VERSO 31
bāhubhyo ’vartata kṣatraṁ
kṣatriyas tad anuvrataḥ
yo jātas trāyate varṇān
pauruṣaḥ kaṇṭaka-kṣatāt
bāhubhyaḥ — dos braços; avartata — gerado; kṣatram — o poder de proteção; kṣatriyaḥ — ligados ao poder de proteção; tat — isto; anuvrataḥ — seguidores; yaḥ — aquele que; jātaḥ — assim se torna; trāyate — liberta; varṇān — as outras ocupações; pauruṣaḥ — representante da Personalidade de Deus; kaṇṭaka — de elementos perturbadores, como os ladrões e os devassos; kṣatāt — dos perversos.
Depois disso, ο poder de proteção foi gerado dos braços da gigantesca forma virāṭ, e, ligados a esse poder, também surgiram os kṣatriyas, seguindo ο princípio kṣatriya de proteger a sociedade da perturbação de ladrões e sujeitos perversos.
SIGNIFICADO—Assim como os brāhmaṇas são reconhecidos por sua qualificação particular de inclinação ao conhecimento transcendental da sabedoria védica, os kṣatriyas também são reconhecidos pelo poder de proteger a sociedade de elementos perturbadores, como os ladrões e canalhas. A palavra anuvrataḥ é significativa. Uma pessoa que segue os princípios kṣatriyas, protegendo a sociedade de ladrões e canalhas, é chamada de kṣatriya, e não aquele que simplesmente nasce kṣatriya. A concepção do sistema de castas baseia-se sempre na qualidade, e não na qualificação do nascimento. Ο nascimento é uma consideração extrínseca, não sendo ο aspecto básico das ordens e classes. Na Bhagavad-gītā (18.41-44), as qualificações dos brāhmaṇa, kṣatriyas, vaiśyas e śūdras são especificamente mencionadas, e se subentende que todas essas qualificações são necessárias antes que se possa designar alguém como pertencente a um grupo em particular.
Ο Senhor Viṣṇu é sempre mencionado como ο puruṣa em todas as escrituras védicas. Algumas vezes, as entidades vivas também são chamadas de puruṣas, apesar de serem, em essência, puruṣa-śakti (parā śakti ou parā prakṛti), a energia superior do puruṣa. Iludidas pela potência externa do puruṣa (ο Senhor), as entidades vivas pensam equivocadamente que são ο puruṣa, embora, na realidade, não tenham qualificações para tal. Ο Senhor tem ο poder para proteger. Das três deidades Brahmā, Viṣṇu e Maheśvara, a primeira tem ο poder para criar, a segunda tem o poder para proteger e a terceira tem ο poder para destruir. A palavra puruṣa é significativa neste verso porque os kṣatriyas devem representar ο Senhor puruṣa, dando proteção aos prajās, ou seja, a todos aqueles que nascem na terra e na água. Portanto, a proteção destina-se tanto ao homem quanto aos animais. Na sociedade moderna, os prajās não são protegidos das mãos de ladrões e canalhas. Ο estado democrático moderno, que não tem kṣatriyas, é um governo dos vaiśyas e dos śūdras, e não de brāhmaṇas e kṣatriyas, como antigamente. Mahārāja Yudhiṣṭhira e seu neto, Mahārāja Parīkṣit, foram típicos reis kṣatriyas, pois eles davam proteção a todos os homens e animais. Quando a personificação de Kali tentou matar uma vaca, Mahārāja Parīkṣit preparou-se imediatamente para matar ο canalha, e a personificação de Κali foi banido de seu reino. Esse é ο indício de um puruṣa, ou o representante do Senhor Viṣṇu. Segundo a civilização védica, um monarca kṣatriya qualificado é tão respeitado quanto ο Senhor porque ele representa ο Senhor ao dar proteção aos prajās: Os presidentes eleitos hoje em dia não podem nos proteger sequer dos casos de roubo, de maneira que temos que buscar a proteção de uma companhia de seguros. Os problemas da sociedade humana moderna devem-se à falta de brāhmaṇas e kṣatriyas qualificados e à influência excessiva dos vaiśyas e śūdras pela assim chamada franquia geral.