhor Kṛṣṇa, Vrajendra-kumāra, primeiro fez com que inúmeros devotos aparecessem, após o que Ele próprio apareceu.

VERSO 63: Antes do aparecimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, todos os devotos de Navadvīpa costumavam reunir-se na casa de Advaita Ācārya.

VERSO 64: Nesses encontros dos vaiṣṇavas, Advaita Ācārya costumava recitar a Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam, depreciando os caminhos de especulação filosófica e atividades fruitivas e estabelecendo a sobreexcelência do serviço devocional.

VERSO 65: Em todas as escrituras reveladas da cultura védica, o serviço devocional ao Senhor Kṛṣṇa é perfeitamente explicado. Portanto, os devotos do Senhor Kṛṣṇa não aceitam os processos de especulação filosófica, yoga místico, austeridades desnecessárias e ditos rituais religiosos. Eles não aceitam nenhum processo senão o serviço devocional.

VERSO 66: Na casa de Advaita Ācārya, todos os vaiṣṇavas deleitavam-se em falar sempre de Kṛṣṇa, adorar sempre Kṛṣṇa e cantar sempre o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa.

VERSO 67: Porém, Śrī Advaita Ācārya Prabhu ficava triste de ver todas as pessoas sem consciência de Kṛṣṇa simplesmente mergulhadas no gozo dos sentidos materiais.

VERSO 68: Ao ver a condição do mundo, Ele começou a pensar seriamente em como todas essas pessoas poderiam ser liberadas das garras de māyā.

VERSO 69: Śrīla Advaita Ācārya Prabhu pensou: “Caso o próprio Kṛṣṇa apareça para distribuir o culto do serviço devocional, somente então será possível a liberação para todas as pessoas.”

VERSO 70: Com essa consideração, prometendo provocar o advento do Senhor Kṛṣṇa, Advaita Ācārya Prabhu começou a adorar a Suprema Personalidade de Deus, Kṛṣṇa, com folhas de tulasī e água do Ganges.

VERSO 71: Com veementes súplicas, Ele convidou Kṛṣṇa a aparecer, e esse convite repetido atraiu a atenção do Senhor Kṛṣṇa e convenceu-O a descer.

VERSO 72: Antes do nascimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, oito filhas haviam nascido, uma após a outra, do ventre de Śacīmātā, a esposa de Jagannātha Miśra. Porém, logo após o nascimento, todas elas morreram.

VERSO 73: Jagannātha Miśra ficou muito triste pela morte sucessiva de suas filhas. Portanto, desejando um filho, ele adorou os pés de lótus do Senhor Viṣṇu.

VERSO 74: Depois disso, Jagannātha Miśra teve um filho chamado Viśvarūpa, que era muito poderoso e altamente qualificado, pois era uma encarnação de Baladeva.

VERSO 75: A expansão de Baladeva conhecida como Saṅkarṣaṇa no mundo espiritual é a causa última e imediata desta manifestação cósmica material.

VERSO 76: A forma universal gigantesca chama-se a encarnação Viśvarūpa de Mahā-saṅkarṣaṇa. Assim, não encontramos dentro desta manifestação cósmica nada exceto o próprio Senhor.

VERSO 77: “Assim como o fio de um tecido se espalha tanto no sentido longitudinal quanto no transversal, da mesma forma, tudo o que vemos dentro desta manifestação cósmica existe direta e indiretamente na Suprema Personalidade de Deus. Isso não é nada maravilhoso para Ele.”

VERSO 78: Como Mahā-Saṅkarṣaṇa é a causa última e imediata da manifestação cósmica, Ele está presente em todos os detalhes dela. Portanto, o Senhor Caitanya chamava-O de Seu irmão mais velho. Os dois irmãos são conhecidos como Kṛṣṇa e Balarāma no mundo espiritual, mas, no momento atual, Eles são Caitanya e Nitāi. Portanto, a conclusão é que Nityānanda Prabhu é o Saṅkarṣaṇa original, Baladeva.

VERSO 79: O esposo e a esposa [Jagannātha Miśra e Śacīmātā], tendo obtido Viśvarūpa como seu filho, ficaram muito satisfeitos mentalmente. Devido ao prazer que sentiam, começaram a servir aos pés de lótus de Govinda de modo especial.

VERSO 80: No mês de janeiro do ano de 1406 da era Śaka (1485 d.C.), o Senhor Kṛṣṇa entrou no corpo tanto de Jagannātha Miśra quanto de Śacī.

VERSO 81: Jagannātha Miśra disse a Śacīmātā: “Vejo coisas maravilhosas! Teu corpo brilha, e é como se a deusa da fortuna estivesse agora residindo pessoalmente em minha casa.”

VERSO 82: “Aonde quer que eu vá, todas as pessoas prestam-me respeitos. Mesmo sem eu pedir, elas voluntariamente dão-me riquezas, roupas e arroz.”

VERSO 83: Śacīmātā respondeu a seu esposo: “Eu também vejo seres humanos maravilhosamente brilhantes aparecendo no espaço exterior, como se oferecessem orações.”

VERSO 84: Jagannātha Miśra respondeu, então: “Num sonho, vi a refulgente morada do Senhor entrar em meu coração.”

VERSO 85: “De meu coração, ela entrou em teu coração. Posso perceber, portanto, que logo uma grande personalidade nascerá.”

VERSO 86: Após essa conversa, tanto o esposo quanto a esposa encheram-se de júbilo, e juntos prestaram serviço à śālagrāma-śilā da família.

VERSO 87: Dessa maneira, a gravidez aproximou-se de seu décimo terceiro mês, mas ainda não havia sinal de parto da criança. Assim, Jagannātha Miśra ficou bastante apreensivo.

VERSO 88: Então, Nīlāmbara Cakravartī [o avô de Śrī Caitanya Mahāprabhu] fez um cálculo astrológico e disse que, naquele mês, aproveitando-Se de um momento auspicioso, a criança nasceria.

VERSO 89: Assim, no ano de 1407 da era Śaka [1486 d.C.], na noite de lua cheia do mês de Phālguna [fevereiro-março], o momento auspicioso e desejado surgiu.

VERSO 90: Segundo o Jyotir Veda, ou astronomia védica, quando a figura do leão aparece tanto no zodíaco quanto à hora do nascimento [lagna], isso indica uma conjunção muito elevada de planetas, uma área sob a influência de ṣaḍ-varga e aṣṭa-varga, que são momentos absolutamente auspiciosos.

VERSO 91: Quando a imaculada lua de Caitanya Mahāprabhu despontou, que necessidade havia de uma lua repleta de marcas negras em seu corpo?

VERSO 92: Considerando isso, Rāhu, o planeta negro, cobriu a lua cheia, e imediatamente vibrações de “Kṛṣṇa! Kṛṣṇa! Hari!” inundaram os três mundos.

VERSO 93: Assim, todas as pessoas cantaram o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa durante o eclipse lunar, e suas mentes ficaram maravilhadas.

VERSO 94: Enquanto o mundo inteiro cantava assim o santo nome da Suprema Personalidade de Deus, foi então que Kṛṣṇa, sob a forma de Gaurahari, apareceu pessoalmente na Terra.

VERSO 95: O mundo inteiro ficou satisfeito. Enquanto os hindus cantavam o santo nome do Senhor, os não-hindus, especialmente os muçulmanos, imitavam jocosamente as palavras.

VERSO 96: Enquanto todas as senhoras vibravam o santo nome de Hari na Terra, nos planetas celestiais, dançava-se e cantava-se, pois os semideuses estavam muito curiosos.

VERSO 97: Nessa atmosfera, todas as dez direções, como também as ondas dos rios, encheram-se de júbilo. Além disso, todos os seres, móveis e imóveis, viram-se tomados de bem-aventurança transcendental.

VERSO 98: Assim, por Sua misericórdia imotivada, Gaurahari, a lua cheia, surgiu no distrito de Nadia, que se compara a Udayagiri, onde o sol desponta primeiro. Seu nascimento no céu dissipou a escuridão da vida pecaminosa, e, assim, os três mundos encheram-se de júbilo e cantaram o santo nome do Senhor.

VERSO 99: Nessa altura, Śrī Advaita Ācārya Prabhu dançava alegremente em Sua própria casa em Śāntipura. Levando Haridāsa Ṭhākura consigo, Ele dançava e cantava alto Hare Kṛṣṇa, embora ninguém pudesse entender a razão pela qual eles dançavam.

VERSO 100: Vendo o eclipse lunar e rindo, tanto Advaita Ācārya quanto Haridāsa Ṭhākura imediatamente foram às margens do Ganges e banharam-se no Ganges em grande júbilo. Aproveitando-Se da ocasião do eclipse lunar, Advaita Ācārya, por Sua própria força mental, distribuiu diversas espécies de caridade aos brāhmaṇas.

VERSO 101: Ao ver o mundo inteiro em júbilo, Haridāsa Ṭhākura, admirado, expressou-se direta e indiretamente a Advaita Ācārya: “Alegra-me muito ver-te dançando e distribuindo caridade. Posso perceber que há algum propósito especial nessa atitude.”

VERSO 102: Ācāryaratna [Candraśekhara] e Śrīvāsa Ṭhākura encheram-se de alegria e, imediatamente, foram às margens do Ganges para banharem-se em suas águas. Com a mente plena de felicidade, cantavam o mantra Hare Kṛṣṇa e faziam caridade com o poder da mente.

VERSO 103: Dessa maneira, todos os devotos, em cada cidade e cada país, onde quer que se encontrassem, dançavam, realizavam saṅkīrtana e praticavam atos de caridade mentalmente sob o pretexto do eclipse lunar, com suas mentes arrebatadas de alegria.

VERSO 104: Toda a classe de senhoras e cavalheiros da respeitável comunidade bramânica, levando pratos repletos de diversos presentes, vieram com oferendas. Vendo a criança recém-nascida, cujo aspecto assemelhava-se à refulgência natural do ouro, todos eles ofereciam suas bençãos, cheios de alegria.

VERSO 105: Vestindo-se como esposas de brāhmaṇas, todas as senhoras celestiais, incluindo a esposa do senhor Brahmā, do senhor Śiva, do Senhor Nṛsiṁhadeva, do rei Indra e de Vasiṣṭha Ṛṣi, bem como Rambhā, uma dançarina celestial, vieram ali com variedades de presentes.

VERSO 106: No espaço exterior, todos os semideuses, incluindo os habitantes de Gandharvaloka, Siddhaloka e Cāraṇaloka, ofereciam suas orações e dançavam ao som de canções melodiosas e do bater de tambores. De forma semelhante, na cidade de Navadvīpa, todos os dançarinos, músicos e outorgadores profissionais de bênçãos reuniram-se, dançando em grande júbilo.

VERSO 107: Ninguém podia entender quem entrava e quem saía, quem estava dançando e quem estava cantando. Tampouco podiam compreender a língua um do outro. Entretanto, toda a infelicidade e lamentação desapareciam imediatamente, e as pessoas ficavam sumamente jubilosas. Assim, Jagannātha Miśra também se encheu de alegria.

VERSO 108: Candraśekhara Ācārya e Śrīvāsa Ṭhākura vieram ambos ter com Jagannātha Miśra e atraíram sua atenção de diversas maneiras. Executaram as cerimônias ritualísticas prescritas para a ocasião do nascimento segundo os princípios religiosos. Além disso, Jagannātha Miśra deu diversos presentes em caridade.

VERSO 109: Todas as riquezas que Jagannātha Miśra ganhava sob a forma de presentes e oferendas, e tudo o que ele tinha em sua casa, distribuía-os aos brāhmaṇas, cantores profissionais, dançarinos, bhāṭas e os pobres. Ele honrava a todos dando-lhes riquezas em caridade.

VERSO 110: A esposa de Śrīvāsa Ṭhākura, cujo nome era Mālinī, acompanhada pela esposa de Candraśekhara [Ācāryaratna] e outras senhoras, foram ali muito alegremente adorar a criança com parafernália variada, como vermelhão, cúrcuma, óleo, arroz infundido, bananas e cocos.

VERSO 111: Certo dia, pouco depois do nascimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, a esposa de Advaita Ācārya, Sītādevī, que é adorável para todo o mundo, tendo obtido permissão de seu esposo, foi visitar aquela criança suprema com toda espécie de presentes e oferendas.

VERSO 112: Ela trouxe diferentes classes de ornamentos de ouro, incluindo adornos para as mãos, braceletes, colares e tornozeleiras.

VERSO 113: Havia também unhas de tigre incrustadas em ouro, adornos de cintura feitos de seda e renda, ornamentos para as mãos e as pernas, sáris de seda com belas estamparias, e uma roupa de criança, também feita de seda. Muitas outras riquezas, incluindo moedas de ouro e prata, foram também presenteadas à criança.

VERSO 114: Conduzida num palanquim coberto por um dossel e acompanhada por criadas, Sītā Ṭhākurāṇī foi à casa de Jagannātha Miśra, levando com ela muitos artigos auspiciosos, tais como grama fresca, arroz, gorocana, cúrcuma, kuṅkuma e sândalo. Todas essas oferendas enchiam uma grande cesta.

VERSO 115: Ao chegar na casa de Śacīdevī, trazendo com ela muitas espécies de comestíveis, roupas e outros presentes, Sītā Ṭhākurāṇī ficou espantada ao ver a criança recém-nascida, pois percebeu que, exceto a diferença na cor, a criança era diretamente o próprio Kṛṣṇa de Gokula.

VERSO 116: Ao ver a refulgência do corpo transcendental da criança, cada um de Seus membros bem construídos, plenos de sinais auspiciosos e tendo a feição de ouro, Sītā Ṭhākurāṇī ficou satisfeitíssima e, por causa de sua afeição maternal, sentiu como se seu coração derretesse.

VERSO 117: Ela abençoou a criança recém-nascida, colocando grama fresca e arroz sobre Sua cabeça e dizendo: “Que sejas abençoado com uma longa duração de vida.” Porém, temendo fantasmas e bruxas, deu à criança o nome de Nimāi.

VERSO 118: No dia em que a mãe e o filho tomaram banho e deixaram a maternidade, Sītā Ṭhākurāṇī deu-lhes toda espécie de ornamentos e roupas e, além disso, congratulou-se com Jagannātha Miśra. Então, Sītā Ṭhākurāṇī, recebendo as honras de mãe Śacīdevī e de Jagannātha Miśra, ficou com sua mente repleta de felicidade e, assim, regressou à casa.

VERSO 119: Dessa maneira, mãe Śacīdevī e Jagannātha Miśra, tendo obtido um filho que era o esposo da deusa da fortuna, tiveram todos os seus desejos satisfeitos. A casa deles vivia repleta de riquezas e grãos. À medida que viam o corpo amado de Śrī Caitanya Mahāprabhu, dia após dia o prazer deles aumentava.

VERSO 120: Jagannātha Miśra era um vaiṣṇava ideal. Era pacífico, livre do gozo dos sentidos, puro e controlado. Portanto, não tinha desejos de gozar de opulência material. Todo o dinheiro que recebia devido à influência de seu filho transcendental, ele dava em caridade aos brāhmaṇas para a satisfação de Viṣṇu.

VERSO 121: Após calcular o momento de nascimento do Senhor Caitanya Mahāprabhu, Nīlāmbara Cakravartī disse privadamente a Jagannātha Miśra que viu todos os diferentes sinais de uma grande personalidade tanto no corpo quanto no momento de nascimento da criança. Assim, podia entender que, no futuro, esta criança salvaria todos os três mundos.

VERSO 122: Dessa maneira, o Senhor Caitanya Mahāprabhu apareceu na casa de Śacīdevī por Sua misericórdia imotivada. O Senhor Caitanya é muito misericordioso para com qualquer pessoa que ouça esta narração de Seu nascimento, de modo que essa pessoa pode alcançar os pés de lótus do Senhor.

VERSO 123: Todo aquele que obtém um corpo humano, mas não adota o culto de Śrī Caitanya Mahāprabhu, frustra-se em sua oportunidade. Amṛtadhunī é o rio que flui do néctar do serviço devocional. Caso, após obter um corpo humano, alguém beba a água do poço venenoso da felicidade material, ao invés da água de tal rio, seria melhor que ele não tivesse vivido, mas tivesse morrido muito tempo atrás.

VERSO 124: Colocando em minha cabeça como minha propriedade pessoal os pés de lótus de Śrī Caitanya Mahāprabhu, Nityānanda Prabhu, Ācārya Advaitacandra, Svarūpa Dāmodara, Rūpa Gosvāmī e Raghunātha Dāsa Gosvāmī, eu, Kṛṣṇadāsa Kavirāja Gosvāmī, acabo de descrever o advento de Śrī Caitanya Mahāprabhu.

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