Capítulo Cinco
A Causa de Todas as Causas
VERSO 1: Śrī Nārada Muni pediu a Brahmājī: Ó principal entre os semideuses, ó entidade viva primogênita, permite-me oferecer-te minhas respeitosas reverências. Por favor, conta-me a respeito desse conhecimento transcendental que dirige a pessoa especificamente rumo à verdade sobre a alma individual e a Superalma.
VERSO 2: Meu querido pai, por favor, descreve de fato os sintomas deste mundo manifesto. Em que ele se alicerça? Como ele é criado? Como é conservado? E tudo isso está sendo feito sob o controle de quem?
VERSO 3: Meu querido pai, conheces tudo isso cientificamente porque tudo o que foi criado no passado, tudo o que será criado no futuro, ou tudo o que está sendo criado no presente, bem como todas as coisas dentro do universo, tu as encerras dentro de tuas mãos, assim como uma noz.
VERSO 4: Meu querido pai, qual é a fonte do teu conhecimento? Quem te protege? E para quem é que trabalhas? Qual é a tua verdadeira posição? Acaso crias sozinho todas as entidades com elementos materiais através de tua energia pessoal?
VERSO 5: Assim como a aranha tece a sua teia com muita facilidade e manifesta seu poder de criação sem que ninguém a impeça, do mesmo modo, tu também, empregando tua energia autossuficiente, crias sem a ajuda de ninguém.
VERSO 6: Tudo o que possamos entender através da nomenclatura, características e aspectos de uma determinada coisa – superior, inferior ou intermediária, eterna ou temporária – não é produto de nenhuma fonte além de Vossa Onipotência, que é tão grandioso!
VERSO 7: Todavia, ao pensarmos em tuas grandes austeridades realizadas com perfeita disciplina, somos levados a acreditar que existe alguém mais poderoso do que tu, embora sejas tão poderoso no que tange à criação.
VERSO 8: Meu querido pai, conheces tudo e controlas a todos. Portanto, espero que tudo o que perguntei a ti seja bondosamente instruído a mim para que eu, como teu aluno, consiga entender isso.
VERSO 9: O senhor Brahmā disse: Meu querido jovem Nārada, como és misericordioso com todos (inclusive comigo), fizeste todas essas perguntas porque fui inspirado a desvendar a potência da Todo-poderosa Personalidade de Deus.
VERSO 10: Tudo o que falaste a meu respeito não é falso, pois, enquanto a pessoa não passa a conhecer a Personalidade de Deus, que é a verdade última superior a mim, com certeza se iludirá observando minhas atividades poderosas.
VERSO 11: Eu crio depois que o Senhor cria com Sua refulgência pessoal [conhecida como brahmajyoti], da mesma forma que, quando o Sol manifesta seu fogo, também manifestam seu brilho a Lua, o firmamento, os planetas influentes e as estrelas cintilantes.
VERSO 12: Ofereço minhas reverências ao Senhor Kṛṣṇa [Vāsudeva] e medito nEle, a Suprema Personalidade de Deus, cuja potência invencível influencia-os [a classe de homens menos inteligentes] a me chamarem de o controlador supremo.
VERSO 13: A energia ilusória do Senhor não pode assumir prioridade, pois envergonha-se de sua posição, mas aqueles que são desorientados por ela sempre falam absurdos, estando absortos em pensamentos de “Eu sou isto” e “Isto é meu”.
VERSO 14: Os cinco ingredientes elementares da criação, e sua consequente interação instituída pelo tempo eterno, e a intuição ou natureza dos seres vivos individuais são todos diferentes partes integrantes da Personalidade de Deus, Vāsudeva, e, na verdade, esse é o único valor que existe neles.
VERSO 15: Os textos védicos são feitos pelo Senhor Supremo e se destinam a Ele; os semideuses também se destinam a servir o Senhor como partes de Seu corpo; os diferentes planetas também se destinam à causa do Senhor, e os diferentes sacrifícios são realizados unicamente para satisfazê-lO.
VERSO 16: Todos os diferentes processos de meditação ou misticismo são meios para compreender Nārāyaṇa. Todas as austeridades visam a alcançar Nārāyaṇa. O cultivo de conhecimento transcendental serve para obter um vislumbre de Nārāyaṇa, e, por fim, a salvação é entrar no reino de Nārāyaṇa.
VERSO 17: Inspirado unicamente por Ele, eu descubro o que já foi criado por Ele [Nārāyaṇa] sob Sua visão como a Superalma onipenetrante, e também sou criado unicamente por Ele.
VERSO 18: O Senhor Supremo é forma espiritual pura, transcendental a todas as qualidades materiais, todavia, com o propósito de criar, manter e aniquilar o mundo material, Ele aceita, através de Sua energia externa, os modos da natureza material, chamados bondade, paixão e ignorância.
VERSO 19: Estes três modos da natureza material, manifestando-se também como matéria, conhecimento e atividades, põem a entidade viva eternamente transcendental sob condições de causa e efeito e tornam-na responsável por essas atividades.
VERSO 20: Ó brāhmaṇa Nārada, o Senhor transcendente, aquele que tudo vê, está além da percepção dos sentidos materiais das entidades vivas devido aos supramencionados três modos da natureza. Mas Ele controla todos, inclusive a mim.
VERSO 21: O Senhor, que é o controlador de todas as energias, assim cria, através de Sua própria potência, o tempo eterno, o destino de todas as entidades vivas e a sua natureza específica, para a qual foram criadas, e volta a produzir independentemente a sua fusão.
VERSO 22: Após a encarnação do primeiro puruṣa [Kāraṇārṇavaśāyī Viṣṇu], surge o mahat-tattva, ou os princípios da criação material, após o que o tempo se manifesta, e, no decorrer do tempo, aparecem as três qualidades. Natureza significa os três aparecimentos qualitativos. Eles se transformam em atividades.
VERSO 23: O estado de agitação do mahat-tattva provoca as atividades materiais. Primeiramente, existe a transformação dos modos da bondade e da paixão e, mais tarde – devido ao modo da ignorância –, a matéria, o conhecimento sobre ela e as diferentes atividades do conhecimento material entram em cena.
VERSO 24: Ao submeter-se a essa transformação e assumir três aspectos, o ego materialista autocentrado torna-se conhecido como os modos da bondade, paixão e ignorância em três divisões, a saber, os poderes que proporcionam o desenvolvimento da matéria, o conhecimento das criações materiais, e a inteligência que guia essas atividades materialistas. Nārada, és bastante competente para compreender isso.
VERSO 25: Da escuridão do falso ego, o primeiro dos cinco elementos, a saber, o céu, é gerado. Sua forma sutil tem como qualidade o som, exatamente como o observador relacionado com aquilo que é observado.
VERSOS 26-29: Porque o céu se transforma, o ar é gerado com a qualidade do tato, e através da sucessão anterior, o ar é também repleto de som e dos princípios básicos da duração de vida: a percepção sensorial, o poder mental e a força física. Quando o ar é transformado no decorrer do tempo e no curso da natureza, gera-se o fogo, tomando forma com o sentido do tato e do som. Como o fogo também se transforma, existe uma manifestação de água, repleta de sumo e sabor. Como anteriormente, ela também tem forma e tato e também é repleta de som. E a água, transformando-se a partir de todas as variedades presentes na terra, aparece aromática e, como anteriormente, torna-se qualitativamente repleta de sumo, tato, som e forma, respectivamente.
VERSO 30: A partir do modo da bondade, a mente é gerada e se manifesta, bem como os dez semideuses que controlam os movimentos corpóreos. Esses semideuses são conhecidos como os controladores das direções, o controlador do ar, o deus do Sol, o pai de Dakṣa Prajāpati, os Aśvinī-kumāras, o deus do fogo, o rei dos céus, a deidade celestial adorável, o líder dos Ādityas, e Brahmājī, o Prajāpati. Todos vêm a existir.
VERSO 31: Através de subsequente transformação do modo da paixão, os órgãos dos sentidos, como o ouvido, a pele, o nariz, os olhos, a língua, a boca, as mãos, os órgãos genitais, as pernas e o orifício para evacuação, juntamente com a inteligência e a energia vital, são todos gerados.
VERSO 32: Ó Nārada, ó melhor dos transcendentalistas, as formas do corpo não podem ocorrer enquanto essas partes criadas, a saber, os elementos, os sentidos, a mente e os modos da natureza, não estiverem reunidas.
VERSO 33: Então, quando todas essas partes se juntaram por força da energia da Suprema Personalidade de Deus, esse universo na certa veio a existir, aceitando tanto as causas primárias e secundárias da criação.
VERSO 34: Assim, todos os universos permaneceram por milhares de anos dentro da água [o Oceano Causal], e o Senhor dos seres vivos, entrando em cada um deles, fez com que fossem plenamente animados.
VERSO 35: O Senhor [Mahā-Viṣṇu], embora deitado no Oceano Causal, saiu dele e, dividindo-Se como Hiraṇyagarbha, entrou em cada universo e assumiu o virāṭ-rūpa, com milhares de pernas, braço, bocas, cabeças etc.
VERSO 36: Grandes filósofos imaginam que os sistemas planetários completos do universo são manifestações dos diferentes membros superiores e inferiores do corpo universal do Senhor.
VERSO 37: Os brāhmaṇas representam Sua boca; os kṣatriyas, Seus braços; os vaiśyas, Suas coxas; e os śūdras nascem de Suas pernas.
VERSO 38: É dito que os sistemas planetários inferiores, tendo como limite máximo a camada terrestre, estão situados em Suas pernas. Os sistemas planetários intermediários, começando de Bhuvarloka, estão situados em Seu umbigo. E os sistemas planetários ainda mais elevados, ocupados pelos semideuses e sábios e santos altamente cultos, estão situados no peito do Senhor Supremo.
VERSO 39: Da superfície anterior do peito até o pescoço da forma universal do Senhor estão situados os sistemas planetários chamados Janaloka e Tapoloka, ao passo que Satyaloka, o sistema planetário mais elevado, está situado na cabeça da forma. Contudo, os planetas espirituais são eternos.
VERSOS 40-41: Meu querido filho Nārada, presta atenção enquanto te digo que, de um total de quatorze sistemas planetários, sete são inferiores. O primeiro sistema planetário, conhecido como Atala, está situado na cintura; o segundo, Vitala, situa-se nas coxas; o terceiro, Sutala, nos joelhos; o quarto, Talātala, nas pernas; o quinto, Mahātala, nos tornozelos; o sexto, Rasātala, no dorso dos pés; e o sétimo, Pātāla, nas solas dos pés. Assim, a forma virāṭ do Senhor é repleta de todos os sistemas planetários.
VERSO 42: Outros podem classificar todo o sistema planetário em três categorias, a saber, os sistemas planetários inferiores nas pernas [cujo limite superior é a Terra], os sistemas planetários intermediários no umbigo, e os sistemas planetários superiores [Svarloka], que vão do peito à cabeça da Personalidade Suprema.