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CAPÍTULO CINQUENTA E DOIS

A Mensagem de Rukmiī ao Senhor Kṛṣṇa

Este capítulo descreve como o Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa, correndo como se estivessem com medo, foram para Dvārakā. Então, o Senhor Kṛṣṇa ouviu a mensagem de Rukmiṇī através da boca de um brāhmaa e a escolheu como esposa.

O rei Mucukunda, a quem o Senhor Kṛṣṇa concedera misericórdia, ofereceu reverências e O circungirou. O rei, então, deixou a caverna e viu que os seres humanos, os animais, as árvores e as plantas es­tavam todos menores do que antes de ele ter dormido. A partir deste fato, ele pôde compreender que a era de Kali estava prestes a começar. Assim, em uma atitude de desapego de toda associação material, o rei passou a adorar o Senhor Supremo, Śrī Hari.

Śrī Kṛṣṇa regressou a Mathurā, que ainda estava sob o cerco do exército bárbaro. Ele destruiu esse exército, juntou todos os objetos de valor que os soldados estavam carregando e partiu para Dvārakā. Bem naquele momento, Jarāsandha apareceu em cena com uma força de vinte e três akauhiīs. O Senhor Balarāma e o Senhor Kṛṣṇa, fingindo-Se amedrontados, deixaram Suas riquezas de lado e fugiram às pressas. Por ser incapaz de avaliar Seu verdadeiro poder, Jarāsandha correu atrás dEles. Depois de correr uma longa distância, Rāma e Kṛṣṇa chegaram a uma montanha chamada Pravarṣaṇa e passaram a escalá-la. Jarāsandha pensou que Eles tinham Se escondido em uma caverna e pôs-se a procurá-lOs por toda parte. Incapaz de encontrá-lOs, ele ateou fogo em todos os lados da montanha. Quando a vegetação nas encostas da montanha irrompeu em chamas, Kṛṣṇa e Balarāma saltaram do alto da montanha. Depois de chegarem ao solo sem serem vistos por Jarāsandha e seus seguidores, Eles voltaram para a fortaleza de Dvārakā, que flutuava no mar. Jarāsandha concluiu que Rāma e Kṛṣṇa haviam morrido queimados no incêndio e, por isso, levou seu exército de volta para seu reino.

Neste ponto, Mahārāja Parīkṣit fez uma pergunta, à qual Śrī Śukadeva Gosvāmī respondeu com a narração da história do casamento do Senhor Śrī Kṛṣṇa e Rukmiṇī. Rukmiṇī, a jovem filha de Bhīṣmaka, rei de Vidarbha, ouvira falar da beleza, força e outras boas qualida­des de Śrī Kṛṣṇa e, portanto, decidiu que Ele seria o perfeito marido para ela. O Senhor Kṛṣṇa também desejava casar-Se com ela. Contudo, embora os outros parentes de Rukmiṇī aprovassem seu casamen­to com Kṛṣṇa, seu irmão Rukmī tinha inveja do Senhor e, por isso, proibiu-a de casar-se com Ele. Rukmī preferia que ela se casasse com Śiśupāla. Infeliz, Rukmiṇī começou a fazer os preparativos para o casamento, mas também mandou um brāhmaa de confiança com uma carta para Kṛṣṇa.

Quando o brāhmaa chegou a Dvārakā, Śrī Kṛṣṇa honrou-o de modo conveniente com um ritual de adoração e outros sinais de res­peito. O Senhor, então, perguntou ao brāhmaa por que ele viera. O brāhmaa abriu a carta de Rukmiṇī e mostrou a mesma ao Senhor Kṛṣṇa, que solicitou ao mensageiro que a lesse para Ele. Rukmiṇī-devī escrevera: “Desde que ouvi falar de Ti, meu Senhor, fiquei completamente atraída por Ti. Por favor, vem sem falta antes de meu casamento com Śiśupāla e leva-me embora. De acordo com um costume de família, no dia an­terior ao casamento, visitarei o templo da deusa Ambikā. Essa seria a melhor oportunidade para apareceres e me raptares com facilidade. Se não me concederes esse favor, abandonarei minha vida mediante jejum e observância de votos severos. Então, eu talvez seja capaz de Te alcançar em minha próxi­ma vida.”

Depois de ler a carta de Rukmiṇī para o Senhor Kṛṣṇa, o brāhmaa se despediu e foi cumprir seus deveres religiosos diários.

VERSO 1: Śukadeva Gosvāmī disse: Meu querido rei, agraciado assim pelo Senhor Kṛṣṇa, Mucukunda circungirou-O e prostrou-se diante dEle. Então, Mucukunda, o amado descendente de Ikṣvāku, saiu pela boca da caverna.

VERSO 2: Vendo que o tamanho de todos os seres humanos, animais, árvores e plantas fora severamente reduzido, e percebendo assim que a era de Kali estava prestes a começar, Mucukunda partiu rumo ao norte.

VERSO 3: O sóbrio rei, situado além da associação mundana e livre de dúvida, estava convencido do valor da austeridade. Com a mente absorta no Senhor Kṛṣṇa, ele chegou à montanha Gandhamādana.

VERSO 4: Ali, ele chegou a Badarikāśrama, a morada do Senhor Nara­-Nārāyaṇa, onde, permanecendo tolerante com todas as dualida­des, adorou em paz o Supremo Senhor Hari mediante a execução de severas austeridades.

VERSO 5: O Senhor voltou para Mathurā, que ainda estava cercada pelos yavanas. Então, destruiu o exército dos bárbaros e começou a levar para Dvārakā os objetos valiosos que eles tinham.

VERSO 6: Enquanto a riqueza estava sendo transportada por bois e homens, sob a direção do Senhor Kṛṣṇa, Jarāsandha apareceu à frente de vinte e três exércitos.

VERSO 7: Ó rei, vendo as furiosas ondas do exército do inimigo, os dois Mādhavas, imitando o comportamento humano, fugiram corren­do dali.

VERSO 8: Abandonando a abundante riqueza – destemidos, mas fingindo terem medo –, Eles caminharam muitos yojanas com Seus pés se­melhantes ao lótus.

VERSO 9: Ao ver que Eles fugiam, o poderoso Jarāsandha colocou-se a gargalhar e, então, perseguiu-Os com quadrigários e soldados a pé. Ele não era capaz de entender a sublime posição dos dois Senhores.

VERSO 10: Aparentemente exaustos após terem fugido por uma longa distância, os dois Senhores escalaram uma alta montanha chamada Pravarṣaṇa, sobre a qual o senhor Indra derrama chuvas incessantes.

VERSO 11: Embora soubesse que Eles estavam escondidos na montanha, Jarāsandha não conseguiu encontrar nenhum vestígio dEles. Portanto, ó rei, ele dispôs lenha em todos os lados e ateou fogo na montanha.

VERSO 12: Eles dois, então, saltaram de repente da montanha em chamas, que tinha onze yojanas de altura, e caíram no chão.

VERSO 13: Sem serem vistos por Seu adversário nem por seus seguidores, ó rei, aqueles dois excelentíssimos Yadus regressaram a Sua cidade de Dvārakā, que tinha o oceano como fosso de proteção.

VERSO 14: Jarāsandha, além disso, pensou erroneamente que Balarāma e Keśava haviam morrido queimados no incêndio. Por isso, retirou sua vasta força militar e regressou ao reino de Magadha.

VERSO 15: Conforme fora ordenado pelo senhor Brahmā, Raivata, o opulento regente de Ānarta, deu sua filha Raivatī em casamento ao Senhor Balarāma. Isso já foi discutido.

VERSOS 16-17: Ó herói dentre os Kurus, o próprio Senhor Supremo, Govinda, casou-Se com a filha de Bhīṣmaka, Vaidarbhī, que era uma expansão direta da deusa da fortuna. O Senhor fez isso devido ao desejo dela e, no processo, derrotou Śālva e outros reis que tomaram o partido de Śiśupāla. Em verdade, enquanto todos assistiam, Śrī Kṛṣṇa arrebatou Rukmiṇī assim como Garuḍa ousadamente roubou o néctar dos semideuses.

VERSO 18: O rei Parīkṣit disse: O Senhor Supremo casou-Se com Rukmiṇī, a filha de rosto formoso de Bhīṣmaka, no estilo rākṣasa – ou assim eu ouvi dizer.

VERSO 19: Meu senhor, desejo ouvir como o imensuravelmente poderoso Senhor Kṛṣṇa levou embora Sua noiva enquanto derrotava reis tais como Māgadha e Śālva.

VERSO 20: Que ouvinte experiente, ó brāhmaṇa, poderia em algum momento fartar-se de escutar os tópicos piedosos, encantadores e sempre novos a respeito do Senhor Kṛṣṇa, os quais limpam a contaminação do mundo?

VERSO 21: Śrī Bādarāyaṇi disse: Havia um rei chamado Bhīṣmaka, o poderoso governante de Vidarbha. Ele tinha cinco filhos e uma filha de gracioso semblante.

VERSO 22: Rukmī era o filho primogênito, seguido de Rukmaratha, Rukmabāhu, Rukmakeśa e Rukmantālī. Sua irmã era a subli­me Rukmiṇī.

VERSO 23: Ouvindo falar da beleza, valentia, caráter transcendental e opulência de Mukunda através da boca dos visitantes do palácio que cantavam Seus louvores, Rukmiṇī decidiu que Ele seria o marido perfeito para ela.

VERSO 24: O Senhor Kṛṣṇa sabia que Rukmiṇī possuía inteligência, sinais auspiciosos no corpo, beleza, comportamento apropriado e todas as outras boas qualidades. Concluindo que ela seria uma esposa ideal para Si, decidiu casar-Se com ela.

VERSO 25: Porque Rukmī invejava o Senhor, ó rei, ele proibiu os mem­bros de sua família de dar sua irmã a Kṛṣṇa, embora eles o quisessem. Em vez disso, Rukmī decidiu dar Rukmiṇī a Śiśupāla.

VERSO 26: A Vaidarbhī de olhos negros sabia desse plano, e isso a perturbava profundamente. Analisando a situação, ela, bem depressa, enviou a Kṛṣṇa um brāhmaṇa de confiança.

VERSO 27: Ao chegar a Dvārakā, o brāhmaṇa foi levado para dentro pelos porteiros e ali viu a primordial Personalidade de Deus sentado em um trono de ouro.

VERSO 28: Vendo o brāhmaṇa, Śrī Kṛṣṇa, o senhor dos brāhmaṇas, des­ceu de Seu trono e fê-lo sentar-se. Então, o Senhor o adorou do mesmo modo como Ele mesmo é adorado pelos semideuses.

VERSO 29: Depois que o brāhmaṇa comera e descansara, Śrī Kṛṣṇa, a meta dos devotos santos, aproximou-se e, enquanto massageava os pés do brāhmaṇa com Suas próprias mãos, interrogou-o pacientemente da seguinte maneira.

VERSO 30: [O Senhor Supremo disse:] Ó melhor dos brāhmaṇas elevados, tuas práticas religiosas, sancionadas por autoridades superiores, estão sendo executadas sem grande dificuldade? Tua mente está sempre plena de satisfação?

VERSO 31: Quando um brāhmaṇa se satisfaz com qualquer coisa que encontre e não renega seus deveres religiosos, esses mesmos princípios religiosos tornam-se sua vaca-dos-desejos, que realiza todos os seus anseios.

VERSO 32: Um brāhmaṇa insatisfeito divaga sem repouso de planeta em planeta, mesmo que se torne rei dos céus. Mas um brāhmaṇa satisfeito, embora nada possua, descansa em paz, com todos os membros de seu corpo livres de tensão.

VERSO 33: Prostro Minha cabeça repetidas vezes em respeito àqueles brāhmaṇas que estão satisfeitos com sua cota. Santos, livres de orgulho e pacíficos, eles são os melhores benquerentes de todos os seres vivos.

VERSO 34: Ó brāhmaṇa, teu rei está cuidando de teu bem-estar? Com efeito, o rei em cujo país os cidadãos estão felizes e protegidos Me é muito querido.

VERSO 35: De onde vieste, cruzando o mar intransponível, e com que propósito? Explica-Nos tudo isso se não for segredo, e dize-Nos o que podemos fazer por ti.

VERSO 36: Interrogado assim pela Suprema Personalidade de Deus, que encarna para realizar Seus passatempos, o brāhmaṇa disse-Lhe tudo.

VERSO 37: Śrī Rukmiṇī disse [em sua carta, lida pelo brāhmaṇa]: Ó beleza dos mundos, depois de ouvir sobre Tuas qualidades, que entram nos ouvidos de quem ouve e removem a aflição de seu corpo, e depois de ouvir também sobre Tua beleza, que satisfaz todos os desejos visuais de quem enxerga, fixei minha mente despudorada em Ti, ó Kṛṣṇa.

VERSO 38: Ó Mukunda, em estirpe, caráter, beleza, conhecimento, juventude, riqueza e influência, só Te igualas a Ti mesmo. Ó leão entre os homens, deleitas a mente de toda a humanidade. Que moça aristocrática, serena, em idade de casar e de boa família não Te escolheria como marido quando fosse a época apropriada?

VERSO 39: Portanto, meu querido Senhor, eu Te escolhi como esposo, e rendo-me a Ti. Por favor, vem depressa, ó onipotente, e faze de mim Tua esposa. Meu querido Senhor de olhos de lótus, que Śiśupāla jamais toque a partilha do herói tal qual um chacal que rouba a propriedade do leão.

VERSO 40: Se adorei suficientemente a Suprema Personalidade de Deus mediante obras piedosas, sacrifícios, caridades, rituais e votos, e também mediante a adoração aos semideuses, brāhmaṇas e gurus, então que Gadāgraja venha e aceite minha mão, e não o filho de Damaghoṣa ou qualquer outro.

VERSO 41: Ó invencível, amanhã, quando estiver para começar a cerimô­nia de meu casamento, deves chegar a Vidarbha sem seres visto e cercar-Te dos líderes de Teu exército. Então, esmaga as forças de Caidya e Magadhendra e casa comigo no estilo rākṣasa, ganhando-me com Tua valentia.

VERSO 42: Visto que estarei dentro dos aposentos internos do palácio, talvez penses: “Como posso raptar-te sem matar algum de teus parentes?” Mas vou dizer-Te uma maneira: No dia anterior ao casamento, há uma grandiosa procissão para honrar a deidade da família real, e, nessa procissão, a nova noiva sai da cidade para visitar a deusa Girijā.

VERSO 43: Ó pessoa de olhos de lótus, grandes almas como o senhor Śiva anseiam por banhar-se na poeira de Teus pés de lótus e, dessa maneira, destruir sua ignorância. Se eu não puder obter a Tua misericórdia, simplesmente abandonarei minha força vital, que estará fraca em virtude das severas penitências que praticarei. Então, após centenas de vidas de esforço, poderei alcançar a Tua misericórdia.

VERSO 44: O brāhmaṇa disse: Esta é a mensagem confidencial que eu trouxe comigo, ó Senhor dos Yadus. Por favor, considera o que deve ser feito nessas circunstâncias, e faze-o de imediato.

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