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CAPÍTULO TRINTA E DOIS

O Reencontro

Este capítulo descreve como Śrī Kṛṣṇa manifestou-Se no meio das gopīs, que haviam ficado muito perturbadas em virtude da saudade que sentiam dEle. Depois que Ele as consolou, elas Lhe expressaram Seus profundos sentimentos de êxtase.

Tendo as gopīs mostrado de várias maneiras sua grande ansiedade por ver Kṛṣṇa, aquele que atrai o Cupido, Ele apareceu diante delas usando roupas de seda amarela e uma bela guirlanda de flores. Algumas das gopīs, dominadas pelo êxtase de vê-lO, seguraram Suas mãos, outras colocaram Seu braço nos ombros delas, e outras aceitaram os restos da noz de bétel que Ele mascara. Dessa maneira, elas O serviram.

Uma gopī, impelida por ira amorosa em relação a Kṛṣṇa, mordeu o lábio e olhou-O com desdém. Por estarem tão apegadas a Kṛṣṇa, as gopīs não se saciavam nem por contemplá-lO continuamente. Uma delas, então, colocou Kṛṣṇa em seu coração, fechou os olhos e, abraçando-O dentro de si muitas vezes, absorveu-se em bem-aventurança transcendental, exatamente como um yogī. Desta maneira, foi dissipada a dor que as gopīs sentiram por causa da separação do Senhor.

Em seguida, o Senhor Kṛṣṇa foi à margem do Yamunā em companhia das vaqueirinhas, Suas potências internas. As gopīs, então, fizeram com seus xales um assento para Kṛṣṇa e, depois que Ele Se sentou, elas desfrutaram de Sua companhia enquanto faziam gestos amorosos. Como as gopīs ainda estavam magoadas com o desaparecimento de Kṛṣṇa, Ele lhes explicou por que fizera aquilo. Ele lhes explicou também que ficara sob o exclusivo controle de sua devoção amorosa e permaneceria sempre em dívida com elas.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Ó rei, tendo assim cantado e desabafado seus corações de várias maneiras encantadoras, as gopīs começaram a chorar bem alto. Elas estavam muito ansiosas por ver o Senhor Kṛṣṇa.

VERSO 2: Então, o Senhor Kṛṣṇa, com um sorriso em Seu rosto de lótus, apareceu diante das gopīs. Usando uma guirlanda e um traje amarelo, Ele apareceu diretamente como quem pode confundir a mente do Cupido, o mesmo que confunde a mente das pessoas comuns.

VERSO 3: Ao verem que seu queridíssimo Kṛṣṇa voltara para elas, todas as gopīs se levantaram ao mesmo tempo, e, por causa da afeição por Ele, seus olhos desabrocharam inteiramente. Era como se o ar da vida tivesse reentrado em seus corpos.

VERSO 4: Uma gopī alegremente segurou a mão de Kṛṣṇa entre as palmas de suas mãos, e outra pôs o braço dEle, ungido de pasta de sândalo, sobre seu ombro.

VERSO 5: Uma gopī esbelta respeitosamente pegou com as mãos juntas a noz de bétel que Ele mascara, e outra gopī, ardente de desejo, colocou os pés de lótus dEle sobre seus seios.

VERSO 6: Uma gopī, fora de si devido à ira amorosa, mordeu os lábios e fitou-O com sobrancelhas franzidas, como se quisesse feri-lO com seus ríspidos olhares.

VERSO 7: Outra gopī contemplou com olhos fixos Seu rosto de lótus, mas, mesmo após saborear profundamente a doçura dessa face, Ela não Se sentiu saciada, assim como os santos místicos nunca se cansam de meditar nos pés do Senhor.

VERSO 8: Uma gopī pegou o Senhor através da abertura de seus olhos e colocou-O dentro do coração. Então, de olhos fechados e com os pelos arrepiados, ela O abraçou continuamente dentro de si. Assim imersa em êxtase transcendental, ela se assemelhava a um yogī meditando no Senhor.

VERSO 9: Todas as gopīs desfrutaram da mais grandiosa festividade ao reverem seu amado Kṛṣṇa. Elas abandonaram a aflição decorrente da sauda­de, assim como os homens em geral esquecem seu sofrimento quando conseguem a associação de uma pessoa com iluminação espiritual.

VERSO 10: Rodeado pelas gopīs, que agora estavam aliviadas de toda a aflição, o Senhor Acyuta, a Suprema Personalidade de Deus, brilhava com esplendor. Meu querido rei, Kṛṣṇa então parecia a Superalma rodeado de Suas potências espirituais.

VERSOS 11-12: Então, o Senhor onipotente levou as gopīs conSigo à orla do Kālindī, que, com as mãos de suas ondas, espalhara montes de areia macia sobre a margem. Naquele lugar auspicioso, a brisa, que carregava a fragrância das flores kunda e mandāra desabrochadas, atraía muitas abelhas, e os profusos raios da lua de ou­tono dissipavam a escuridão da noite.

VERSO 13: Com sua angústia subjugada devido ao êxtase de ver Kṛṣṇa, as gopīs, tal qual os Vedas personificados no passado, sentiram seus desejos completamente satisfeitos. Para seu querido amigo Kṛṣṇa, elas providenciaram um assento com seus xales, que estavam manchados com o pó de kuṅkuma de seus seios.

VERSO 14: O Senhor Kṛṣṇa, a Suprema Personalidade de Deus, para quem os grandes mestres da meditação mística providenciam um as­sento dentro de seus corações, assentou-Se na assembleia das gopīs. Seu corpo transcendental, a exclusiva morada da beleza e da opulência dentro dos três mundos, brilhava com muito resplendor enquanto as gopīs O adoravam.

VERSO 15: Śrī Kṛṣṇa despertara nas gopīs desejos românticos, e elas O honravam olhando para Ele com sorrisos travessos, fazendo gestos amorosos com as sobrancelhas e massageando-Lhe as mãos e os pés, que estavam sobre seus colos. Mesmo enquanto O adoravam, todavia, elas se sentiam um tanto zangadas e, por isso, dirigiram­-Lhe as seguintes palavras.

VERSO 16: As gopīs disseram: Algumas pessoas correspondem à afeição apenas dos que são carinhosos com elas, enquanto outras mostram afeição até mesmo por aqueles que são indiferentes ou hostis. E ainda outras pessoas não mostram afeição a ninguém. Querido Kṛṣṇa, por favor, explica-nos devidamente este assunto.

VERSO 17: A Suprema Personalidade de Deus disse: Ditos amigos, que mostram afeição uns aos outros só para se beneficiar, são, na verdade, egoístas. Eles não sentem verdadeira amizade, nem estão seguindo os verdadeiros princípios religiosos. De fato, se não esperassem benefício para si, eles não corresponderiam.

VERSO 18: Minhas queridas gopīs de cinturas finas, algumas pessoas são genuinamente misericordiosas ou, como os pais, afetuosas por natureza. Semelhantes pessoas, que servem com devoção até mesmo aqueles que deixam de lhes corresponder, estão seguindo o verdadeiro e impecável caminho da religião, e são verdadeiros benquerentes.

VERSO 19: Há, então, quatro classes de indivíduos, a saber, os que são autossatisfeitos espiritualmente, os que se sentem realizados na vida material, os que são ingratos por natureza e os que são simplesmente invejosos de seus superiores, que não amarão nem aqueles que os amam, isto para não falar dos que lhes são hostis.

VERSO 20: Mas a razão pela qual não correspondo de imediato à afeição dos seres vivos, mesmo quando eles Me adoram, ó gopīs, é que quero intensificar sua devoção amorosa. Eles, dessa maneira, tornam-se como um homem pobre que ganhou alguma riqueza e depois a perdeu, e que então fica tão ávido por aquilo que não consegue pensar em nada mais.

VERSO 21: Minhas queridas mocinhas, compreendendo que só por Minha causa tendes rejeitado a autoridade da opinião mundana, dos Vedas e de vossos parentes, Eu agi desse modo apenas para aumentar vosso apego por Mim. Mesmo quando Me retirei de vossa visão, desaparecendo de repente, jamais deixei de vos amar. Por­tanto, Minhas amadas gopīs, por favor, não alimenteis nenhum ressentimento contra Mim, vosso amado.

VERSO 22: Não sou capaz de pagar Minha dívida por vosso serviço imaculado, mesmo que para tal tivesse toda uma vida de Brahmā. Vossa ligação coMigo é incensurável. Adorastes-Me cortando todos os laços familiares, que são difíceis de romper. Portanto, por favor, que vossos próprios atos gloriosos sejam vossa recom­pensa.

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